quinta-feira, 16 de maio de 2013

Turmalina bicolor confirma riqueza da região do Seridó

Turmalina bicolor confirma riqueza da região do Seridó

Vall França
Semiárido paraibano, região do Seridó. O caminho que corta a caatinga tem muito mais que beleza. E é neste cenário, um dos mais castigados pela seca no Nordeste, que existe um verdadeiro caminho para o tesouro. Um caminho de terra e poeira liga uma das mais ricas reservas de minérios do Brasil com o resto da civilização.
É neste lugar remoto, onde celular e qualquer tipo de comunicação não existem, que um grupo de cinco garimpeiros paraibanos encontrou uma das pedras mais caras e raras do mundo, a turmalina bicolor. A raridade foi encontrada em uma mina já desativada. A gema, que pesa de 804 gramas e é uma das muitas variações da turmalina Paraíba, foi vendida em negociação milionária.
De acordo com os garimpeiros, que preferiram não se identificar, a pedra foi vendida para um empresário do estado de Minas Gerais por US$ 1,3 milhão de dólares e atualmente se encontra em um banco de Belo Horizonte, de onde deve ser exportada para a Europa. A turmalina Paraíba é considerada uma das pedras mais caras do mundo, sua cotação já ultrapassa a do diamante: 1 quilate (0,2 grama) custa em média US$ 30 mil, mas pode chegar a US$ 100 mil, dependendo das características da gema.
Atualmente, são explorados nas cidades que compõem o Seridó Paraibano os minérios albita, mica, granito, quartzo rosa, feldspato, lítio, água-marinha, nióbio, urânio, tantalita e a famosa Turmalina Paraíba. O Governo estima que oito mil famílias trabalhem diretamente com mineração em todo Estado. Somente a região do Seridó produz mensalmente 15 mil toneladas de caulim e 600 mil toneladas de quartzo rosa. A Paraíba hoje é considerada pelos especialistas o terceiro Estado na exploração de minério, ficando atrás apenas da Bahia e Minas Gerais.
Mas, foi no último ano que a atividade, que começou com os americanos de forma clandestina na época da Segunda Guerra Mundial, voltou a ser a base econômica da região. O programa de crédito de iniciativa do Governo da Paraíba, o Empreender-PB, vem ajudando a formalizar o garimpo. A atividade, que antes existia de forma clandestina voltou a operar e vem sendo regulamentada e acompanhada pelo Estado.
Em um ano, mais de R$ 3 milhões foram repassados em crédito para cooperativas de mineradores do Seridó. Além da liberação do crédito os agentes do governo atuam para garantir melhores condições de trabalho dos garimpeiros.
Para o técnico em mineração da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM), Antônio de Pádua, o acompanhamento do Governo tem ajudado a diminuir a informalidade do garimpo no Estado. “Antes os garimpeiros vendiam a atravessadores, a matéria prima era desvalorizada e os trabalhadores ficavam na informalidade. Hoje, estamos fiscalizando os garimpos, orientando na extração, levantando as necessidades de equipamentos, fazendo o acompanhamento diário da produção. Tudo isso para agregar valor e garantir uma qualidade de trabalho digna para os garimpeiros”, disse. 
Para o garimpeiro Assunção Henriques, de 64 anos, que trabalha há 42 na atividade, o crédito fornecido pelo Governo tem ajudado na aquisição de equipamentos e, consequentemente, na melhoria das condições de trabalho. “Com o crédito liberado para a cooperativa adquirimos equipamentos que nunca tivemos condições de comprar. O trabalho que levava semanas, agora pode ser feito em um ou dois dias”, disse.
Percebendo a potencialidade da Paraíba, o Governo Federal já sinaliza interesse pela atividade. O secretário adjunto de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Carlos Nogueira, destacou as potencialidades da base mineral do Estado: “A Paraíba tem potencial na geração de bens minerais não metálicos. Fomentar esse tipo de atividade nessas microrregiões é gerar emprego e renda, além de fixar o homem no campo”, avalia Nogueira.
Um azul único, de um brilho incomparável
