Impactos da Garimpagem de Ouro na Amazônia Oriental
A garimpagem é a principal atividade
econômica na bacia do rio Tapajós, na porção oeste do Estado do Pará.
Neste artigo, analisamos a estrutura, a economia e os impactos
ambientais da garimpagem de ouro nessa região. Tais impactos resultam na
remoção anual de aproximadamente 67 milhões de metros cúbicos de
subsolo, bem como na liberação anual de cerca de 12 toneladas de
mercúrio para o ar, subsolo e rios. No início de 1990, havia 245
garimpos na região empregando diretamente 30.000 pessoas e produzindo 35
toneladas de ouro por ano, a um valor aproximadamente de US$ 400
milhões/ano.
Os garimpeiros gastam a maior parte dos
seus ganhos em serviços e bens adquiridos no próprio local, enquanto os
proprietários de garimpo e comerciantes das cidades garimpeiras
investem em terras (a maioria para a pecuária) e no mercado financeiro.
Em outras regiões do mundo, a riqueza obtida com a garimpagem tem
servido como mecanismo para o desenvolvimento. Para que isso também
ocorra na Amazônia, o governo brasileiro deve providenciar assistência
técnica e desenvolvimento, bem como aplicar normas ambientais para a
mineração. Entretanto, as chances de esse tipo de investimento ocorrer
em um futuro próximo são poucas, uma vez que os atores da garimpagem de
ouro não atuam voltados para o desenvolvimento, mas como forças
desestabilizadoras, provocando danos severos ao meio ambiente, desordem
social e agravamento das condições de saúde.
A garimpagem tem sido praticada na
Amazônia desde o século XVI. Recentemente, o acesso a pequenos aviões e o
desenvolvimento de um bom sistema de rádio facilitaram a exploração das
minas mais remotas na região amazônica. Além disso, o aumento do preço
real do ouro, durante a crise do petróleo no final da década de 70
(quando o valor relativo do dólar declinou), estimulou as atividades da
garimpagem. O acréscimo provocou uma corrida pelo ouro na Amazônia
Brasileira na década seguinte. Nesse período, de acordo com os dados do
governo, foram produzidas 487 toneladas de ouro na região (Ministério
das Minas e Energia - MME, 1993). Entretanto, ainda que a produção tenha
sido grande, a maior partefoi vendida no mercado negro. No início dos
anos 90, mais de 60% da produção nacional era proveniente da Amazônia.
Na Amazônia, a garimpagem causa
problemas ambientais e sociais severos. A morfologia dos rios pode ser
gravemente alterada pela escavação de trincheiras e labirintos. Os
sítios abandonados assemelham-se a paisagens lunares. A atividade também
provoca poluição por mercúrio. Há uma estimativa de que para cada 1 kg
de ouro produzido, 1,3 kg de mercúrio é emitido para o ambiente
(Dourojeanni e Pádua, inédito). Finalmente, a garimpagem ainda causa
impacto social significativo. Milhares de garimpeiros têm invadido
territórios indígenas em Roraima, provocando doenças e conflitos
culturais. O governo brasileiro tem subsidiado a garimpagem
(aparentemente pela grande geração de riquezas) através da criação de
estradas para áreas de garimpo, estabelecimento de reservas garimpeiras e
aumento das taxas de importação de ouro para encorajar a produção
doméstica (Pereira, 1991).
As pesquisas sobre a garimpagem na
Amazônia abordam sobretudo a prospecção (Lestra & Nardi, 1994);
impactos ambientais (Silva, 1988); impactos sociais como, por exemplo,
doenças (Amoras, 1991), prostituição, trabalho da mulher (Dimenstein,
1992; Rodrigues, 1994) e efeitos nas culturas indígenas (Burkhalter,
1982); significado econômico da mineração (MacMillan, 1993; Pereira,
1991; da Silva,1994); políticas públicas minerais (Cascaes e Oliveira,
1993); e técnicas alternativas para a garimpagem do ouro (Dourojeanni e
Pádua, inédito).
O objetivo deste estudo é fornecer uma
visão ampla da garimpagem de ouro na região da bacia do Tapajós.
Inicialmente, caracterizamos os atores na economia da garimpagem e
quantificamos a produtividade e lucratividade das operações de garimpo e
do setor de serviços associados. Num segundo momento, examinamos alguns
impactos ambientais da mineração de ouro. Em seguida, consideramos
amplamente a economia da região do Tapajós para então examinar a geração
de riquezas e as formas de utilização dos lucros do ouro. Através deste
artigo, será possível reconhecer que o legado da garimpagem de ouro
para a Amazônia até o presente tem sido baseado em conflitos, doenças e
degradação ambiental. Finalmente, consideramos as perspectivas para o
desenvolvimento de uma economia garimpeira mais saudável e produtiva na
Amazônia.
Geologia da região
Definimos a área de estudo como sendo a
porção de aproximadamente 70.000 km2 da região do alto rio Tapajós,
sudoeste do Pará (Figura 1). O terreno dessa região é ondulado e, em
geral, as altitudes variam de 300 m a 500 metros. A precipitação anual
média é aproximadamente 2.300 mm (Ministério das Minas e Energia MME,
1983). A composição geológica da região é formada predominantemente por
rochas graníticas e metamórficas associadas a formações areníticas,
calcáreas e aluviões (MME, 1983).
