“A
produção garimpeira em Brotas de Macaúbas.” Salvador (Bahia):
Coordenação de Mineração – Comin – Secretaria da Indústria, Comércio e
Mineração – SICM – Bahia, setembro de 2008. Olderico Barreto -
Presidente da Cooperativa Agromineral Sem Fronteiras – CASEF - Brotas de
Macaúbas, com quartzos hialino e rutilado.
O MUNICÍPIO DE BROTAS DE MACAÚBAS
O
Município de Brotas de Macaúbas está situado na microrregião da Chapada
Diamantina, distando 590 quilômetros de Salvador. O acesso é através da
BR-242, que, a partir do entroncamento, dista 42 quilômetros da sede do
município. Possui área de 2.372,64 km2, sendo dominado por um clima
semi-árido e seco a sub-úmido, com temperatura mínima média em torno de
16°c, a máxima média em torno do 35°c, ficando a média geral em torno de
20°c. Seu período chuvoso estende-se de Novembro a Março, atingindo a
pluviosidade anual média de 723 mm, com mínimos de até 309 mm e máximas
de até 1593 mm. . Sua população é estimada em 11.427 habitantes,
conduzindo a uma densidade de 4,82 habitantes por km², com 9.631
eleitores cadastrados vinculados ao município. (SEI, 2006) Em termos
de infraestrutura, aspectos básicos são contemplados. Dispõe de uma
agência de banco privado, do Bradesco, e um posto de banco estatal, do
Banco do Brasil. Entretanto, o posto não mostra funcionamento corrente,
devendo os interessados dirigir-se ao município vizinho de Ipupiara. De
acordo com a JUCEB, o Município de Brotas de Macaúbas possui 15
indústrias, ocupando o 126º lugar na posição geral do Estado da Bahia, e
172 estabelecimentos comerciais, o que o coloca na 195ª posição dentre
os municípios baianos. O consumo elétrico residencial médio é de 55,22 Kwh por habitante, o que a coloca no como 301º no ranking baiano. Possui
uma pousada com cerca de 20 vagas e algumas pequenas hospedagens,
dispondo o seu parque hoteleiro total de estimados 73 leitos. Dispõe de um hospital privado conveniado ao Sistema Único de Saúde - SUS, atendendo emergências básicas, dispondo de 19 leitos. Em termos de estabelecimentos educacionais, há 59 infantis, 79 de ensino fundamental, 2 de ensino médio. Tem
como destaque agrícola 200 hectares de plantações de feijão e 100
hectares de plantações de cana-de-açúcar. Destacam-se também na Produção
Agrícola, embora em quantidades menores, banana, arroz, coco e manga.
Seus rebanhos atingem 12.600 cabeças de gado, 1.420 suínos e
3.000 ovinos. 460 cabeças de vacas leiteiras. 18.000 galinhas produzem
90 mil dúzias de ovos por ano. Além disso, há destaque para a
apicultura, que produz 10.000 kg de mel por ano. Suas ocorrências
minerais já anotadas são amianto, barita, cobre, cristal de rocha,
diamante, ferro, manganês, ouro, quartzito, mármore. O Produto
Interno Bruto do Município fica em torno de R$ 26.852.000,00, conforme o
IBGE/2005, chegando-se a um per capita de R$ 2.325,00. Em termos de doenças transmissíveis de notificação obrigatória, foram registrados, em 2005, 3 casos de hanseníase. Os
municípios localizados na micro-região garimpeira de Brotas de Macaúbas
são considerados por alguns estudos dentre os mais pobres do Estado da
Bahia. São basicamente Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos,
Ipupiara e Gentio do Ouro. Seus Índices de Desenvolvimento Humano –
IDH exibem o problema vivenciado por esses municípios, dentre os quais
somente Ipupiara apresenta um índice razoável.
Município - IDH Brotas de Macaúbas - 0,628 Oliveira dos Brejinhos - 0,648 Ipupiara - 0,670 Gentio do Ouro - 0,575
O QUARTZO NA BAHIA
O
Anuário Mineral do Brasil – 2006, do Departamento Nacional da Produção
Mineral - DNPM revela a existência de reservas inferidas de 1.213.050
toneladas, locadas tão somente no Município de Capim Grosso. Este
valor revela uma queda em relação às expectativas anteriores. O Quartzo
da Bahia aparece, no Anuário Mineral Brasileiro – 1998 do DNPM, anotado
em mais municípios e em volume bem maior.
