GEMAS, UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA
O setor joalheiro é um dos poucos
em que transações de alto valor são feitas com base apenas na
confiança. De fato, peças de preço muito elevado são todos os dias
adquiridas confiando-se que aquilo que se está comprando é de fato o que
vendedor diz ser.
Isso
vale, sobretudo para as gemas empregadas nas joias. Nem mesmo um
experiente gemólogo pode garantir, simplesmente olhando, que uma pedra
amarela é um topázio-imperial e não um citrino, que uma gema azul é uma
água-marinha e não um topázio.
Se
essa distinção já não é possível nessas condições, mais difícil ainda é
garantir que a gema é natural e não sintética, se foi tratada ou se sua
cor é aquela que a natureza lhe deu, pois para tanto também são
necessários equipamentos específicos e conhecimento especializado.
O mesmo vale, talvez com menor grau de incerteza, para os metais nobres usados na confecção da joia.
Desse
modo, comprar uma joia envolve sempre um grau muito elevado de
confiança na palavra do vendedor. E isso vale não apenas para o
consumidor em relação ao joalheiro, mas também para o joalheiro em
relação ao seu fornecedor.
O
consumidor tem, é verdade, a opção de solicitar um certificado de
identificação no ato da compra. Mas, são poucas as joalherias que o
fornecem e raros os compradores que sabem que esse tipo de documento
existe.
Outra
opção é levar a joia a um gemólogo para que ele confirme a identidade
da gema. Mas, aí a compra já foi feita, ele terá uma despesa adicional e
se criará uma situação muito desagradável ao reclamar da joalheria se a
mercadoria adquirida de fato não corresponder ao que lhe diziam ser.
O
tema assume contornos delicados também em outra situação. É quando o
gemólogo recebe para exame uma joia antiga, que está na família do
proprietário há muito tempo. Ao examiná-la, pode ele descobrir que a
água-marinha que foi usada por membros de várias gerações é na verdade
um espinélio. Ou que o rubi da bisavó da sua cliente é de fato rubi, mas
sintético. Isso nada tem de surpreendente para o gemólogo, pois gemas
sintéticas são produzidas desde 1900. Mas, há pessoas que, nessa
situação, se sentem ofendidas, pois lhes parece que estão desrespeitando
a memória de sua amada ancestral, como se ela fosse desonesta e não
apenas mais uma das incontáveis vítimas de vendedores inescrupulosos ou
desinformados.
E
talvez o joalheiro que vendeu a joia muitas décadas atrás nem fosse
inescrupuloso: pode ele muito bem ter informado corretamente que se
tratava de uma gema sintética, mas essa informação, depois de tanto
tempo, ter caído no
esquecimento, quem sabe até porque a primeira pessoa a usá-la não tinha interesse em informar isso, o que é muito compreensível.
Comprar
joias numa joalheria de renome será sempre mais caro que comprar a
mesma peça numa lojinha pequena e pouco conhecida e mais ainda do que
comprá-la de uma vendedora que vende a domicílio. Mas, deve-se lembrar
que uma empresa de renome não deve ter conquistado essa fama por acaso e
que tudo fará para preservar o prestígio que adquiriu ao longo de anos
de presença no mercado.
O
fator confiança é, como eu disse no início, inerente a esse ramo do
comércio e é importante que faça parte da história e da tradição da loja
que procuramos.
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