quarta-feira, 19 de junho de 2013

Indústria mineral não explora suas riquezas

Indústria mineral não explora suas riquezas


A indústria de exploração mineral do Rio Grande do Norte se perdeu no caminho das pedras preciosas.
Os investimentos em qualificação de mão-de-obra e projetos para extrair do subsolo potiguar riquezas como as raras águas marinhas e turmalinas são quase inexistentes ou insuficientes, seja pelo poder público ou iniciativa privada. O Estado está entre os quatro maiores do país em número de ocorrências de gemas (pedras preciosas e semi preciosas), mas quase não explora. Riquezas como a água marinha - considerada a melhor do mundo - permanecem sem brilho e valor no subsolo.
Água marinha e turmalinas são maioria entre as quase 150 ocorrências catalogadas no Mapa Gemológico do Rio Grande do Norte. Lajes Pintadas, Parelhas e Tenente Ananias condensam o maior número dessas ocorrências. Em todo o Estado, apenas duas empresas são outorgadss pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) e exploram gemas de forma organizada: a Mineração Terra Branca Ltda e H & R Exportação e Importação de Minérios Ltda.
De acordo com o coordenador de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Sedec (Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico), Otacílio Oziel de Carvalho, é difícil saber quanto se produz em termos de pedras preciosas no Rio Grande do Norte. A informalidade dos garimpos - de onde provém a produção estadual - dificulta o trabalho de obtenção de informações.
“As publicações bibliográficas sobre os bens minerais no subsolo potiguar não são precisas. Mas estamos trabalhando para obter informações mais precisas, inclusive montando parcerias”, disse Otacílio de Carvalho. Segundo ele, estão sendo elaboradas pesquisas para dar seqüência às publicações anuais da “Avaliação Preliminar do Setor Mineral do RN”. Os estados com o maior número de ocorrências de mineralizações de pedras preciosas são Minas Gerais, Bahia e Goiás. Mas é na região Sul e Sudeste quem mais comercializa o produto depois de transformado em jóias.
Segundo Otacílio de Carvalho, o Ministério das Minas e Energias têm R$ 1 milhão para investir nesse segmento. O dinheiro em fase de liberação na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e será usado para pesquisas. A falta de uma política prática afastou até mesmo os garimpeiros das áreas de exploração. Segundo dados da Coordenadoria de Desenvolvimento de Recursos Minerais, existem cerca de cem garimpos no Estado. Mas quase todos estão dasativados.
O fascínio que as gemas causam nas pessoas - seja pela raridade, beleza ou custo - começa por aqueles que investigam e extraem os cristais até chegar às mãos do consumidor final. E, segundo o economista e especialista em gemas, Quirino Maia Neto, ainda são as mulheres as maiores consumidoras desses artigos depois que se transformam em jóias.
Uma gema - segundo especialistas - pode valorizar-se em até cem vezes entre a fase que é extraída da rocha até compor uma jóia. Quem menos ganha nesse processo é a pessoa que encontra e retira da natureza a pedra preciosa, segundo Otacílio de Carvalho.
A água marinha e a turmalina ocorrem principalmente em rochas cristalinas - denominadas pegmatitos (rochas mais novas que chegam à superfície e ficam encaixadas entre outras rochas através de eventos geológicos) - e que é formado por um aglomerado de diferentes minerais. Nesse tipo de rocha, normalmente, se forma cristais com dimensões maiores.
Uma água marinha potiguar, quando de qualidade excepcional, custa bem mais que certos diamantes de qualidade atestada, garantem os especialistas. “O azul claro de uma água marinha é inconfundível”, disse Quirino Maia Neto. A unidade de medida para as gemas é o quilate (cada quilate eqüivale a 1/5 do grama). O quilate de uma boa água marinha lapidada, por exemplo custa em média US$ 250. Mas é somente a “pedra”, sem contra o custo quando transformada em jóia.
RN não lapida pedras preciosas
A falta de mão-de-obra especializada, treinamento e equipamentos deixa o Rio Grande do Norte quase sem produção de pedras preciosas com valor comercial na indústria de jóias. Pior. Mercados como China e Rússia - que segundo os empresários do segmento começam a abrir as portas comerciais - estão se abrindo para o mundo dos negócios e a indústria potiguar permanece inerte. “É inconcebível que, mesmo com a melhor água marinha do mundo, não produzimos praticamente nada e ainda compramos de outros estados o que temos em abundância”, criticou o proprietário da “Granada Gemstones & Minerals”, Quirino Maia Neto. Segundo ele, a maioria das pessoas que trabalham na extração de pedras preciosas no Estado são agricultores que, à época da estiagem, escavam o chão em busca de sustento.
Economista, mas há dez anos trabalhando com exploração e tratamento de gemas, Quirino Maia Neto revela que há quatro meses não consegue uma só água marinha produzida no Rio Grande do Norte. “Isso só revela que nossa exploração é feita de forma amadora e sem estrutura. Essas pessoas só produzem quando não têm outra coisa para ganhar a vida”.
Apesar de ter o mapa da mina em mãos, a indústria das pedras preciosas demanda recursos, treinamento e acompanhamento técnico. “Mas falta tudo, exceto a riqueza que permanece incrustada nas rochas”, afirmou Quirino.
Em meados da década de 1990, a produção da gema mais valiosa do RN, a água marinha, era de aproximadamente 20 quilos por mês. Desse total, apenas 1 quilo era considerado de qualidade excepcional e de grande valor comercial. Hoje, essa produção não ultrapassa os 200 gramas a cada dois anos. Famosas em qualquer parte do mundo, o quilate da água marinha do Rio Grade do Norte varia 2 dólares (pedra comum) até US$ 250. Cerca de 80% das ocorrências de pedras preciosas registradas no Estado são de água marinha. Uma outra raridade desperta o olhar dos apreciadores e investidores desse segmento: a turmalina azul (mineral que ocorre em várias cores na natureza). As mais importantes bibliografias que tratam de gemas apontam que, no planeta, só há registro de ocorrências de turmalinas azuis no município de São José da Batalha (PB) e em Parelhas (RN). Os cristais localizados na paraíba são os melhores.
Americanos influenciam exploração
A exploração de pedras preciosas ou semipreciosas, no Rio Grande do Norte, tem relação direta com a permanência dos norte-americanos em solo potiguar durante a Segunda Guerra Mundial. A necessidade de utilização de cristais nos sistemas de rádios e armas de guerra ensejou o que pode ter sido as primeiras pesquisas voltadas para exploração de gemas na região.
Depois da Guerra, o Rio Grande do Norte tornou-se um estado sem tradição na produção de pedras preciosas no cenário nacional. O reconhecimento à preciosidade que é a água marinha do RN veio em 1952, quando o governo brasileiro presenteou a rainha Elizabeth II com um conjunto de colar e brincos. A jóia é composta por 647 brilhantes e dez água-marinhas extraídas no município de Tenente Ananias (região Oeste). Idéia do jornalista, empresário e senador Assis Chateaubriant.

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