As minas de Olacyr
Aos 80 anos, o ex-rei da soja, do açúcar, do milho e do algodão volta à cena empresarial à frente de projetos de mineração. O negócio nasce com estimativa de faturamento inicial de R$ 100 milhões por ano..
No entanto, as reviravoltas da economia e algumas apostas erradas,
como a tentativa de construir a Ferronorte, a ferrovia que liga o
Centro-Oeste ao porto de Santos, causaram um verdadeiro estrago nas
finanças do grupo Itamarati, a holding que comandava seus negócios.
Hoje, seu patrimônio é estimado por ele mesmo em cerca de “apenas” R$
100 milhões. Apesar de diminuto em relação ao seu auge empresarial, esse
montante está se mostrando suficiente para que, aos 80 anos,
completados em abril, com uma festa de arromba no Clube A, em São Paulo,
Olacyr se sinta capaz de continuar sonhando. Sonhando alto, como é de
seu feitio. Sentado em um confortável sofá na varanda de seu
apartamento, no sofisticado bairro do Itaim, zona sudoeste de São Paulo,
ele falou à DINHEIRO sobre seus próximos passos no mundo dos negócios.
Sua mais nova aposta é na área de minérios. “Quero ser o rei da
mineração”, afirma Olacyr.
Tacada de sorte: equipe comandada por Olacyr encontrou minérios raros quando prospectava calcário na Bahia
Por meio da Itaoeste Serviços e Participações, Olacyr está prestes a
conseguir um feito notável: prospectar minérios nobres, como tálio,
volastonita e tungstênio. Os dois primeiros são tão raros que jamais
haviam sido encontrados no subsolo brasileiro. As reservas de tálio
existentes em Barreira (BA) já foram certificadas pelo Departamento
Nacional de Proteção Mineral e a exploração comercial se inicia em 2012.
“Estamos prontos para começar a operar”, conta. Trata-se de um negócio
que pode render, no mínimo, cerca de R$ 100 milhões, por ano. O valor
leva em conta a cotação do grama do metal, US$ 6, multiplicado pela
reserva de 60 toneladas identificada em uma área de 700 hectares.
Como o Projeto Rio de Ondas, nome de batismo do empreendimento,
abrange 44,1 mil hectares, a expectativa é de que a reserva total de
tálio supere as vendas da China e do Cazaquistão, os dois únicos
produtores mundiais. “Em um primeiro momento, estamos aptos a atender a
demanda mundial por seis anos”, afirma Herinaldo Costa, diretor da
Itaoeste. Entre as opções de Olacyr para financiar a empreitada
consta a associação com um parceiro estratégico da área de mineração.
Ele seria o encarregado de dar o suporte tecnológico para a retirada e
beneficiamento do tálio. Outra alternativa é o levantamento de
recursos junto a fundos de investimentos ou consumidores, em troca do
fornecimento futuro de matéria-prima.
O setor de mineração entrou na vida de Olacyr quase por acaso. Como
jamais pensou em pendurar as chuteiras, ao mesmo tempo em que tratava
de zerar as pendências com os credores ele procurou uma alternativa para
se manter na ativa. A Itaoeste surgiu em 2002 e seu objetivo era
prospectar calcário para uso na agricultura. Em vez disso, em 2008, seus
técnicos encontraram reservas de manganês contendo cobalto e tálio em
seu interior. “Foi um golpe de sorte”, diz Olacyr. “O tálio é tão raro
que nem é procurado.” Desde então, ele já investiu cerca de US$ 20
milhões em estudos e prospecções. Hoje, sua empresa dispõe de 100 alvarás de pesquisa para áreas espalhadas nos Estados da Bahia, do Piauí e de São Paulo.
Reconhecimento: Olacyr se emocionou ao ser homenageado por Lula (à esq.) na inauguracão da ferrovia Ferronorte
Uma delas, o Projeto Itaoca 2, situado no município de mesmo nome, em São Paulo, também se mostra bastante promissora.
