O pesquisador Fernando Lameiras exibe quartzos irradiados no laboratorio do CDNT |
Em Minas, a intervenção em gemas com irradiação foi implantada a partir de 2002 como fruto do projeto Corgema, coordenado pelo CDTN em parceria com entidades como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). O objetivo é o desenvolvimento da indústria de joias, contemplando desde o pequeno garimpeiro até a exportação.
No Brasil, existem mais quatro laboratórios de irradiação, três no estado de São Paulo e um no Rio de Janeiro. O professor Fernando Lameiras, físico e pesquisador do CDTN mineiro, explica que o bombardeio dos cristais é feito com raios gama, a partir de um reator nuclear. O único do estado está localizado no Laboratório de Radiação Gama do CDTN, em prédio instalado em área do Ministério de Ciência e Tecnologia, anexo ao câmpus da UFMG. "A cor de uma gema se dá a partir dos elementos químicos que a formam e da irradiação solar. O bombardeio pode ser entendido como a aceleração de um processo natural que levaria milhões de anos para ocorrer. O principal objetivo da intervenção é agregar valor ao mineral", defende. Daí a cor não ser definida pelos pesquisadores, mas sim a partir dos elementos químicos dos quais a pedra é constituída. Para um quilo de gemas, o preço por dose de irradiação custa, em média, R$ 20. O tempo de exposição necessário para colorir a matéria-prima é variável.
Lameiras aborda a existência de outras tecnologias com o mesmo objetivo de agregar valor à pedra preciosa, como as técnicas de resinar e de coloração química. No entanto, a tecnologia empregada no CDTN tem sido a mais usada em gemas das famílias dos quartzos, berilos, topázios, turmalinas e espodumênios. "Geralmente, a escolha depende da característica e finalidade da gema. Os processos não são concorrentes. Pelo contrário, muitas vezes até se complementam."
Raimundo Viana, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias), ressalta a importância do emprego da tecnologia em prol do desenvolvimento desse mercado. "O Brasil é um país mundialmente reconhecido pela grande diversidade de suas gemas coloridas (mais de 150 espécies), localizadas em províncias minerais situadas principalmente em Minas Gerais – considerada a maior província gemológica do mundo, além de Goiás, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Bahia e Pará. Tamanha oferta justifica os investimentos no desenvolvimento do setor", diz.
Segundo Viana, a avaliação de uma gema segue o critério dos quatro Cs, sendo a coloração um dos destaques. "Para se estabelecer o valor de uma gema em particular devem ser observados, além da sua raridade e beleza, outros quatro fatores: tamanho (carat), cor (color), pureza (clarity) e lapidação (cut). No Brasil, o mercado tem valorizado muito os diversos tipos de turmalina, os quartzos rutilados, o topázio imperial, esmeraldas e a águas-marinhas, entre outras."
A tecnologia da irradiação é usada no Brasil desde os anos 1920, como explica o professor e pesquisador do Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear Fernando Lameiras. No entanto, somente nas últimas duas décadas, a partir do emprego do design para o desenvolvimento da indústria joalheira, fabricantes nacionais têm optado pelo investimento em pedras mais baratas. "Nesse caso, a gema serve ao design e não o contrário." Para Raimundo Viana, o uso de gemas de menor valor, como os cristais citrino e ametista, é uma forma de preservar o valor das joias num patamar acessível ao consumidor brasileiro. Ele ressalta ainda que o fato de os designers nacionais estarem usando gemas coradas em grande escala tem diferenciado e impulsionado a indústria joalheira no Brasil e no mundo, onde tem recebido diversos prêmios. Desta forma, a qualidade e o "design nacional" das joias, além de contribuir para maior competitividade dos produtos, têm privilegiado a identidade cultural do país.
Tecnologia e design com fim social
Empregados na indústria joalheira, tecnologia e design também têm fins sociais. Exemplo disso é o projeto Da Gema do Centro Minas Design, desenvolvido pelo Centro de Estudos em Design de Gemas e Joias da Escola de Design da Universidade de Minas Gerais (Uemg) em parceria com outras entidades. Pioneiro em Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha, cidade que recebeu a instalação do Laboratório de Lapidação e Artesanato Mineral Itaporarte (Uemg/Fapemig), funciona por meio da capacitação de jovens da comunidade. O objetivo é transformar resíduos de minerais em joias e artesanato. No caso, o feldspato dá origem a peças como aneis e pingentes. "Não há custo de matéria-prima ou de maquinário. O projeto foi feito para profissionalizar os jovens a partir de uma tecnologia simplificada. A sofisticação está no design e na identidade do produto", descreve a coordenadora do Centro de Estudos em Design de Gemas e Joias, professora Bernadete Teixeira.
O Da Gema visa ainda ao uso sustentável da matéria-prima, agregando valor àquelas que não são passíveis de lapidação ou não são reconhecidas como atrativas para o mercado. Outra alternativa é usar gemas compostas, unidas como se fossem um compósito, onde cada um dos minerais traz o que tem de melhor. Um exemplo é a linha que une quartzo e rutilo.
"Nosso foco é o uso de materiais tradicionais de Minas, com ênfase naqueles que têm menor valor intrínseco, já que os valorizados têm mercado garantido. O projeto é então desenvolvido por pequenas unidades produtivas, como no Vale de Jequitinhonha, que tem potencial e matéria-prima, mas não tecnologia." Minerais como hematitas, quartzos e turmalinas, que não têm qualidade gemológica, são trabalhados em comunidades de Araçuaí, Teófilo Otoni e da capital. Para Bernadete, as peças produzidas têm características de joias. "O conceito de joia mudou, é um produto que tem valor não só pelo material, mas também pelo aspecto estético, e o trabalho colocado em todo o processo, que envolve desde a extração do mineral até a produção final do produto."
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