A nova corrida pelo ouro negro
Abertura do mercado mexicano a petroleiras internacionais deve redefinir o fluxo de investimentos globais, com reflexos no Brasil
O alívio virá do
crescimento da produção nos Estados Unidos, impulsionados pela
revolução das jazidas não convencionais
Considerado uma das
maiores reservas de petróleo ainda não descobertas fora do Oriente Médio
e vizinho do maior mercado consumidor mundial, o México pode redefinir
os fluxos de investimento do setor petrolífero nos próximos anos, se
confirmar o fim do monopólio estatal, já aprovado pelo Congresso local.
Com
dois principais focos de exploração - jazidas não convencionais e águas
profundas - a tendência é que o país atraia recursos para reverter o
acelerado processo de exaustão de seus recursos, provocados pela pouca
capacidade financeira e tecnológica da estatal Pemex. Para
especialistas, o Brasil e a Costa Oeste da África devem sentir os
efeitos no médio prazo.
"Com a
abertura ao capital estrangeiro, o México tende a atrair bastante
investimento. E isso vai criar uma concorrência maior pelos recursos das
petroleiras", comenta o professor Edmar Almeida, do Instituto de
Economia da UFRJ. O fim do monopólio estatal foi aprovado pelo Congresso
mexicano no último dia 12, pondo fim a uma reserva de mercado iniciada
em 1938. A mudança na lei vinha sendo discutida há anos, mas ganhou
força com a eleição de Enrique Peña Nieto, do PRI, mesmo partido que, há
65 anos, liderou a expropriação dos bens de petroleiras estrangeiras no
país.
Na última década, a produção
de petróleo mexicana caiu da casa dos 3,8 milhões para 2,9 milhões de
barris por dia - número do fim de 2012. As reservas, que chegaram a 56
bilhões de barris nos anos 80, fecharam o ano passado em 10,2 bilhões de
barris. Antes um dos maiores exportadores mundiais, o país caminha para
se tornar importador líquido, caso o cenário se mantenha. Em 2012, as
exportações líquidas do país foram de apenas 791 mil barris de petróleo,
a metade do verificado dez anos antes, segundo dados compilados pela
Agência de Informações em Energia do governo dos Estados Unidos (EIA, na
sigla em inglês).
Com mais de 30
anos de experiência na Petrobras, o geólogo Pedro Zalán, que comanda a
consultoria ZAG, diz que as grandes petroleiras já vêm se preparando
para a abertura do mercado mexicano desde os primeiros sinais de
mudanças no país. "Todas vêm estudando o México nos últimos anos. Estão
prontas para investir", afirma. São dois os principais focos de cobiça:
as águas profundas do Golfo do México, hoje um dos grandes produtores
mundiais em sua porção norte-americana, e os depósitos não convencionais
de óleo e gás na fronteira com o estado do Texas.
"O
Texas tem uma grande indústria produtora de não convencionais, já com
infraestrutura estabelecida. E todos sabem que as jazidas se estendem
para além da fronteira mexicana", explica. O mesmo ocorre com as águas
profundas do Golfo do México, que tem geologia semelhante à da porção
norte-americana, completa o especialista. "Esta frente vai tirar
investimentos de outros lugares onde há exploração em águas profundas,
como o Brasil, o Oeste da África e o Ártico", prevê Zalán, citando as
principais apostas mundiais para descobertas em águas profundas.
Após
a aprovação do fim do monopólio pelo Legislativo mexicano, executivos
das principais empresas globais preferiram mostrar cautela em suas
declarações, à espera de maiores detalhes sobre o modelo que será
adotado. Mas não esconderam suas expectativas com relação à
possibilidade de fazer negócios no país.
"Temos
que ficar de olho ali", disse à Reuters o chefe da divisão de petróleo
da BHP Billinton, Tim Cutt, acrescentando que é natural antecipar que as
mesmas condições geológicas de bacia norte-americanas extrapolem a
fronteira.
