Por Pedro
Jacobi
Gossan, segundo a definição original é o produto do intemperismo
sobre sulfetos maciços de minérios econômicos. Um sulfeto maciço, por sua vez
tem que ter mais de 50% do peso em sulfetos... Esta é a definição inicial, que
está sendo abandonada. Hoje, a visão dos Geólogos de Exploração sobre
os gossans evoluiu: gossans são produtos de intemperismo de rochas sulfetadas não
necessariamente maciças e não necessariamente derivados de sulfetos
economicamente interessantes. Eles são também chamados de chapéus de ferro
(Francês). Em alguns casos são chamados de gossans os ironstones derivados do
intemperismo sobre carbonatos ricos em ferro como a siderita.
Os principais minerais de um gossan são a goethita e
hematita. Outros hidróxidos de ferro comuns são geralmente agrupados como limonitas.
Estes óxidos
conferem à rocha a sua característica ferruginosa com cores fortes, ocre
vermelho-amareladas. A rocha encontra-se na superfície podendo ou não estar em
cima dos sulfetos originais. Gossans podem ser transportados. Neste caso os
óxidos migraram e se precipitaram longe dos sulfetos de orígem.
Em geral um gossan é poroso e pulverulento. Seus
minerais são formados pela decomposição dos sulfetos com formação de ácido
sulfúrico. O ácido acelera sobremaneira a decomposição dos minerais, lixiviando
parcial ou totalmente os elementos solúveis. A lixiviação pode ser tão intensa
que os elementos solúveis como zinco ou até mesmo o cobre podem não mais estar
presentes no gossan. Portanto a simples avaliação química de um deve levar em
conta, também, aqueles elementos traços menos móveis que talvez estejam ainda
presentes e que possam caracterizar a rocha como interessante. Esses estudos de
fingerprinting são fundamentais quando o assunto é gossan.
Durante o processo de decomposição é comum que a textura
original dos sulfetos se mantenha de uma forma reliquial: as chamadas boxwork
textures. Texturas boxworks são entendidas por um pequeno e seleto grupo de
geólogos. Elas indicam, em um grande número de casos, qual foi o sulfeto
original. Em muitos gossans os boxworks só podem ser vistos ao microscópio
petrográfico.
Foi essa correlação entre textura boxwork e o sulfeto
original que gerou trabalhos clássicos sobre gossans, como o do pioneiro
Ronald Blanchard ou o do colega Ross Andrew, possivelmente inexistentes
nas bibliotecas das escolas de geologia. A determinação dos sulfetos a partir
das texturas é uma arte que está sendo perdida nos nossos dias e tende a
desaparecer com a chegada dos equipamentos de raio x portáteis.
Foi através da descoberta de gossans na superfície que
foram descobertas a maioria das jazidas de níquel sulfetado tipo Kambalda na
Austrália na década de 60 e 70. Nesta época, a capacidade do Geólogo de
distinguir entre gossans derivados de sulfetos de Cu-Ni dos derivados de
sulfetos estéreis como a pirita e pirrotita foi o diferencial entre os bem
sucedidos e os losers. Foi nesta época que se desenvolveu a microscopia de
gossans pois, como dissemos acima, muitos gossans tiveram seus elementos
econômicos lixiviados quase que totalmente restando somente o estudo de boxworks
para a identificação dos sulfetos originais.
A determinação e estudo de gossans e de boxwork textures
levou à descoberta de inúmeros porphyry coppers como muitos dos gigantescos
depósitos de Cu-Au-Mo dos Estados Unidos, Andes e mesmo na Ásia.
No Brasil é clássico o gossan de Igarapé Bahia, que foi
lavrado por anos a céu aberto como um minério de ouro apenas...até a descoberta
de calcopirita (Depósito Alemão) associada a magnetita, em profundidades de 100m. Se os Geólogos da
Vale entendessem de gossans, naquela época, a descoberta do Alemão não seria
feita por geofísica com décadas de atraso como foi o caso.
Mesmo descobertas como o depósito de Cobre de alto teor
Mountain City em Nevada, 1919, foi uma decorrência de um estudo feito por um
prospector de 68 anos chamado Hunt em um gossan tido como estéril. O gossan, que
não tinha traços de cobre, jazia poucos metros acima de um rico manto de
calcocita...O Hunt não sabia o que era um gossan mas acreditava que a rocha era
um leached cap ou um produto de lixiviação de sulfetos. Ele tinha o feeling,
coisa que todo o Geólogo de Exploração deve ter. Exemplos como estes devem
bastar para que você se convença da importância dos gossans na pesquisa mineral.
A foto do gossan silicoso é um excelente exemplo. Eu
coletei essa amostra exatamente sobre um sulfeto maciço de Cu-Ni no Limpopo Belt
em Botswana (Mina de Selebi Phikwee) minutos antes do gossan ser lavrado. O
gossan estava 5 metros acima do sulfeto fresco...Neste caso o gossan é
constituído quase que exclusivamente por sílica (calcedônia) de baixa densidade
(devido aos poros microscópicos). Até o ferro foi remobilizado desta amostra. A
cor amarelada da amostra se mesclava com cores avermelhadas no afloramento. Somente ao microscópio que aparecem os
boxworks de calcopirita e de pirrotita e pentlandita. Selebi-Phikwe em produção
desde 1966 deverá ser fechada ainda este ano.
Com certeza esse foi o último opaline gossan
de Selebi-Phikwe. O mais interessante é que as análises que eu fiz no Brasil
mostraram cobre abaixo de 100ppm e níquel em torno de 150ppm. Em outras palavras
qualquer um que coletar uma amostra em ambiente ultramáfico que analise 70 ppm
de Cu e 150ppm de Ni não vai soltar foguetes. Vai simplesmente desconsiderar a
amostra e partir para outra. Ele poderá estar perdendo uma oportunidade
extraordinária por desconhecer o que um gossan.
Se você ainda não está convencido da importância dos
gossans entre no Google e pesquise duas palavras: gossan discovery. O Google vai
listar milhares de papers sobre descobertas minerais feitas a partir de um
afloramento de gossan.
Fique atento e estude: Você é o que você sabe!!
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quarta-feira, 3 de julho de 2013
Você deve saber...
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