Aumentar os
conhecimentos sobre todos os aspectos geológicos do diamante no País de
maneira a beneficiar tanto o público quanto empresas de todos os portes:
esse é o objetivo do Projeto
Diamante Brasil. Criado pelo CPRM (Serviço Geológico do Brasil), o
trabalho é uma espécie de censo sobre essa pedra preciosa e as regiões
que a produzem, que levantará dados geológicos, geocronológicos,
geoquímicos e morfológicos, entre outros, para criar um banco de dados
inteligente e de fácil acesso. A ideia é caracterizar o potencial
econômico do diamante, formalizar sua produção e diminuir a evasão de
divisas oriundas desta gema. Iniciado em 2008, o Projeto Diamante
Brasil vem suprir a quase total falta de informações sobre essa pedra
preciosa e sua produção em território nacional. “Os dados existentes
foram levados pelas empresas que trabalham na área quando elas partiram.
Só ficamos com o banco de dados de alvos geográficos para prospecção”,
revela o geólogo Francisco Valdir Silveira, coordenador do projeto no
CPRM, acrescentando que o trabalho contempla todo o País. “Há ocorrência
de diamante em praticamente todos os estados brasileiros.” Silveira
diz que a estimativa do tamanho das reservas brasileiras de diamantes é
grande. “Durante 150 anos, o Brasil foi o maior produtor de diamantes
do mundo. Essa hegemonia acabou com a descoberta de minas de diamantes
na África. Hoje a produção, oficial e oficiosa, é muito baixa”, conta o
geólogo. DUAS ETAPAS – A primeira fase do Projeto Diamante Brasil, a de
aquisição de dados, termina
no fim do ano. Nela, o CPRM, em parcerias com outros órgãos federais,
enviou equipes técnicas para diversas regiões diamantíferas do País com o
objetivo de colher dados sobre as pedras e as rochas as quais estão
associadas, os kimberlitos (batizada em referência à cidade de
Kimberley, na África do Sul) e lamproítos. Segundo Silveira, toda a
exploração de diamantes no Brasil hoje é feita em fontes secundárias. As
pedras são encontradas, por exemplo, nas aluviões – áreas para as quais
as rochas, quando erodidas, são levadas pelas chuvas e se acumulam,
formando os depósitos diamantíferos. “Não há minas em kimberlito ou
lamproíto, as rochas primárias”, esclarece. Encontrar esses locais foi
um dos objetivos do projeto, sendo que atualmente há cinco candidatos
promissores para se transformar em pequenas minas de diamantes: o
kimberlito denominado Canastra 1, situado na Serra da Canastra (MG),
Braúnas 3 e 8 (BA), Cullier 4 (MT) e Carolina 1 (RO), em Rondônia. Em
cada mil intrusões de kimberlitos descobertos, apenas de 17% a 20%
possuem diamantes, sendo que, destes, apenas dois ou três são viáveis
comercialmente. “O Brasil tem cerca de 1.200 intrusões dessa rocha já
descobertas, porém, muito pouco se sabe sobre elas”, indica Silveira,
para quem esse é um potencial bastante grande. A segunda etapa do
projeto será feita em 2011 e 2012, quando serão analisados e processados
os dados obtidos em campo com ajuda de universidades federais de Minas
Gerais (UFMG), Brasília (UnB), Rio Grande do Sul (UFRGS) e Mato Grosso
(UFMT); e internacionais, como a de Bristol, na Inglaterra, e a de
Queensland, na Austrália. “Queremos trazer a academia e as empresas
públicas para esse trabalho, incentivando a realização de teses,
discussões e estudos sobre os vários temas, como o problema social do
garimpo e a ocorrência de fontes primárias, entre outros”, afirma o
geólogo. Uma área específica de estudo será a caracterização dos
diamantes brasileiros para obter suas ‘assinaturas — traços morfológicos
e químicos que identifiquem sua origem, pois as pedras mineiras são
diferentes das de Goiás ou Roraima, por exemplo. “Com isso podemos
controlar melhor o fluxo dos diamantes, impedindo a evasão de divisas, e
emitir certificados de origem para evitar seu uso no financiamento de
conflitos”, explica Silveira, lembrando que o Brasil é membro do
Processo de Kimberley, criado pela ONU (Organização das Nações Unidas)
para coibir o comércio de ‘diamantes de sangue, utilizados para
subsidiar guerras. Uma vez concluído o projeto, todos os dados e
análises serão liberados em um banco de dados inteligente de acesso
irrestrito. Outra forma de divulgação será o livro Geologia do diamante
no Brasil, que reunirá capítulos sobre pesquisa e exploração, geologia,
geoquímica e morfologia dos diamantes. “Os resultados servirão de base
para novos investimentos e maneiras alternativas de prospecção, além de
ajudarem a desenvolver novos estudos.” Diário do Grande ABC – Santo
André
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