Há muito que se fala sobre a enorme influência que as junior companies tem na exploração mineral do mundo.
Uma junior da mineração é uma empresa que visa achar, desenvolver e, muitas vezes, lavrar jazimentos minerais. Em geral, essas empresas buscam os seus recursos financeiros nas bolsas de valores, oferecendo suas ações aos investidores interessados em participar do risco.
Os casos de sucesso das junior companies já ultrapassou fronteiras. São inúmeras as juniors que, da noite para o dia, se tornaram bilionárias através da descoberta de importantes jazimentos minerais. Nestes casos de sucesso os investidores, também, receberam retornos milionários aos investimentos feitos.
Aos poucos, os sucessos das juniors foram tão elevados e avassaladores que as grandes empresas de mineração, as major companies, começaram a ser ultrapassadas tanto nos volumes de investimentos em pesquisa mineral, como nas descobertas de novas jazidas minerais. Este é um fenômeno, razoavelmente, recente que foi alavancado pelas bolsas de Toronto, Londres e Sidney nas duas últimas décadas.
O sucesso deste modelo é tamanho que as junior companies saíram do Canadá e da Austrália e se espalharam pelo mundo inteiro, focando principalmente na América Latina e África. A tendência é que no novo ciclo de crescimento, que se aproxima rapidamente, o fenômeno das juniors da mineração será fortemente ampliado, relegando às major companies a pesquisa mineral das áreas adjacentes aos seus gigantescos depósitos e minas.
Para as juniors as áreas ficarão mais ínvias e remotas, mas com retornos potenciais enormes.
É o caso dos sucessos estrondosos de empresas como a Turquoise Hill, de Friedland, que levaram muita junior a investir forte na Ásia, em países considerados tabu, como a Mongólia e China.
O principal motivo, que fez essas juniors saírem de sua zona de conforto e dos países desenvolvidos como os Estados Unidos, Canadá e Austrália é o elevado custo da pesquisa mineral nestes países.
O Canadá é famoso por seus investimentos bilionários na pesquisa mineral que se perpetuam através das décadas o que, definitivamente, não é o caso do Brasil. No entanto, existe um efeito perverso. Quanto mais se investe e se pesquisa mais difícil fica a descoberta de novos jazimentos que já não mais estão na superfície em situações relativamente fáceis de se acessar. A nova descoberta, nesses países desenvolvidos, requer investimentos pesados em métodos como geofísica aérea e sondagem.
Mesmo assim, até no Canadá moderno, com esses custos elevadíssimos da pesquisa mineral, as junior continuam investindo maciçamente e descobrindo importantes jazimentos minerais.
O gráfico abaixo mostra que as junior companies foram responsáveis por 36% dos investimentos em pesquisa mineral do Canadá, nos últimos 52 anos.
No Canadá, de um total de 61 bilhões de dólares feitos na pesquisa mineral, 22 bilhões vieram das junior companies.
As junior investiram, sistematicamente, por 52 anos a fio uma média de 420 milhões de dólares em pesquisa mineral no Canadá, apesar das dificuldades e custos.
Está na hora de mudar o nome de junior company para mining exploration companies ou empresas de exploração mineral. Afinal, quem investe dezenas de bilhões de dólares em um só país, não pode ser considerada junior.
Infelizmente esse é um nome consagrado. Mas, claramente, não faz jus à importância econômica dessas empresas de exploração e pesquisa mineral nos países em que elas investem.
A influência das junior companies vem crescendo exponencialmente nas últimas décadas como mostra o gráfico.
As consequências destes investimentos são, naturalmente, as descobertas das jazidas.
No Canadá, neste mesmo período de 52 anos, entre 1960 até 2012 foram descobertas 449 jazidas de grande relevância econômica conforme mostra o gráfico abaixo.
Dessas 449 jazidas, 201 ou 45% foram descobertas pelas junior companies.
É nesse número que fica claro que as junior companies são muito mais eficientes na descoberta do que as gigantescas major da mineração.
Como as junior haviam gasto 35% de todo o capital investido na pesquisa mineral do Canadá em 52 anos seria natural que elas houvessem descoberto 157 jazidas (35%).
Mas esse não foi o caso.
Mesmo competindo com empresas maiores, melhor financiadas, com equipes técnicas maiores com acesso a enormes recursos as junior foram muito mais eficientes e descobriram 201 jazidas ao invés das 157 previstas.
Pontos como esses acima demonstram o que todos já sabem: as junior companies estão, cada vez mais sendo as maiores responsáveis pelas descobertas minerais no mundo. Em breve mais de 90% de todas as descobertas terão sido feitas por essas empresas. No gráfico acima é fácil de ver que de 2003 para cá isso já vem acontecendo, mesmo no Canadá onde os custos são elevados e proibitivos.
Aqui no Brasil o efeito junior company vai ser exacerbado.
As grandes empresas de mineração como a Rio Tinto, BHP-Billiton já não mais estão fazendo pesquisa mineral séria há décadas. Até mesmo a Vale que era a maior investidora em pesquisa mineral do país já colocou o pé no freio e se concentra quase que exclusivamente em torno dos seus grandes projetos como Carajás. As únicas empresas que estão trabalhando de Norte a Sul desse Brasil são as junior companies. E são elas que são as responsáveis por quase todas as grandes descobertas das últimas décadas.
Na imagem acima, extraída da Bolsa de Toronto, fica claro que somente as empresas junior baseadas no Canadá investiram, em 2012, no meio da crise, 416 milhões de dólares em 154 projetos no Brasil.
