Minas brasileiras inesquecíveis: ontem e hoje
Embora nossa limitação de espaço, aqui e agora, não nos permita destacar todas as minas brasileiras inesquecíveis,
vale lembrar as a seguir, que marcaram profundamente a Indústria Mineral brasileira.
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A mina de Morro Velho, ouro, Minas Gerais
Nosso caminhar histórico inicia-se em 1834, ano em que a mina de Morro Velho, no então arraial de Congonhas do Sabará, hoje município de Nova Lima (MG), começou a ser explorada pela Saint John Del Rey Mining Company, empresa fundada por um grupo de investidores ingleses em 1830, em Londres.
Esta foi a mais antiga mina subterrânea do Brasil e uma das mais profundas do mundo. Cabe salientar, entretanto, que a exploração “não industrial” desta mina começou muito antes, por volta de 1725, pelas mãos da família do padre Antônio de Freitas.
Os métodos rudimentares, que até então utilizavam mão-de-obra escrava, foram reestruturados após a chegada dos ingleses, dando início a uma fase industrial nas operações.
A mina funcionou normalmente até 1857, quando ocorreu um grande desmoronamento em seu interior, afetando a produção até 1859. Em 1867, 10 anos após, houve um incêndio no interior da mina, que a destruiu praticamente toda. Após este fato, novos poços (A e B) foram abertos, e as explorações foram reiniciadas em 1872. Em 1886, um novo desastre viria a interromper o processo de produção e, somente em 1892, com a perfuração dos poços C e D, com 700 metros de profundidade cada, a produção começou novamente a ser retomada. Esta foi aumentando progressivamente a partir de 1894, quando uma nova era se iniciou.
A Mina Grande foi fechada em agosto de 1995. Em 2003, foi realizada a desativação por completo da Mina Velha, considerada à época a mais antiga mina de ouro em atividade do mundo.
A Mina Velha (da superfície até o nível 7) tinha cerca de 600 m de profundidade. Já a Mina Grande (do nível 8 até o 29) seguia o mesmo filão aurífero, e atingiu uma profundidade de 2.453 m - ambas tinham acessos independentes. Em 2003, ano de fechamento da Mina Velha, foram contabilizadas mais de 570 t de ouro extraídas em toda a história da empresa até então. (1)
“A maior mina de ouro no Brasil em atividade, hoje, é a do Morro do Ouro, da Kinross, em Paracatu, MG, com produção de ROM, em 2010, de 46,3 milhões de t”. (2)
A primeira mina de carvão mineral, Santa Catarina
Coincidentemente, no mesmo ano de 1834, foram concluídos “pesquisas realizadas em 1833 por Alexandre Davidson e respectivos estudos, ambos objeto de relatório, em assuntos de carvão, enviado ao Governo Imperial: o relatório afirmava que as jazidas eram extensas e o carvão de boa qualidade, mas rendeu apenas mensagens políticas pedindo mais atenção ao assunto” (2)
“Finalmente, a 9 de fevereiro de 1886, segue para o Porto de Imbituba o primeiro carregamento de carvão (...), 700 t (...), destinado a Buenos Aires”: “o carvão remetido a Buenos Aires (Argentina), custou à empresa mineradora 25$000 (vinte e cinco mil réis) a tonelada, considerando apenas o custo de produção, e foi vendido por apenas 6$000 (seis mil réis). Tamanha diferença, mais a concorrência com o carvão de Cardiff, importado da Inglaterra, levou a empresa à paralisação imediata de suas atividades” (3).
Como se pode ver, “mina” não era – e, ainda hoje, nem sempre o é – sinônimo de grandes lucros, como muitos ainda hoje imaginam, mas, sim, e não poucas vezes, exemplo de epopéia.
“A Primeira Guerra Mundial permitiu, num primeiro momento, um crescimento de produção de carvão na região, incentivando o ingresso de empresas nacionais, algumas das quais em atividade até o presente momento; entre elas destacaram-se a Companhia Carbonífera Urussanga (1918) e a Companhia Carbonífera Próspera (1921). Posteriormente, no Governo de Getúlio Vargas, foi implementada a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (1946)”. (4)
Atualmente, a mina maior produtora brasileira de carvão mineral (ROM) é a mina de Candiota, da Companhia Riograndense de Mineração - CRM, com 1,883 milhão de t de carvão mineral (ROM), em Candiota, RS. (2)
A mina de bauxita, Poços de Caldas, Minas Gerais
Em 22 de fevereiro de 1935, foi criada a Companhia Geral de Minas - CGM, “visando o aproveitamento da bauxita de Poços de Caldas, MG. Para este fim, foram construídas amplas instalações junto à linha férrea (...), com um potente moinho de minério, trazido da Argentina (...). A bauxita recebia um beneficiamento primário, sendo seca, moída e ensacada”. (5)
“Por aquisição das ações da CGM, (...) a Alcoa criou, em 25 de maio de 1965, a Companhia Mineira de Alumínio - Alcominas, (...) que inaugura sua fábrica em novembro de 1970, que constava de uma fábrica de alumina (óxido de alumínio - obtida da bauxita), com capacidade de 120 t/ano e uma sala de cubas, com capacidade de 60 t/ano de metal”, completando, assim, a industrialização da bauxita. (5)
No Brasil de hoje, a maior mina de bauxita é a do Aviso, em Oriximiná, PA, pertencente à Mineração Rio do Norte (MRN), com produção em 2010 (estimada) de 14,576 milhões t de ROM. (2)
A mina do Cauê, minério de ferro, Minas Gerais
Situada em Itabira, Minas Gerais, a mina do Cauê - também conhecida como “mina do Pico do Cauê” ou, simplesmente, “Cauê” - é, sem sombra de dúvida, um dos maiores ícones entre as minas brasileiras: “em 1973 tornou-se a maior mina do mundo ocidental”. (6)
Pertencente à então denominada Companhia Vale do Rio Doce – hoje Vale S.A.–, suas expressivas produções anuais e crescente importância internacional têm início, particularmente, com os denominados “Acordos de Washington, firmados em 03 de março de 1942, na capital norte americana e tendo como signatários Brasil, Estados Unidos e Inglaterra”, Acordos estes que, “entre outros pontos, definiram as bases para a organização no Brasil de uma companhia de exportação de minério de ferro”, tendo como base a jazida do Pico do Cauê (6).