A produção baiana de Quartzo em 2005 atingiu 15.253 toneladas de minério bruto, cotada a R$ 19,58 por toneladas. (DNPM, 2006) Entretanto,
essa produção é praticamente dominada pelos garimpeiros, o que torna o
controle de quatitativos extremamente dificultada. No Brasil, em
2007, praticamente não houve consumo de lascas para crescimento de
cristal sintético. Daí a produção ter de buscar mercado consumidor no
exterior. Em 2006, as exportações brasileiras de quartzo atingiram o
montante de 22.561 t, para um correspondente valor em divisas de US$ FOB
4.901.000. O destino dos bens primários de quartzo exportados foi:
Espanha (31,6%), Japão (13,7%), Israel (10,4%), Itália (7,7%), Bélgica
(6,8%), Chile (5,2%) e Estados Unidos da América (4%). O Quartzo
beneficiado, ainda que a nível primário, aponta como sítio de maior
possibilidade de venda local a Cidade de Lençóis. é um caminho para a
vontade de ampliação de oferta de produtos lapidados, artesanato mineral
e adorno mineral.
OS GARIMPOS
O
Município de Brotas de Macaúbas dispõem de intensa atividade baseada
especialmente no garimpo de Quartzo, com origens assentadas na década de
1930. Desde então passou-se a explorar e explotar suas variedades
verificadas que são Quartzo hialino, Quartzo leitoso, Quartzo fumê e
Quartzo fumê rutilado. A produção sempre foi reconhecidamente de vulto, entretanto, de dimensionamento altamente problemático. Seus
estimados cerca de 200 pontos de garimpos distribuídos no município,
todos voltados para a produção dessas variedades de Quartzo, não mostram
registros de produção confiáveis. As estimativas são feitas por amostragem, ainda assim, em atitudes isoladas e sem qualquer indicador mais objetivo.
A COOPERATIVA AGROMINERAL SEM-FRONTEIRAS – CASEF
Visando
agregar a mão de obra garimpeira, normalizando a sua conduta,
procurando colocar a produção em um caminho de regularização e melhoria,
surgiu a Cooperativa Agromineral Sem-Fronteiras – CASEF. Esta passou a
agregar praticamente todos os garimpos e garimpeiros do Município de
Brotas de Macaúbas, além de outros dos municípios em torno. Os
garimpos em relação aos quais efetua lavra legalizada estendendo-se por
Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Ipupiara e Gentio do Ouro,
contando com associados cooperativas ligados a todos esses municípios. Fundada
em 1º de janeiro de 1990, sob a égide da Lei 7.805, materializou
estatutariamente o objetivo de assegurar aos seus associados o direito
de exploração e explotação dos garimpos da região, especialmente aqueles
de quartzo. O movimento de criação da CASEF recebeu apoio em vários
níveis: Municipal, Estadual e Federal. Nisso contaram com ações
especialmente de Prefeitura e Câmera Municipal de Brotas de Macaúbas,
alguns Secretários de Estado, como também alguns deputados Estaduais e
Federais. O seu foco, a finalidade de regularizar a atividade mineira
garimpeira na região, além do quantitativo de pessoal envolvido, logo
envolvido, atraiu interesses políticos. A CASEF indica que a esfera
estadual tem se mostrado apenas relativamente regular nos apoios. A
seqüência de prefeitos municipais se caracterizou por uma irregularidade
acentuada no apoio desde a inauguração da CASEF. O reconhecimento da CASEF como organização não governamental foi oficializado a 19 de Maio de 1996. Desde então, recebeu apoio internacional por parte dos Governos da Bélgica e da China.
Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas
AS INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS
A CASEF possui uma sede própria com área construída de 744m2. Esta sede dispõe de duas edificações. A
primeira unidade é a sede propriamente dita, sendo constituída por uma
edificação de 300m2. O seu objetivo primeiro era já ser o sítio da
Cooperativa que se dedicasse a funcionar como escola de Lapidação,
Artesanato mineral e Adorno de bijuterias. Constitui-se de: - 03 salas administrativas - 01 auditório - 01 cozinha - 01 refeitório - 01 sala de exposições. Possibilita
a agregação, em um único instante, com relativa folga, de 60
associados. Entretanto, relatório interno indica que preservou alguma
comodidade para uma quantidade de até 100 associados ao mesmo tempo. A
segunda unidade, localizada no mesmo terreno, porém distante da
primeira cerca de 50 metros, é o Galpão de Produção. Este tem cerca de
160m2, sendo fundamentalmente destinado ao beneficiamento do Cristal de
Rocha. Dispõe de equipamentos operacionais constituintes normais de
um núcleo de artesanato mineral funcional. O primeiro destaque é uma
serra caixão, localizada operacional. A bancada de formação básica é
composta por dois motores a ela dedicados, podendo assentar quatro
artesão ao mesmo tempo. Na mesma linha, há dois motores para ao
alisamento e dois para o polimento, cada um podendo receber dois artesão
ao mesmo tempo. Praticamente paralisado, atualmente, sua operação é
mínima, atuando geralmente apenas um único artesão, envolvendo-se, em
raros momentos, até quatro artesãos. Uma bancada é dedicada à
perfuração de gemas e pedras, para a eventual montagem de bijouterias.