Figura 1. Localização da região de estudo, sudoeste do Pará.
Os depósitos de ouro da Amazônia
geralmente ocorrem em veios (depósitos primários) ou na forma de lascas e
partículas minerais em sedimentos (depósitos secundários). Os depósitos
primários ocorrem em rochas graníticas; o ouro nessas rochas
associou-se com sílica líquida durante vários episódios de formação e
consolidação de magmas. A subseqüente erosão de algumas dessas rochas
ricas em ouro formou os depósitos secundários (MME, 1983). O ouro tende a
ocorrer junto às frações mais grossas do sedimento, por causa do seu
alto peso específico. Além disso, para estarem presentes em vales de
rios ativos, os depósitos secundários também ocorrem em paleovales
(i.e., antigos vales de rios que foram cobertos com sedimentos em épocas
passadas, mas que não mais contêm rios ativos).
Tecnologia da exploração
Na região amazônica são empregadas duas
técnicas para a extração do ouro. Em ambos os casos, equipes de quatro a
seis pessoas utilizam pequenos motores para bombear o minério. Um dos
métodos tem como base a explotação aquática. Um mergulhador utiliza uma
moto-bomba para succionar os sedimentos mineralizados no fundo dos rios
(Crepori, Novo, Jamanxim e Tapajós) e transferí-los para uma caixa
concentradora fixada em uma balsa. Durante o processo de concentração na
caixa, adiciona-se mercúrio para reduzir as perdas do ouro. Nesta
etapa, parte do mercúrio é derramada nos solos e rios. Após a
concentração gravimétrica na caixa, o ouro e o mercúrio formam uma
amálgama, aqual é queimada para separar esses dois elementos. O mercúrio
nesta fase transforma-se em vapor, sendo liberado para a atmosfera.
No entanto, a técnica mais comum de
extração de ouro envolve o uso de duas motos-bombas; uma para lançar
água sob pressão nos sedimentos a fim de desintegrar o ouro e a outra
para bombear o sedimento e a água até uma caixa concentradora. Essa
técnica terrestre de extração de ouro está presente em muitos dos
pequenos vales da bacia do rio Tapajós. As equipes que trabalham nas
operações terrestres mineram os aluviões em blocos de 10 m x 10 m.
Primeiramente, a água utilizada para a desintegração dos sedimentos é
bombeada diretamente dos rios. Porém, quando a explotação se move para
as margens do vale, os blocos escavados anteriormente tornamse
reservatórios de água, enquanto os blocos ao redor ainda não minerados
tornam-se barreiras para o seu fluxo. Essa mistura de áreas mineradas e
não mineradas confere ao vale um formato de tabuleiro de xadrez.
Um vale típico possui alguns
quilômetros de comprimento por meio quilômetro de largura e contém uma
dúzia ou mais de equipes trabalhando ao mesmo tempo. Pequenas cidades
surgem para o abastecimento de bens e serviços dessas equipes de
garimpeiros. Uma pista de pouso é construída, e pequenas companhias
comerciais fazem a ligação com as grandes cidades da região (>50.000
habitantes). As regiões com fácil acesso fluvial possuem serviços de
transporte desse tipo. Essa é a seqüência comum de formação dos chamados
garimpos abertos. Porém, em muitas regiões, o primeiro minerador a
chegar ao local possui capital suficiente para ter exclusividade tanto
na exploração dos vales como no comércio no povoado. Esse tipo de
garimpo, conhecido como fechado possui todos os serviços, incluindo
transporte aéreo. Embora esses dois tipos de garimpo utilizem a mesma
tecnologia, motores de alta potência (por exemplo, 70-75 hp) são mais
comumente empregados nos garimpos fechados.
Estudamos a mineração de ouro em quatro
localidades da bacia do rio Tapajós (Figura 1; Áreas 1-4). As
considerações e seleções das possíveis áreas de estudo tiveram início
com a avaliação dos dados da Fundação Nacional da Saúde (FNS) sobre a
localização e tipos de garimpo e o seu acesso. Para as operações
terrestres de garimpagem foram selecionadas três áreas, considerando o
grau de acesso. São elas: i. Rio Novo, acesso aéreo (Área 1); ii. Bom
Jardim, acesso aéreo e fluvial (Área 2); iii. Rodovia do Ouro, acesso
aéreo, fluvial e rodoviário (Área 3).
O rio Tapajós, próximo de Jacareacanga,
foi selecionado (Área 4) para o estudo da operação aquática de
garimpagem, uma vez que as balsas se concentram nessa região.
Em cada uma das quatro regiões
conduzimos entrevistas genéricas para entender a situação socioeconômica
dos vários atores da garimpagem, incluindo proprietários (n=55),
comerciantes (n=15) e trabalhadores (n=12). Além disso, fizemos
perguntas sobre o lugar de origem, história profissional, número de
dependentes, grau de educação, idade e estado civil.
