Desde a descoberta, em 1967, Carajás vem sendo o maior e mais rico distrito mineiro do Brasil. Lá existem grandes concentrações de minério de ferro, cobre, ouro, alumínio, manganês, molibdênio, níquel e caulim.
Mas foi o ferro de Carajás que literalmente transformou a Vale em uma potencia mundial, chegando em 2006 a ultrapassar a Rio Tinto e se tornar a segunda maior mineradora do planeta.
Infelizmente, mesmo com a qualidade excepcional do minério, a empresa vem sofrendo um cruel e lento processo de degradação causado por planejamentos deficientes e péssimas tomadas de posição.
Como resultado destes sucessivos erros a megamineradora perdeu, sistematicamente, o seu valor de mercado: em 2006 a empresa valia US$298 bilhões e hoje teve o seu “market cap” reduzido para apenas US$28,1 bilhões.
Uma queda, maior que 90%, inexplicável para quem tem a qualidade de Carajás e o melhor minério de ferro do mundo.
Uma realidade que nos envergonha!
Agora, em mais um desdobramento do mau gerenciamento recorrente que a caracteriza, a depauperada mineradora, a quarta do mundo, está colhendo o veneno que ela mesma plantou: a queda do preço do minério de ferro.
Esta queda, que foi causada pela inundação de minério de ferro em um mercado em processo de encolhimento, foi mais acentuada do que os protagonistas da trapalhada (Vale, Rio Tinto e BHP) imaginaram.
Enquanto todos os executivos acreditavam em preços ao redor dos US$90/t, o que se viu foi um desastre. Os preços caíram abaixo de US$55 e podem continuar ultrapassando a barreira dos US$50/t.
Os prejuízos estão sendo imensos, tornando as fraquezas da Vale ainda mais aparentes.
Além da óbvia perda de receitas e de investidores a empresa mergulha em um cenário de dívidas que ameaçam a eclipsar a própria empresa.
O analista do Deutsche Bank, Wilfredo Ortiz, agiu rápido e jogou a primeira pedra: ele diz que a Vale deve vender, pelo menos 20%, do seu melhor e mais extraordinário projeto: Carajás.
O que Ortiz fala foi ecoado por outros que também concordam que a empresa talvez não tenha outra solução a não ser a venda de Carajás.
Uma venda que, para todos os brasileiros deve ser inaceitável.
Vender parte de Carajás para tapar os buracos causados pelo mau gerenciamento é absolutamente impensável. Infelizmente essa medida, proposta pelos estrangeiros, serve para mostrar o que os executivos da Vale fizeram nos últimos anos com uma empresa que era sólida e o orgulho de um país.
Comprar um pedaço de Carajás é o sonho de qualquer mineradora do mundo, afinal ninguém mais tem minério de ferro com tal volume e qualidade.
No nosso entender isso pode, também, ser interpretado como um crime lesa-pátria. Carajás é um patrimônio nacional e como tal deve ser tratado.
O trem de Carajás e as desigualdades que poderiam ter sido minimizadas se a empresa adicionasse valor aos bilhões de toneladas de minério de ferro que ela exportou.
A Vale já causou inúmeros estragos à economia nacional e ao povo brasileiro que ainda se encontra mergulhado no desemprego e na pobreza, ao vender o minério de Carajás sem nenhum valor agregado. Ela literalmente “entregou” o minério de altíssima qualidade a preços de banana para chineses, japoneses e coreanos que usam o aço de Carajás para gerar produtos industrializados de alta tecnologia que exportam de volta ao Brasil a preços exorbitantes.
Graças a essa política pouco inteligente bilhões de toneladas de minério de ferro, vendidas a preços espúrios, retornaram com preços estratosféricos.
Alguém reclamou?
Não! Nós continuamos pagando, humildemente, sem questionar ou reclamar, como bons terceiro-mundistas que somos.
Por décadas os executivos da Vale celebraram a venda de um minério de ferro sem nenhum valor adicionado. Todo o lucro da cadeia produtiva é repassado aos países importadores.
Enquanto eles celebravam, muitos de nós, brasileiros, choramos.
Se o Brasil deixar, esses mesmos incompetentes, podem querer vender parte de Carajás para encobrir os seus próprios erros gerenciais.
Não queremos acreditar nesta hipótese, mas se ela for realmente cogitada, vamos lutar para que Carajás não seja entregue em uma bandeja e que os responsáveis da Vale voltem a celebrar, mais uma vez como heróis, em cima da dilapidação do patrimônio brasileiro.
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