Mais da metade da
produção mexicana de petróleo vem hoje de dois campos em águas rasas na
Bacia de Campeche, na região central do país, Ku-Maloob-Zab e Cantarell -
este último, um dos maiores produtores mundiais no final dos anos 1980,
hoje em fase de declínio. A Bacia de Burgos, na fronteira com os
Estados Unidos, ainda pouco explorada, é apontada como a área com maior
potencial de crescimento. Estudo divulgado no ano passado pelo
departamento de pesquisa geológica dos Estados Unidos aponta um
potencial de até 15 bilhões de barris na região - volume equivalente às
reservas brasileiras atuais.
Incluindo
as outras bacias sedimentares mexicanas, o estudo projeta um potencial
superior a 30 bilhões de barris, no cenário mais otimista, ou algo em
torno dos 17 bilhões no cenário ideal.
"Embora
a escassez de investimentos possa levar a um declínio no médio prazo, o
México tem potencial de recursos para suportar uma recuperação da
produção no longo prazo, principalmente no Golfo do México", diz a EIA
em relatório sobre o país.
"É um
jogo para cachorro grande. E eles, com certeza, vão botar muito dinheiro
ali", conclui Zalán. "Pela proximidade e pelas relações históricas, o
México é um país onde as empresas americanas se sentem muito à vontade",
completa Almeida. Dada a importância do petróleo para o país - o setor
representa 1/3 da arrecadação e 15% das exportações - a expectativa é
que esse jogo comece a ser jogado o mais rápido possível.
Preços do petróleo devem recuar em 2014, diz EIA
Ao
fim de um ano com importantes reviravoltas na geopolítica mundial do
petróleo, como a abertura do mercado mexicano e o fim dos embargos ao
Irã, a expectativa é de redução das cotações internacionais no médio
prazo. O alívio não virá, porém, dos dois países citados acima, mas do
crescimento da produção no maior mercado consumidor mundial, os Estados
Unidos - que, impulsionados pela revolução das jazidas não convencionais
- podem ser tornar o maior produtor de petróleo e gás já em 2014.
A
Agência de Informações de Energia do governo dos Estados Unidos (EIA,
na sigla em inglês), trabalha com uma queda do petróleo do tipo Brent,
negociado em Londres, de US$ 112 por barril em 2012 para US$ 97 por
barril em 2016. O petróleo WTI, negociado nos Estados Unidos, já opera
nesta faixa atualmente, com preços mais impactados pela abundância no
mercado norte-americano.
A volta do
Irã ao mercado deve ter efeitos moderados. O país experimentou um
declínio abrupto na produção em 2012 - de 4,2 milhões de barris por dia,
no ano anterior, para 3,6 milhões de barris por dia - com o início do
embargo europeu a companhias de seguros que emitisse apólices para
navios com petróleo iraniano. Este ano, após o fim do embargo, a
expectativa é de retomada do ritmo, mas em velocidade maior, pois ainda
há restrições às exportações do país.
"A
EIA não prevê que os tradicionais importadores de petróleo iraniano
aumentem de forma significativa suas importações, então, sem a redução
das sanções sobre os volumes de óleo adicionais do Irã, o país não deve
aumentar significativamente sua produção ou exportações no curto prazo",
diz a agência, em seu relatório com projeções para 2014.
Mesmo
com a eliminação total dos embargos, é difícil que o país consiga
atrair parceiros estrangeiros rapidamente. "É muito cedo para falar em
investimentos, porque a situação política lá é muito complicada. Não há
ainda segurança institucional", avalia o professor Edmar Almeida, do
Instituto de Economia da UFRJ. "A não ser para aquelas companhias que
gostam de assumir muitos riscos." Segundo dados da própria EIA, o país
tem reservas provadas de 154 bilhões de barris de petróleo, praticamente
10 vezes as reservas brasileiras de 2012.
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