domingo, 13 de julho de 2014

Itaituba perde maior mineradora

Itaituba perde maior mineradora

 
 DECADÊNCIA Com queda da produção de ouro, economia entra em queda e aeroporto perde status
 A cidade de Itaituba, a 950 quilômetros de Belém, no oeste do Pará, aos poucos vai se transformando na terra do “já teve”. No início do ano, o aeroporto de Itaituba - que na década de 80, no auge da produção aurífera do município, chegou a ser o segundo mais movimentado do país, em número de pousos e decolagens (atrás apenas de Guarulhos (SP), perdeu a condição de aeroporto, passando a ser simples pista de pouso, como as que existem nos grotões amazônicos. Agora o município perde uma de suas maiores empresas de mineração. Desde maio passado, a Serabi, maior mineradora em operação, em Itaituba, decidiu levar o seu escritório central para Fortaleza (CE), deixando em Itaituba uma representação e a estrutura de exploração e de pré-beneficiamento do ouro, depois mandado principalmente para o exterior.
 A Infraereo (Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária) - empresa que administra os aeroportos brasileiros - chegou à conclusão de que o aeroporto de Itaituba não se justificava mais em operação e retirou de lá todos os equipamentos e pessoal empregado na manutenção da estrutura aeroportuária, fechando dezenas de postos de trabalho. Nenhuma voz se levantou no Congresso nacional para defender a permanência do aeroporto nas suas antigas condições, já que era uma das alternativas para os vôos com destino a Manaus (AM).
 Com relação à Serabi, que produziu 1,1 tonelada de ouro em 2006 e 888 quilos no ano passado, apenas os vereadores de Itaituba, liderados por César Aguiar, manifestaram-se de forma enfática, puxando uma sessão especial na Câmara, em novembro passado, para discutir o assunto. Mas nem os parlamentares eleitos pelo oeste do Pará, como os deputados federais Zé Geraldo (PT), Joaquim Lira Maia (DEM) e os deputados estaduais Airton Faleiro (PT), Carlos Martins (PT), Josefina Carmo (PMDB), Júnior Ferrari (PTB) e José Megale (PSDB), por exemplo, levaram o caso para apreciação mais ampla em suas bancadas. Tampouco o Executivo paraense procurou evitar a consumação da mudança feita a passos de cágado, para minimizar o impacto e despistar a operação. No auge da produção de ouro, os garimpos do Tapajós produziam 14 toneladas de ouro por ano, em média. Só perdiam para Serra Pelada que teve uma vida útil efêmera. Hoje, o Tapajós produz, em média, 1,5 tonelada de ouro. Os altos investimentos necessários para a exploração manual e o rigor cada vez maior da legislação ambiental, praticamente inviabilizaram esse tipo de mineração. Atualmente, o Pará produz apenas 4,41 toneladas de ouro.
 Área ainda tem muito ouro
 O geólogo Alberto Rogério, com mais de 30 anos de atuação na Amazônia – foi diretor do DNPM e da secretaria especializada do governo, de 1989 a 1999 - afirma que esta ainda é uma das maiores áreas de concentração de ouro do mundo, embora admita que dificilmente se possa encontrar o metal na superfície ou nos leitos dos rios.
 “ Nos últimos 50 anos, aquela região foi varrida por garimpeiros, que tiraram tudo o que estava ao seu alcance. O momento agora é outro. Chegou a hora das empresas, capazes de aliar a experiência dos garimpeiros ao conhecimento científico fundamentado, às pesquisas do subsolo, para tirar o ouro de onde os garimpeiros não puderam alcançar. Os resultados vão depender da capacidade de investimento de cada empresa e, acima de tudo, do preço do ouro. Mas se eu tivesse dinheiro, certamente investiria em mineração de ouro do Tapajós”, observa.
 A riqueza do subsolo da região do Tapajós tem explicação científica. Analisando imagens de satélites, geólogos da Universidade de São Paulo (USP), constataram a existência de uma caldeira vulcânica na bacia do rio Tapajós, datada de 1,9 bilhão de anos. Isso explicaria a abundância nessa área, não só de ouro, mas praticamente de todos os minérios conhecidos pelo homem, que servem de estímulo a futuras prospecções pelas empresas.
 A Serabi Mineração, que já produz em média 100 quilos de ouro por mês, no antigo garimpo do Palito, cujas reservas estão estimadas em 27 toneladas. Outras mineradoras desenvolvem projetos na região, atraídas pelo novo recorde do preço do ouro -- que bateu US$ 907,09 a onça no mercado de Londres, na primeira quinzena de janeiro de 2006 e mantém-se em alta até hoje. A Serabi é subsidiária da Serabi PLC, com ações listadas na Bolsa de Londres, onde captou 8 milhões de euros para financiar o empreendimento. A área da Mineração Serabi é de 1.713 hectares, dos quais 13% são de uso intensivo. Os outros 87% são áreas de Reserva Legal.
 Empresa fez enxugamento
