Rochas ultramáficas plutônicas do
greenstone belt Rio das Velhas na porção central do Quadrilátero
Ferrífero, Minas Gerais, Brasil
Plutonic
ultramafic rocks of the greenstone belt Rio das Velhas in the central
portion of the Quadrilátero Ferrífero, State of Minas Gerais, Brazil
RESUMO
Em Amarantina, distrito de Ouro Preto, encontram-se rochas ultramáficas expostas em duas áreas com cerca de 500 m2
cada. As rochas afloram no Complexo do Bação, que é o embasamento
gnáissico do greenstone belt Rio das Velhas, na porção central do
Quadrilátero Ferrífero (QF). O interesse no estudo petrogenético desses
corpos deve-se à preservação parcial de minerais ígneos, ausentes na
maior parte das rochas ultramáficas totalmente metamorfizadas do QF.
Entre essas rochas, destacam-se os esteatitos e os serpentinitos, devido
a sua importância econômica. As rochas ultramáficas de Amarantina
possuem textura equigranular, fato que as caracteriza como tendo origem
plutônica, isto é, trata-se de metaperidotitos. Possuem grãos maiores de
olivina, piroxênio e espinélio da rocha ígnea original distribuídos em
matriz metamórfica fina com talco, serpentinas, cloritas, anfibólios e
minerais opacos. Escassas arita (NiSbAs) e breithauptita (NiSb) foram
formadas a partir de pentlandita durante o metamorfismo associado a
hidrotermalismo. A comparação da composição química com a de um
metakomatiito com textura spinifex do QF, bem como com rochas
komatitiiticas de outras partes do mundo, mostra que os metaperidotitos
são, quimicamente, semelhantes aos komatiitos não-desfalcados em
alumínio. Portanto é provável que as rochas ultramáficas estudadas
correspondam à porção plutônica do magmatismo komatitiitico do Grupo
Nova Lima, que é a unidade basal do greenstone belt Rio das Velhas.
Palavras-chave: Rocha ultramáfica, greenstone belt Rio das Velhas, peridotito komatiitico, geoquímica, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.
ABSTRACT
In
Amarantina, district of Ouro Preto (State of Minas Gerais, Brazil),
ultramafic rock exposures are found along two areas of about 500 m2
each. The rocks crop out in the Bação complex, which is the gneissic
basement of the Rio das Velhas greenstone belt in the central portion of
the Quadrilátero Ferrífero (QF). The interest in a petrogenetic study
of the ultramafic rocks is the partial preservation of igneous minerals,
which are not observed in most of the completely metamorphosed
ultramafic rocks in the QF. Among them, the steatites and the
serpentinites are the best studied because of their economic importance.
The ultramafic rocks from Amarantina are classified as metaperidotites
due to the equigranular texture characteristic of plutonic origin. The
rocks are made up of large grains of olivine, pyroxene, and spinel
preserved from de original magmatic rock, which are distributed in a
fine grained mass with talc, serpentine, chlorite, amphibole, and opaque
minerals. Scarce arite (NiSbAs) and breithauptite (NiSb) were generated
after pentlandite during hydrothermal metamorphism. Comparison of the
chemical composition with a metakomatiite with spinifex texture from de
QF as well as with known komatiitic rocks from other parts of the world
reveals that the metaperidotites are chemically similar to non
Al-depleted komatiites. Therefore it is probable that the studied
ultramafic rocks correspond to the plutonic portion of the komatiitic
magmatism of the Nova Lima group, at the base of the Rio das Velhas
greenstone belt.
Keywords: Ultramafic rock, Rio das Velhas greenstone belt, komatiitic peridotite, geochemistry, Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais.
1. Introdução
O
Quadrilátero Ferrífero (QF) tem sido, desde o século XIX, objeto de
pesquisas e estudos geológicos devido aos bens minerais nele presentes,
entre os quais se destacam as mineralizações de ferro e ouro. Quanto a
bens minerais não-metálicos, são explotadas, entre outras, rochas
metaultramáficas do tipo esteatito/serpentinito, de grande importância
econômica. Entre as ocorrências de rochas de natureza ultramáfica,
encontram-se, muito raramente, corpos que preservam algum mineral ou
textura ígnea da rocha original, que são de grande relevância para
estudos petrogenéticos, pois podem representar o protólito dos
esteatitos e serpentinitos. Nas circunvizinhanças do QF, rochas com
minerais ígneos preservados foram descritas por Jordt-Evangelista e
Silva (2005), na região de Lamim, ao sul, Fonseca e Pereira (2008), em
Lagoa Dourada, a sudoeste, Braga (2006), em Queluzito, também a
sudoeste, e Medeiros Júnior e Jordt-Evangelista (2010), em Acaiaca, a
leste do QF. O presente estudo visa à caracterização de dois corpos
ultramáficos com minerais ígneos parcialmente preservados, localizados
em Amarantina, distrito de Ouro Preto.