Produção e lucros da garimpagem
As equipes de garimpagem foram
utilizadas como base de estudo para estimar a produção de ouro dentro do
período de um ano. Para as operações terrestres, a renda bruta foi
estimada com base nas informações obtidas através das 74 entrevistas com
operadores e proprietários (23 operando motores da baixa potência 35
hp; 18 operando motores de potência média 54 hp; e 33 operando motores
de alta potência 72 hp). No caso das operações aquáticas, os dados
foram obtidos através de entrevistas com os proprietários de balsas.
As estimativas dos custos da operação
de campo foram baseadas em dados sobre a manutenção das máquinas,
depreciação, custos de capital, óleo, lubrificação e provisões para a
população do garimpo. Os dados foram adquiridos através de entrevistas
com 12 proprietários de operações terrestres e 14 proprietários de
operações aquáticas. Os preços para as peças das máquinas, óleo e
alimentação foram coletados em cada uma das quatro regiões.
Comércio e transporte de garimpo
Entrevistamos os comerciantes em muitos
povoados das regiões de estudo a fim de determinar o capital necessário
para estabelecer diferentes tipos de negócios, bem como os atuais
custos e lucros. Incluímos nessas entrevistas três proprietários de
boates e dois representantes de cada um dos seguintes segmentos: lojas
de alimentos, roupas, motores e peças; hotéis; postos de combustível; e
agências de rádio-telefone.
Questionários similares, focalizando
renda bruta e custos, foram aplicados a operadores de barcos de
transportes (n=4) e de pequenos aviões(n=3).
Impactos ambientais da garimpagem
Durante 12 meses de estudo da
garimpagem, visitamos cerca de 90 vales. Com base nessas observações
prévias foi possível selecionar e estudar o impacto da garimpagem em
dois pequenos vales típicos da região deestudo (Figura 1). No primeiro
vale, observamos três unidades produtivas terrestres durante 21 dias.
Para cada equipe, medimos a área afetada e o volume de solo e subsolo
removido, bem como a quantidade de mercúrio perdida durante o processo
de concentração e separação do ouro.
O segundo vale foi minerado por 26 anos
e, na época do estudo, estava abandonado. Nesse caso, caracterizamos o
impacto da garimpagem através do mapeamento da vegetação, drenagem e
áreas de despejo de solos e subsolos.
Caracterização da garimpagem
Em 1993, havia 245 garimpos na região
de estudo (Figura 1). Desse total, 60% tinham acesso por via aérea; 35%,
por via aérea e fluvial; e 5% por via aérea, fluvial e rodoviária. A
maioria dos garimpos (216 de 245) era do tipo fechado e empregava
15.120 pessoas. Os 29 garimpos restantes eram abertos e envolviam
14.500 pessoas (Ministério da Saúde, 1993). A população dos 18 garimpos
que visitamos (10 abertos e 8 fechados) era dividida em garimpeiros
(75%), prostitutas (9%), proprietários (6%), comerciantes (4,8%) e
transportadores (1,2%).
Grande parte dos garimpeiros,
proprietários e comerciantes da região de estudo era oriunda do Estado
do Maranhão. A maioria teve pouca educação e alguma experiência com
agricultura de corte e queima. Os trabalhadores da mineração
distinguiam-se dos proprietários e comerciantes em dois aspectos: i.
eram jovens (idade média de 23 anos vs. 40-42 anos entre os
proprietários e comerciantes), e ii. eram geralmente solteiros (70% de
solteiro vs. 0%-10% de solteiros entre os proprietários e comerciantes)
Tabela 1.
Produção e lucros
Operações terrestres. A produção com
operações terrestres foi similar nas três regiões (Figura 1; Áreas 1-3),
ainda que a variação entre as unidades produtivas tenha sido alta. Por
exemplo, a produção média anual por pares-de-máquinas de alta potência
(72 hp), as únicas presentes em todas regiões de estudo, foi 7,5
kg/equipe (sd=6,5; n=15) em Rio Novo; 7,1 kg/equipe (sd= 7,1; n=12) em
Bom Jardim; e 6,9 kg/equipe (sd=6,8; n=7) em Estrada de Ouro. Essas
diferenças não são estatísticamente relevantes [anova (f*=1,7 <
f=3,55)]. Dessa forma, para análise econômica, estabelecemos a média das
três regiões de estudo.
A produção média para equipes de
pares-de-máquinas de baixa potência foi 2,6 kg/ano (sd=1,1; n=23)
Tabela 2. A renda bruta foi US$ 30.000, com o custo anual registrado em
aproximadamente US$ 27.400. O salário dos trabalhadores representou 40%
do custo total; manutenção de máquinas, 24%; alimentação, 15%; óleo,
14%; depreciação, 5%; custo de capital, 2%; e mercúrio, 0,03%. O lucro
do proprietário dos equipamentos foi, em média, US$ 2.600/ano (Tabela
2).
A produção, os custos e os lucros
aumentam de acordo com a potência dos motores. A produção média das
equipes de pares-de-máquinas de média potência foi 3,7 kg/ano (sd=1,7;
n=17). A renda bruta foi aproximadamente US$ 43.000 e os lucros,
aproximadamente US$ 7.600 (Tabela 2). As equipes que trabalharam com as
unidades de maior potência produziram, em média, 7,2 kg/ano (sd=7,1;
n=83). Nesse caso, a renda bruta anual foi aproximadamente US$ 84.000,
com os lucros somando aproximadamente US$ 28.000.