É interessante observar que esse é o número médio que as junior investiram no Canadá ao longo de 52 anos.
A mesma imagem mostra, também, que apesar desses investimentos, nós não somos os queridinhos dos investidores na América do Sul como muitos políticos e burocratas mal informados assim o querem. O Peru a Argentina e o Chile receberam mais investimentos e mais empresas juniors do que o Brasil, com toda a sua imensa área continental e geologia espetacular.
O motivo nós bem sabemos: o efeito perverso do Marco Regulatório da Mineração que aumenta os impostos substancialmente, ao mesmo tempo, em que dá ao Governo Brasileiro o controle total e absoluto dos negócios da mineração.
Naquela época, em 2012, os mineradores já estavam aterrorizados pela perda dos direitos de prioridade na pesquisa mineral como preconizava o Marco Regulatório da Mineração que circulava nos corredores do poder em Brasília. Some-se a isso a paralisação, por parte do DNPM, de todas as concessões minerais desde 2011, não permitindo que as junior companies pudessem investir em novos projetos.
Temos que lembrar que esses números se referem, apenas, às junior companies listadas na bolsa de Toronto. Existem ainda um bom número de empresas de mineração que atuam no Brasil e são listadas nas bolsas de Sidney na Austrália e de Londres.
Ao todo acredita-se que, somente as junior companies investiram em pesquisa mineral no Brasil mais de 700 milhões de dólares em 2012.
Esse valor é muitíssimo maior do que os meros 12 milhões de dólares "investidos" pela CPRM, o Serviço Geológico do Brasil, em 2012, conforme publicado no seu balancete.
Esses números até que poderiam ser bem piores se considerarmos a gravidade dos pontos levantados acima. Talvez os números de 2013, quando liberados, mostrem uma queda de investimentos muito mais acentuada. Em 2013 os problemas do MRM continuam e foram exacerbados pela frase desastrosa do Ministro de Minas e Energia o Sr. Édison Lobão que chamou as junior companies brasileiras de “aventureiros e de especuladores”. A frase torna patente o desconhecimento do Ministro e de seus assessores, sobre a real importância das junior companies na economia do Brasil.
Essas empresas são responsáveis por inúmeras grandes e importantes descobertas minerais que agregam dezenas de bilhões de dólares ao Brasil e sua população. Veja, abaixo, uma lista parcial das descobertas feitas por essas pequenas empresas de mineração:
1. Itafós (Tocantins/Goiás)– 63 milhões de toneladas de minério fosfático com 5% de P2O5
2. Autazes (Amazonas) – 500 milhões de toneladas de minério de potássio com 30% de KCl
3. Cerrado Verde (Minas Gerais)– 253 milhões de toneladas de óxido de potássio
4. Tocantinzinho (Tapajós-PA): 80 toneladas de ouro contido
5. São Jorge (Tapajós-PA): 54 toneladas de ouro contido
6. Cuiu-Cuiu (Tapajós-PA): 40 toneladas de ouro contido
7. Coringa (Tapajós-PA): 28 toneladas de ouro contido
8. Palito (Tapajós-PA): 21 toneladas de ouro contido
9. Ouro Roxo (Tapajós-PA): 20 toneladas de ouro contido
10. Boa Vista (Tapajós-PA): 10 toneladas de ouro contido.
11. Volta Grande (Xingu-PA): 224 toneladas de ouro contido
12. Cachoeira (PA) 42 toneladas de ouro contido
13. Borborema (RN): 75 toneladas de ouro contido
14. Mara Rosa (GO): 41 toneladas de ouro contido
15. Lavras do Sul (RS): 16 toneladas de ouro contido
16. Minas-Rio (MG) 6 bilhões de toneladas de minério de ferro
17. Salinas (BA) 2,8 bilhões de toneladas de minério de ferro
18. Trairão (PA) 2,6 bilhões de toneladas de minério de ferro
19. O2iron (TO) 1,50 bilhões de toneladas de minério de ferro
20. Caetité (BA) 1,1 bilhões de toneladas de minério de ferro
21. Viga, Serrinha (BA) 1.1 bilhões de toneladas de minério de ferro
22. Urubu (BA) 0,70 bilhões de toneladas de minério de ferro
23. Ponto Verde (MG) 0,30 bilhões de toneladas de minério de ferro
24. Jucurutu (RN) 400 milhões de toneladas de minério de ferro
25. Zamapá (AM) 271 milhões de toneladas de minério de ferro
26. Vila Nova (AM) 100 milhões de toneladas de minério de ferro
27. Jambreiro (MG) 120 milhões de toneladas de minério de ferro
28. Onça-Puma (PA) 2,25 milhões de toneladas de níquel
29. Serrote da Lage (AL) 596.000 toneladas de cobre e 11,5 t de ouro
Fica óbvio que essas pequenas empresas de mineração e pesquisa já são as maiores descobridoras, de jazimentos minerais econômicos desta década no Brasil. O mais interessante é que a maioria das descobertas só entrará em produção nos próximos anos. São trilhões de Reais de vendas a serem incorporados ao Patrimônio Nacional.
A conclusão que se chega é que as juniors de juniores não tem nada: as suas contribuições às economias onde elas investem são simplesmente enormes.
Países com um grande potencial mineral, como o Brasil, deveriam, isso sim, facilitar e desburocratizar para atrair essas empresas seus cérebros e seus investimentos, que nada custam aos cofres públicos, mas que deixam uma rica herança, a ser colhida por gerações.
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