As
rochas metaultramáficas da região do Quadrilátero Ferrífero pertencem
ao Supergrupo Rio das Velhas, que constitui um greenstone belt arqueano
(Dorr, 1969; Ladeira, 1980; Ladeira & Roeser, 1983; Roeser et al.,
1980). O Supergrupo Rio das Velhas é constituído pelo Grupo Nova Lima,
inferior, e pelo Grupo Maquiné, superior.
O
Grupo Nova Lima é composto, na sua porção basal, principalmente, por
esteatitos e serpentinitos derivados de protólitos ígneos ultramáficos
(Ladeira & Roeser, 1983), por meio de processos metamórficos
associados a transformações metassomáticas. A preservação de texturas
spinifex, embora muito rara (Ladeira, 1980; Noce et al., 1990; Pinheiro
& Nilson, 1997; Andreatta e Silva, 2008), atesta que, pelo menos,
uma parte das rochas ultramáficas primárias era de natureza vulcânica,
originada de komatiitos.
O
Complexo do Bação, no qual estão inseridas as rochas metaultramáficas
de Amarantina, é constituído, predominantemente, por gnaisses de
composição tonalítica e granodiorítica (Gomes, 1986 e 1987). O referido
complexo compõe o embasamento das rochas supracrustais do greenstone
belt Rio das Velhas, que o rodeiam. Subordinadamente ocorrem xistos de
derivação pelítica e anfibolitos.
O
objetivo desse trabalho é o de caracterizar, mineralogicamente e de
forma textural e geoquímica, os litotipos presentes nos corpos
metaultramáficos de Amarantina e, também, o de empreender sua
interpretação petrogenética. A importância do estudo desses corpos se
deve a sua localização geográfica, pois estão inseridos dentro do
Complexo do Bação, na região central do QF, o que os distingue das
ocorrências anteriormente citadas, que se localizam fora do QF e que,
portanto, podem não pertencer ao Grupo Nova Lima.
2. Materiais e métodos
Realizaram-se
trabalhos de campo para coleta de amostras, que foram descritas macro e
microscopicamente. As lâminas delgadas foram descritas sob microscópio
de polarização por luz incidente e luz transmitida. Para se obterem as
análises de química mineral, utilizou-se o microscópio eletrônico de
varredura (MEV) de marca JEOL, modelo JSM com EDS (espectrometria por
dispersão de energia) Thermo Electron acoplado no Laboratório de
Microanálise (MICROLAB) do DEGEO-UFOP, que operou sob condições
analíticas de 20 kV, com largura de feixe 10 µm
e 2000 contagens. Também foram realizadas análises por microssonda
eletrônica em equipamento da marca JEOL, modelo JCXA-8900RL no
Laboratório de Microanálises do consórcio Física-Química-Geologia da
UFMG e CDTN-CNEN. O aparelho operou com uma tensão de 15 kVe corrente de
feixe de 20 nA. Análises químicas em rocha total foram obtidas via
Espectrômetro de Fluorescência de Raios X (FRX), de marca Philips
PW2404, modelo MagiX com amostrador automático PW2504 e tubo de Rh a 2,4
kW, no Laboratório de Preparação de Amostras para Geoquímica e
Geocronologia (LOPAG) do DEGEO-UFOP e em Espectrofotômetro de Emissão
Atômica com Fonte Plasma (ICP-OES), de marca Spectro e modelo Ciros CCD,
no Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGqA) do DEGEO-UFOP. O
tratamento dos dados geoquímicos foi feito no software Minpet versão 2.02 (Richard, 1995).
3. Corpo metaultramáfico de Amarantina
As
rochas metaultramáficas de Amarantina foram encontradas em duas áreas
distintas, uma à nordeste e a outra à sudoeste da rodovia BR-352 (Figura 1), distanciadas, aproximadamente, 2,5 km. Elas ocorrem em afloramentos e blocos soltos com tamanho de metros a decâmetros (Figura 2). São rochas maciças, de granulometria fina a média, e que podem apresentar dobras (Figura 2 D).
Não se encontraram afloramentos que permitissem verificar as relações
de contato com os gnaisses do Complexo do Bação. A área superficial do
corpo a leste de Amarantina (Figura 1) é de, pelo menos, 500 m2, conforme indica a distribuição dos afloramentos in situ e dos blocos dispersos pelo terreno. O outro corpo tem dimensões semelhantes.
4. Aspectos petrográficos e química mineral
No
corpo metaultramáfico de Amarantina, foram amostrados três litotipos, a
saber, espinélio metaperidotito, metaperidotito e
tremolita-clorita-serpentina granofels, sendo que este último representa
o produto do total metamorfismo dos anteriores. As amostras estudadas
foram coletadas nos pontos AM-1 a AM-4, mostrados na Figura 1.
Além dos litotipos citados, são encontrados, também, esteatitos, que,
devido ao elevado grau de alteração intempérica, não foram amostrados.
O metaperidotito AM-1 (Figura 3 F)
possui até 20% de olivina, que ocorre em grãos maiores distribuídos em
matriz fina composta por clinoanfibólio, serpentina, clorita, talco,
magnetita e ilmenita. Os grãos de olivina, que ficaram preservados da
rocha ígnea, são arredondados, medem cerca de 0,8 mm e possuem alteração
nas fraturas e bordas em serpentina e talco. A fórmula estrutural média
da olivina, obtida por meio de análises de microssonda, é Mg1,6Fe0,4Si0,99 O4,
com 80% do componente forsterita. O clinoanfibólio apresenta-se em
cristais prismáticos e incolores, que foi identificado por MSE e MEV/EDS
como magnésio-hornblenda. Pela inexistência de feições texturais do
tipo spinifex e tendo em vista o hábito da olivina, interpreta-se que a
textura original da rocha é plutônica e não vulcânica.
O
tremolita-clorita-serpentina granofels AM-2 encontra-se com cerca de
200 m do metaperidotito AM-1. Embora não apresente minerais ígneos
preservados, é provável, pela proximidade, que seja produto do
metamorfismo do metaperidotito. Tem microestrutura decussada e é
constituído por tremolita (15%), serpentina (55%), clorita (20%), talco
(5%) e Cr-magnetita (5%).
O espinélio metaperidotito AM-3 (Figura 3 A, B, C, D)
possui minerais de origem ígnea, como olivina, ortopiroxênio e
espinélio, que somam até 30% do volume da rocha, e proporções variáveis
de tremolita, serpentina, clorita, talco, ilmenita, Cr-magnetita,
breithauptita e arita, que, juntos, constituem os restantes 70% da
rocha. A olivina aparece em cristais anédricos de até 0,8 mm, com
alteração para talco e serpentina. A fórmula estrutural média da
olivina, obtida por meio de análises de MSE (Tabela 1), é Mg1,7Fe0,3 Si0,99 O4, que corresponde a 85% do componente forsterita. O ortopiroxênio, com fórmula estrutural Ca0,33(Mg1,71Fe0,29)Si1,97O6,
isto é, com En 85, encontra-se substituído, parcialmente, por talco,
serpentina e tremolita, gerados por reações metamórficas em condições da
fácies xisto verde. O espinélio ocorre em grãos anédricos, medindo
cerca de 0,2 mm, tem cor verde-escura e encontra-se sempre rodeado por
clorita. A sua fórmula estrutural média é (Mg0,65Fe0,35)Cr0,1Al1,9O4,
o que corresponde a uma composição intermediária entre espinélio s.s. e
hercinita, sendo, por isso, classificado como pleonasto.
O metaperidotito AM-4 (Figura 3 E)
apresenta-se com cerca de 30% de olivina, que ocorre em grãos maiores
distribuídos em matriz fina composta por tremolita, serpentina, clorita,
talco e minerais opacos, classificados por MSE e MEV/EDS como ilmenita,
magnetita, Cr-magnetita, pirita, pentlandita, breithauptita e arita.