Dispõe de dispondo de 10 máquinas adquiridas por indicação da consultora
Karina Achoa, que foi sugerida à CASEF pela atualmente extinta
Superintendência de Geologia e Recursos Minerais - SGM. Havendo
recebido recursos de apoio chinês à CASEF, foram destinados esses à
compra dessas máquinas, das quais 7 jamais funcionaram, em 10 anos.
Estas chegaram inoperantes e a empresa que a consultora indicou, cujas
máquinas vendeu, desapareceu, uma vez realizada a compra. Após um
período em que somente uma máquina funcionou mais duas maquinas passaram
a funcionar, assim se encontrando ainda a situação. Estes problemas
reduziram em muito as expectativas iniciais de produção de bijouterias
pelo núcleo. A CASEF dispõe ainda de um paiol devidamente
regularizado junto ao Ministério do exército, no qual são alojados os
explosivos que são utilizados nas detonações para aberturas em garimpos.
Encontra-se esse paiol instalado no garimpo do Bojo Vermelho.
OS ASSOCIADOS
A Cooperativa Agromineral Sem Fronteiras – CASEF, conta atualmente com um quadro de 645 associados. Cooperativa Agromineral Sem Fronteiras – CASEF - Brotas de Macaúbas.
Cada associado tem direito à exploração dos garimpos
administrados pela Cooperativa. Isto os coloca em situação regularizada,
trabalhando em área com direitos minerários e licenças ambientais
correntes. Além disto, passam a ter direito a freqüentar eventuais
cursos na sede, e utilizar seus alojamentos, quando da freqüência em
cursos de treinamento ou aprimoramento no local. Estes alojamentos também são utilizados quando o associado freqüenta algum colégio regular no município. Como
deveres, os associados devem pagar uma taxa de manutenção da área de
10% da sua produção. Além disso, a revenda controlada de explosivos pela
CASEF costuma a cobrar ágio de 30%, o qual é utilizado para novas
aquisições e necessária manutenção do seu estoque. . Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas . Cumprindo
solicitação do Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM, em
1992, foi coordenado pela CASEF um cadastramento de garimpos e
garimpeiros nos municípios da sua atuação, não havendo levantamento mais
recente. Foram cadastradas 3.000 famílias em conexão direta com
atividades garimpeiras, atuando numa área de aproximadamente 60.000
hectares, nos municípios de Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos,
Ipupiara e Gentio do Ouro. . OS GARIMPOS ADMINISTRADOS PELA CASEF
Atualmente, a CASEF administra e responde legalmente por garimpos distribuídos por uma área de 4 quilômetros por 13 quilômetros. A
contagem mais recente, de 2008, apontou a existência, nos municípios
envolvidos de 174 garimpos sob responsabilidade da CASEF. Dentre esses
destacam-se o Garimpo do Bojo Vermelho e o Garimpo Mina da Banana. . Drusa de Quartzo - Garimpo Bojo do Ioiô - Brotas de Macaúbas . O ACESSO
O acesso aos garimpos é feito através de estradas carroçáveis cujas condições costumam piorar em épocas de chuva mais intensa. Rumo
a alguns garimpos, apesar de em mapa parecerem próximos, inexistem, em
muitos casos, estradas que ultrapassem a serra de maneira um mínimo
aceitável. Isto obriga a contornos, forçando um deslocamento através de
viagens de até 100 km, por tais estradas carroçáveis, até garimpos que
estariam mais acessíveis se forem implantadas estradas em melhores
condições . . A PRODUÇÃO NOS GARIMPOS
Os trabalhos, durante o ano de 2008, se concentraram no Garimpo do Bojo Vermelho. A
produção se caracteriza por recursos muitos limitados, em paragens
muito distantes e de acesso prejudicado pelas condições das estradas e
problemas como o de manutenção dos compressores. O domínio do
minerador informal não permite que haja uma grande perspectiva de
desenvolvimento local. A isto some-se que a convergência desses
mineradores para a CASEF tem se revelado também apenas insuficiente para
resolver os problemas. Deve-se tal fato especialmente a um regime de
cobranças muito estrito da CASEF, que procura exigir o menos possível
dos associados, sabendo-os de baixa a baixíssima condição financeira. Isto
posto haver constantes demandas dessa cooperativa que, apesar de
justificadas e amparadas em indicadores técnicos, tiveram constantemente
sinalizações desfavoráveis de apoio do Estado. A produção de lascas
de quartzo, isto é, fragmentos selecionados, é feita manualmente,
produzindo peças pesando menos de 200 gramas. Esta é tão importante
quanto a produção de cristais íntegros, que chegam facilmente à escala
decimétrica. Nos dois garimpos visitados, viram-se pilhas de lascas de quartzo de qualidade diversificada, marcadamente não homogênea. Os
cristais de grau eletrônico são os de elevado grau de pureza e
características químicas muito específicas, sendo usados na indústria de
cristais cultivados. São mais raros, com surgimento menos freqüente
nestes municípios, o que conduz a uma produção esporádica. Entretanto,
são encontrados. Há uma metodologia de retirada de cristais que
inclui cavas ou poços geralmente decamétricos, que dão acesso a veios.