Esta análise revela que a lucratividade
cresce com o aumento da potênciado motor das máquinas, pois a produção
aumenta e os custos permanecem baixos. O custo do grama de ouro extraído
é 1,4 vezes maior para as unidades de baixa potência, comparado às de
alta potência (US$ 10,62 vs. US$ 7,65). Isso mostra que a lucratividade é
muito maior para as equipes que trabalham com motores de alta potência.
A margem de lucro é um índice de desempenho econômico: esse índice
aumenta de 9% (baixa potência) para 17% (média potência) até 34% (alta
potência) Tabela 2.
Tabela 1. Características socioeconômicas dos trabalhadores, proprietários e comerciantes de garimpo na região do Tapajós, Estado do Pará.
Tabela 2. Produção, custos e lucros em função da potência dos motores de pares-de-máquinas na região do Tapajós, Estado do Pará.
1 Renda bruta
calculada como o total da produção em gramas vezes US$ 11,62 – O preço
médio do ouro na região do Tapajós, em 1993 – (n = 12; s.d. 6,9).
2 O consumo
médio diário de combustível variou de 981 litros (n = 26; s.d. = 1,65)
para pares-de-máquinas de alta potência até 321 litros para
pares-de-máquinas de baixa potência; o preço do combustível variou na
região de estudo numa média de US$ 0,41/litro. As equipes de extração
operam numa média de 300dias/ano.
3 O custo com manutenção foi calculado em função do gasto com a compra de peças para reposição e o valor da sua mão-de-obra.
4 Os custos com
alimentação incluem o combustível, tanto para o cozimento de alimentos
como para a queima do mercúrio na separação do ouro.
5 Uma equipe
típica foi composta de quatro trabalhadores e uma cozinheira. A
cozinheira recebeu um salário fixo (US$ 2.090/ano); os trabalhadores
receberam 30% da renda bruta (35% do valor do ouro).
6 A vida útil de
motores de pares de alta e média potência foi de dez anos, e os de
baixa potência, oito anos; as bombas tiveram uma vida útil de cinco anos
– considerando que o valor residual de motores e bombas foi 10% do
valor original no final da vida útil. Os preços dos pares-de-máquinas
novos eram aproximadamente: US$ 13.000 (alta potência); US$ 10.000
(média potência) e US$ 9.000 (baixa potência).
7 O custo de
capital foi calculado com base no custo original de todos os
equipamentos, considerando 6% de taxa de juros. No caso de pequenos
investidores, 6% é um valor apropriado. O período de investimento foi o
mesmo considerado como vida útil para todos os equipamentos.
8 O custo com o mercúrio foi US$ 10/kg e o seu consumo variou entre 0,95 kg/ano (baixa potência) e 2,7 kg/ano (alta potência).
9 O lucro/grama foi calculado como o lucro do proprietário de garimpos dividido pela produção.
10 O
lucro/pessoa foi calculado como a soma dos lucros do proprietário de
garimpo, cozinheira e quatro trabalhadores dividido por 6 (número de
pessoas envolvidas).
Operação aquática (balsa). A
produção média anual para uma equipe de balsa foi 7,7 kg/ano (sd=5,4;
n=14) Tabela 3. A renda bruta anual foi aproximadamente US$ 90.000,
com custos próximos a US$ 70.000. Os salários representaram 55% dos
custos totais; óleo, 21%; manutenção, 12%; alimentação, 11%;
depreciação, 1%; e outros, 1%. O lucro de uma balsa foi, em média, US$
20.000/ano; a margem de lucro foi de 22%.
Quanto à produtividade, a operação com
balsa assemelha-se à operação terrestre que utiliza motores de alta
potência, diferenciando-se desta apenas quanto a custos, que são
maiores, e aos lucros que, por conseqüência, são menores (Tabelas 2 e
3).
Economia dos serviços associados à garimpagem
Uma variada rede de comércio e serviços
estava presente em todos os povoados de garimpos visitados. Em
garimpos fechados os proprietários instalam apenas o mínimo de
serviços necessários como lojas de roupas, farmácias, restaurantes,
boates e agências de vôo. Em garimpos abertos há uma maior
concentração de pessoas e usualmente os povoados possuem uma ou mais
farmácias, lojas de alimentos, roupas e peças para máquinas de garimpo,
depósitos de combustível, ourivesaria, boates, restaurantes e hotéis.
Comércios e serviços. A maioria
dos comércios e serviços, construídos com madeiras de baixo valor,
requer uma capital inicial entre US$ 5.000 e US$ 20.000 (Tabela 4). Os
custos de construção na região são altos. Por essa razão, os
investimentos são maiores para os estabelecimentos que requerem prédios
grandes com boates e hotéis. O custo total para a maioria dos grandes
estabelecimentos foi US$ 15.000/ano. A maioria dos comerciantes obteve
lucros similares aos dos proprietários de unidades produtivas de ouro
(US$ 5.000 a 30.000). Entretanto, um proprietário de uma típica boate,
que emprega oito prostitutas, teve um lucro superior a US$ 100.000/ano,
aproximadamente oito vezes mais do que o lucro de uma equipe que opera
um par-de-máquinas de alta potência.