 Mas enquanto a Vale traz novos investimentos, como uma siderúrgica, e promete gerar 35 mil empregos, a Serabi optou por enxugar a sua estrutura, na explicação do superintendente administrativo, Rodrigo Mota, que falou com o repórter por telefone e negou a transferência do escritório central da empresa para a capital cearense. “Itaituba já era uma filial da Serabi. A sede da empresa fica no Distrito de Morais de Almeida (onde explora a mina Palito, a 600 quilômetros de Itaituba). Fortaleza é mais uma filial que a empresa abriu”, diz, assegurando que não houve prejuízo para o Pará ou para o município de Itaituba, com essa decisão. “A empresa precisava ser enxugada. Mas não fechamos postos de trabalho em número significativo. Alguns foram demitidos e a maioria aproveitada em Itaituba mesmo, ou Morais de Almeida, ou em Fortaleza”, disse. Já os vereadores avaliam que o município perde bons empregos.
 Sonho renasce nas mineradoras juniores
 Cinqüenta anos de garimpagem manual não foram suficientes para exaurir a Província Mineral do Tapajós,como muitos previam.
 A região vive novo ciclo de produção de ouro, dessa vez tendo como protagonistas as mineradoras juniores, apoiadas por novas tecnologias e conhecimento geológico. Estão catando com mais eficiência que os garimpeiros e suas bateias, mercúrio e chupadeiras, o ouro que escapou da primeira e longa corrida.
 O antigo Garimpo do Palito, em Moraes de Almeida, distrito de Itaituba, margem esquerda do rio Tapajós, junto a um dos seus afluentes, o Jamanxin, é um bom exemplo desse renascimento do velho Eldorado. De Belém até lá são 1,6 mil quilômetros.
 A Província Mineral do Tapajós é uma das maiores áreas de mineração do mundo, maior que Portugal. São 100 mil quilômetros quadrados. Na década de 1980, a região foi considerada um verdadeiro Eldorado, atraindo milhares de garimpeiros, aventureiros de todas as partes do País.
 Mais de 100 mil garimpeiros teriam invadido cidades como Itaituba e Santarém, revirando rios e florestas da região, sem nenhum controle do Estado. A agressão ao meio ambiente era uma constante. Abriam-se clareiras no meio da selva e pistas de pouso clandestinas.
 A Polícia Federal chegou a identificar cerca de 500. Diariamente, centenas de pequenos aviões dedicavam-se ao transporte de garimpeiros, víveres e ouro. A produção média anual atingiu, ao final dos anos 1980, a marca recorde de 14 toneladas.
 Mas estimativas conservadoras de órgãos como o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) dão conta de que outras 14 toneladas de ouro saíam ilegalmente da região.
 Oficialmente, toda a produção dessa província garimpeira até hoje, somaria cerca de 800 toneladas. Isso equivaleria a 16 vezes a produção total de Serra Pelada.
 Assim, o ouro do Tapajós teria rendido aproximadamente US$ 2 bilhões, embora os números oficiais dêem conta de que a região produziu, até 2006, não mais que 194 toneladas do metal.
 MECANIZAÇÃO - Atualmente, as reservas primárias passaram são encontradas apenas no subsolo, entre 50 e 300 m de profundidade. Por isso, o Garimpo do Palito e muitos outros entraram em decadência.
 O golpe fatal foi desferido pelo próprio mercado internacional. Entre 1990 e 1996, a onça do ouro, que estava cotada entre US$ 380 e US$ 400, despencou para US$ 260, tornando economicamente inviável o trabalho dos garimpeiros . Só empresas com lavras mecanizadas passaram a ter condições de explorar o ouro primário.
 Mina tem reserva de 10 toneladas
 A Serabi estabeleceu-se no Tapajós em 1999, quando iniciou a aproximação com garimpeiros interessados em negociar suas concessões, por causa da baixa produção da mina do Palito. Em 2000, comprou áreas em torno dessa mina e na região do Jardim do Ouro, iniciando os primeiros projetos para a implantação de uma planta de lixiviação por agitação, tipo CIP (carbon in pulp) para tratamento dos rejeitos deixados pelos garimpeiros.
 A partir de 2003, iniciou a exploração de uma mina de pequeno porte, com a abertura de duas galerias subterrâneas de desenvolvimento, que continuam ativas até hoje, paralelamente à terceira e última, de maiores proporções. Ao fluxograma de processo original da planta de concentração (inicialmente moagem e lixiviação), foram adicionadas as operações de britagem e flotação.
 Atualmente, a mineradora processa 500 toneladas por dia de minério bruto, o que equivale a uma produção média atual, recuperada, em torno de 3 quilos de ouro por dia, sendo 70% na forma de concentrado de ouro e cobre, 30% de lingote.
 A planta industrial apresenta uma recuperação metalúrgica total da ordem de 93%, assegurando um nível de aproveitamento de 500g de ouro de boa qualidade por tonelada. Até 2007, a média de produção anual era de 30 mil onças de ouro (31,1 gramas).
 A expectativa da direção da empresa, no entanto, é de alcançar, em 2008, o patamar de 35 mil onças. As pesquisas já realizadas apontam para uma reserva estimada em 10 toneladas de ouro. E nesse momento a mineradora está investindo em torno de R$ 10 milhões em pesquisas geológicas, em áreas próximas, que poderão apontar para reservas ainda maiores. “Talvez mais 10 toneladas de ouro”, estima um geólogo da empresa.
 

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