domingo, 13 de abril de 2014

Heróis e piratas da joalheria

A coordenadora da área de joalheria e profa. Lorena Gomes, do Campus Ouro Preto, foi uma das entrevistadas do jornal “Estado de Minas” na reportagem “Heróis e piratas da joalheria”.
A matéria foi publicada no dia dois de setembro e, entre outras questões, enfatiza o fato de designers mineiros terem vencido os principais concursos de criação de joias do país, o que confirma a vocação do estado para a produção joalheira.
Lorena foi uma das vencedoras da categoria “Joias com Gemas de Cor e Pérolas Douradas”, do Prêmio IBGM de Design 2012, anunciado recentemente em São Paulo.
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Heróis e piratas da joalheria

Principal produtor de gemas coloridas do Brasil, Minas Gerais é também celeiro de designers. Exportação de pedras brutas, no entanto, coloca nosso tesouro em risco
Laura Valente
Na história da joalheria nacional, há personagens que fazem o papel de verdadeiros heróis: empresas pioneiras e designers criativos tiraram as gemas coradas do ostracismo e criaram identidade para a produção nacional, que hoje divide espaço com as joias mais cobiçadas nas melhores vitrines do mundo. Outros, lembram os piratas do cinema que só querem saber de extrair a riqueza alheia. De acordo com a denúncia dos joalheiros, países como China e Índia têm levado nosso tesouro em forma de pedras brutas, esvaziando nossas minas.
Do lado do bem, designers mineiros têm vencido os principais concursos de criação de joias do país, confirmando que não vem de hoje a vocação do estado para a produção joalheira: teve origem ainda no Brasil Império. De lá para cá, porém, o segmento passou por altos e baixos. Basta dizer que até a década de 1940 a maior parte da produção comercial era taxada de cópia do exterior, fato que só mudou graças ao esforço de algumas indústrias e entidades pioneiras.
Em um primeiro momento, fundadores das joalherias Amsterdam Sauer, H. Stern e Manoel Bernardes, entre outros precursores, introduziram as gemas coradas no mercado. Assim, passaram a comercializar joias com alexandrita, topázio imperial, existente apenas na região de Ouro Preto, e turmalina paraíba, cujo quilate vale mais que o do diamante, entre outras pedras preciosas. Mas só um tempo depois, há cerca de 15 anos, a partir da valorização do designer e do desenho autoral inspirado na brasilidade, peças com pedras brasileiras passaram a disputar espaço nas vitrines com aquelas de safira, rubi, esmeralda e diamante, características da joalheria tradicional.
Nesse novo cenário, Minas Gerais ganhou destaque mundial. Raimundo Vianna, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias), lembra que, atualmente, o Brasil é um país mundialmente reconhecido pela grande diversidade de suas gemas coloridas e o estado um dos maiores produtores. “São mais de 150 espécies, localizadas em províncias minerais situadas principalmente em Minas Gerais – considerada a maior província gemológica do mundo Rio Grande do Sul, Goiânia, Mato Grosso, Bahia e Pará.”
Celeiro de designers
Especialistas como Raimundo Vianna apontam algumas razões para o destaque de Minas na produção de joias. “Existe a tradição, iniciada ainda no Brasil Império, quando o ofício de ourives e joalheiro passava por gerações de uma mesma família. Exemplos vêm das cidades de Sabará, na Região Metropolitana, que teve influência de imigrantes italianos, e Diamantina, no Jeguitinhonha, inspirada na ourivesaria portuguesa. Há, ainda, a abundância de matéria-prima – o que tem sido ameaçado pela venda de gemas brutas para países como China e Índia, principalmente. Mais tarde, focamos também no incentivo para o design”, descreve.
Fato concreto é que mineiros da gema ou designers que escolheram o estado para viver têm faturado os principais prêmios do setor. Na última edição do Audiitons Brasil da AngloGold Ashanti, o maior concurso de design de joias em ouro do mundo (e que permite a utilização de gemas coradas desde 2004), quinze designers mineiros ficaram com nove dos principais prêmios.
Também na última edição do concurso de design em joias do Instituto Brasileiro de Gemas & Metais Preciosos (IBGM), realizado durante a 55ª Feira de Indústria de Joias, relógios e Afins (Feninjer), quatro designers residentes no estado foram premiadas: Caroline Galvão , Lorena Gomes, Carla Abras e Emi Kyouho.“Há cerca de 15 anos, as gemas coradas brasileiras eram valorizadas no exterior, enquanto por aqui tinham pouco prestígio, eram encontradas em feiras de rua por preços baixos. Mas essa história mudou até mesmo porque o Brasil está na moda, nossa fauna, flora, diversidade cultural. Hoje, a criatividade do brasileiro é supervalorizada”, avalia a designer Carla Abras, premiada em edições dos dois concursos citados acima.
Identidade nacional
Também a premiada designer Emi Kyouho opina sobre o atual momento de valorização do design e das gemas coradas brasileiras. Depois de aprender o ofício no Japão, ela ficou conhecida por aqui a partir da participação em concursos. Atualmente, trabalha em estúdio próprio (em sociedade com Lígia Muzzi), tanto com produção sob encomenda para grandes fábricas quanto com o desenho autoral. “Fiz nome no mercado com a premiação em concursos. Nosso trabalho e as gemas coradas brasileiras têm sido muito valorizados porque o mercado joalheiro tem buscado novidades. As pedras brasileiras coloridas já eram apreciadas lá fora quando o público daqui começou a descobrir suas propriedades”, aponta.