Estes são seguidos, em profundidade, produzindo-se pequenos túneis em
conformidade com a conformação dos veios. O trabalho de alargamento e
ruptura de áreas mais rígidas é necessariamente feito com explosivos. Obtido
o cristal, o trabalho nos sítios limita-se à limpeza do grosso do
estéril, separação das unidades mais expressivas. Pode ser resumida a
uma seleção relativamente grosseira do material obtido. Uma
observação é que não foi observada qualquer menção à necessidade de
busca de maior capacitação tecnológica, a qual permitisse uma agregação
de valor mais efetiva. As demandas circulam em torno tão somente da
melhoria do acesso, que permita a chegada aos garimpos de caminhão de
mais capacidade que a caminhonete atualmente utilizada. Nessa
unidade, o Garimpo do Bojo Vermelho, a produção já chegou a 105
toneladas, as quais foram todas negociadas, predominantemente com
compradores chineses. Entretanto, foram anotadas dificuldades
evidentes de relacionamentos com os compradores. Conforme relatos, não é
raro os garimpeiros confiarem em compradores e, em um dado momento,
este não mais prestar contas de volumes expressivos de produto,
resultando em prejuízos expressivos. . TRANSPORTE
Conta,
atualmente, a CASEF tão somente com um único veículo, uma caminhonete
Toyota. Após ter a CASEF sua caminhonete furtada, a atual foi
primeiramente emprestada e finalmente doada pela Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral – CBPM, a título de fomento às atividades da CASEF. Este
veículo apresenta capacidade de transporte de limitada, em relação à
produção garimpeira, provocando redução de ritmo nos garimpos, enquanto a
produção não é completamente recolhida. Esse evento é realizado, muitas
vezes, em mais de uma viagem, através de longos deslocamentos,
aumentando em muito o custo do cristal local. Considerando a
distância dos garimpos, o estado das estradas, e a disposição deste um
único veículo, mantém-se a produção uma produção limitada, amarrada a
limites bem abaixo do potencial local. . OUTRAS DIFICULDADES
O
apoio governamental, algumas vezes, conduziu a prejuízos. Cita-se o
caso de recomendação, por parte de profissional indicado pelo Estado, de
compra de máquinas de perfuração. As dez adqüiridas com capital
oferecido pelo Governo da China Popular resultou em problemas, pois
somente duas unidades funcionaram, ao longo de cerca de 10 anos. Tal
prejuízo não foi jamais diretamente reposto. O Artesanato Mineral e a
Bijuteria produzidos pelos poucos artesão em operação na CASEF resultam
em produtos que permanecem, geralmente, expostos no interior dessa
Cooperativa. Esta, com a costumeira ausência do responsável, posto este
ser também responsável pela caminhonete e pelo transporte, resulta em
difícil acessibilidade aos produtos. Além disto, ainda que seja uma
produção local, não foi observado qualquer ponto-de-venda de destaque
localizado no centro comercial urbano. Dentro desse problema, o
quadro de artesãos ali formados encontra-se disperso, muitas vezes
migrado, deslocado dessa profissão. Apenas um único artesão permanece em
trabalho ocasional e solitário na sede, podendo ser considerados, para
intervalos mais espaçados, quatro artesãos que fazem uso do equipamento. Outro
problema grave é a tomada de garimpos legalmente atrelados à CASEF por
terceiros, o que demanda tempo demasiado para reação legal e
desalojamento dos infratores. Este evento, além de sustentar constate
tensão entre os garimpeiros, faz com que a cooperativa perca uma boa
parte da produção, sem que haja qualquer retorno. |
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