O Cráton do São Francisco constitui extensa região estável localizada na
porção centro-leste do continente sul-americano, guardando em seu bojo
terrenos arqueanos, que
foram soldados e transformados durante eventos paleo- e neoproterozóico.
Neste trabalho o desenvolvimento
geológico do cráton foi analisado, considerando-se cenário geotectônico
mais amplo, pertinente a paleoplaca continental, cujos limites
definidos por dados gravimétricos se relacionam aos regimes extensionais
diacrônicos neoproterozóicos que levaram à fragmentação do
Supercontinente Rodínia.
Neste contexto a individualização do Cráton do São Francisco se deu no
interior da
paleoplaca continental durante a orogenia Brasiliana, quando as
inversões causadas pelas colisões ou fechamentos das bacias geraram
cinturões orogênicos marginais que moldaram o antepaís do São Francisco.
Análises integradas de dados
geofísicos, geoquímicos e datações aplicadas aos terrenos arqueanos que
ocorrem no cráton sugerem a presença de núcleos cratônicos
arqueanos preservados da ação de retrabalhamento paleo- e
neoproterozóico que atuaram no cráton. Dados de microssonda eletrônica
em minerais provenientes de kimberlitos localizados nestas regiões
mostram a presença de grãos situados no intervalo de temperaturas
próprias do
campo de estabilidade do diamante. A recuperação de micro e
macrodiamante em
determinadas intrusões consubstanciam os dados. A maioria das centenas
de kimberlitos e rochas relacionadas identificadas no Cráton
do São Francisco ocorrem na porção sul, abrangendo o oeste de Minas
Gerais e áreas menores em Goiás e São Paulo. Concentradas principalmente
nas regiões de Coromandel, Romaria e Três Ranchos, as intrusões mostram
idades entre 75 e 120 Ma e estão associadas ao desenvolvimento do alto
estrutural denominado Alto Paranaíba. Ao que tudo indica, anomalias
gravimétricas positivas alongadas e magnéticas coincidentes, bem como
dados morfoestruturais, caracterizam a implantação de outro sistema
extensional na região, desta feita orientado sudoeste-nordeste,
ortogonal, portanto, ao desenvolvimento noroeste-sudeste do sistema Alto
Paranaíba. Intrusões discretas, minerais
kimberlíticos e diamantes ocorrem ao longo da estrutura. Populações
únicas de diamantes provenientes de fontes primárias conhecidas ou tidas
como próximas de depósitos diamantíferos mostram que na região do Alto
Paranaíba as condições de manto variam em distâncias relativamente
curtas. Por exemplo, os diamantes pequenos e cúbicos típicos de ambiente
mantélico no limite do campo de estabilidade grafita diamante
encontrados em Romaria e Três Ranchos desaparecem completamente em
Coromandel, algumas dezenas de quilômetros a leste, onde prevalece
população completamente distinta formada por diamantes grandes e
dodecaédricos. Mais ao sul, o kimberlito denominado informalmente
Canastra 01 aparentemente também amostrou região de manto distinta em
que predomina diamante na forma octaédrica. Possivelmente a litosfera na
porção sul do Cráton do São Francisco foi afetada pelas colisões ou
fechamento de bacias ao longo da Faixa Brasília no Neoproterozóico e
posteriormente durante o desenvolvimento do Alto Paranaíba em que a
litosfera foi sensivelmente adelgaçada como mostram as análises das
intrusões do Cretáceo inferior e superior. Na porção norte do Cráton do
São Francisco as intrusões kimberlíticas ocorrem nos blocos arqueanos
Serrinha e Gavião. Ao contrário da porção sul, os kimberlitos predominam
sobre as rochas relacionadas e as idades são proterozóicas ao invés de
cretáceas. No Bloco
Serrinha os kimberlitos da província denominada informalmente Braúna,
situada na porção central do bloco, amostraram litosfera espessa, cuja
base apresentava na época das intrusões condições favoráveis à
preservação de diamante. Minerais recuperados em kimberlitos localizados
nas zonas mais externas do Bloco Serrinha indicam adelgaçamento da
litosfera, causado, provavelmente, por retrabalhamento durante as
orogenias proterozóicas. No Bloco Gavião, ainda na porção norte do
cráton, afloramentos de kimberlitos estão sujeitos à erosão de unidades
estratigráficas mais jovens que 1.152 Ma ou no mínimo das rochas que
compõem a Formação Morro do Chapéu, topo do Grupo Chapada Diamantina.
