Turmalina bicolor confirma riqueza da região do Seridó
Semiárido
paraibano, região do Seridó. O caminho que corta a caatinga tem muito
mais que beleza. E é neste cenário, um dos mais castigados pela seca no
Nordeste, que existe um verdadeiro caminho para o tesouro. Um caminho de
terra e poeira liga uma das mais ricas reservas de minérios do Brasil
com o resto da civilização.
É neste lugar remoto,
onde celular e qualquer tipo de comunicação não existem, que um grupo de
cinco garimpeiros paraibanos encontrou uma das pedras mais caras e
raras do mundo, a turmalina bicolor. A raridade foi encontrada em uma
mina já desativada. A gema, que pesa de 804 gramas e é uma das muitas
variações da turmalina Paraíba, foi vendida em negociação milionária.
De
acordo com os garimpeiros, que preferiram não se identificar, a pedra
foi vendida para um empresário do estado de Minas Gerais por US$ 1,3
milhão de dólares e atualmente se encontra em um banco de Belo
Horizonte, de onde deve ser exportada para a Europa. A turmalina Paraíba
é considerada uma das pedras mais caras do mundo, sua cotação já
ultrapassa a do diamante: 1 quilate (0,2 grama) custa em média US$ 30
mil, mas pode chegar a US$ 100 mil, dependendo das características da
gema.
Atualmente, são explorados nas cidades que
compõem o Seridó Paraibano os minérios albita, mica, granito, quartzo
rosa, feldspato, lítio, água-marinha, nióbio, urânio, tantalita e a
famosa Turmalina Paraíba. O Governo estima que oito mil famílias
trabalhem diretamente com mineração em todo Estado. Somente a região do
Seridó produz mensalmente 15 mil toneladas de caulim e 600 mil toneladas
de quartzo rosa. A Paraíba hoje é considerada pelos especialistas o
terceiro Estado na exploração de minério, ficando atrás apenas da Bahia e
Minas Gerais.
Mas, foi no último ano que a
atividade, que começou com os americanos de forma clandestina na época
da Segunda Guerra Mundial, voltou a ser a base econômica da região. O
programa de crédito de iniciativa do Governo da Paraíba, o
Empreender-PB, vem ajudando a formalizar o garimpo. A atividade, que
antes existia de forma clandestina voltou a operar e vem sendo
regulamentada e acompanhada pelo Estado.
Em um
ano, mais de R$ 3 milhões foram repassados em crédito para cooperativas
de mineradores do Seridó. Além da liberação do crédito os agentes do
governo atuam para garantir melhores condições de trabalho dos
garimpeiros.
Para o técnico em mineração da
Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM),
Antônio de Pádua, o acompanhamento do Governo tem ajudado a diminuir a
informalidade do garimpo no Estado. “Antes os garimpeiros vendiam a
atravessadores, a matéria prima era desvalorizada e os trabalhadores
ficavam na informalidade. Hoje, estamos fiscalizando os garimpos,
orientando na extração, levantando as necessidades de equipamentos,
fazendo o acompanhamento diário da produção. Tudo isso para agregar
valor e garantir uma qualidade de trabalho digna para os garimpeiros”,
disse.
Para o garimpeiro Assunção Henriques, de
64 anos, que trabalha há 42 na atividade, o crédito fornecido pelo
Governo tem ajudado na aquisição de equipamentos e, consequentemente, na
melhoria das condições de trabalho. “Com o crédito liberado para a
cooperativa adquirimos equipamentos que nunca tivemos condições de
comprar. O trabalho que levava semanas, agora pode ser feito em um ou
dois dias”, disse.
Percebendo a potencialidade da
Paraíba, o Governo Federal já sinaliza interesse pela atividade. O
secretário adjunto de Geologia, Mineração e Transformação Mineral,
Carlos Nogueira, destacou as potencialidades da base mineral do Estado:
“A Paraíba tem potencial na geração de bens minerais não metálicos.
Fomentar esse tipo de atividade nessas microrregiões é gerar emprego e
renda, além de fixar o homem no campo”, avalia Nogueira.
