sexta-feira, 21 de junho de 2013

Histórias :: Pedras Preciosas

Histórias :: Pedras Preciosas

Fotos de João Marcos Rosa
Texto de Pedro Penido

“A gente é bicho em extinção”, ironiza Seu Ida, 55 anos (desde os 12 na lavra garimpeira).
Longe das grandes minas de ouro, o garimpo de pedras preciosas no norte do estado de Minas Gerais reúne um número menor de trabalhadores, mas exige muito da paciência, resistência e habilidade do garimpeiro.
Herdeiro e perpetuador de um modus operandi milenar, o garimpo coloca os homens em uma busca angustiante pelo brilho das pedras preciosas. Às margens dos rios, por exemplo, passam dias inteiros procurando qualquer coisa que brilhe no meio da areia e do cascalho que arrancam dos cursos d’água. Ao separarem as pedras na peneira, procuram por aquelas que mais faíscam à luz do sol.  Daí, inclusive, a origem do termo “faisqueiro”.
Mas o trabalho pesado do garimpeiro nem é sua maior preocupação. A falta de regulamentação, fiscalização pouco eficiente e a incompatibilidade da legislação do garimpo com a vida desses trabalhadores são os grandes problemas. Conseguir a Permissão para Lavra Garimpeira é uma aventura mais cara e desgastante que a própria labuta diária, afirmam alguns garimpeiros.
Assim, aos poucos, a atividade garimpeira perde força, mão-de-obra, espaço e memória. Muitas cidades pequenas no norte mineiro já lidam com marcas da decadência da atividade de extração mineral. No século XVIII, o Brasil foi o maior fornecedor de ouro do mundo, enviando quase 1 milhão de toneladas para Portugal. Atualmente, a maior parte da produção vem de grandes empresas mineradoras, enquanto os garimpeiros transformam-se em bastiões da memória do garimpo tradicional.
De Diamantina a Grão Mogol, na região Norte de Minas Gerais, garimpeiros contaram suas histórias e dilemas ao jornalista José Augusto Bezerra, para a Revista Globo Rural, de Outubro de 2007. As imagens são do fotógrafo João Marcos Rosa.
Diamante em meio aos “satélites”, pequenas pedras escuras que são um indicativo para os garimpeiros que podem estar próximos de encontrar um diamante.
Diamante lapidado na sede da indústria de jóias Manoel Bernardes.
Valdomiro com a picareta alargando o túnel em busca de águas marinhas em Teófilo Otoni.
Garimpeiro em busca de diamantes num pequeno afluente do rio Jequitinhonha.
Em Couto de Magalhães, a casa antiga em péssimo estado de conservação é a face da decadência atual do garimpo no Vale do Jequitinhonha.
“Diamantina já não tem mais o mesmo brilho sem o garimpo”, lamenta Seu Antônio, ourives da Joalheria Pádua, a mais antiga do país que fica nstalada no centro histórico da cidade desde 1883.
Diversos tipos de gemas expostas durante a Feira Internacional de Pedras Preciosas (FIP) em Teófilo Otoni.
Feira livre em Teófilo Otoni: ao invés de frutas e hortaliças, mais de 100 barracas com pedras preciosas, bijuterias e artefatos variados.
Pé do garimpeiro Seu Marão no ribeirão do Inferno em Grão Mogol.
Seu Tibúrcio, em sua casa em Novo Oriente de Minas, triste com sua sina, afastado do garimpo por doença e do seu passado de glórias pelo tempo. Em 1957 ele encontrou um água marinha com 35 quilos (175 mil quilates)
Dona Lia e Seu Marão, casal de garimpeiros de Grão Mogol, se divertem relembrando as histórias dos velhos tempo do garimpo na região.
De escafandro, Seu Clarindo ou Totôca, como é conhecido, lamenta: “Diamante agora é agua”. Referindo-se ao trecho de 115 Km do rio Jequitinhonha que foi inundado pela Usina Hidrelétrica de Irapé.
Seu Ida prepara uma fogueira às margens do Ribeirão do Guinda em Diamantina.
Carne de garimpeiro é sempre defumada. Na foto, uma corimba pescada no rio Itacambiraçu em Grão Mogol, seca na fumaça do fogão à lenha.
Acampamento garimpeiro montado em uma laje de pedra.
Seu Ida peneira o gorgulho no Ribeirão do Guinda, em Diamantina, à cata de diamantes.
Conheça também as histórias Sonhos do Ouro e Órfãos do Ouro, com imagens de Bruno Magalhães.
Pé do garimpeiro Seu Marão no ribeirão do Inferno em Grão Mogol.

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