Um azul único, de um brilho incomparável, alcançou valores nunca imaginados nos mercados das joias. Um recorde: a Turmalina Paraíba superou a cotação dos diamantes. A gema tem esse nome porque foi encontrada pela primeira vez no distrito de São José da Batalha, no interior paraibano. O Estado é rico em turmalinas, mas a variedade de um azul único surgiu da obstinação típica dos caçadores de pedras.
Informado da ocorrência de gemas no subsolo paraibano, no começo dos anos 80 o mineiro Heitor Dimas Barbosa decidiu garimpar na região. Com licença do governo federal, escavou durante sete anos. Em 1989, encontrou algumas pedras ‘diferentes’, estranhou a cor e mandou para análise no maior laboratório de gemas do mundo, o Gemological Institute of America (GIA). A resposta chegou em poucos dias: eram pedras únicas no planeta. O GIA ficou tão impressionado que publicou uma reportagem de nove páginas em sua revista, e assim a Turmalina Paraíba se tornou conhecida no meio dos aficionados, por profissão ou paixão, das pedras preciosas. 
Na cidade de Picuí, nada mudou com a descoberta das pedras tão valiosas. Os moradores seguem a rotina sem pressa e sem novidades. As raras turmalinas permanecem nas histórias que alimentam sonhos de um futuro próspero para a região.
“Antes a atividade era clandestina. Agora com incentivos, estamos esperançosos com o futuro. Com certeza, ele será melhor”, comemora o garimpeiro Joaquim Vidal de Negreiros Filho, de 47 anos, que trabalha há mais de 20 no garimpo. A dificuldade de extração, feita manualmente em túneis de até 60 metros de profundidade, é uma das razões da sua raridade. A gema é de um azul neon tão intenso que chega a brilhar no escuro.
Os cientistas descobriram que a Turmalina Paraíba contém uma grande quantidade de ouro, cobre, ferro e manganês. Esses elementos são responsáveis pelos variados tons e coloração. São mais de 300 tons diferentes de turmalina encontradas no Estado, porém, a mais rara é a azul. E é esse azul raro que a torna tão especial.
Atualmente, a gema é utilizada pela grifes brasileiras Arrigoni, Amsterdan Sauer e H. Stern, além das internacionais Dior e Channel. A turmalina até pode ser rara, mas a presença de ‘estrangeiros’ na cidade de Picuí já não surpreende os moradores.
Tem gringo na caatinga – “Por aqui já passou alemão, chinês, japonês americano, espanhol, italiano. Somos visitados por representantes de joalherias de todo o mundo. Toda semana chega um gringo diferente querendo comprar turmalina Paraíba. E isto é bom, prova que a qualidade da cor das nossas gemas é a mais especial do mundo”, comemora Vidal Filho.
E a otimismo do garimpeiro não é à toa. O próprio fundador da H.Stern, Hans Stern, falecido em 2007, tinha as turmalinas como suas pedras preferidas. Era tão aficionado pela gema que deixou uma coleção particular de turmalinas, a maior e mais importante do planeta, aberta à visitação pública na matriz da joalheria, no Rio. Hans Stern era um caçador de turmalinas, investindo e rastreando até que a coleção chegasse a 971 pedras.
Apesar da raridade, o comércio da turmalina parece estar só começando. Em 2011 uma turmalina extraída na Paraíba, de 191,87 quilates e lapidação oval, recebeu certificação do Guiness Book of World Records. O proprietário da gema, o banqueiro canadense Vincent Boucher, disse que a pedra está avaliada entre 25 milhões e 125 milhões de dólares canadenses (algo em torno de US$ 24 milhões a US$ 122 milhões americanos), mas já adiantou que ela não está à venda.•.
A Turmalina Paraíba ainda é pouco conhecida no Brasil. A aparição em pequena ocorrência, as lendas e a raridade são o que a fazem se tornar ainda mais especial. Quem sabe a beleza, glamour, poder e brilho não fariam a eterna diva do cinema, Marilyn Monroe, se render aos encantos do azul mais caro do mundo? Além dos diamantes, as turmalinas podem sim, ser as melhores amigas das garotas
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