Como desacelerar um gigante em movimento?
A mídia, volta e meia, propaga as mais grosseiras inferências sem a reflexão ou análise que a notícia merece.
Graças a esse procedimento negligente que notícias de baixa qualidade
atingem o leitor, podendo até causar o pânico aos menos avisados.
A última pérola, estampada em um website sobre a mineração, sobre a
China cita: “não apenas uma desaceleração do crescimento, mas uma queda
absoluta e substancial da demanda por commodities”.
Quem lê essa frase com certeza vai acreditar que o fim do mundo chegou e
que a China, além de estar desacelerando mais rápido do que um Fórmula 1
na marca dos 100m, vai ter uma queda “absoluta e substancial” no
consumo de commodities. Um leitor desavisado desta matéria com certeza
vai acreditar que é o fim das empresas de commodities que vendem para a
China.
Coitada da Vale.
Já para nós do Portal do Geólogo que lidamos com essas notícias, dia
após dia nos últimos 12 anos, tudo não passa de mais uma inferência
grosseira entre as muitas que foram feitas nesta década.
Notícias sobre a desaceleração da economia chinesa e sobre o fim do
mundo são mais comuns do que se possa crer. Esta é apenas mais uma
delas.
Uma coisa que aprendemos na física, sobre as leis da inércia, é que é
muito difícil desacelerar um gigante em disparada. Um corpo em movimento
tende a permanecer em movimento (Newton).
A China é esse gigante que vem crescendo sistematicamente conforme o
gráfico ao lado. Parar um crescimento desses, mesmo se desejado, nunca
será assim tão fácil como querem os arautos do fim do mundo. Ainda mais
quando estão sendo desenvolvidos inúmeros esforços no sentido contrário à
desaceleração.
As notícias da desaceleração se tornaram mais comuns desde 2012, quando
no terceiro trimestre a China cresceu “somente” 7,4%. Na época isso foi
considerado o prenúncio do fim do mundo e várias notícias
sensacionalistas como a de hoje, inundaram a mídia contaminando as
decisões dos investidores.
No entanto, três meses depois, tudo mudou e a China voltou a crescer 7,9% e a média foi recomposta.
Agora o mesmo desespero volta à baila já que o crescimento chinês no
terceiro trimestre foi de “apenas” 7,3%, o que prenuncia um crescimento
médio para 2014 de “apenas” 7,4%.
Será esse o fim do mundo que estão alardeando?
É só observar alguns pontos fundamentais, divulgados por várias
entidades governamentais, listados abaixo, que a tese do fim do mundo
nos parece muito distante, puro sensacionalismo.
-As importações de minério de ferro em 2014 deverão atingir 940 milhões de toneladas, um crescimento de 14,7% em relação a 2013.
-Os preços do minério de ferro não cairão abaixo de US$60/t
-A Comissão Nacional do Desenvolvimento e Reforma aprovou um orçamento
de US$114 bilhões para a construção de ferrovias e aeroportos. Isto
deverá impactar as commodities.
-As importações de minério de ferro em 2015 estão estimadas em 1 bilhão
de toneladas, um crescimento de 6,4% em relação a 2014.
-A produção de aço doméstica deverá crescer em 2015.
-A demanda de aço também deve crescer em 2015 atingindo 720 milhões de toneladas.
-O setor da construção civil deverá crescer menos em 2015, mas espera-se
que sejam usadas 395 milhões de toneladas de aço no setor, um
crescimento de 1,28%
-A indústria de máquinas e equipamentos deverá consumir 144 milhões de
toneladas de aço em 2015, um crescimento de 3% em relação a 2014.
-O setor de energia estará em crescimento com os investimentos nos
gasodutos da Rússia e na produção do gás dos folhelhos. Estima-se que
este setor consuma 33 milhões de toneladas de aço, um crescimento de 3%
-A indústria naval deverá consumir 3,8% mais aço.
-A China está fazendo o maior investimento do mundo, de US$400 bilhões na compra de gás da Rússia.
-A China está investindo até 2035 o montante de US$5,7 trilhões de
dólares, o maior programa do mundo de energia o que vai mudar
radicalmente o panorama econômico do gigante asiático com inúmeros
desdobramentos em todas as áreas.
-Os preços do cobre subiram hoje melhorando o índice de desemprego nos
Estados Unidos, graças a maior demanda da China, a maior consumidora do
planeta.
Se quiséssemos poderíamos elencar vários pontos que desmentem
categoricamente a premissa publicada de uma “queda absoluta” nas
commodities.
É óbvio que em 2014 existe, realmente, uma desaceleração da máquina chinesa, que está passando de um crescimento de 7,5% em 2013 para 7,4% . Uma desaceleração de apenas 0,1% em uma locomotiva que está se tornando rapidamente na maior economia do mundo.
Se isso for o fim do mundo o que pensar do PIB brasileiro que estava em
2013 previsto para crescer “apenas” 2% e que possivelmente vai emplacar
um crescimento ínfimo de 0,19%...
Será isso o fim do mundo?
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