Além do afloramento de pipe com cerca de cinco hectares e pequenos
diques, outras intrusões
foram identificadas na região por meio de levantamento aeromagnético e
interceptadas por furos de sonda entre 159 e 246 metros de profundidade.
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ABSTRACT
The São Francisco Craton is a large stable area in the
eastern portion of South America. Its basement comprises Archean
terrains that were reworked and amalgamated
during Paleoproterozoic tectonic events and later on affected marginally
by the Neoproterozoic Brasiliano orogeny, during the amalgamation of
West Gondwana. In this
work the geological evolution of the São Francisco Craton is analyzed in
a larger geotectonic scenario, referring to a continental paleo-plate,
the limits of which are defined by gravimetric data, related to
diachronic extension regimes that lead to Rodinia breakup in the early
Neoproterozoic. In this context, individualization of the São Francisco
Craton took place in the interior of the paleo-plate during the
Brasiliano orogeny, when inversion due to collision and basin closing
led to the formation of marginal orogenic belts, the evolution of which
determined the limits of the São Francisco foreland. Integration of
geophysical, geochronologic and geologic data of Archean terrains in the
northern and southern portions of the craton allowed outlining Archean
cores that were preserved from Paleo- and Neoproterozoic reworking.
Electron microprobe data on minerals from kimberlites intruded into the
Archean cores show chemical compositions corresponding
to temperature-pressure intervals typical of the diamond stability
field. Recovery of microand macro-diamonds corroborate the evidence. A
large majority of hundreds of kimberlites and related rocks known in the
São Francisco Craton were found in its southern portion, in western
Minas Gerais and adjacent smaller areas in Goiás and São Paulo.
Concentrated mainly in the Coromandel, Romaria and Três Ranchos areas,
the intrusions are between 75 Ma and 120 Ma and are associated with the
development of the Alto Paranaíba structural high. Coinciding elongated
magnetic and positive gravimetric anomalies, as well as
morpho-structural data suggest another extensional system in the region,
striking southwestnortheast, nearly perpendicular to the Alto Paranaíba
system. Discrete intrusions, kimberlite minerals and diamonds occur
along this structure. Unique diamond populations from known primary
sources or from sources believed to be close to diamond deposits
indicate that mantle conditions in the Alto Paranaíba region varied over
relatively short distances. For example, small cubic diamonds, which
are typical
of mantle environment close to the limit of the graphite-diamond
stability fields found in Romaria and Três Ranchos, disappear completely
in Coromandel, a few tenths of kilometers to the east, where a
completely distinct population of large dodecahedral diamonds prevails.
Southwards, the Canastra 01 kimberlite sampled an apparently different
mantle region, where octahedral diamond is the dominant form. It appears
that the lithosphere in the southern
portion of the São Francisco Craton was reworked by collisions or
closing of basins along what is now the Brasília Belt during the
Neoproterozoic, and afterwards, during development of the Alto Paranaíba
high, when the lithosphere was significantly thinned, as shown by
analytical data from Early and Late Cretaceous intrusions. In the
northern portion of the São Francisco Craton kimberlite intrusions occur
in the Archean Serrinha and Gavião blocks. In contrast with the
southern portion of the craton, kimberlites predominate over related
rocks, and their ages are Proterozoic instead of
Cretaceous. Kimberlites of the Braúna province in the central part of
the Serrinha block sampled a thick lithosphere, the base of which
presented favorable diamond preservation conditions at the time of
intrusion. Minerals recovered from kimberlites intruded into the border
zones of the block indicate lithosphere thinning, supposedly caused by
reworking during Proterozoic orogenies. Exposure of kimberlites in the
Gavião block, also in the northern portion of the craton, is dependent
on the erosion of stratigraphic units younger than ca. 1152 Ma or at
least of the
rocks of the Morro do Chapéu Formation, which is the top unit of the
Chapada Diamantina Group. Aside from the 5 ha kimberlite pipe outcrop
and small dikes, other intrusions were identified in the area using
aeromagnetic survey and drilling that intercepted the intrusions at
depths of 159 and 246 m.
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