terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Arquitetura de Ouro Preto inspira artesãos

Arquitetura de Ouro Preto inspira artesãos


Divulgação / Divulgação
Claudia Rosa da Silva, de 47 anos: a artesã produz atualmente cerca de cem anéis, gargantilhas e brincos por mês
Artesãos de Ouro Preto (MG) criaram coleções inspiradas na arquitetura do município. Com isso, ampliam e sustentam o crescimento de um polo de produção de joias no município. As 15 oficinas do distrito de Santo Antônio do Leite - que surgiram nos anos 1980 por meio da influência de hippies que foram morar no local - começaram há cinco anos um processo de profissionalização, que implicou a divisão de tarefas entre os profissionais e a criação de uma associação.
Como são necessárias 15 etapas para confecção de uma joia, puderam com isso também ampliar a produção das oficinas e criar uma identidade própria para as peças. Elas passaram a ser moldadas pelas mãos de um artesão e concluídas por outro. Assim, nasceu a coleção baseada na arquitetura local: um processo coletivo de criação.
"O uso de novas formas de produção e a consequente melhoria na qualidade das peças estão sustentando a abertura de novos mercados para esses artesãos", diz a analista do Sebrae Minas Sabrina Albuquerque, responsável pelo programa da entidade que capacita esses artesãos.
Na avaliação da especialista, com a criação de novos desenhos nas coleções de joias, inspirados na arquitetura regional, essas oficinas podem ampliar ainda mais as vendas dos itens que produzem. Antes, explica, os modelos das coleções eram baseados em reproduções de desenhos clássicos e joalherias famosas, mesmo que com pequenas intervenções e modificações. Ao estabelecerem linhas de joias com design próprio, evitando os modelos baseados nas joalherias convencionais, os artesãos ampliam as vendas e o movimento nas oficinas.
Eles utilizam a prata na maior parte das peças e o ouro, em caso de encomendas. A maioria das pedras é de origem mineira, sobretudo as preciosas, provenientes do município de Teófilo Otoni, no norte de Minas Gerais, de onde vem principalmente a ágata. O topázio imperial, pedra muito utilizada também por esses artesãos, só é encontrado na região de Ouro Preto. O quartzo vem de Governador Valadares, também em Minas, a esmeralda é da Bahia, e o opala é trazido do Rio Grande do Sul.
O artesão João Batista Ferreira Anjos, 42, o Bezinho, proprietário da oficina de mesmo nome, ganha cerca de R$ 4 mil "vendendo mão de obra". Ele explica que trabalha com dois ajudantes, em turnos de meio período e produz cerca de 200 peças por mês com as encomendas das outras oficinas. "Isso garante o meu movimento, mas mantenho a venda de minhas peças próprias", diz Bezinho.
Além das parcerias com hotéis e pousadas de Ouro Preto para a exposição das peças, foi criado um espaço em Santo Antônio do Leite para abrigar uma feira que funciona aos sábados, domingos e feriados.
"Com o associativismo, as consultorias sobre comercialização e formação de preços, além da melhoria dos produtos e o design próprio, estamos melhorando as vendas", afirma o artesão Dílson Ribeiro, presidente da associação que reúne os 15 artesãos de joias do distrito.
Ele explica que, também com a participação em três feiras nacionais anualmente, os artesãos estão realizando bons negócios. "O foco é o consumidor final. Assim, é importante a participação nessas feiras para que possamos mostrar a marca, a identidade de nossas joias. A maioria é feita de pedras mineiras e, agora, com as coleções, ampliamos a marca de Santo Antônio do Leite", diz Ribeiro. Ele explica que sua oficina fatura algo entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil mensais, mas que numa feira é possível a venda de algo em torno de R$ 8 mil.
A produção de peças que reproduzem a arquitetura, as pedras das calçadas e ruas, os casarões e igrejas da antiga capital de Minas Gerais, é uma forma de avançar na melhoria de uma produção artesanal iniciada há três décadas em Santo Antônio do Leite pelos hippies.
A influência começou no início da década de 80 com a chegada de estrangeiros à região de Ouro Preto com o objetivo de comprar e negociar pedras preciosas, em estado bruto ou com pouco acabamento. Paralelamente, chegavam à cidade grupos de hippies com domínio da produção artesanal de bijuterias e que viviam disso.
Normalmente nômades, alguns deles, porém, permaneceram na região e montaram uma espécie de "república" em Santo Antônio do Leite.
Laurence (Guiana Inglesa), Elias (Chile), Manoel (Espanha), Marcos (Argentina), José Eustáquio (Goiás), Jamil (Líbano) e o casal Miguel e Janete (Goiás) deixaram suas marcas no distrito, com a transmissão do domínio do conhecimento de gemas e produção das peças.
"Aprendi com o Marcos, um hippie argentino, quando tinha uns 12 anos de idade. Depois disso, fui aprimorando e fazendo cursos", diz o artesão Reinaldo da Conceição da Silva, 37 anos, que produz em sua oficina cerca de cem anéis por mês. "Um solitário (anel) pode demorar até três horas para ser produzido. No varejo, dependendo da pedra, ele custa no mínimo R$ 150", afirma Silva. Ele explica, porém, que a partir da encomenda de outros artesãos, "vendendo mão de obra", processo decorrente da divisão de tarefas entre os produtores de joias de Santo Antônio do Leite, ele tira algo em torno de R$ 1,3 mil por mês em sua oficina,
Cláudia Rosa da Silva, 47 anos, aprendeu o ofício com Laurence (Guiana Inglesa) e produz atualmente cerca de cem anéis, gargantilhas e brincos por mês. A maior parte da remuneração da artesã também é proveniente da venda de mão de obra.
Fazer serviços para outros, numa troca constante de oficinas para a finalização das etapas de fabricação também representa a quase totalidade do movimento de cerca de R$ 1,5 mil de Davisson Arantes, de 33 anos. "Estou vendendo muito pouco peças minhas. Estou mais vendendo mão de obra", diz.



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