quarta-feira, 7 de maio de 2014

Turquesas: gemas raras na Amazônia

Turquesas: gemas raras na Amazônia

Pedras preciosas podem ser apreciadas no
Museu de Geociências da UFPA



Pedras com brilhos e cores que impressionam. Escondidos sobre o solo amazônico por milhões de anos, elementos químicos formaram grandes jazidas de minerais, como alumínio e ferro, mas também moldaram pedras preciosas, como quartzo, malaquita, ametistas, turquesas e até diamantes.
Suas propriedades, ocorrências e composição são objeto de estudo de pesquisadores do Instituto de Geociências (IG) da Universidade Federal do Pará e muitas destas pedras e outros minerais estão expostos para visitação no Museu de Geociências da Instituição.
Apesar de ter sua riqueza mineral reconhecida, a região amazônica não tem expressão gemológica. "No passado, fomos produtores de diamantes, mas esta pedra preciosa foi exaurida. O pouco que ainda temos está submerso no Rio Tocantins, na área da barragem da Hidrelétrica de Tucuruí. Entre os anos de 1979 e 1985, no município de Curionópolis, também tivemos extração de toneladas de malaquita, uma pedra preciosa de tons verdes, mas seus veios também estão esgotados", revela Marcondes Lima da Costa, professor da Faculdade de Geologia e curador do Museu de Geociênicas do IG/UFPA.
O pesquisador explica que, hoje, ainda há grande produção de ametista - pedra violeta ou púrpura - em Alto Bonito, região de Carajás. A comercialização é voltada, principalmente, para a Região Sul do País e para o mercado internacional. O mineral também já foi encontrado e extraído na região de Pau D'arco, com qualidade reconhecida em termos de cor.

Novos veios podem ser encontrados em Carajás

Entre as pedras mais raras encontradas em solo paraense, estão as turquesas, gemas preciosas que variam da cor verde até o azul, conhecido como azul turquesa. Esta pedra tem em sua composição vários elementos, como o fósforo, o alumínio e o cobre, sendo este último o responsável pelas tonalidades de cor que o mineral assume. “Entre os três elementos, o cobre é o mais raro de ser encontrado. Mas, ainda que todos eles estejam presentes no ambiente, isso não garante que a turquesa irá formar-se. Sua estrutura mineral exige condições muito especiais que a natureza não obtém facilmente. A formação de turquesas está sujeita a especificidades geológicas, geoquímicas e meteorológicas ligadas à formação dos solos e de veios hidrotermais na área”, detalha o geólogo da UFPA.
Marcondes Lima da Costa conta que essas pedras preciosas são encontradas em ambientes hidrotermais, ou seja, com águas quentes, em áreas próximas à superfície, onde a água é rica em fosfato, alumínio e cobre. No Brasil, há ocorrência de turquesas no Rio Grande do Norte e em Minas Gerais, mas não temos uma produção comercial expressiva. “Encontramos duas ocorrências de turquesas no Pará: em Maicuru, ao norte do município de Monte Alegre, no oeste do Pará; e na Ilha de Itacupim, no nordeste paraense. As duas regiões são ricas em fosfato. Além de estarem em pequena quantidade, os veios encontrados no Pará não podem ser explorados por estarem localizados em áreas de reserva ambiental", revela o professor.
Os veios foram localizados em áreas que apresentaram erosão. "Maicuru é uma serra com 600 metros de altitude e as turquesas foram encontradas nos seus profundos vales. Em Itacupim, as pedras aparecem no litoral onde a maré desgasta a rocha. Não há moradores na região de Maicuru, mas na Ilha de Itacupim, há duas colônias de pescadores e ninguém havia percebido a existência das gemas. Os moradores viam a coloração distinta das rochas apenas como mais um elemento da paisagem da Ilha”, conta o pesquisador.
Marcondes Lima da Costa acredita que há chances de encontrarmos mais veios de turquesas no Pará, especialmente na região de Carajás, “nessa área, temos a maior jazida de cobre do País e, em locais como o Igarapé Bahia, encontramos grandes quantidades de fosfato. Porém, as pedras mais interessantes localizadas na área são a libhetenita e o neodímio-florencita, minerais raros que não são adequados para a lapidação, ou seja, não são aproveitáveis como gemas, mas muito utilizados como artefato por colecionadores de pedras”.
Além de indicar locais onde há maior probabilidade de ocorrência de gemológicas e mineralógicas, a descoberta de gemas e minerais raros no Estado tem importância acadêmica e econômica. “Nestes casos, não é possível a exploração, mas a localização de novos veios é importante para entendermos a história e a composição dos solos na Amazônia e para indicar novas atividades econômicas às populações que vivem nesses locais, não apenas pela exploração direta de gemas, mas também pelo artesanato e turismo, por exemplo", defende o pesquisador da UFPA.

Composição, forma e cor

As pedras preciosas em estado bruto podem passar despercebidas diante de um olhar leigo. "A beleza da maioria delas aparece, apenas, após a lapidação. Nesse processo, cada mineral ganha dimensões simétricas e tem suas faces polidas. Só então, elas começam a refletir à luz, ganhando o brilho e a transparência pelos quais são famosas", explica Marcondes Costa. De acordo com o Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama), em território paraense, já foram registradas mais de 250 ocorrências de gemas minerais, com destaques para as ametistas, citrinos e cristais de rocha.
A beleza está relacionada com a raridade de cada pedra preciosa. Uma das especificidades da turquesa é que a pedra é microporosa e não tem brilho como os cristais. Elas são mais opacas e não podem ser lapidadas e sim "boleadas", como se seus contornos fossem aperfeiçoados não para serem simétricos e geométricos, mas para assumir em um formato mais abobadado. A raridade e valor estão associados a sua forma e cor que, por sua vez, dependem da composição da gema. "Cada gema de turquesa é única. As azuis são mais valorizadas que as verdes por terem menor ocorrência, mas a cor é influenciada pelos outros minerais que estão presentes no solo e na pedra. A azurita é uma pedra de cor azul, a malaquita é verde e ambas podem ser encontradas misturadas com a turquesa, que, certamente, é a gema mais interessante encontrada, no momento, na região amazônica”, assegura o pesquisador da UFPA.

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