Lorena Gomes, professora do Instituto Federal de Minas Gerais, campus Ouro Preto, é outra designer que entrou no ramo criando peça para concursos. Em 2006, com apenas 19 anos, foi selecionada pelo Auditions. Daí, direcionou os estudos para o setor. Após a graduação, estudou no master in Ingegneria del Gioiello da escola Politecnico di Torino, na Itália. “Lá, pude observar que as gemas brasileiras também são apreciadas e valorizadas no mercado europeu.”Ainda segundo a designer, o salto na joalheria nacional pode ser observado nos últimos anos, a partir do investimento em produtos mais criativos, com lapidações diferenciadas e identidade própria. “Hoje, tanto no mercado nacional quanto no internacional, a beleza dessas gemas conquista muitos clientes”, afirma Lorena.

Prêmio em dose dupla
Na última edição do concurso do IBGM, a designer mineira Caroline Galvão teve duas peças premiadas. O bracelete Ortilia levou o primeiro lugar na categoria Poéticas contemporâneas. Pudera: a joia de prata banhada com ródio traz diamantes brown e branco, e pedras brasileiras como o topázio azul, turmalinas verde e rosa e ametistas. Já o brinco Dritrysia ficou com o 3º lugar na categoria Lapidação diferenciada. Trata-se de peça de prata banhada em ouro amarelo, talhada com diamantes brancos, ametista, topázio azul, prasiolita e citrino. “É sabido que o Brasil é um dos maiores fornecedores de gemas utilizadas no mercado mundial, somos os únicos fornecedores de topázio imperial, sem falar nos quartzos, topázios, turmalinas e esmeraldas. Hoje, as gemas brasileiras são valorizadas no mercado interno e externo, sendo as grandes estrelas de joias fabricadas e vendidas em todo o mundo”, opina.

Denúncia sobre a exportação
Como aponta Caroline, Minas Gerais possuiu um subsolo rico em minerais e pedras preciosas. “Além do ouro, encontramos gemas como esmeralda, água-marinha, topázio, turmalina, ametista e citrino, entre outras. O estado tem ainda a produção de gemas exclusivas como o topázio imperial, que tem sua extração no município de Ouro Preto.” O presidente do Sindijoias acrescenta: o estado é líder mundial na extração de quartzo, nas cores verde, rosa, branca, rutilado. Em Itabira, temos uma das maiores minas de esmeralda do mundo. Em Governador Valadares, a maior mina de turmalina. Também a alexandrita, a única pedra que muda de cor, é encontrada aqui. Nosso subsolo é um dos mais ricos do planeta.”

Depois de levar as gemas coradas e o design brasileiro para posição de destaque no mercado, os produtores nacionais de joias voltam-se para outras demandas. Um dos problemas que mais afligem o setor, segundo denúncia do presidente do Sindijoias, é a exportação de gemas brutas. “Estamos correndo o risco de não ter mais matéria-prima para a indústria joalheira. Países como China e Índia estão levando nossas pedras em estado bruto a custos baixíssimos. A legislação deles impede a saída de qualquer pedra que não seja lapidada, que deve ser beneficiada no território deles. Aqui, as autoridades não tomaram qualquer providência para impedir esse tipo de exportação”, compara.
Na opinião dele, a exportação de pedras brutas não gera divisas, impostos e outros benefícios para o país. “Passou da hora de repensar essa política, de tomarmos medidas com o objetivo de diminuir o prejuízo. Se querem usar nossa matéria-prima, os importadores deviam abrir empresas aqui dentro”, desafia.
Para finalizar, o presidente do Sindijoias faz outra comparação. “A China emprega mais de um milhão de profissionais no segmento joalheiro, enquanto em todo o Brasil é capaz de não encontrarmos quatro mil lapidários. E esse é um problema de Minas Gerais já que dominamos 90% do mercado nacional de joias com gema

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