Serviços de transporte. Os
comerciantes utilizam o serviço de transporte para levar mercadorias
para o garimpo e viajar para os centros regionais de comércio. A maioria
dos transportes é feita por via aérea e fluvial. O custo do transporte
aéreo é mais alto do que o do transporte fluvial. Por exemplo, o preço
do quilograma transportado por avião no Bom Jardim era US$ 0,80 62%
mais caro que o quilograma transportado por via fluvial.
O capital para a compra de um avião
pequeno e os custos anuais de operação eram maiores que os de outros
negócios na região. Apesar do alto risco de acidentes, uma grande
demanda por viagens aéreas garantiam aos proprietários de aviões lucros
similares àqueles atingidos pela boate.
Tabela 3. Produção, custos e lucros, em dólar comercial, de uma balsa na região do Tapajós, Estado do Pará.
1 A renda bruta
foi calculada como produção em gramas vezes US$ 11,62 – o preço médio do
ouro na região do Tapajós em 1993 – (n = 12; s.d. = 6,9).
2 A média de
consumo anual de óleo diesel para o motor de sucção de sedimentos foi
33.997 litros (s.d. = 4.210; n= 10); o consumo de gasolina para o motor
de deslocamento da balsa foi 5.400 litros (s.d. = 2,70; n = 10). O preço
do óleo diesel foi US$ 0,41/litro e US$ 1,20/litro para a gasolina,
aproximadamente três vezes mais caro que o preço médio nas cidades
brasileiras.
3 O custo com
manutenção foi baseado em gastos com compras de peças para reposição da
moto-bomba, do motor de deslocamento da balsa, bateria, alternador e em
gastos com mão-de-obra para reposição das peças. Somamos também os
gastos com reposição de equipamentos de mergulho.
4 O custo com alimentação incluiu o custo do combustível para cozinhar alimentos e queimar a amálgama ouro/mercúrio.
5 Uma equipe
típica era composta por seis trabalhadores e uma cozinheira. A
cozinheira recebia salário fixo (US$ 2.090/ano), enquanto os outros seis
trabalhadores recebiam como salário 40% da produção bruta de ouro e o
dividiam entre si.
6 A vida útil de
uma balsa com um motor para processar ouro e outro para o deslocamento
era de dez anos. Após esse período, essa unidade fica com um valor
residual de 10% do valor original. A vida útil de uma bomba (que se
acopla ao motor) foi estimada em cinco anos, e o valor residual depois
da vida, igual a 10% do valor original. Os preços dos equipamentos são:
balsa com uma moto-bomba – US$ 8.000, e o motor de deslocamento da balsa
– US$ 1.500.
7 O custo de
capital foi calculado com base no preço original de todos os
equipamentos, considerando uma taxa de juros de 6%. O período de
investimento foi considerado como o tempo de vida útil.
8 O preço do mercúrio era US$ 10/kg e o seu consumo, 3,2 kg/ano.
9 O lucro/grama foi calculado como lucro do proprietário de garimpo dividido pela produção.
10 O
lucro/pessoa foi calculado como a soma do lucro do proprietário de
garimpo, da cozinheira e dos seis trabalhadores dividido por 8 (número
de pessoas envolvidas).
Como os protagonistas utilizam seus lucros
A análise anterior mostra que os
garimpeiros e aqueles que lhes oferecem bens e serviços têm capacidade
para acumular capital. Os trabalhadores das operações terrestres de
garimpagem ganham de US$ 2.000 a US$ 6.000 por ano (Tabelas 2 e 3). Em
geral, esses ganhos são gastos nos povoados dos garimpos: dois terços
foram gastos em boates com bebidas alcoólicas e prostitutas; 10% com
transporte; 7% com saúde; 13% eram enviados para as famílias em outras
cidades ou estados; 4% com restaurante; e outros 3% correspondiam a
gastos com necessidades básicas (Tabela 4).
Todos os proprietários mais
capitalizados, ou seja, aqueles que possuíam mais de quatro unidades
produtivas de alta potência (n = 16), fizeram investimentos fora do
setor de mineração em áreas como comércio, pecuária, imóveis e
especulação financeira. Metade desse grupo fez algum investimento na
região de estudo (a maioria em pecuária), enquanto apenas 35% dos
proprietários menos capitalizados (possuidores de até quatro
pares-de-máquinas; n = 45) investiam fora do setor de mineração. As
áreas preferidas também eram o mercado financeiro, pecuária, comércio e
agricultura.
Tabela 4. Ganhos e gastos dos trabalhadores de garimpo na região do Tapajós, Estado do Pará.
1 Os dados foram
adquiridos através de entrevistas com os trabalhadores. Os gastos foram
reportados em gramas de ouro em diferentes categorias. “Diversão”–
gastos com prostitutas e bebidas alcoólicas. “Família” refere-se ao
dinheiro enviado para a família nas regiões de moradia. “Transporte”
refere-se ao dinheiro gasto com viagens para o local de moradia. “Saúde”
refere-se ao dinheiro gasto com medicamento ou viagens para tratamento
de doenças. “Necessidades básicas” refere-se a gastos com sabonete,
lâmina e creme de barbear, lavagem de roupas, lanterna, pilhas e etc.