Lá existem estudos que indicam a existência de volastonita, vendida por
US$ 250 por tonelada. Seu grande atrativo é a versatilidade. Pode ser
usado desde a agricultura, na correção de solos desgastados, até na
indústria de tintas, como estabilizantes passando pelo segmento
automotivo onde é empregado na produção de para-choques de plástico.
Para Costa, diretor da Itaoeste, ainda é prematuro para falar do valor
econômico dessa reserva. Contudo, os demais parques minerais em fase de
prospecção têm potencial de gerar frutos por um período mínimo de 30
anos.
O portfólio inclui desde titânio e ferro, no Piauí, além de ouro,
prata, tungstênio, fosfato, calcário para cimento e pedras ornamentais
como granito preto e mármore, em São Paulo. Estimativas do mercado dão
conta que apenas estes dois últimos podem render o equivalente a
R$ 200 milhões. Olacyr tem consciência de que não terá tempo de ver
essa empreitada se materializar integralmente. “Hoje, minha grande
limitação é a idade”, resigna-se. Apesar de gozar de boa saúde. Ele faz
check-ups regulares, não fuma, não bebe e se alimenta com parcimônia, o
empresário sabe que o relógio do tempo não joga exatamente a seu favor.
Mesmo assim, ele se recusa a sair de cena. Acorda às 6 horas da
manhã, lê ao menos três publicações, entre jornais e revistas, e chega
ao escritório por volta das 8 horas, onde passa a manhã lendo relatórios
e despachando com executivos. Almoça em casa, nas imediações do
escritório, e volta à sede da Itaoeste para terminar a jornada diária.
Quatro vezes por semana ele vai para as baladas, sempre na companhia de
belas mulheres. “A vida é curta e me recuso a ficar em casa como um
velho recluso”, diz o ex-rei da soja, do algodão, do milho e da cana.
“Gosto da companhia de gente jovem e bonita.”
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Entrevista:
“Quero ser o rei do minério – e das meninas”
Prestes a anunciar sua volta ao mundo empresarial, Olacyr de Moraes falou à DINHEIRO
Qual é a sensação de voltar a fazer algo inovador?
Posso dizer que vejo este momento com grande satisfação. Nesta
altura da minha vida, o mais importante não é o dinheiro, mas sim o
desejo de realizar coisas pelo Brasil.
O que o levou a apostar na mineração?
Sempre fui ligado à agricultura e achei que deveria investir em
calcário. Por sorte, prospectamos áreas onde existem minerais que, de
tão raros, não são sequer procurados no Brasil, como o tálio e a
volastonita.
Quando foi isso?
Começamos a atuar em 2004. Contudo, a burocracia do Ibama e do
Departamento Nacional de Pesquisas Minerais, na concessão das licenças,
atrasou demais os projetos.
O sr. tem dinheiro para desenvolver essas jazidas?
Pretendo me associar a investidores brasileiros e estrangeiros
dispostos a apostar no negócio. As perspectivas são muito positivas
neste sentido. Porque dispomos de reservas importantes de vários
minerais nobres e também de um portfólio diversificado.
Qual é a sua ambição nessa área?
Quero ser o rei do minério. E das meninas, é claro!
Como o sr. avalia o governo da presidente Dilma?
Trata-se de uma pessoa muito bem preparada e bem intencionada. Vejo
que está enfrentando obstáculos enormes para manter a economia nos
trilhos. Pelo menos, hoje, o Brasil é a bola da vez, o que facilita um
pouco as coisas.
O sr. se arrepende de algo em sua trajetória empresarial?
Não. Sempre fiz o que julguei ser importante para meu País. Mas é
certo que paguei o preço do pioneirismo, em várias áreas. Na década de
1950, falar em investir em agricultura no Cerrado era motivo de piada.
Provei que era possível e hoje a região é o maior celeiro de grãos do
Brasil.
Ainda existem empreendedores visionários no Brasil?
Sem dúvida. Admiro muito o Eike Batista. É uma pena que o sucesso,
no Brasil, ainda desperte a inveja de algumas pessoas e ele certamente
sofre com isso.
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