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terça-feira, 9 de julho de 2013
Os Garrinchas de Serra Pelada
Os Garrinchas de Serra Pelada
Eles ficaram milionários ao tirar ouro da mina, mas esbanjaram com mulheres, carros e bebida - e hoje vivem na miséria
Gustavo Poloni, enviado especial a Serra Pelada |
Texto:
Depois de receber uma bolada em dinheiro, Índio fretou um
avião da falida Transbrasil para encontrar uma namorada no Rio e passou
dois meses hospedado no Copacabana Palace. Hoje, vive da aposentadoria
de R$ 515 da atual mulher, sua 14ª companheira. Com Zé Sobrinho
aconteceu algo parecido. Com os milhões que ganhou no trabalho, promoveu
festas onde não faltavam bebidas importadas e mulheres bonitas. Aos 70
anos, dá expediente numa cooperativa para pagar as contas. As
trajetórias de Índio e Zé Sobrinho lembram a história de muitos
jogadores de futebol, como Garrincha, o gênio de pernas tortas que
conquistou duas Copas do Mundo. Nascidos em famílias pobres, ficaram
milionários da noite para o dia, não souberam administrar suas fortunas e
agora vivem à beira da miséria. A diferença é que os dois não
enriqueceram jogando bola, mas garimpando ouro em Serra Pelada na década
de 1980. “Não gosto de falar dessa história”, disse Índio ao iG em
sua casa de madeira e sem rede de esgoto no povoado que reúne cerca de 6
mil pessoas, a 55 quilômetros de Curionópolis (PA). “Às vezes parece
até que foi um sonho”.
Salviano Machado
Em casa com a mulher, Índio vive uma nova realidade: depois de
tirar mais de uma tonelada de ouro de Serra Pelada, o garimpeiro fretou
um avião para ir ao Rio de Janeiro
A história de José Mariano dos Santos, o Índio, cuja mãe ascendia a
tribos locais, ganhou contornos de lenda em Serra Pelada. Nascido em
1953 em Penalva, município a 250 quilômetros de São Luís do Maranhão,
largou a escola para ajudar a pagar as contas de casa. Trabalhava numa
oficina de motosserras no município paraense de Jacundá quando ouviu
falar de Serra Pelada pela primeira vez. Não pensou duas vezes e, aos 27
anos, resolveu tentar a sorte na mina de ouro. Durante os dois
primeiros anos só conseguiu o suficiente para sua subsistência. Não
imaginava o que estava por vir. Entre 1982 e 1986, Índio “bamburrou”
(enriqueceu, na gíria dos garimpeiros) ao garimpar 1.183 quilos de ouro –
R$ 81,5 milhões em valores atualizados. Com os descontos de impostos e
pagamentos de empregados, sócios e fornecedores, ficou com um lucro de
411 quilos (cerca de R$ 28 milhões). “Com esse dinheiro o cabra
analfabeto quer ir logo atrás de mulher, boate e carro novo”, contou.
Em Belém, capital do Pará, Índio tentou comprar uma passagem de
avião para ir ao Rio encontrar uma mulher por quem se apaixonara.
Vestido de garimpeiro (camiseta, bermuda e chinelos), foi menosprezado
por uma balconista da antiga Transbrasil. Quando ela foi atender um
cliente engravatado que pedia informações sobre o mesmo voo, Índio não
se conteve. Começou a gritar que não queria comprar uma passagem, mas
fretar um avião. Com a confusão armada, o garimpeiro foi chamado pelo
gerente da companhia para conversar. Ali, soube que poderia fretar o
avião, mas que isso custaria muito caro. “Disse que não queria saber o
preço, só quando o avião decolaria”, disse Índio. Logo ele embarcaria
para o Rio acompanhado do piloto, co-piloto e uma comissária de bordo. E
só. O arroubo de novo rico custou o equivalente a quase cinco quilos de
ouro, ou R$ 345 mil em valores atualizados.
