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Pode até ser. Mas se encontrar o diamante já é difícil, ainda pior é achar alguém que saiba procurá-lo: um garimpeiro “de verdade”. A prática tão comum em Santa Cruz do Rio Pardo há algumas décadas perdeu-se e as novas gerações pouco ou nada sabem sobre o assunto.
É por isso que Paulo Afonso dos Santos, 70 — mineiro de Jequitaí radicado em Santa Cruz há 20 anos — quer colocar em um livro as técnicas do garimpo que aprendeu com seu pai. Junto ao sonho de escrever o livro, Paulo cultiva outro há duas décadas: encontrar, nas águas do Pardo, um diamante. “Já sonhei diversas vezes que estava achando esse diamante. Quando acordo, fico triste de ser só sonho”, conta.
Paulo, assim como apostava o professor Hélio Castanho de Almeida, tem absoluta certeza de que ainda há diamantes no rio Pardo. Certeza que brotou de um comentário de um parente, quando ele ainda morava em Minas Gerais e estava prestes a se casar com uma santa-cruzense. “Você vai para Santa Cruz do Rio Pardo? Lá tem diamante no rio”, foi a observação feita pelo familiar.
A certeza foi aumentando quando, já instalado na cidade, Paulo passou a observar o cascalho que vem na areia grossa para reformas de casas. Chegando aqui, porém, o garimpeiro começou a trabalhar no ramo de calçados e deixou adormecer, por longos anos, o sonho do diamante. Mas a vontade de encontrá-lo e a certeza dessa possibilidade brotaram novamente depois que o ex-garimpeiro realizou pesquisas no rio Pardo, recolhendo cascalho para examinar o tipo de pedra que o compõe.
O tipo de garimpo mais praticado é o de leito de rio — talvez porque nessa modalidade o garimpeiro não tenha que pagar comissão a nenhum meieiro, o que ocorre no garimpo de gupiara e de virada. Mas é uma técnica trabalhosa.
O garimpeiro deve, em primeiro lugar, localizar a concentração de cascalho do rio. Paulo explica que o rio tem “bolsas” no fundo — o que nós chamamos de “fossos” do Pardo. Há dois tipos de bolsas: a fêmea, larga na boca e cheia de cascalho, e o macho, de boca larga, mas estreito no fundo. “A melhor para pegar cascalho é a fêmea”, ensina Paulo.
Para achar as bolsas, o garimpeiro precisa ir de barco pelo rio e usar uma sonda — uma barra de ferro comprida — para “medir” a profundidade. O local da bolsa também deve ser especial — não pode ser muito fundo, já que o garimpeiro deverá retirar cerca de 50 latas de cascalho.
Depois de encontrada a bolsa, o garimpeiro deve preparar o terreiro na margem, em um local sem barrancos. É preciso limpar e socar o terreno, deixando a terra nua e bem plana. Com as próprias mãos, o garimpeiro separa as pedras grandes do cascalho — não servem para nada. O que sobra é passado no ralo, um tipo de funil quadrado feito de ferro que separa mais uma parte de pedras grandes.
O que restou deve ser peneirado, dentro da água. Primeiro na peneira grossa, de aço, especial. O tamanho dos furos impede que as pedras maiores vazem para a peneira de baixo, a mais fina. O garimpeiro descarta novamente as pedras maiores — mas tomando o cuidado de verificar se nenhum diamante “enorme” ficou lá.
No chão, forma-se um círculo de cascalho perfeitamente desenhado: nas bordas, apenas umas pedras minúsculas, que podem ser amareladas ou cinzentas. O tamanho das pedras vai aumentando gradativamente e simetricamente em direção ao centro da peneira. Bem no meio fica o “caboclo”: as pedras maiores e escuras, pretas ou marrons, que durante o processo vão se aglutinando no “fundo” da peneira. Se houver diamante, estará ali. “No meio das pedras escuras, ele salta aos olhos. Não tem como não ver”, conta Paulo. A sensação de encontrar um diamante, segundo o ex-garimpeiro, é indescritível. Uma sensação que Paulo ainda espera vivenciar no Pardo. “Acho que tudo tem seu dia e sua hora”, comenta, cheio de esperança.
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