Um azul único, de um brilho incomparável
Um
azul único, de um brilho incomparável, alcançou valores nunca
imaginados nos mercados das joias. Um recorde: a Turmalina Paraíba
superou a cotação dos diamantes. A gema tem esse nome porque foi
encontrada pela primeira vez no distrito de São José da Batalha, no
interior paraibano. O Estado é rico em turmalinas, mas a variedade de um
azul único surgiu da obstinação típica dos caçadores de pedras.
Informado
da ocorrência de gemas no subsolo paraibano, no começo dos anos 80 o
mineiro Heitor Dimas Barbosa decidiu garimpar na região. Com licença do
governo federal, escavou durante sete anos. Em 1989, encontrou algumas
pedras ‘diferentes’, estranhou a cor e mandou para análise no maior
laboratório de gemas do mundo, o Gemological Institute of America (GIA).
A resposta chegou em poucos dias: eram pedras únicas no planeta. O GIA
ficou tão impressionado que publicou uma reportagem de nove páginas em
sua revista, e assim a Turmalina Paraíba se tornou conhecida no meio dos
aficionados, por profissão ou paixão, das pedras preciosas.
Na
cidade de Picuí, nada mudou com a descoberta das pedras tão valiosas.
Os moradores seguem a rotina sem pressa e sem novidades. As raras
turmalinas permanecem nas histórias que alimentam sonhos de um futuro
próspero para a região.
“Antes a atividade era
clandestina. Agora com incentivos, estamos esperançosos com o futuro.
Com certeza, ele será melhor”, comemora o garimpeiro Joaquim Vidal de
Negreiros Filho, de 47 anos, que trabalha há mais de 20 no garimpo. A
dificuldade de extração, feita manualmente em túneis de até 60 metros de
profundidade, é uma das razões da sua raridade. A gema é de um azul
neon tão intenso que chega a brilhar no escuro.
Os
cientistas descobriram que a Turmalina Paraíba contém uma grande
quantidade de ouro, cobre, ferro e manganês. Esses elementos são
responsáveis pelos variados tons e coloração. São mais de 300 tons
diferentes de turmalina encontradas no Estado, porém, a mais rara é a
azul. E é esse azul raro que a torna tão especial.
Atualmente,
a gema é utilizada pela grifes brasileiras Arrigoni, Amsterdan Sauer e
H. Stern, além das internacionais Dior e Channel. A turmalina até pode
ser rara, mas a presença de ‘estrangeiros’ na cidade de Picuí já não
surpreende os moradores.
Tem gringo na caatinga –
“Por aqui já passou alemão, chinês, japonês americano, espanhol,
italiano. Somos visitados por representantes de joalherias de todo o
mundo. Toda semana chega um gringo diferente querendo comprar turmalina
Paraíba. E isto é bom, prova que a qualidade da cor das nossas gemas é a
mais especial do mundo”, comemora Vidal Filho.
E a
otimismo do garimpeiro não é à toa. O próprio fundador da H.Stern, Hans
Stern, falecido em 2007, tinha as turmalinas como suas pedras
preferidas. Era tão aficionado pela gema que deixou uma coleção
particular de turmalinas, a maior e mais importante do planeta, aberta à
visitação pública na matriz da joalheria, no Rio. Hans Stern era um
caçador de turmalinas, investindo e rastreando até que a coleção
chegasse a 971 pedras.
Apesar da raridade, o
comércio da turmalina parece estar só começando. Em 2011 uma turmalina
extraída na Paraíba, de 191,87 quilates e lapidação oval, recebeu
certificação do Guiness Book of World Records. O proprietário da gema, o
banqueiro canadense Vincent Boucher, disse que a pedra está avaliada
entre 25 milhões e 125 milhões de dólares canadenses (algo em torno de
US$ 24 milhões a US$ 122 milhões americanos), mas já adiantou que ela
não está à venda.•.
A Turmalina Paraíba ainda é
pouco conhecida no Brasil. A aparição em pequena ocorrência, as lendas e
a raridade são o que a fazem se tornar ainda mais especial. Quem sabe a
beleza, glamour, poder e brilho não fariam a eterna diva do cinema,
Marilyn Monroe, se render aos encantos do azul mais caro do mundo? Além
dos diamantes, as turmalinas podem sim, ser as melhores amigas das
garotas
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