quarta-feira, 29 de julho de 2015

Febre do ouro ameaça matas e biodiversidade

Febre do ouro ameaça matas e biodiversidade

Pesquisa internacional mostra que proliferação de minas acelera destruição das florestas, fazendo espécies sumirem e piorando o aquecimento global

 
 - O que significa riqueza para alguns é, na verdade, um enorme prejuízo para o planeta Terra. Segundo estudo publicado este mês na revista especializada ‘Environmental Research Letters’, a proliferação de minas de ouro, muitas vezes ilegais, que vem sendo observada nos últimos anos em várias regiões da América Latina, acelera o desmatamento, ameaça a biodiversidade e contribui para a emissão de gases causadores do aquecimento global.

Entre 2001 e 2013, pelo menos 1.680 km² de florestas tropicais foram derrubados para a exploração das minas, diz a pesquisa. Embora esta seja apenas uma pequena fração dos milhões de quilômetros quadrados de floresta tropical do planeta, a riqueza biológica das áreas exploradas pelo garimpo é gigante.

Em Novo Aripuana, a 80 km da cidade de Apuí, no Estado do Amazonas, milhares de pessoas vivem do garimpo do ouro em plena floresta
Foto:  Banco de imagens
“Embora a perda das florestas, devido à exploração das minas, seja menos importante do que o desmatamento causado pela agricultura, ela acontece nas regiões tropicais com a biodiversidade mais rica”, adverte Nora Alvarez-Berrios, da Universidade de Porto Rico, uma das autoras do estudo. Ela destaca que, na região de Madres de Dios, no Peru, por exemplo, um hectare de selva pode conter até 300 espécies de árvores.
As regiões mais afetadas são os trechos compartilhados entre Guiana, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa, Brasil, Colômbia, sudoeste amazônico (Peru, Bolívia, Brasil), região Tapajós-Xingu (Brasil) e região do vale Magdalena-Uraba, no norte da Colômbia.

Animais, como a onça e vários outros, têm a sobrevivência ameaçada com a destruição de seus habitats
Foto:  iStockphoto
Embora os espaços protegidos por lei pareçam em bom estado, os autores do estudo estimam que um terço do desflorestamento aconteceu a menos de 10 km dessas zonas. Portanto, as regiões que deveriam estar intocadas estão expostas à contaminação química devido à atuação dos garimpeiros. A produção mundial de ouro passou de 2.445 toneladas, em 2000, para 2.770 toneladas, em 2013. O preço do ouro registrou altas nos últimos anos, de US$ 250 a US$ 1.300 a onça (28,3 gramas), entre 2000 e 2013.
Terras indígenas na mira

Um outro artigo, publicado na revista ‘Science’, em novembro, já trazia uma análise, feita por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, sobre os danos que a mineração e grandes obras, como as de hidrelétricas, podem causar em áreas de proteção ambiental do país. Segundo a pesquisa, há ameaças não só às florestas, mas também a terras indígenas, o que poderia tirar do Brasil o posto de referência em preservação ambiental.

O texto, que tem como autora principal a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, enfatiza o novo Código de Mineração, em discussão na Câmara. De acordo com o artigo, 20% das zonas de conservação integral e terras indígenas podem ser afetadas. Só na Amazônia, 34.117 km² de florestas (8,3% do total do bioma) ficariam disponíveis para exploração e 281.443 km² de terras indígenas (28,4%), à disposição para o garimpo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário