A coordenadora da área de joalheria e
profa. Lorena Gomes, do Campus Ouro Preto, foi uma das entrevistadas do
jornal “Estado de Minas” na reportagem “Heróis e piratas da joalheria”.
A
matéria foi publicada no dia dois de setembro e, entre outras questões,
enfatiza o fato de designers mineiros terem vencido os principais
concursos de criação de joias do país, o que confirma a vocação do
estado para a produção joalheira.
Lorena foi uma das vencedoras da
categoria “Joias com Gemas de Cor e Pérolas Douradas”, do Prêmio IBGM de
Design 2012, anunciado recentemente em São Paulo.
Heróis e piratas da joalheria
Principal produtor de gemas
coloridas do Brasil, Minas Gerais é também celeiro de designers.
Exportação de pedras brutas, no entanto, coloca nosso tesouro em risco
Laura Valente
Na
história da joalheria nacional, há personagens que fazem o papel de
verdadeiros heróis: empresas pioneiras e designers criativos tiraram as
gemas coradas do ostracismo e criaram identidade para a produção
nacional, que hoje divide espaço com as joias mais cobiçadas nas
melhores vitrines do mundo. Outros, lembram os piratas do cinema que só
querem saber de extrair a riqueza alheia. De acordo com a denúncia dos
joalheiros, países como China e Índia têm levado nosso tesouro em forma
de pedras brutas, esvaziando nossas minas.
Do lado do bem, designers mineiros têm
vencido os principais concursos de criação de joias do país, confirmando
que não vem de hoje a vocação do estado para a produção joalheira: teve
origem ainda no Brasil Império. De lá para cá, porém, o segmento passou
por altos e baixos. Basta dizer que até a década de 1940 a maior parte
da produção comercial era taxada de cópia do exterior, fato que só mudou
graças ao esforço de algumas indústrias e entidades pioneiras.
Em um primeiro momento, fundadores das
joalherias Amsterdam Sauer, H. Stern e Manoel Bernardes, entre outros
precursores, introduziram as gemas coradas no mercado. Assim, passaram a
comercializar joias com alexandrita, topázio imperial, existente apenas
na região de Ouro Preto, e turmalina paraíba, cujo quilate vale mais
que o do diamante, entre outras pedras preciosas. Mas só um tempo
depois, há cerca de 15 anos, a partir da valorização do designer e do
desenho autoral inspirado na brasilidade, peças com pedras brasileiras
passaram a disputar espaço nas vitrines com aquelas de safira, rubi,
esmeralda e diamante, características da joalheria tradicional.
Nesse novo cenário, Minas Gerais ganhou
destaque mundial. Raimundo Vianna, presidente do Sindicato das
Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras
Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no
Estado de Minas Gerais (Sindijoias), lembra que, atualmente, o Brasil é
um país mundialmente reconhecido pela grande diversidade de suas gemas
coloridas e o estado um dos maiores produtores. “São mais de 150
espécies, localizadas em províncias minerais situadas principalmente em
Minas Gerais – considerada a maior província gemológica do mundo Rio
Grande do Sul, Goiânia, Mato Grosso, Bahia e Pará.”
Celeiro de designers
Especialistas como Raimundo Vianna
apontam algumas razões para o destaque de Minas na produção de joias.
“Existe a tradição, iniciada ainda no Brasil Império, quando o ofício de
ourives e joalheiro passava por gerações de uma mesma família. Exemplos
vêm das cidades de Sabará, na Região Metropolitana, que teve influência
de imigrantes italianos, e Diamantina, no Jeguitinhonha, inspirada na
ourivesaria portuguesa. Há, ainda, a abundância de matéria-prima – o que
tem sido ameaçado pela venda de gemas brutas para países como China e
Índia, principalmente. Mais tarde, focamos também no incentivo para o
design”, descreve.
Fato concreto é que mineiros da gema ou
designers que escolheram o estado para viver têm faturado os principais
prêmios do setor. Na última edição do Audiitons Brasil da AngloGold
Ashanti, o maior concurso de design de joias em ouro do mundo (e que
permite a utilização de gemas coradas desde 2004), quinze designers
mineiros ficaram com nove dos principais prêmios.
Também na última edição do concurso de
design em joias do Instituto Brasileiro de Gemas & Metais Preciosos
(IBGM), realizado durante a 55ª Feira de Indústria de Joias, relógios e
Afins (Feninjer), quatro designers residentes no estado foram premiadas:
Caroline Galvão , Lorena Gomes,
Carla Abras e Emi Kyouho.“Há cerca de 15 anos, as gemas coradas
brasileiras eram valorizadas no exterior, enquanto por aqui tinham pouco
prestígio, eram encontradas em feiras de rua por preços baixos. Mas
essa história mudou até mesmo porque o Brasil está na moda, nossa fauna,
flora, diversidade cultural. Hoje, a criatividade do brasileiro é
supervalorizada”, avalia a designer Carla Abras, premiada em edições dos
dois concursos citados acima.
Identidade nacional
Também a premiada designer Emi Kyouho
opina sobre o atual momento de valorização do design e das gemas coradas
brasileiras. Depois de aprender o ofício no Japão, ela ficou conhecida
por aqui a partir da participação em concursos. Atualmente, trabalha em
estúdio próprio (em sociedade com Lígia Muzzi), tanto com produção sob
encomenda para grandes fábricas quanto com o desenho autoral. “Fiz nome
no mercado com a premiação em concursos. Nosso trabalho e as gemas
coradas brasileiras têm sido muito valorizados porque o mercado
joalheiro tem buscado novidades. As pedras brasileiras coloridas já eram
apreciadas lá fora quando o público daqui começou a descobrir suas
propriedades”, aponta.
Lorena Gomes, professora do Instituto Federal de Minas Gerais, campus Ouro Preto, é outra designer que entrou no ramo criando peça para concursos. Em 2006, com apenas 19 anos, foi selecionada pelo Auditions. Daí, direcionou os estudos para o setor. Após a graduação, estudou no master in Ingegneria del Gioiello da escola Politecnico di Torino, na Itália. “Lá, pude observar que as gemas brasileiras também são apreciadas e valorizadas no mercado europeu.”Ainda segundo a designer, o salto na joalheria nacional pode ser observado nos últimos anos, a partir do investimento em produtos mais criativos, com lapidações diferenciadas e identidade própria. “Hoje, tanto no mercado nacional quanto no internacional, a beleza dessas gemas conquista muitos clientes”, afirma Lorena.
Prêmio em dose dupla
Na última edição do concurso do IBGM, a
designer mineira Caroline Galvão teve duas peças premiadas. O bracelete
Ortilia levou o primeiro lugar na categoria Poéticas contemporâneas.
Pudera: a joia de prata banhada com ródio traz diamantes brown e branco,
e pedras brasileiras como o topázio azul, turmalinas verde e rosa e
ametistas. Já o brinco Dritrysia ficou com o 3º lugar na categoria
Lapidação diferenciada. Trata-se de peça de prata banhada em ouro
amarelo, talhada com diamantes brancos, ametista, topázio azul,
prasiolita e citrino. “É sabido que o Brasil é um dos maiores
fornecedores de gemas utilizadas no mercado mundial, somos os únicos
fornecedores de topázio imperial, sem falar nos quartzos, topázios,
turmalinas e esmeraldas. Hoje, as gemas brasileiras são valorizadas no
mercado interno e externo, sendo as grandes estrelas de joias fabricadas
e vendidas em todo o mundo”, opina.
Denúncia sobre a exportação
Denúncia sobre a exportação
Como aponta Caroline, Minas Gerais
possuiu um subsolo rico em minerais e pedras preciosas. “Além do ouro,
encontramos gemas como esmeralda, água-marinha, topázio, turmalina,
ametista e citrino, entre outras. O estado tem ainda a produção de gemas
exclusivas como o topázio imperial, que tem sua extração no município
de Ouro Preto.” O presidente do Sindijoias acrescenta: o estado é líder
mundial na extração de quartzo, nas cores verde, rosa, branca, rutilado.
Em Itabira, temos uma das maiores minas de esmeralda do mundo. Em
Governador Valadares, a maior mina de turmalina. Também a alexandrita, a
única pedra que muda de cor, é encontrada aqui. Nosso subsolo é um dos
mais ricos do planeta.”
Depois de levar as gemas coradas e o design brasileiro para posição de destaque no mercado, os produtores nacionais de joias voltam-se para outras demandas. Um dos problemas que mais afligem o setor, segundo denúncia do presidente do Sindijoias, é a exportação de gemas brutas. “Estamos correndo o risco de não ter mais matéria-prima para a indústria joalheira. Países como China e Índia estão levando nossas pedras em estado bruto a custos baixíssimos. A legislação deles impede a saída de qualquer pedra que não seja lapidada, que deve ser beneficiada no território deles. Aqui, as autoridades não tomaram qualquer providência para impedir esse tipo de exportação”, compara.
Depois de levar as gemas coradas e o design brasileiro para posição de destaque no mercado, os produtores nacionais de joias voltam-se para outras demandas. Um dos problemas que mais afligem o setor, segundo denúncia do presidente do Sindijoias, é a exportação de gemas brutas. “Estamos correndo o risco de não ter mais matéria-prima para a indústria joalheira. Países como China e Índia estão levando nossas pedras em estado bruto a custos baixíssimos. A legislação deles impede a saída de qualquer pedra que não seja lapidada, que deve ser beneficiada no território deles. Aqui, as autoridades não tomaram qualquer providência para impedir esse tipo de exportação”, compara.
Na opinião dele, a exportação de pedras
brutas não gera divisas, impostos e outros benefícios para o país.
“Passou da hora de repensar essa política, de tomarmos medidas com o
objetivo de diminuir o prejuízo. Se querem usar nossa matéria-prima, os
importadores deviam abrir empresas aqui dentro”, desafia.
Para finalizar, o presidente do
Sindijoias faz outra comparação. “A China emprega mais de um milhão de
profissionais no segmento joalheiro, enquanto em todo o Brasil é capaz
de não encontrarmos quatro mil lapidários. E esse é um problema de Minas
Gerais já que dominamos 90% do mercado nacional de joias com gema
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