O Brasil vai virar um grande garimpo?
As atenções da mídia estão focadas hoje, 6 de
dezembro de 2013,em dois grandes eventos: as homenagens ao grande
estadista Nelson Mandela,ontem falecido aos 95 anos, e o sorteio
dos grupos das seleções que irão disputar a Copa do Mundo de futebol no
próximo
ano aqui no Brasil.Enquanto isto, nós do setor mineral vivemos o
rescaldo de uma prolongada batalha na Câmara dos Deputados envolvendo as
discussões do Novo Marco Regulatório da Mineração.Depois de dezenas de
audiências públicas ,
encontros regionais e muitas horas de reuniões, o relator da Comissão
Especial não conseguiu colocar seu substitutivo em votação por
apresentar pontos divergentes do projeto original,acatando várias
sugestões apresentadas pela
ABPM.Pelo visto,esta matéria ficará para o próximo ano ou mesmo para
2015,em função das eleições.
Diante deste quadro, precisamos tocar o
barco, a começar pelo destravamento do DNPM, como bem observou nosso
associado Felipe
Sampaio,com a propriedade que lhe é peculiar.Todos sabemos das
dificuldades enfrentadas por este órgão há décadas e que foram
minuciosamente expostas em audiência pública para discutir sua
transformação em Agência (parece que este
foi um dos pontos de divergência do relator com o executivo,que queria
que o processo não acarretasse aumento de despesas). Mas algumas áreas
do DNPM apresentaram significativos avanços nos últimos anos, como a
informatização de
vários serviços e a atualização permanente de estatísticas disponíveis
em sua página na internet. Graças a elas obtivemos os dados que
passaremos a discutir a seguir.
Nos últimos 10 anos (2013 até
novembro) o DNPM outorgou 3.042
portarias de lavra(PL) e 1.674 Permissões de Lavra Garimpeira(PLG).
Ocorre que ,considerando os últimos 4 anos,os números mostram 885 PL e
1.139
PLG,significando uma queda de 28% na média anual das PL,enquanto as
PLG
tiveram um acréscimo de 70% sobre a média decenal considerada,
invertendo a
proporção dos regimes de concessão. Se esta tendência continuar, nas
próximas
décadas o país terá algumas minas cercadas por um imenso garimpo ,com
todas as
mazelas advindas desta atividade.
Não que o garimpo deva ser proibido,mas
que se atenha àquelas jazidas cujo contexto geológico seja propício à
mineração em pequena escala,sem uso de grandes equipamentos. É o caso,por
exemplo,das ametistas no Rio Grande do Sul, que ocorrem de forma irregular em
determinados níveis dos derrames basálticos, sendo impossível uma lavra
mecanizada. Em geral são encontradas em pequenas propriedades rurais, cujos
donos conciliam a atividade extrativa com a agropecuária. Outros casos
clássicos são o dos pegmatitos da Província Borborema, no Nordeste, e os
diamantes de Coromandel, em Minas gerais.
Seria de se esperar que o
esgotamento de depósitos aluvionares de alto teor e o avanço no conhecimento
geológico, fossem transformando paulatinamente áreas garimpadas em distritos
mineiros organizados. Entretanto, verifica-se que depósitos de ouro e cobre
primários estão sendo lavrados sob o regime de PLG com utilização de
equipamentos pesados, mas sem o planejamento e a tecnologia das empresas de
mineração tradicionais. Parece que a
é a ocupação da área para sua posterior legalização, através da
constituição de cooperativas e a obtenção das PLG quando já existe uma
situação de fato implantada. Exatamente como
ocorre na ocupação de terrenos no Distrito Federal, onde centenas
de condomínios abrigam um quarto da população do DF, aguardando
sua regularização, com o caos urbano instalado em Brasília.
Parece
que existe
um denominador comum entre as duas situações: o voto das camadas mais
simples da população, moeda forte para os políticos. Num país que
ostenta uma das
piores posições no ranking mundial dos indicadores de educação, é
fácil entender porque tais políticas encontram terreno fértil para
prosperarem.
Esperamos que não seja criado um novo programa de governo no estilo
‘”Meu
garimpo, minha vida” e que ,apesar do desânimo generalizado,
consigamos recolocar a indústria mineral nas trilhas do
desenvolvimento,com as ferramentas que hoje dispomos.
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