Exploração mineral: como fazer um erro de bilhões de dólares?
O Geólogo de exploração e sua equipe são os principais
responsáveis por trilhões de dólares de retorno para as suas empresas e
para os países onde elas trabalham. São eles os descobridores dos
jazimentos, que podem ser pequenos ou gigantescos, que irão alimentar a
indústria e praticamente todos os segmentos da economia, criando milhões
de empregos e, muitas vezes, mudando completamente a economia e o rumo
do país.
Imagine um Brasil sem Carajás, ou uma África do Sul sem platina e
diamantes, os Emirados Árabes sem o petróleo, um Chile sem o cobre ou os
Estados Unidos sem o ferro...
A importância dos minerais no cotidiano de todos nós é tão grande que é praticamente impossível pensar em qualquer coisa
que nos cerca que não tenha sido originado em uma mina ou cuja
existência não esteja diretamente ligada aos produtos minerais
extraídos. Até os produtos orgânicos como a madeira, os tecidos e o
próprio papel não seriam usados intensivamente se não fosse a mineração.
Mas, como sempre, existe o outro lado da moeda. O mesmo geólogo de
exploração que descobre riquezas pode ser o responsável direto por
prejuízos imensos.
Talvez você se pergunte como isso é possível.
Na maioria das vezes o erro bilionário, como todo o erro, só será
percebido e quantificado muito tempo depois de ter sido feito.
É o caso de Argyle, que uso para ilustrar o ponto.
Descoberto em 1979, Argyle é um olivina lamproito que se tornou o maior
produtor individual de diamantes do planeta, famoso por ser, também, a
fonte dos melhores e mais caros diamantes rosa do mundo.
Em 1994 a mina de Argyle produziu 42 milhões de quilates de diamantes, o equivalente a uma carga completa de um caminhão...
Pois essa mina, que gerou e vai gerar bilhões de dólares à sua dona a
Rio Tinto, poderia ter uma história muito diferente se não fosse um erro
crasso feito pela equipe de exploração mineral da De Beers, algum tempo
antes da descoberta...
Segundo a história oficial, o diamante de Argyle foi descoberto por uma
equipe de geólogos de uma associação entre a CRA Ltd (Rio Tinto) e a
australiana Ashton Mining Ltd. A descoberta ocorreu durante um follow-up
em uma anomalia de diamante descoberta em sedimentos de corrente
coletados na drenagem Smoke Creek, durante um programa de prospecção
regional.
Os geólogos estavam coletando amostras de sedimento de corrente e
rochas, durante o follow-up, quando foi avistado um diamante em um
formigueiro... A drenagem de Smoke Creek nasce em uma estrutura onde
está encaixado o lamproito de Argyle (imagem).
O achado acelerou o processo e, em 1983, foi tomada a decisão de implantar uma gigantesca mina a céu aberto.
Até aí essa é a história que todos conhecem. O que ainda está para ser contado é o que aconteceu antes da descoberta oficial.
Décadas depois do início da mina, o amigo John Collier, que era o
General Manager da CRA na época da descoberta e, mais tarde, o
responsável pela exploração mundial da Rio Tinto, me confirmou que a
história do diamante no formigueiro era real. Mas, o que eu fiquei
sabendo, contado pelo próprio geólogo do projeto, Warren Atkinson, foi
tremendamente interessante e cria uma nova versão à descoberta, ao mesmo
tempo em que desvenda um dos grandes erros da exploração mineral
mundial.
Bem antes da CRA e Aston coletarem as duas amostras com diamantes nas
drenagens de Smoke Creek, uma outra mineradora, a gigante Sul-Africana
De Beers, considerada por muitos como a única empresa no mundo a
dominar a prospecção de kimberlitos, havia também trabalhado e amostrado
a região de Argyle.
O que levou os geólogos da De Beers a perder a maior jazida aflorante de
diamantes do mundo? Uma jazida cujos diamantes formavam um halo de
dispersão de dezenas de quilômetros drenagem abaixo: uma das amostras da
CRA, com diamante, foi coletada a 20km de distância do corpo...
Muitos dirão que a De Beers tropeçou na sua própria fama.
A empresa havia desenvolvido uma metodologia de prospecção que usava os
minerais satélites de kimberlitos, extraídos de sedimentos de corrente,
cuidadosamente coletados. Através dos estudos desses minerais,
principalmente das granadas tipo piropo, ilmenitas e cromo-diopsídios a
De Beers conseguia perceber, com grande dose de precisão, a proximidade
de um corpo kimberlítico. Esse método exploratório funcionou muito bem
na África e até no Brasil. No entanto, na Austrália, tudo deu errado e a
maior jazida de diamantes do mundo foi, simplesmente, perdida.
É que Argyle não é um kimberlito, mas sim um lamproito, uma rocha
diferente, com minerais satélites distintos. O lamproito de Argyle
praticamente não tem granadas, poucas ilmenitas e raros
cromo-diopsídios.
O melhor satélite do lamproito de Argyle, como você já deve ter
imaginado, é o próprio diamante e, secundariamente, a cromita. Se a De
Beers tivesse analisado as suas amostras para micro diamantes, diamantes
com diâmetro menor que 0,5mm, ela teria encontrado Argyle antes de
qualquer outra empresa.
Aí a realidade seria muito diferente da de hoje...
Na imagem acima granadas piropo e um microdiamante recuperados em programa de prospecção para fontes primárias de diamantes.
É irônico, mas algumas amostras de sedimentos de corrente coletadas pela
De Beers, isso só foi constatado após Argyle, continham micro e,
também, macro diamantes.
O erro foi grave, afinal quando pesquisamos um mineral ou elemento a
primeira análise deve ser direcionada para o próprio, coisa que a
prepotência da De Beers, que achava que tudo sabia da exploração mineral
para diamante, a fez errar.
Não foi só Argyle que a De Beers perdeu.
Ela perdeu todas as demais jazidas diamantíferas da região, como
Ellendale 4 e todas as jazidas, incluindo as canadenses descobertas
posteriormente pela Rio Tinto que, fortaleceu-se com Argyle, tornando-se
uma feroz e poderosa competidora.
Mais ainda, a De Beers viu o seu cartel, o CSO (Central Selling
Organization), ruir. Era o CSO, que regulava os preços e controlava com
mão de ferro 90% das vendas de diamantes no mundo. A Rio Tinto foi a
primeira mineradora, fora do Cartel, a contestar a De Beers e
estabelecer uma operação de venda, em 1996, na Antuérpia, o que ajudou a
desmontar a CSO.
O prejuízo da De Beers, por não ter tratado adequadamente as amostras
coletadas, foi simplesmente imenso, da ordem de muitos bilhões de
dólares e repercute até hoje.
A responsabilidade do geólogo de exploração é enorme. Lembre-se disso quando fizer o seu trabalho de pesquisa mineral.
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