No auge de Serra Pelada, Índio guardava sua fortuna em sacos de
dinheiro escondidos em guarda-roupas, tinha 13 casas em sua maioria em
Belém e Serra Pelada e 11 carros zero quilômetro na garagem. Mas a
gastança desenfreada fez com que o sonho virasse um pesadelo. Índio vive
com Raimunda, a 14ª mulher, com quem está casado há oito anos. Não tem
renda e suas contas são pagas com a aposentadoria da mulher, de R$ 515.
Até para comprar a carteira de cigarro de R$ 2 o garimpeiro precisa
pedir dinheiro emprestado. Boa parte da comida que vai à mesa vem do
quintal de casa, onde eles criam galinhas, cultivam um pomar e uma
pequena horta. Aos 57 anos, Índio voltou a estudar e sonha em fazer
faculdade – Geologia ou Direito estão entre suas opções. “Se pudesse,
faria tudo diferente”, disse ele. “Nunca achei que fosse envelhecer ou
que o ouro fosse acabar." “Aproveitei a vida”
Salviano Machado
o garimpeiro Zé Sobrinho com uma foto dos tempos áureos de Serra
Pelada: responsável por tirar quase uma tonelada de ouro da mina
Entre os moradores de Serra Pelada não é difícil encontrar
exemplos de garimpeiros que tiveram história de ascensão e queda como a
de Índio. No auge do garimpo, quando cerca de 100 mil pessoas exploravam
a mina artesanalmente e carregavam nas costas sacos de lama de até 35
quilos, transformando a cava num verdadeiro formigueiro humano,
estima-se que foram extraídas 42 toneladas de ouro da região. Os feitos
dos garimpeiros eram contados ao final do dia na principal avenida do
vilarejo, ao pé de uma árvore que ficou conhecida como “Pau da Mentira“.
O apelido tem fundamento. Apesar do volume expressivo, poucos ficaram
ricos com o ouro de Serra Pelada. Os moradores costumam repetir que
apenas 1% dos que exploraram a mina encontraram ouro em grande
quantidade. Destes, apenas 10 enriqueceram de fato. O restante “blefou” –
ou perdeu tudo, na gíria dos garimpeiros.
José Sobrinho da Silva, 70 anos, é um dos “blefados”. Natural de
Barra de São Francisco, no Espírito Santo, chegou a Serra Pelada em 1980
e encontrou milhares de homens cavando a terra em busca de riqueza.
Logo seria recompensado: tirou quase uma tonelada de ouro da mina e
estima que tenha ficado com 50% desse valor. “A primeira coisa que
garimpeiro faz quando ganha dinheiro é investir no ‘banco rachado’
(mulheres, na gíria local)”, disse ao iG. Zé Sobrinho gostava de beber e
promovia festas de arromba para os amigos e familiares. Em meio a
bebedeiras, ficava generoso. “Dei um carro semi-novo para um amigo só
porque tinha raspado a lateral”, afirmou. O resto do dinheiro ele
reinvestiu na mina. No auge do garimpo teve 27 barrancos (área em que se
explorava o ouro) e mais de 100 funcionários. O sonho de encontrar mais
ouro acabou em 1992, com o fechamento da mina pelo então presidente
Fernando Collor.
Dá época áurea, restou apenas uma coleção de fotos amareladas
guardadas num envelope. Em uma delas, Zé Sobrinho posa com 12 quilos de
ouro em uma bateia - espécie de peneira sem furo. Hoje, trabalha como
vice-presidente da Coomigasp, a cooperativa que se associou à mineradora
canadense Colossus para retomar a exploração de Serra Pelada, e tem
renda de R$ 5 mil. Apesar disso, vive com a família numa casa modesta,
feita de madeira, em Serra Pelada. O garimpeiro está animado com a
mecanização. Primeiro, por causa dos empregos que serão gerados na
região. E depois por causa dos lucros gerados pelo ouro – a jazida
comprovada está avaliada em R$ 2,3 bilhões. Ele sabe que nenhum
garimpeiro vai “bamburrar”, mas acredita que o lucro do negócio vai
gerar uma renda para os moradores da região. “Perdi tudo o que tinha,
mas aproveitei a vida”, disse Zé Sobrinho. “Não adianta nada ter uma
tonelada de ouro guardada no banco”.
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