Inicialmente, a mina do Cauê começou a ser lavrada “por processos rotineiros, sem nenhuma aparelhagem mecânica, sendo o minério transportado em caminhões até a ponta dos trilhos da EFVM (Estrada de Ferro Vitória a Minas), em Oliveira Castro (MG), a 22 km da jazida”: “a meta de exportação era de 1,5 milhão de t de minério de ferro” (6), quantidade extremamente expressiva para a época.
Não é nenhum exagero, certamente, dizer que a mina do Cauê reescreveu a história da Mineração no Brasil - e foi destaque, também, na Mineração mundial -, inclusive no que respeita ao intensivo uso de tecnologia de beneficiamento, como a concentração magnética de alta intensidade, uso esse que resultou na ampla utilização dos itabiritos do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, com o que o País teve um brutal aumento de suas reservas de minério de ferro, da ordem de dezenas de bilhões de toneladas, lavradas, beneficiadas e vendidas no mercado interno ou exportadas, inclusive sob a forma de pelotas.
O espetacular crescimento da Vale – que, dentre outras, detém e opera a maior mina de minério de ferro do Brasil, a N5 (Complexo Carajás), em Parauapebas, Pará, que em 2010 produziu cerca de 53 milhões t de ROM (2) – sem dúvida deve muito à mina do Cauê.
A mina da Serra do Navio, minério de manganês, Amapá
Primeiro empreendimento industrial de sucesso na Amazônia, a mina da Serra do Navio, da Icomi, foi inaugurada em 05 de janeiro de 1957 e, cinco dias depois, “acontecia o primeiro embarque do minério de manganês para o exterior. O Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, estava ao lado das mais destacadas personalidades da vida política e cultural do País” (7).
“Comparado com os processos rudimentares utilizados em Minas Gerais” (na grande maioria das minas do citado Estado), o minério de manganês da Serra do Navio era “fragmentado com dinamite, removido por escavadeiras, transportado em caminhões basculantes até o britador e daí, automaticamente, para lavagem e classificação, transportado por correia automática até os silos e daí levado, através de ferrovia, para o Terminal de Santana, descarregado em vagões e automaticamente embarcado por correias transportadoras. A capacidade do sistema era de 2000 t/h” (7).
Embora tecnologicamente a mina da Serra do Navio estivesse em dia com o que havia de mais moderno à época na Mineração mundial, a nosso ver, em uma leitura e visão de hoje, o mais importante a destacar, quando lembramos da referida mina, é a qualidade ambiental e social do empreendimento, que, dentre outros, construiu a primeira “Estação para tratamento de esgotos” da Amazônia na Vila Serra do Navio, bem como propiciou no Brasil, à época (anos 1950), orgulhosamente, por exemplo, índices de “Mortalidade por todas as causas - óbitos por 1000” semelhantes aos dos Estados Unidos (EEUU = 25,2; Serra do Navio, Brasil, Amazônia: 27,6) e de “Mortalidade Infantil - Coeficiente por 1000” melhores do que os de todos os maiores e/ou mais desenvolvidos países do mundo à época (Serra do Navio, Brasil, Amazônia = 3,4; União Soviética = 7,1; Estados Unidos = 9,3; Suécia = 9,8) (7): ou seja, Mineração com qualidade ambiental e responsabilidade social no Brasil não é “coisa de hoje”.
A maior mina de manganês do País, hoje, é a do Azul, pertencente à Vale Manganês, que, em 2009, produziu 2,3 milhões t de ROM. (2)
As minas brasileiras e a construção do
desenvolvimento sustentável do País
desenvolvimento sustentável do País
A história das minas brasileiras e a de nossa Mineração exibe, a todos nós, um excelente painel de extrema coragem empreendedora, ações estatais e privadas, desenvolvimento tecnológico e multiplicação de reservas minerais, superação de desafios de logística e infra-estrutura, cuidados ambientais, responsabilidade social real, força exportadora, industrialização do País, formação educacional e cidadã de brasileiros em todos os rincões do nosso território - destacadamente em regiões ínvias e de difícil acesso - e, acima de tudo, compromisso com as novas gerações, como bem demonstram os registros, as experiências e o sucesso dos hospitais e escolas existentes em nossos empreendimentos minerais, com especial destaque para o cuidado e o carinho com a saúde materno-infantil.
Em outras palavras, no Brasil, Mineração tem sido, é e deverá continuar a ser exemplo de empenho na construção do desenvolvimento sustentável do País.
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