Mineração - Empresas chinesas invadem garimpos de cristal no Brasil
Segundo garimpeiros,
chineses compram o cristal bruto sem nota fiscal, e legalização é feita
por empresas brasileiras. Mesmo com a barreira do idioma, asiáticos
ficam com 80% da produção das pedras em estado bruto e ditam as regras
do comércio.
Eles absorvem 80% da produção e ditam as regras no comércio. As pedras
saem em estado bruto para serem lapidadas na China e de lá são
recolocadas no mercado internacional -inclusive no Brasil-, na forma de
jóias semipreciosas, de bijuterias e de artigos para decoração,
esoterismo ou medicina oriental.
Com mão-de-obra e maquinários baratos, a China se tornou imbatível na
industrialização de pedras semipreciosas de menor valor, como o cristal,
e tomou conta do mercado mundial nesse segmento. Os lapidários de Minas
Gerais entraram em declínio, com a valorização do real (que encarece o
produto brasileiro no exterior) e a concorrência chinesa.
Alguns empresários abandonaram a lapidação e passaram a vender pedras
brutas para os rivais asiáticos, que pagam em dinheiro e à vista. Outros
terceirizaram a lapidação e passaram a contratar o serviços de fundo de
quintal para reduzir custos.
""Recuamos aos tempos coloniais e voltamos a ser exportadores de
matéria-prima e importadores do produto industrializado", queixa-se José
Jesus Facuri, presidente da Associação Mineral do Centro de Minas e
dono da empresa Quartzo Rosa, de Curvelo. Das 14 máquinas de lapidação
que possui, 10 estão ociosas.
Sílvio Aparecido de Almeida, 31, dono da Sílvio Pedras do Brasil, também
de Curvelo, percebeu o impacto da entrada dos chineses com antecedência
e mudou de ramo: desativou a lapidação -que chegou a empregar 40
pessoas- em 2005 e passou apenas a intermediar a venda de cristal bruto.
""Das minhas vendas, 80% são para a China", diz ele, que está de viagem
marcada para aquele país, a convite de importadores.
Chien Chiu Sheng, de Taiwan, um dos maiores compradores de cristal do
país, faz coro com os brasileiros na queixa contra a competição da China
comunista. Diz que sua empresa, a IAS do Brasil, sediada em Curvelo,
chegou a empregar 140 pessoas, que trabalhavam na classificação e no
beneficiamento de cristal exportado para a matriz, em Taiwan. Ele diz
que já reduziu o número de empregados para 35 e que outros 20 estão
sendo demitidos.
""Não dá para concorrer. A jornada de trabalho na China continental é de
nove horas diárias, com um dia de folga por mês. Um empregado de
lapidação custa o equivalente a US$ 230 por mês na China, semelhante ao
custo no Brasil, mas não há os encargos trabalhistas daqui, e o
maquinário custa 80% menos do que no Brasil."
Chien disse que sua empresa decidiu fazer a lapidação de cristal na China continental.
Sem nota
Segundo garimpeiros, os chineses compram o cristal bruto sem nota
fiscal, diretamente nos garimpos, ou de intermediários. A legalização da
mercadoria é feita por empresas brasileiras, que exportam o produto
para empresas indicadas pelos chineses.
O que chama a atenção na ação dos chineses é a rapidez com que
descobriram os canais de acesso aos garimpos, apesar da barreira da
língua.
Segundo os comerciantes de cristal, a China tem reservas próprias, mas
elas estão localizadas no norte do país, nas áreas mais geladas, e só
ficam ativas poucos meses por ano. Os compradores de cristal são
enviados pela indústria de lapidação chinesa.
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