EM BUSCA DOS DIAMANTES
Ex-garimpeiro garante que
o rio Pardo ainda tem pedras e pensa em lançar um livro
“Basta ter paciência”.
Essa era a receita dada pelo saudoso professor Hélio Castanho
de Almeida — morto em 1995 — para quem quisesse encontrar
um diamante no rio Pardo. Dez anos antes de sua morte, Castanho
era enfático ao garantir que, apesar de mais de 200 garimpeiros
terem explorado o Pardo na década de 50, o rio ainda guardaria
pedras.
Pode até ser. Mas se encontrar o diamante já é
difícil, ainda pior é achar alguém que saiba
procurá-lo: um garimpeiro “de verdade”. A prática
tão comum em Santa Cruz do Rio Pardo há algumas
décadas perdeu-se e as novas gerações pouco
ou nada sabem sobre o assunto.
É por isso que Paulo Afonso dos Santos, 70 — mineiro
de Jequitaí radicado em Santa Cruz há 20 anos —
quer colocar em um livro as técnicas do garimpo que aprendeu
com seu pai. Junto ao sonho de escrever o livro, Paulo cultiva
outro há duas décadas: encontrar, nas águas
do Pardo, um diamante. “Já sonhei diversas vezes que
estava achando esse diamante. Quando acordo, fico triste de ser
só sonho”, conta.
Paulo, assim como apostava o professor Hélio Castanho de
Almeida, tem absoluta certeza de que ainda há diamantes
no rio Pardo. Certeza que brotou de um comentário de um
parente, quando ele ainda morava em Minas Gerais e estava prestes
a se casar com uma santa-cruzense. “Você vai para Santa
Cruz do Rio Pardo? Lá tem diamante no rio”, foi a
observação feita pelo familiar.
A certeza foi aumentando quando, já instalado na cidade,
Paulo passou a observar o cascalho que vem na areia grossa para
reformas de casas. Chegando aqui, porém, o garimpeiro começou
a trabalhar no ramo de calçados e deixou adormecer, por
longos anos, o sonho do diamante. Mas a vontade de encontrá-lo
e a certeza dessa possibilidade brotaram novamente depois que
o ex-garimpeiro realizou pesquisas no rio Pardo, recolhendo cascalho
para examinar o tipo de pedra que o compõe.
Certos
tipos de pedras costumam acompanhar o diamante e o bom garimpeiro
sabe “ler” essa mensagem. Paulo aprendeu a garimpar
ainda menino, por volta dos oito anos, em um Estado onde praticamente
todos faziam isso — em alguns locais de Minas Gerais, aliás,
o garimpo ainda é freqüente. Ele já praticou
os três tipos de garimpo existentes: no leito do rio, de
gupiara (fora do leito do rio) e de virada — quando se constrói
uma barragem para desviar o curso do rio e facilitar o garimpo.
Foi no garimpo de virada em Minas Gerais que Paulo, na época
com apenas 20 anos, encontrou 126 diamantes. Renderam um bom dinheiro,
que foi dividido com colegas. Sua parte, porém, gastou
nos anos seguintes.
O tipo de garimpo mais praticado é o de leito de rio —
talvez porque nessa modalidade o garimpeiro não tenha que
pagar comissão a nenhum meieiro, o que ocorre no garimpo
de gupiara e de virada. Mas é uma técnica trabalhosa.
O garimpeiro deve, em primeiro lugar, localizar a concentração
de cascalho do rio. Paulo explica que o rio tem “bolsas”
no fundo — o que nós chamamos de “fossos”
do Pardo. Há dois tipos de bolsas: a fêmea, larga
na boca e cheia de cascalho, e o macho, de boca larga, mas estreito
no fundo. “A melhor para pegar cascalho é a fêmea”,
ensina Paulo.
Para achar as bolsas, o garimpeiro precisa ir de barco pelo rio
e usar uma sonda — uma barra de ferro comprida — para
“medir” a profundidade. O local da bolsa também
deve ser especial — não pode ser muito fundo, já
que o garimpeiro deverá retirar cerca de 50 latas de cascalho.
Depois de encontrada a bolsa, o garimpeiro deve preparar o terreiro
na margem, em um local sem barrancos. É preciso limpar
e socar o terreno, deixando a terra nua e bem plana. Com as próprias
mãos, o garimpeiro separa as pedras grandes do cascalho
— não servem para nada. O que sobra é passado
no ralo, um tipo de funil quadrado feito de ferro que separa mais
uma parte de pedras grandes.
O que restou deve ser peneirado, dentro da água. Primeiro
na peneira grossa, de aço, especial. O tamanho dos furos
impede que as pedras maiores vazem para a peneira de baixo, a
mais fina. O garimpeiro descarta novamente as pedras maiores —
mas tomando o cuidado de verificar se nenhum diamante “enorme”
ficou lá.
Quando
a peneira fina está com a quantia certa de pedras —
coisa que o garimpeiro de verdade “sente” — começa
a parte mais interessante. O garimpeiro passa a rodar a peneira,
chocando-a de vez em quando contra a água para fazer pressão.
Ao final de algumas rodadas e outras tantas batidas, ele vira
a peneira de uma só vez no terreiro preparado, para fazer
o “resumo” — o exame detalhado das pedras.
No chão, forma-se um círculo de cascalho perfeitamente
desenhado: nas bordas, apenas umas pedras minúsculas, que
podem ser amareladas ou cinzentas. O tamanho das pedras vai aumentando
gradativamente e simetricamente em direção ao centro
da peneira. Bem no meio fica o “caboclo”: as pedras
maiores e escuras, pretas ou marrons, que durante o processo vão
se aglutinando no “fundo” da peneira. Se houver diamante,
estará ali. “No meio das pedras escuras, ele salta
aos olhos. Não tem como não ver”, conta Paulo.
A sensação de encontrar um diamante, segundo o ex-garimpeiro,
é indescritível. Uma sensação que
Paulo ainda espera vivenciar no Pardo. “Acho que tudo tem
seu dia e sua hora”, comenta, cheio de esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário