O Brasil não possui pedras semipreciosas
O
título acima pode surpreender muita gente, uma vez que o nosso país é
reconhecidamente um grande produtor de gemas e o Rio Grande do Sul
destaca-se pela produção de ágata e ametista. A afirmativa,
propositalmente provocadora, justifica-se, porém, pois não é mais
admissível - se é que alguma vez o foi - separar as gemas em preciosas e
semipreciosas.
Embora esteja correta a denominação pedra preciosa, o mesmo não se dá com pedra semipreciosa,
e são várias as razões para isso. A principal delas é que nunca houve
consenso sobre quais pedras seriam consideradas preciosas. Normalmente,
eram assim classificados o rubi, a safira, a esmeralda e o diamante.
Alguns autores, porém, incluíam também a opala preciosa e o crisoberilo,
por exemplo. E outros, a pérola.
Outra razão
para não se separar as gemas em semipreciosas e preciosas é a
inutilidade dessa distinção. Para o Brasil, que produz boa quantidade de
esmeralda e diamante mas quase nada de rubi e safira, a distinção, mais
do que inútil, é muito prejudicial.
Mas não ficam aí os argumentos contra a classificação semipreciosa.
Embora esmeralda, rubi, safira e diamante sejam usualmente gemas caras,
uma esmeralda e mesmo um diamante podem valer menos que uma granada
mais rara, por exemplo.
Por esses motivos, o termo semipreciosa caiu em desuso em quase todo o mundo, sobrevivendo apenas em alguns países, entre eles o Brasil.
Gemólogos de renome internacional condenam de modo enfático seu emprego. Robert Webster considera-o insatisfatório, lembrando que foi abandonado por consenso geral.
Walter Schumann afirma que a
designação ainda é usada no comércio mas não é uma expressão correta
porque muitas pedras chamadas semipreciosas são mais valiosas que as
preciosas, não havendo uma linha divisória real entre as pedras mais ou menos valiosas.
Joel Arem lembra que, no passado, os termos preciosa e semipreciosa foram amplamente usados, mas que hoje seu uso cria confusão.
Mas não são apenas os gemólogos que condenam o termo. Também os joalheiros mais bem informados o fazem. Diz Erich Merget que a denominação semipreciosa,
atualmente muito utilizada, deveria ser totalmente abandonada. Até
hoje, ninguém foi capaz de explicar a origem dessa expressão absurda, completa ele.
O termo gema
tornou-se designação comumente aceita para todas as pedras ornamentais
de valor, eliminando a anterior distinção artificial entre as chamadas pedras preciosas e semipreciosas, afirma Jules Sauer.
Hans Stern,
proprietário da H. Stern, empresa brasileira com 90 joalherias no
Brasil e mais 85 espalhadas por quatorze países, é mais radical: uma pedra é preciosa ou é um pedaço de paralelepípedo. Não há alternativa e, portanto, não há significado na expressão semipreciosa. É ele também quem diz que não existe pedra semipreciosa assim como não existe mulher semigrávida.
Não é por acaso, pois, que Aurélio Buarque de Holanda Ferreira registra, em seu famoso dicionário, pedra preciosa mas não não se refere a nenhuma pedra semipreciosa.
Coerente com esses posicionamentos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) recomenda evitar sempre o uso da palavra semipreciosa, substituindo-a por preciosa,
salvo nos casos de exigências comerciais ou legais (NBR 10630). A
ressalva justifica-se porque a Itália dá um tratamento diferenciado às
gemas importadas, com taxação menor para as que chegam ao país
classificadas na origem como semipreciosas.
Portanto,
não se constranja de chamar ágata, ametista, citrino, topázio,
água-marinha, turmalina, etc. de pedras preciosas. E chame de jóia, não
de bijuteria, seu brinco, anel ou outra peça confeccionada com gemas que
você considera baratas.
O
setor joalheiro, como qualquer outro ramo de vendas, trabalha com
produtos caros e baratos e o preço nunca foi motivo para uma gema deixar
de ser preciosa.
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