sábado, 21 de junho de 2014

Expedição Grafite: viagem ao berço do maior diamante das Américas

Expedição Grafite: viagem ao berço
do maior diamante das Américas


Uma equipe formada pelos professores Iran Ferreira Machado e Carlos Alberto Lobão Cunha, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, pelo publicitário Manoel Cyrillo de Oliveira Netto e pela física Lúcia Cabral Jahnel, partiu de Campinas no último dia 11 de setembro. O objetivo da missão - denominada Expedição Grafite - era conhecer o ponto do ribeirão Santo Antonio do Bonito, município de Coromandel (MG), onde o maior diamante das Três Américas – denominado Presidente Vargas – foi encontrado no dia 13 de agosto de 1938. Coromandel está situada na bacia do Alto Paranaíba, a leste do Triângulo Mineiro, na zona de influência de Patrocínio, maior cidade da região. O município é cortado pelos rios Buriti, Santo Inácio e pelo ribeirão Santo Antonio do Bonito; eles correm de sul para o norte até desaguar no rio Paranaíba. A fauna e a flora exuberantes da região atraíram o naturalista francês Saint-Hilaire no início do século 19.
O roteiro da viagem foi o seguinte: Campinas – Ribeirão Preto – Uberaba – Nova Ponte – Iraí de Minas – Monte Carmelo – Abadia dos Dourados – Coromandel. Considerando o caminho percorrido dentro do município de Coromandel nos dias 12 e 13 de setembro, o percurso total de ida e volta até Campinas cobriu cerca de 1.500 km. No dia 14, às 16 horas, a equipe estava de volta a Barão Geraldo, em Campinas. A viagem foi realizada em uma caminhonete Chevrolet de cabine dupla, modelo S10, de propriedade de Manoel Cyrillo. Ela suportou bem as estradas carroçáveis de Coromandel, empoeiradas pela secura da estação.
No dia 12 foi contratado o guia Waldejan Soares da Cunha, de 79 anos, que conhece as grotas do município como a palma da mão. Esse guia levou o grupo até a fazenda Santo Antonio, na Taquara, banhada pelo ribeirão Santo Antonio, conhecido internacionalmente pela frequência de pedras acima de 80 quilates, descobertas periodicamente nos seus cascalhos desde as primeiras décadas do século 20. Na fazenda Santo Antonio, o seu proprietário – sr. José Tim – de 84 anos de idade, fisicamente bem disposto e bastante lúcido, se incorporou à expedição. Após uns 20 minutos de estrada carroçável e uma caminhada de uns 15 minutos dentro da fazenda, chegamos finalmente às margens do ribeirão. Naquele exato ponto, segundo testemunho do sr. Tim, em 1938 foi achado o famoso diamante, cujo nome foi uma homenagem ao presidente Getúlio Vargas. Seus descobridores, segundo os registros históricos, foram os garimpeiros Joaquim Venâncio Tiago e Manoel Miguel Domingues, cujos herdeiros não vivem mais na pacata cidade de Coromandel. Corre uma lenda de que a pedra era metade de outra maior. A outra metade nunca foi encontrada, apesar de buscas intensas realizadas pelos garimpeiros desde o ano de 1938. O ponto da descoberta tem as seguintes coordenadas: latitude: 18o 30’ 33,3’’ S; longitude: 46o 58’ 22,4’’ W, com erro de 3 metros, medição realizada com o GPS de marca Garmin, modelo MAP 60CSx, de propriedade de Manoel Cyrillo.
Obviamente, o cascalho mudou constantemente ao longo do tempo, devido a enxurradas periódicas, mas o ponto estava ali. A façanha de encontrar esse famoso local da história dos diamantes brasileiros somente foi possível graças à memória e boa vontade dos srs. Waldejan Cunha e José Tim. Sem essa prestimosa ajuda, a Expedição Grafite teria malogrado, devido às inúmeras trilhas que cortam as respectivas bacias já mencionadas.
Essa expedição foi realizada com recursos próprios dos seus membros, não havendo recursos públicos ou outras fontes. Tratava-se de satisfazer uma curiosidade desde a realização do 31º Congresso Internacional de Geologia, realizado no ano 2000, na cidade do Rio de Janeiro, quando o autor apresentou um pôster sobre o famoso diamante. O tema atraiu a atenção de geólogos de todas as nacionalidades participantes desse congresso internacional. Passados onze anos, veio a determinação de se identificar o ponto exato do ribeirão Santo Antonio do Bonito. A expedição foi coroada de êxito e comemorada pelos seus integrantes, com direito a vinho tinto. Valeu a pena o esforço do grupo.
Consta que a pedra foi vendida em 1938 a um comprador de Belo Horizonte pelo equivalente a US$ 141 mil, quantia correspondente na época a 120 kg de ouro. Convertendo US$ 141 mil para o dólar de 2011, este valor alcança US$ 2.265.450 (cálculo efetuado usando-se o Consumer Price Index, do governo americano). Hoje a cotação dele estaria entre US$ 15 e 30 milhões nos principais centros de lapidação do mundo (Antuérpia, Amsterdã, Nova York e Tel Aviv). Essa estimativa é de uma fonte fidedigna do exterior, que prefere não se identificar. Aos céticos, recomenda-se a leitura do artigo de J. Greene, citado na bibliografia.
Após ser vendido, sucessivamente, para compradores em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Amsterdã, o Presidente Vargas foi finalmente arrematado por um joalheiro de Nova York – Harry Winston –, o qual cortou a pedra em 29 brilhantes. O maior brilhante recebeu o nome de Presidente Vargas, com 44,17 quilates e estaria hoje nas mãos do joalheiro Robert Mouawad, de Beirute, após passar por vários proprietários.
O autor agradece a colaboração permanente do prof. Lobão, do Manoel e da Lúcia, que tornaram esta viagem muito agradável, além de contribuírem de modo decisivo para serem alcançados os objetivos pretendidos pelo grupo.

Um comentário:

  1. O brasileiro é um voyeur típico. Passa a vida olhando no buraco da fechadura. hahahaha

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