Vai
quem quer, Tamborete, Morrinhos, Sovaco da Velha, Araras, Periquitos e
Imbaúba são alguns nomes de garimpos de ouro no Rio Madeira entre os
anos 1970 e 1980. Aqueles homens nômades, vindos de outros estados
amazônicos engrossaram as estatísticas da malária, consumindo altos
volumes de boldo, jurubeba, eparema, aralém e eparex. Esses remédios
diminuíam-lhes a ânsia de salvar o fígado.
Mutumparaná, 1980: o bamburro nos aluviões era
privilégio de poucos. Mesmo entrando no batente ao nascer do sol e
permanecendo até o entardecer, os garimpeiros não obtinham mais que
cinco gramas diárias. Numeroso grupo de blefados contrastava-se aos
felizes irmãos de Serra Pelada (PA), onde havia ouro de mina.
Um ano antes, em 1979, o Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) estimava em 192 Km2 a reserva garimpeira do rio
Madeira, cuja área e se estendia por 180 quilômetros acima de Porto
Velho, reunindo cerca de 20 mil pessoas. Durante o mergulho, muitas
perderam a vida em brigas fúteis, ou baleadas em tiroteio com jagunços
de mineradoras e policiais.
O homem destruía o próprio homem. Ambiciosos balseiros cortavam criminosamente o mangueiro de ar dos mergulhadores, matando-os no fundo do rio. Explicava-se às custas de que e de quem alguns desses balseiros bamburravam com mais de 50 gramas. Nenhum cartório registrava óbito dessa natureza. Ficava por isso mesmo. Com raras exceções, garimpeiro não tinha parente.
No começo de outubro de 1980 fui ver o falado Sovaco
da Velha, um aglomerado de casebres cobertos de palha, a 15 minutos de
lancha-voadeira do vilarejo de Vai quem quer, a três quilômetros de
Mutumparaná e a 163 km de Porto Velho.
A faiscação manual era movida também por motores de
32HP; o alto-falante ecoava na floresta os sucessos de Amado Batista,
Reginaldo Rossi, Odair José e outros ídolos das noitadas dos prostíbulos
à beira-rio. Uma grama equivalia a 1.150 cruzeiros nas lojas
porto-velhenses, a maioria concentrada na Avenida Sete de Setembro.
Dinheiro suficiente para o garimpeiro pagar as parcelas do tratamento
farmacêutico de suas malárias ou a extração de um dente.
Na vida dura daqueles barrancos e praias insalubres, o
esgoto e o lixo se misturavam ao mercúrio, de efeitos letais. Meio
litro de soro custava 800 cruzeiros, a injeção de aralém, 15. Os febris
bebiam muitos antitérmicos, pagando por eles entre 10 e 20 mil cruzeiros
quando a doença se agravava – quase sempre.
A paranaense Cecília Brzezinski, prática em
enfermagem e proprietária da uma das drogarias no Vai quem quer, apurou a
ocorrência média de cinco a dez casos de malária por dia. Doenças
venéreas nem se fala! Para combatê-las, usava-se a dolorosa injeção de
benzetacil e os poderosos antibióticos tetrex e rifaldim. “Doeu muito?” –
era a pergunta corriqueira.
A gonorréia fazia vítimas quase no mesmo ritmo da
malária. Ao mesmo tempo o contrabando empurrava quilos do metal para o
Exterior, principalmente via Bolívia e Peru.
A Delegacia da Receita Federal e a PF confiscavam
ouro sem nota, não devolvendo o produto em hipótese alguma, mesmo que o
garimpeiro recolhesse o valor do célebre IUM (Imposto Único Sobre
Mineração).
Curiosa, mas lamentável a atuação da polícia
rondoniense: à falta de efetivo na RF, ela se investia da competência de
parar os ônibus de linha para demoradas revistas. Isso criava uma
situação anômala, pois nem os fiscais de tributos davam conta de tanto
serviço naquelas vilas em ebulição, no caminho para o Acre. Um deles,
Manoel Rodrigues Filho, voltava desolado para Brasília. Não dera conta
de cumprir a missão.
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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
OURO EM Araras, Imbaúba, Morrinhos, Periquitos - Montezuma Cruz
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