A relação entre garimpo e pecuária é
importante por causa da tendência de converter a floresta amazônica em
pasto (Mattos e Uhl, 1992). Os 16 proprietários de garimpo que
investiram em pecuária possuíam fazendas de, em média, 580 ha (sd =
180), com aproximadamente 500 cabeças de gado. A maioria das
propriedades situava-se nos arredores da cidade de Itaituba (Figura 1),
ou perto das áreas de garimpo que possuíam acesso fluvial ou rodoviário.
Os comerciantes e transportadores
faziam investimentos. Entre os entrevistados (n = 27), 73% investiram
fora do seu próprio negócio; a maioria dos investimentos estava
direcionada para a garimpagem de ouro, agricultura e pecuária.
Impactos ambientais da garimpagem
A maior parte do ouro extraído
(>95%) da região na época do estudo era proveniente de operações
terrestres utilizando o par-de-máquinas.
Estimamos que uma operação típica de
extração por par-de-máquinas altera, por ano, em média 5.700 m2 de
superfície de solo e remove 10.500 m3 de sedimentos (Tabela 5). Os
sedimentos removidos para processamento são depositados tanto em rios
como nas porções planas do vale ao redor da caixa concentradora. Com
base em nossas limitadas medições de campo, estimamos que a quantidade
de mercúrio liberada para a água e o ar, durante a separação do ouro
produzido por um garimpo, seria aproximadamente 1,9 kg por 1 kg de ouro,
ou 3,5 g por 1 g de ouro. Esse valor é similar ao valor encontrado por
Mathis (1995), que também trabalhou na bacia do rio Tapajós.
Avaliamos o impacto acumulativo das
atividades diárias da garimpagem de ouro em um vale minerado de 1964 a
1991. Com base no tamanho desse vale (500 m x 1.500 m) e nas estimativas
da produção regional, estimamos que aproximadamente 1 tonelada de ouro
foi removida desse local. Nesse processo, a floresta de várzea que
ocupava o local foi transformada em um labirinto de pequenas lagoas (20%
da área), montes de areia grossa e cascalhos rejeitos da mineração
(65% da área), e zonas de sedimentos finos argilas (15% da área).
Observamos ainda uma baixa vegetação de gramíneas e arbustos cobrindo
aproximadamente 30% da área.
Combinando as estimativas das operações
terrestres apresentadas acima (Tabela 2) com os dados sobre os impactos
ambientais (Tabela 5), estimamos que aproximadamente 2.238 ha de
superfície do solo foram explorados a cada ano na região de estudo a
partir da década de 90. Essa mineração removeu uma estimativa de 67
milhões de m3 de solo por ano e provocou a liberação de, talvez, 12
toneladas de mercúrio para o ar, solo e rios. Os fragmentos de areia dos
sedimentos permanecem nas minas, mas as partículas finas de argila, as
quais geralmente constituem mais da metade do volume do solo,
freqüentemente são dispersadas nos meios aquáticos da região, o que
aumenta a turbidez dos rios, afetando significativamente a biota.
Em suma, os impactos da mineração nos
solos e subsolos são altamente localizados. Entretanto, nessas áreas
restritas, os ecossistemas são severamente alterados. Além disso, os
sedimentos e o mercúrio podem contaminar os rios, atingindo áreas
distantes.
Tabela 5. Impactos ambientais por pares-de-máquinas operando em 300 dias* na região do Tapajós, Estado do Pará.
* Número médio de dias trabalhados por ano.
1 Equipes médias
de quatro pessoas. Os trabalhadores operam duas máquinas: uma para
lançar a água sob pressão para desagregar o sedimento e outra para
transportar o sedimento desagregado para a caixa concentradora.
2 Os valores são
a média ponderada que considera tanto a potência dos motores quanto o
número de equipes operando cada tipo de par-de-máquinas na região de
estudo.
A seguir, discutiremos o impacto
agregado da garimpagem de ouro no desenvolvimento da bacia do rio
Tapajós. Primeiramente, considerando a proposição de que a garimpagem de
ouro poderia agir como um instrumento para o desenvolvimento regional.
E, em segundo lugar, considerando políticas e direções para desenvolver
uma economia mineral com maior produtividade e menores danos ambientais e
sociais.
Economia da garimpagem de ouro como um instrumento para o desenvolvimento regional
A mineração em pequena escala tem
potencial para servir de base para o desenvolvimento econômico de áreas
rurais nos países subdesenvolvidos (Bugnosen, 1990; Hollaway, 1986,
1992; Stewart, 1987, 1989). Esse potencial tem sido realizado em alguns
países como Zimbábue, Malauí e Gana (Davidson, 1993). No caso da
Amazônia Brasileira, Hoppe (1992) argumenta que a mineração pode
oferecer uma maneira de desenvolver a região sem destruir o meio
ambiente. Entretanto, da Silva (1994) questiona a eficácia dos múltiplos
efeitos induzidos pela mineração na Amazônia.
