Indústria mineral não explora suas riquezas
A indústria de exploração mineral do Rio Grande do Norte se perdeu no caminho das pedras preciosas.
Os
investimentos em qualificação de mão-de-obra e projetos para extrair do
subsolo potiguar riquezas como as raras águas marinhas e turmalinas são
quase inexistentes ou insuficientes, seja pelo poder público ou
iniciativa privada. O Estado está entre os quatro maiores do país em
número de ocorrências de gemas (pedras preciosas e semi preciosas), mas
quase não explora. Riquezas como a água marinha - considerada a melhor
do mundo - permanecem sem brilho e valor no subsolo.
Água
marinha e turmalinas são maioria entre as quase 150 ocorrências
catalogadas no Mapa Gemológico do Rio Grande do Norte. Lajes Pintadas,
Parelhas e Tenente Ananias condensam o maior número dessas ocorrências.
Em todo o Estado, apenas duas empresas são outorgadss pelo DNPM
(Departamento Nacional de Produção Mineral) e exploram gemas de forma
organizada: a Mineração Terra Branca Ltda e H & R Exportação e
Importação de Minérios Ltda.
De
acordo com o coordenador de Desenvolvimento de Recursos Minerais da
Sedec (Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico), Otacílio Oziel
de Carvalho, é difícil saber quanto se produz em termos de pedras
preciosas no Rio Grande do Norte. A informalidade dos garimpos - de onde
provém a produção estadual - dificulta o trabalho de obtenção de
informações.
“As
publicações bibliográficas sobre os bens minerais no subsolo potiguar
não são precisas. Mas estamos trabalhando para obter informações mais
precisas, inclusive montando parcerias”, disse Otacílio de Carvalho.
Segundo ele, estão sendo elaboradas pesquisas para dar seqüência às
publicações anuais da “Avaliação Preliminar do Setor Mineral do RN”. Os
estados com o maior número de ocorrências de mineralizações de pedras
preciosas são Minas Gerais, Bahia e Goiás. Mas é na região Sul e Sudeste
quem mais comercializa o produto depois de transformado em jóias.
Segundo
Otacílio de Carvalho, o Ministério das Minas e Energias têm R$ 1 milhão
para investir nesse segmento. O dinheiro em fase de liberação na
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e será usado para pesquisas. A
falta de uma política prática afastou até mesmo os garimpeiros das
áreas de exploração. Segundo dados da Coordenadoria de Desenvolvimento
de Recursos Minerais, existem cerca de cem garimpos no Estado. Mas quase
todos estão dasativados.
O
fascínio que as gemas causam nas pessoas - seja pela raridade, beleza
ou custo - começa por aqueles que investigam e extraem os cristais até
chegar às mãos do consumidor final. E, segundo o economista e
especialista em gemas, Quirino Maia Neto, ainda são as mulheres as
maiores consumidoras desses artigos depois que se transformam em jóias.
Uma
gema - segundo especialistas - pode valorizar-se em até cem vezes entre
a fase que é extraída da rocha até compor uma jóia. Quem menos ganha
nesse processo é a pessoa que encontra e retira da natureza a pedra
preciosa, segundo Otacílio de Carvalho.
A
água marinha e a turmalina ocorrem principalmente em rochas cristalinas
- denominadas pegmatitos (rochas mais novas que chegam à superfície e
ficam encaixadas entre outras rochas através de eventos geológicos) - e
que é formado por um aglomerado de diferentes minerais. Nesse tipo de
rocha, normalmente, se forma cristais com dimensões maiores.
Uma
água marinha potiguar, quando de qualidade excepcional, custa bem mais
que certos diamantes de qualidade atestada, garantem os especialistas.
“O azul claro de uma água marinha é inconfundível”, disse Quirino Maia
Neto. A unidade de medida para as gemas é o quilate (cada quilate
eqüivale a 1/5 do grama). O quilate de uma boa água marinha lapidada,
por exemplo custa em média US$ 250. Mas é somente a “pedra”, sem contra o
custo quando transformada em jóia.
RN não lapida pedras preciosas
A
falta de mão-de-obra especializada, treinamento e equipamentos deixa o
Rio Grande do Norte quase sem produção de pedras preciosas com valor
comercial na indústria de jóias. Pior. Mercados como China e Rússia -
que segundo os empresários do segmento começam a abrir as portas
comerciais - estão se abrindo para o mundo dos negócios e a indústria
potiguar permanece inerte. “É inconcebível que, mesmo com a melhor água
marinha do mundo, não produzimos praticamente nada e ainda compramos de
outros estados o que temos em abundância”, criticou o proprietário da
“Granada Gemstones & Minerals”, Quirino Maia Neto. Segundo ele, a
maioria das pessoas que trabalham na extração de pedras preciosas no
Estado são agricultores que, à época da estiagem, escavam o chão em
busca de sustento.
Economista,
mas há dez anos trabalhando com exploração e tratamento de gemas,
Quirino Maia Neto revela que há quatro meses não consegue uma só água
marinha produzida no Rio Grande do Norte. “Isso só revela que nossa
exploração é feita de forma amadora e sem estrutura. Essas pessoas só
produzem quando não têm outra coisa para ganhar a vida”.
Apesar
de ter o mapa da mina em mãos, a indústria das pedras preciosas demanda
recursos, treinamento e acompanhamento técnico. “Mas falta tudo, exceto
a riqueza que permanece incrustada nas rochas”, afirmou Quirino.
Em
meados da década de 1990, a produção da gema mais valiosa do RN, a água
marinha, era de aproximadamente 20 quilos por mês. Desse total, apenas 1
quilo era considerado de qualidade excepcional e de grande valor
comercial. Hoje, essa produção não ultrapassa os 200 gramas a cada dois
anos. Famosas em qualquer parte do mundo, o quilate da água marinha do
Rio Grade do Norte varia 2 dólares (pedra comum) até US$ 250. Cerca de
80% das ocorrências de pedras preciosas registradas no Estado são de
água marinha. Uma outra raridade desperta o olhar dos apreciadores e
investidores desse segmento: a turmalina azul (mineral que ocorre em
várias cores na natureza). As mais importantes bibliografias que tratam
de gemas apontam que, no planeta, só há registro de ocorrências de
turmalinas azuis no município de São José da Batalha (PB) e em Parelhas
(RN). Os cristais localizados na paraíba são os melhores.
Americanos influenciam exploração
A
exploração de pedras preciosas ou semipreciosas, no Rio Grande do
Norte, tem relação direta com a permanência dos norte-americanos em solo
potiguar durante a Segunda Guerra Mundial. A necessidade de utilização
de cristais nos sistemas de rádios e armas de guerra ensejou o que pode
ter sido as primeiras pesquisas voltadas para exploração de gemas na
região.
Depois da Guerra,
o Rio Grande do Norte tornou-se um estado sem tradição na produção de
pedras preciosas no cenário nacional. O reconhecimento à preciosidade
que é a água marinha do RN veio em 1952, quando o governo brasileiro
presenteou a rainha Elizabeth II com um conjunto de colar e brincos. A
jóia é composta por 647 brilhantes e dez água-marinhas extraídas no
município de Tenente Ananias (região Oeste). Idéia do jornalista,
empresário e senador Assis Chateaubriant.
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