Do sertão para a Champs Elysées
Turmalina brasileira avaliada em US$ 1,3 milhão desperta a cobiça de grifes internacionais como Chanel e Dior.
Por Guilherme QUEIROZ
Diz o ditado que o diamante é o melhor amigo das mulheres. Mas
a depender de beleza, raridade e preço, uma candidata desponta para
tomar o posto da mais prestigiada das gemas na preferência feminina: a
turmalina brasileira. De cores que variam do vermelho ao verde, do
bicolor ao azul neon – a mais famosa e rara –, a pedra atiça o desejo de
amantes de joias mundo afora. E, mais recentemente, de joalheiros e
colecionadores. O motivo é um novo achado no Seridó, região do semiárido
na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte e um dos poucos
recantos do planeta onde se pode encontrar a gema. No fim de abril,
cinco garimpeiros escavaram uma pedra bicolor, de tom verde numa
extremidade e âmbar na outra, no município de Picuí.
Na balança, a gema pesou impressionantes 804 gramas –
aproximadamente o tamanho de um punho fechado –, o que faz dela a maior e
já desenterrada no mundo. Rara pelo porte, a pedra foi vendida, segundo
relatos da cooperativa dos mineradores local e do governo da Paraíba,
por US$ 1,3 milhão a um empresário de Belo Horizonte, e está guardada
num cofre da capital mineira. Logo deve mudar de casa. Seu provável
destino é o acervo de um colecionador ou o portfólio de uma grande
joalheria para ser lapidada – além de nomes nacionais como H.Stern e
Amsterdam Sauer, são potenciais interessadas grifes como Chanel e Dior,
as maiores compradoras desse tipo de raridade. Segundo especialistas
ouvidos pela DINHEIRO, o valor desembolsado pela pedra é elevado e
indica qualidade, embora o preço costume embutir certa subjetividade de
quem a avalia.
“Cada pedra é uma pedra. Por esse valor, tudo indica que está fora
do mercado”, diz Hecliton Santini, presidente do Instituto Brasileiro de
Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Turmalinas bicolores também são
bastante procuradas por joalheiros para confeccionar peças que exploram
as duas tonalidades. O valor da gema é determinado pela pureza das
cores, nitidez da divisa entre elas e ausência de fissuras. “A turmalina
bicolor ganha em valor muito mais pela qualidade das cores do que por
sua raridade”, afirmou Dino Psomopoulos, gemólogo da Amsterdam Sauer,
uma das principais joalherias nacionais. O interesse – e o preço pago –
pela turmalina encontrada pelos cinco garimpeiros não é incomum. Suas
variedades mais valiosas costumam superar os US$ 500 o quilate.
A mais famosa e cobiçada delas é conhecida como turmalina Paraíba. Encontrada
pela primeira vez em 1989, em num garimpo em São José da Batalha, na
Paraíba, a pedra teve suas reservas esgotadas pouco tempo depois. Pela
exclusividade, seu preço superou o do diamante, chegando a custar US$ 30
mil o quilate, contra US$ 25 mil da gema mais conhecida. Só
mais recentemente, turmalinas similares à estrela brasileira começaram a
ser encontradas na Nigéria e em Moçambique. “As brasileiras costumam
valer o dobro das africanas”, diz Santini. Além de joalherias nacionais
como Amsterdam Sauer e H.Stern, grifes internacionais como Chanel e Dior
têm joias confeccionadas a partir da mais nobre das turmalinas para
seus clientes mais exclusivos.
Um broche da Chanel cravejado com diamantes e uma grande turmalina
no centro, por exemplo, está avaliado em € 1,5 milhão. Mas nada se
compara à Ethereal Carolina Divine Paraíba. De propriedade do milionário
canadense Vincent Boucher, ela tem 191,87 quilates e está avaliada
entre US$ 25 milhões e US$ 125 milhões e, desde o ano passado figura no
Guinness – o livro dos recordes – como a maior turmalina lapidada do
mundo. Apesar de badalada, a pedra ainda é pouco conhecida no Brasil.
Tampouco é pouco divulgado o retorno que traz para os cofres
brasileiros. Entre maio e janeiro deste ano, o País exportou US$ 1,1
bilhão em pedras preciosas e joias, 35% a mais que no mesmo período do
ano passado. Desses, US$ 1,1 milhão foram em diamantes, brutos e
lapidados. Sobre as turmalinas, não se sabe.
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