Combinando os dados do Ministério da
Saúde (1993) sobre o número de operações terrestres e aquáticas com os
dados de produção de ouro, custos e lucros da garimpagem, estimamos que a
produção total de ouro na região de estudo, em 1993, foi 35,5 toneladas
(Figura 1). Aproximadamente 96% dessa produção era oriunda das
operações terrestres de garimpagem; estimou-se que somente 4% provinha
das operações aquáticas. A renda bruta da garimpagem foi aproximadamente
US$ 300 milhões, e o lucro, aproximadamente US$ 110 milhões. Nessa
fronteira, nenhuma outra atividade atingiu os lucros da garimpagem de
ouro.
Esta análise revela ainda uma outra
perspectiva para a garimpagem de ouro. Embora essa atividade seja
freqüentemente criticada, ela pode gerar o capital necessário para o
desenvolvimento regional. Observamos que a renda gerada pela mineração
era aplicada de diversas formas. Os trabalhadores de garimpo gastavam
muito do seu dinheiro em boates. Esse dinheiro, na maioria das vezes,
ficava para os proprietários das boates, que investiam em pecuária e
comércio. No entanto, uma porção do dinheiro dos trabalhadores, US$ 26
milhões no total, era enviada para as suas famílias, que moravam em
cidades próximas como Itaituba e Santarém, ou em outros Estados, como
Maranhão e Piauí. Os grandes protagonistas da garimpagem, ou seja, os
proprietários de garimpos fechados, em geral, diversificaram seus
investimentos; eles adquiriram terras, desenvolveram pecuária e
agricultura e investiram no mercado financeiro.
Uma porção da riqueza da garimpagem
também flui para os cofres do governo. O ouro produzido é taxado em 1%
durante a sua venda; 70% desse valor arrecadado fica para o município
onde o ouro é vendido, e 30% vai para o Estado. Como resultado, o
município de Itaituba, que englobava toda região do Tapajós (atualmente
dividido em quatro municípios), recebeu US$ 700 mil em 1993, baseado na
produção oficial de 6 toneladas de ouro (MME, 1993). Porém, muito do
ouro produzido na região de estudo aproximadamente 80% aparentemente
foi vendido no mercado negro, portanto livre de impostos.
Na realidade, a riqueza do ouro do
Tapajós não tem conduzido a um desenvolvimento que posiciona a região
como um exemplo para o Estado. Não há qualquer investimento qualitativo
nas reservas físicas de riqueza. De fato, parte da riqueza adquirida na
extração de ouro tem sido gasta em atividades que buscam prazeres
efêmeros; parte está sendo utilizada para converter a diversidade
biológica da floresta tropical em pastos e fazendas, cuja
sustentabilidade é questionável; e outra parte está sendo aplicada fora
da região investida no mercado financeiro o qual não realiza nenhum
trabalho construtivo ou meio que contribua para o bem-estar da região.
Somente uma pequena fração dos
investimentos tem sido canalizada para a economia regional. Porém, esse
dinheiro tem sido amplamente utilizado para a criação de um serviço
econômico precário. Por exemplo, Itaituba, a maior cidade da bacia do
rio Tapajós, era uma pacata cidade amazônica de apenas 2.000 habitantes
em 1968 antes do boom do ouro. Dez anos depois, ela foi transformada
em uma cidade de aproximadamente 100.000 habitantes, repleta de
compradores de ouro, lojas, bordéis e restaurantes. Esse crescimento foi
provocado pelo ouro; quase todas as lojas e serviços satisfazem esse
setor. Portanto, embora a garimpagem de ouro seja responsável por
múltiplos efeitos na bacia do rio Tapajós, o efeito tem sido pequeno e,
talvez, tenha vida curta, uma vez que muito pouco da riqueza gerada pelo
ouro tem sido investido em atividades econômicas baseadas em produção,
ou na criação de capital natural ou social.
Políticas e direções para o desenvolvimento da mineração de ouro em pequena escala
Há exemplo de diversos países mostrando
que a economia baseada na mineração em pequena escala pode ser
desenvolvida sem provocar disputas e degradação ambiental. Ao invés
disso, a garimpagem de ouro pode representar um caminho para o
desenvolvimento econômico.
Informação e treinamento. Uma
necessidade fundamental para melhorar a situação da Amazônia Brasileira é
disseminar informação e promover a organização do setor mineral.
Centros de informação podem ser estabelecidos em pontos estratégicos.
Dessa forma, os garimpeiros poderiam aprender os rudimentos da
prospecção do ouro e outros minerais. Eles também poderiam aprender os
princípios básicos de conservação e controle ambiental. Além disso, os
centros de informação poderiam enfatizar a eficiência do processo da
garimpagem. Atualmente, apenas cerca de metade do ouro presente nos
sedimentos pode ser recuperada pela garimpagem (MME, 1992). No entanto,
já existem equipamentos capazes de aumentar a recuperação do ouro. Por
exemplo, o aparelho Chilean Mill (fabricado pela Volcan da Bolívia), o
qual trabalha com processo gravimétrico e triturador para concentração,
remove o ouro dos sedimentos e rochas. A eficiência na recuperação pode
ultrapassar 90% (Priester et al., 1992). Além disso, Davidson (1993)
discute inovações, tais como processamento através de bomba hidráulica
movida a diesel, desenvolvido no Zimbábue, e uma caixa retentora,
desenvolvida em Gana, a qual aumenta a detenção de ouro.
Reduzindo os problemas ambientais. Os
centros de educação poderiam examinar medidas para reduzir dois sérios
problemas ambientais associados à garimpagem de ouro: o aumento de
turbidez dos rios provocado pela liberação de rejeitos de sedimentos e a
emissão de mercúrio para o ar, solo e rios.
A liberação de rejeitos de sedimentos
pode ser amplamente reduzida pelo simples direcionamento da caixa
concentradora para as bacias de decantação (trincheiras). Após um dia,
as partículas finas suspensas na água assentam-se no fundo, permitindo
que a água limpa seja canalizada para o rio principal (Conceição, 1991).
Após a trincheira ter sido preenchida com as partículas finas,
acrescenta-se areia para aumentar a textura do solo e, em seguida,
pode-se plantar árvores frutíferas adaptáveis como cajueiros e
goiabeiras. O sucesso do plantio de árvores em solos trabalhados pela
mineração foi documentado na bacia do rio Trombetas.
O problema da liberação de mercúrio
pode ser solucionado pelo uso de trapa na caixa concentradora e retorta
para queima do ouro (Priester et al., 1992). Essas técnicas de baixo
custo reduzem a perda de mercúrio. O uso da retorta ocasiona a retenção
de 95% a 97% do mercúrio utilizado na separação do ouro pelo aquecimento
da amálgama mercúrio-ouro em uma câmara fechada.
Crédito, o papel das ONGs. Além
de informação e treinamento, investimento e crédito tornam-se
necessários. Os bancos de desenvolvimento são uma fonte potencial de
crédito. Por exemplo, o Banco Asiático de desenvolvimento realiza um
programa de crédito para a mineração de carvão em pequena escala nas
Filipinas. Entidades internacionais também oferecem crédito,
especialmente para garimpeiros que estão organizados em cooperativa e
que buscam melhorias tecnológicas (Davidson, 1993). As ONGs, em virtude
da sua agilidade, acesso a financiamentos e predisposição para trabalhar
em níveis locais, podem contribuir oferecendo informação para as
comunidades minerais sobre novas tecnologias, fortalecendo associações
de garimpeiros, facilitando o acesso a financiamentos, e protegendo o
meio ambiente através da promoção de práticas de mineração seguras e de
baixo impacto.
Papel do governo. Finalmente,
são necessários licenciamentos e processos de regulamentação efetivos. A
lei brasileira requer que as operações de garimpagem de ouro sejam
registradas no Departamento Nacional de Produção Mineral. Além disso,
ela oferece planos de mineração com medidas completas a serem
desenvolvidas para reduzir os impactos ambientais. Na prática, contudo, a
maioria das operações de mineração é irregular e funciona sem
autorização. As conseqüências ambientais e sociais dessas operações são
graves.
Alcance da mineração em larga escala. Ainda
que o foco principal deste artigo tenha sido a garimpagem de ouro em
pequena escala, políticas poderiam ser criadas para encorajar as
operações em larga escala. Tais operações são geralmente mais eficientes
e mais fáceis de serem reguladas e monitoradas. Como resultado, elas
podem causar poucos problemas sociais e ambientais no local. Entretanto,
a mineração em larga escala é, na maioria dos casos, dominada por
companhias estrangeiras com pouco ou nenhum interesse na promoção do
desenvolvimento regional. A maioria da riqueza gerada pela mineração em
larga escala é exportada.
A situação do uso dos recursos naturais
na bacia do Tapajós é complexa. Uma solução efetiva precisa considerar
as características únicas da região e, assim, oferecer uma direção para o
verdadeiro desenvolvimento. É infrutífero abordar os múltiplos
efeitos da garimpagem de ouro sem esclarecer a noção desejada dessa
multiplicidade. O grande capital natural da bacia do rio Tapajós é a
madeira dasregiões de floresta. O uso de técnicas de extração madeireira
de baixo impacto torna possível o manejo florestal para a produção de
madeira (Uhl, et al., 1997). Desse modo, as reservas de madeira do
Tapajós, se propriamente manejadas, poderiam produzir um fluxo de renda
sustentável.
A atual economia mineral da bacia do
rio Tapajós, portanto, deveria ser vista como uma economia de transição,
oferecendo oportunidades para desenvolver uma subseqüente economia
sustentável baseada em práticas florestais. Dois ingredientes são
importantes nesse processo. Primeiro, a garimpagem de ouro deve assumir
em pouco tempo práticas que reduzem os impactos ambientais. Por outro
lado, o capital natural da região (rios e florestas de várzea) não devem
ser desnecessariamente destruídos. Em segundo lugar, uma parte
significativa da riqueza da mineração deve ser redirecionada para a
construção de uma economia verdadeiramente sustentável.
Para esse fim, o governo deve manter as
reservas florestais e criar incentivos para encorajar os empreendedores
a investir seus capitais em Florestas de Produção, as quais realizam o
manejo florestal cuidadoso. Além disso, incentivos devem ser planejados
para facilitar a importação de equipamentos modernos e eficientes para
as serrarias, permitindo a exportação de madeira serrada de alto valor.
Finalmente, qualquer plano para essa
região deve considerar as condições de trabalho e educação da população
envolvida na atividade mineral. Pois soluções emergem somente através do
desenvolvimento do capital humano e social.
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