O império do topázio
Encontrada numa única mina brasileira, em Ouro Preto, a pedra com tons que vão do amarelo ao cereja sobe na cotação dos joalheiros
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Colar H.Stern de ouro branco e diamantes com topázio imperial vermelho-cereja de 16,27 quilates em forma de gota: 1,86 milhão de reais (Foto: Divulgação)
Rodrigo Silva é a única região do planeta a produzir a gema cujas cores, dizem os locais, lembram o pôr do sol de outono: vão do amarelo, passando por laranja, rosa, lilás, ao chamado vermelho cereja do colar à esquerda. Azuis, verdes, cinzas e transparentes não entram na categoria “imperial”. São “simplesmente” topázios, encontrados em lugares tão diversos quanto o estado americano do Texas e a Austrália. “A raridade e a variação de tonalidades tornam o topázio imperial requisitado”, diz o joalheiro italiano Michele della Valle. Ele é expert em pedras coloridas — a Bulgari, conhecida pelas joias das cores do arco-íris, requisita sua avaliação — e percorre o mundo atrás de exemplares excepcionais. “Eu encaro a gema como uma alternativa para quem já tem diamantes, esmeraldas e águas-marinhas e procura algo novo.”
Brincos Emar Batalha, com diamantes branco e chocolate e topázio imperial em forma de gota: degradê
(Foto: Divulgação)
A razão dessa extração irrisória não está ligada à escassez natural do minério — a previsão é que a mina continue produzindo por mais duas décadas. Os sócios detentores do direito de exploração do Capão do Lana brigaram depois de quase três décadas no negócio. Em dezembro de 2009, o desentendimento entre eles provocou o fechamento do local. Por iniciativa de um antigo funcionário, ela voltou à ativa um ano e meio atrás com um grupo de vinte trabalhadores. “São poucas pessoas e poucos quilates para o potencial da região, mas o que vale é que vendemos mais de 70% do que foi recolhido nesse período”, diz o engenheiro de minas Vicente Alves. Atual arrendatário, ele trabalha na mina há trinta anos e acaba de voltar de uma viagem de negócios pela França e pela Suíça. Em Paris, apresentou as pedras aos joalheiros da Praça Vendôme, que concentra grifes do quilate de Boucheron, Mauboussin e Chaumet. “Só posso dizer que conquistei novos clientes”, afirma Alves.
A pedra aparece em sua versão rosa, com diamantes e ouro brancos no anel da Amsterdam Sauer: contraste de cores
(Foto: Divulgação)
Os outros três fatores são tamanho, lapidação e cor. O vermelho-cereja — tom da pedra de 16,27 quilates do colar H.Stern que abre esta reportagem — é o mais raro. Seu preço vai de 33 dólares a 2.000 dólares o quilate. Já o rosa e o salmão variam entre 2 dólares e 1.400 dólares. “O topázio imperial tem uma coloração muito feminina”, diz Christian Hallot, embaixador da H.Stern, uma das primeiras empresas a levar as pedras brasileiras ao exterior. A H.Stern mantém em cofre uma reserva dessas gemas lapidadas — em especial das variações vermelhas e alaranjadas, menos comuns — pronta para virar joias únicas. Não raro, sob encomenda. “Há pedras expecionais cuja cor varia do rosa nas extremidades ao vermelho ou amarelo no centro. É isso que as deixa ainda mais sedutoras.” A gama de tons quentes faz com que as designers Carla Amorim, de Brasília, e Emar Batalha, de Vitória, por exemplo, prefiram incrustar o topázio imperial em ouro amarelo ou rosa nas peças das novas coleções, fazendo um jogo de tom sobre tom.
Brincos Cartier com topázios quase idênticos e diamantes: raridade produziu peça única
(Foto: Divulgação)
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