Olivina apresenta-se, parcialmente, alterada. Em geral, os grãos estão
envoltos por massa fibrosa formada por serpentina, menos frequentemente
observa-se clorita e talco. Os grãos chegam até a 1,5 cm. A porcentagem
de componente Fo é 87% e sua fórmula estrutural é Mg1,7Fe0,3Si0,99O4.
Localmente verifica-se que a rocha apresenta-se bandada e dobrada (Figura 4).
O bandamento mineralógico é dado pela alternância de bandas, onde a
olivina está preservada com bandas ricas em minerais metamórficos, como
serpentinas, cloritas, talco ou tremolita. Essas bandas, provavelmente,
representam descontinuidades, por onde houve a infiltração dos fluidos
aquosos durante o metamorfismo. A ausência de extinção ondulante, nos
grãos de olivina, sugere que o peridotito original não estava dobrado,
mas que o processo tectonometamórfico levou à geração de dobras por
deslizamento ao longo das descontinuidades, onde se formaram os minerais
mais dúcteis, como serpentinas, clorita ou talco.
Minerais contendo antimônio e arsênio, como breithauptita e arita (Figura 5),
não são comuns. A arita (NiSbAs) representa o membro de composição
intermediária da solução sólida niquelina (NiAs) - breithauptita (NiSb),
estudada, experimentalmente, por Hewitt (1948). A composição química
média de porcentagem em peso encontrada para a pentlandita foi de 36% de
Fe, 28% de Ni e 37% de S, para a breithauptita foi de 34% de Ni e 66%
de Sb e para a arita de Ni (42-37%), de As (39-32%) e de Sb (25-16%).
Breithauptita, arita e pentlandita aparecem com intercrescimento (Figura 5).
O intercrescimento da breithauptita com arita e pentlandita reflete
processos substitucionais, provavelmente decorrentes de variações na
concentração de elementos como As, S e Sb, onde a pentlandita cede ao
Ni. Breithauptita pode ser encontrada em depósitos minerais formados em
altas pressões e temperaturas, como em peridotitos, em pegmatitos
niquelíferos com pirrotita e disseminada em veios de galena-esfalerita.
Entretanto sua ocorrência é mais comum em veios hidrotermais com
Co-Ni-Ag (Ramdhor, 1969).
Embora
minerais de Ni-As-Sb sejam relativamente raros na natureza, eles não
são incomuns em variadas mineralizações relacionadas a remobilizados
hidrotermais, onde ocorrem associados com minerais de ouro (Cook, 1996).
No entanto, a presença de Au, Co e Ag não foi verificada nas rochas
estudadas nesse trabalho.
Para
fins de comparação com as rochas de Amarantina, coletou-se e
analisou-se uma amostra de metakomatiito de Rio Manso, na região
noroeste do QF (Andreatta e Silva, 2008). A amostra SPF possui textura
spinifex preservada e é composta por 35% em volume de talco, 25% de
clorita, 20% de clinoanfibólio, 15% de serpentina, 5% de carbonatos e 5%
de minerais opacos.
5. Geoquímica
A Tabela 2
apresenta os resultados das análises químicas das amostras estudadas e
rochas similares selecionadas da literatura para comparação. As rochas
da literatura são o komatiito peridotítico de Yakabindie, na Austrália
(Naldrett & Turner, 1977 in Naldrett & Cabri, 1976) e o komatiito de Abitibi, no Canadá (Sun & Nesbitt, 1978 in Arndt,
2008). Embora totalmente metamorfizada, a amostra de metakomatiito SPF,
da região de Rio Manso no QF, foi incluída por ainda preservar a
textura spinifex e, portanto, por ser uma rocha representativa dos
derrames ultramáficos do Grupo Nova Lima.
Verifica-se
que as rochas de Amarantina, tal como o metakomatiito de Rio Manso e as
rochas da literatura, possuem altos teores de MgO, de 25 a 33% em peso e
Cr e Ni muito elevados (Cr: 1771 a 3555 ppm; Ni: 843 a 1572 ppm). Os
teores anômalos de As e Sb, em média, 470 e 500 ppm, respectivamente,
são devidos à presença dos minerais breithauptita (NiSb) e arita
(NiSbAs).
