A empresa junior canadense Alderon, dona do Projeto de minério de ferro Kami, foi a empresa canadense mais celebrada nos últimos anos recebendo prêmios pela sua qualidade, inclusive o do Desenvolvedor do Ano de 2014.
No entanto, enquanto os canadenses se deixavam levar pelo marketing do projeto e por notícias de vendas de minério a mercado futuro, os problemas afloravam a medida que o preço do minério despencava no mercado internacional.
O que poucos viam é que Kami é um projeto de baixa qualidade, com baixíssimo teor, elevado work index, repleto de problemas e custos operacionais elevados que só eram aceitáveis aos preços de minério de ferro nas alturas.
Apesar de nunca divulgado o all-in cost de Kami deve superar os US$60-US$70/t o que torna o projeto um natimorto.
Os principais motivos servem de exemplo àqueles que querem promover as suas jazidas acima dos fundamentos técnico-econômicos.
Kami tem reservas de 668Mt @ 29% .
Teores baixos, quando o mineral de minério é a magnetita, nem sempre são problemas intransponíveis.
No entanto, no caso de Kami o minério está contido em uma formação ferrífera a base de magnetita, mas com hematita, carbonatos e silicatos de ferro que afetam o teor de ferro total e podem causar problemas metalúrgicos se não forem separados.
Para complicar as rochas são bastante duras (elevado WI) e, para que o minério seja liberado, as moagens deverão atingir níveis abaixo de 200# . Tudo isso se traduz um custo elevadíssimo.
Como se vê no gráfico do pit, o minério de Kami está subverticalizado. Isto obriga a mineradora a fazer uma lavra a céu aberto com 400m de profundidade e uma relação de estéril-minério proibitiva.
Mais custos.
A lavra a céu aberto só irá lavrar (se um dia for iniciada) 50% do corpo. O restante deverá ser lavrado com custos de mina subterrânea.
Ou seja: o restante do corpo nunca será lavrado.
Mas os investidores de hoje não estavam muito preocupados com o amanhã, afinal, para a maioria isso tudo não passa de uma jogada de bolsa onde o objetivo é o lucro no curto prazo.
Foi essa visão que enlouqueceu e cegou a muitos que desprezaram os fundamentos.
Para cegar mais ainda os investidores a Alderon conseguiu injetar centenas de milhões de dólares através de acordos de offtake, onde o comprador (chinês) paga hoje para garantir o fornecimento amanhã.
Estes acordos fizeram a ação da Alderon (que está $0,27 hoje) subir acima de $1,70 (veja o gráfico) o que levou os “ experts” e analistas a transformarem a empresa na melhor coisa “depois da invenção do pão quente...”
Apesar disso o Portal do Geólogo não se iludia e divulgava matéria explicando que os all-in costs do projeto eram proibitivos...
Hoje a situação da empresa é desesperadora. A única saída seria a lavra de teores mais elevados, que não existem.
Kami e Alderon é mais um caso onde uma empresa está mais interessada em promover os seus ativos esquecendo-se de “pequenos” pontos básicos que fazem um projeto ser bem sucedido no futuro.
Para a maioria dos investidores de primeira hora, o seed money, a Alderon já deu lucros gigantescos, pois as ações desses foram adquiridas por poucos centavos...
Os demais investidores, que chegaram após o IPO e que foram atraídos pelo “canto da sereia”...bem esses terão que carregar o mico preto...
Quem sabe eles vão, agora, aprender algo sobre a economia mineral antes de colocar tudo em sonhos.
Um case de como não investir em uma empresa de mineração sem antes saber o que está por trás do sucesso ou do insucesso do empreendimento...Ou por que o analista deve ser um geólogo especializado em economia mineral...
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