Dependência do gás e do petróleo torna vulnerável a economia russa
Salários da metade da população vêm do dinheiro do gás e petróleo.
Setor energético representa 65% de toda a renda obtida pelo governo.
A Rússia brilha, mas não atrai. Já são 25 anos desde o fim do comunismo e Vladimir Putin, saudoso daqueles tempos, hoje faz o que quer. O presidente russo comprou a paz social. Literalmente.
53% da população vive de salários ou pensões pagas pelo governo. E Putin dobrou os salários da polícia e dos militares. Tudo foi pago com dinheiro da mesma fonte: gás natural, que a Rússia é a campeã mundial em exportação e petróleo. Os russos ocupam a segunda posição no ranking dos exportadores, atrás da Arábia Saudita.
O setor energético representa cerca de 65% da renda do governo e as contas, que antes fechavam com o preço do barril a US$ 40, hoje só com US$ 110. Putin construiu a estabilidade alicerçada na enorme dependência exterior do seu gás, um setor onde a estatal Gazprom dá as cartas. Mas também em algo que ele não controla: o preço do petróleo.
E onde ele está? Sibéria. O nome já dá calafrios. Uma região maior do que o Brasil e a Europa juntos. No meio do nada, longe de tudo. Na Sibéria Ocidental estão dois terços das reservas russas desse gigante energético. Mas você chega, olha e é quase tudo soviético. Instalações antigas e poços que produzem cada vez menos.
No Instituto de Petróleo de Surgut, considerada capital dessa indústria, um diretor mostra uma pedra de shale, ou folhelo – que, no Brasil, dizemos “xisto”. Essa é uma fonte que a Rússia ainda não dá muita bola.
O diretor diz que o problema não é que o petróleo esteja acabando. "Está acabando o petróleo barato, o fácil de tirar", ele conta. Um integrante de uma tribo faz um ritual, ele faz parte de uma das dezenas que vivem na Sibéria numa economia ligada ao ciclo da natureza.
Existia um acordo com o governo, para que deixassem as terras deles em paz. Mas ali tem petróleo e eles estão sendo expulsos. A lei diz que o petróleo e a floresta pertencem ao Estado. E que a companhia que recebeu o direito de explorar o petróleo tem que negociar com a tribo que mora no local. Só que o preço da negociação foi bastante barato. Eles ofereceram apenas R$ 3 mil.
Essa não é uma negociação, é uma imposição. Integrantes da tribo conseguiram advogados e imprensa para mostrar o que acontece. Exiibem mapas, falam de direitos da poluição, da destruição da cultura deles. O representante da Lukoil, a empresa que os está expulsando, diz que eles podem trabalhar em outro lugar.
Para ele, como para o governo russo, os cidadãos são como os mosquitos da Sibéria. No máximo, incomodam. A dança, a reza e uma fogueira não são nada ao lado da torneira que, ao ser aberta, vai fazer jorrar o petróleo.
O que a tribo denuncia é algo bem real. A Sibéria tem a maior floresta do mundo. Não tem nem perto da biodiversidade da Amazônia, mas é maior em extensão. Escondida no meio dela pode-se ver o legado de décadas de exploração do petróleo feita sem nenhum cuidado com o meio ambiente.
Um jovem do Greenpeace levou a equipe a um dos maiores lagos de petróleo que sobraram de extrações mal feitas. É impressionante. A poluição vai se espalhando pela floresta, rios, riachos, o solo. Os pássaros pensam que é água, mergulham e morrem. Em alguns poucos lugares, as empresas tentam aterrar esses desastres ecológicos.
Jogar a areia por cima é como botar a sujeira por baixo do tapete. A Sibéria já é uma região remota e, longe das estradas, a indústria petrolífera pode ignorar os danos que ela causa ao meio ambiente. O pior é que os russos agora vão explorar petróleo no Oceano Ártico e, aí mesmo, é que ninguém vai ver nada do que acontece.
O ponto fraco dessa Rússia, de Vladimir Putin, é exatamente o seu ponto forte. Ela tem muito daquilo que o mundo mais precisa, mas o preço não depende só dela. E, lentamente, essa dependência, como um vício, está envenenando a economia russa.
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