Segundo Arndt e
Nisbet (1982), peridotitos komatiiticos caracterizam-se, quimicamente,
por teores de MgO acima de 18% em peso e TiO2 abaixo de 0,9%. Dentro desses critérios, todas as rochas analisadas são peridotitos komatiiticos (Tabela 2), pois o teor de MgO varia entre cerca de 25 e 33% em peso e o TiO2 é inferior a 0,3%.
Segundo
Viljoen e Viljoen (1982) e Arndt e Nisbet (1982), outro aspecto
importante na definição da suíte komatiitica diz respeito à razão CaO/Al2O3 que deve estar situada no intervalo entre 0,8 e 1,0. Nos litotipos estudados, as razões de CaO/Al2O3 estão entre 0,6 e 2,73 (Tabela 2).
Os litotipos que apresentam razões relativamente elevadas são rochas
com grande quantidade de tremolita (AM-1, AM-3). No caso dos litotipos
com baixas razões de CaO/Al2O3 (0,6), trata-se de amostras com altos teores de clorita. Portanto a razão CaO/Al2O3
não é primaria nas rochas estudadas, possivelmente devido à mobilidade
do cálcio durante o processo de metamorfismo acompanhado de infiltração
de fluidos aquosos, que propiciaram a geração de minerais hidratados
como talco e serpentinas à custa de minerais anidros como olivina e
piroxênios.
Nesbitt et al. (1979) e Beswick (1982, in Arndt & Nisbet, 1982) propõem uma classificação para os komatiitos em dois grupos baseados na razão Al2O3/TiO2. O primeiro grupo apresenta valores aproximadamente condríticos com razão Al2O3/TiO2
em torno de 20,4, o que caracteriza a suíte de komatiitos
não-desfalcados em Al. O segundo grupo, classificado como dos komatiitos
Al-desfalcados, é caracterizado por apresentar razões próximas da
metade dos valores condríticos, o que o ocorre nos komatiitos do oeste
da Austrália (Beswick 1982). A maioria das amostras estudadas apresenta
razão Al2O3/TiO2 próximas ou maiores do que 20,4 correspondendo à suíte de komatiitos não-desfalcados em Al.
Para caracterizar, quimicamente, as rochas de Amarantina, as análises foram lançadas em diagramas discriminantes (Figura 6 A);
para fins de comparação também foram utilizadas as análises da
literatura e o metakomatiito de Rio Manso. No diagrama de Jensen (1976),
verifica-se que as amostras possuem características químicas de
peridotitos komatiiticos, com exceção do tremolita-clorita-serpentina
granofels (AM-2), que se situou no campo de Basalto Komatiitico,
provavelmente por ter sido mais afetado pelo processo
metamórfico/metassomático.
No diagrama MgO-CaO-Al2O3 (Figura 6 B)
de Viljoen e Viljoen (1969), também se verifica que as rochas estudadas
possuem características geoquímicas de peridotitos komatiiticos.
6. Discussão e conclusões
Por
se localizarem no Complexo do Bação, que é o embasamento das rochas
supracrustais da porção central do Quadrilátero Ferrífero, os dois
corpos estudados de Amarantina constituem uma ocorrência ímpar para o
estudo das rochas ultramáficas da região. A textura equigranular das
amostras, que ainda preservam minerais ígneos, como olivina, indica que
as rochas são de origem plutônica, isto é, que não se trata de derrames
de komatiito que se caracterizam pela textura spinifex, conforme
encontrados localmente no QF. Os resultados de análises químicas mostram
que as rochas estudadas são, quimicamente, semelhantes a komatiitos
não-desfalcados em Al. Portanto as rochas ultramáficas de Amarantina,
provavelmente, correspondem à porção plutônica do magmatismo que deu
origem ao Grupo Nova Lima, que é a unidade basal do greenstone belt Rio
das Velhas. Ao atravessar a crosta primitiva gnáissica, parte do magma
gerador das rochas ultramáficas vulcânicas komatiiticas pode ter
preenchido condutos, fraturas ou formado corpos de pequeno porte,
conforme os encontrados em Amarantina, cristalizando-se como rocha
plutônica. A transformação metamórfica foi somente parcial em talco,
serpentinas, anfibólios e/ou carbonatos, o que contrasta com a
esteatitização ou serpentinização completa da maior parte das rochas
ultramáficas encontradas no QF. A referida transformação deve ser
decorrente do aporte insuficiente de fluidos aquosos durante o ciclo
tectonometamórfico do Transamazônico.
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