RIO TAPAJÓS: UMA HISTÓRIA DE EXPLORAÇÃO
O trecho do Rio Tapajós
escolhido para receber o maior empreendimento hidrelétrico que afetará
diretamente o Parque Nacional da Amazônia.
O trecho encachoeirado de São Luiz, de
notável beleza cênica, foi escolhido para receber o maior empreendimento
hidrelétrico planejado para o rio Tapajós, com um reservatório de
722,25 quilômetros quadrados que afetará diretamente o Parque Nacional
da Amazônia.
Os primeiros estudos da bacia do rio
Tapajós para definir seu potencial hidrelétrico foram realizados entre
1986 e 1991. O primeiro projeto para barrar o rio Tapajós foi elaborado
na década de 1980 pela Eletronorte. Ele previa um reservatório
gigantesco que alagaria um longo trecho até a confluência dos Rios Teles
Pires e Juruena e deixaria submersa a cidade de Jacareacanga.
Telma Monteiro
A ocupação etno-histórica da bacia do
rio Tapajós tem característica pluriétnica e de pluralidade de relações
intersociais entre os indígenas Munduruku, Apiaká, Tupinambarana,
Cumaruara Maytapu, Tapajó, Cara-Preta, Arapiun, Arara Vermelha e
Jaraqui. Os conflitos entre as etnias com a sociedade brasileira e seus
efeitos temporais nunca foram prioridade no processo de ocupação e
execução de políticas públicas na Amazônia.
Os diversos grupos étnicos na região do
rio Tapajós têm enfrentado muitos problemas e as reivindicações de
direitos territoriais originários acontecem desde 1998. A ocupação
pluriétnica criou dispersão familiar e mobilidade espacial entre os
Munduruku, desde o alto curso até a foz do rio Tapajós. Apesar da
ancestralidade étnica, atualmente muitos desses grupos vivem à margem da
sociedade em busca do reconhecimento dos direitos indígenas à posse
permanente das terras por eles ocupadas.
Os municípios da bacia do Tapajós, no
estado do Pará são: Santarém, Itaituba, Belterra, Aveiro, Novo
Progresso, Juruti, Jacareacanga, Rurópolis e Trairão. Apenas um
município do estado do Amazonas, Maués, tem 11% do seu território na
bacia do Tapajós. Esses municípios integram as Mesoregiões do Baixo
Amazonas e do Sudeste Paraense, são muito extensos e as localidades
ficam distantes das respectivas sedes[1].
Todos os municípios da bacia do Tapajós
são resultado do desmembramento do território de Santarém, criado em
1755. Primeiro surgiram Juruti, Itaituba e Aveiro e em seguida Itaituba
foi subdividido em mais três novos municípios: Trairão, Novo Progresso e
Jacareacanga; Aveiro deu origem a Rurópolis. O mais novo município da
bacia é Belterra, criado em 1997 e desmembrado também de Santarém.
A ocupação histórica da bacia do Tapajós
pelos portugueses se deu durante o período colonial como forma de
garantir hegemonia. Só em 1639 foram fundadas as primeiras povoações às
margens do rio Tapajós e seus afluentes. Portugal tratou de assegurar a
posse dos territórios na Amazônia instalando fortes e missões nas
margens dos rios, depois de expulsar os holandeses no século XVII.
A aldeia de Tapajós foi fundada em 1639,
na sua foz no rio Amazonas, onde é hoje a cidade de Santarém. A
ocupação das margens por aldeias se deu a montante do rio Tapajós e
atraiu muita gente em busca de ouro nas minas da região.
No século XIX, com o aumento da demanda
internacional de borracha, a ocupação da bacia do Tapajós se consolidou.
A região passou a ser explorada por seringalistas – ciclo da borracha –
que utilizavam os indígenas, no primeiro momento, como mão de obra
semi-escrava que mais tarde foram substituídos por imigrantes
nordestinos.
O baixo Tapajós tem cerca de 320
quilômetros no trecho que vai das cachoeiras de São Luiz – local em que
está prevista a construção da primeira hidrelétrica – até sua foz, no
rio Amazonas e é pontilhado de muitas ilhas cobertas por vegetação. Os
últimos 100 quilômetros formam um grande estuário aonde a distância
entre as margens chega a 20 quilômetros. Antes de chegar ao rio
Amazonas, próximo à cidade de Santarém, no Pará, o Tapajós se afunila
num canal de 1.100 metros de largura. Esse trecho sofre a influência da
dinâmica do despejo das águas no rio Amazonas que provoca ondas de até
quarenta centímetros.
A sazonalidade da bacia depende do
regime de chuvas e da vegetação das sub-bacias dos rios Juruena, Teles
Pires seus formadores e Jamanxim, o principal afluente. Se todas as
hidrelétricas planejadas forem construídas nesses rios haverá alterações
no regime e no clima da bacia do Tapajós. As consequências para a
biodiversidade pode ser equivalente a uma hecatombe na Amazônia.
A parte da bacia localizada no estado de
Mato Grosso está na transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica.
Essa região é de exploração madeireira, pecuária extensiva de corte e
monocultura de soja, com um fluxo migratório intenso. A porção da bacia
do Tapajós, no Pará, já sofre com a ampliação da fronteira agrícola e
com o aumento da exploração madeireira.
A exploração mineral com o garimpo de
ouro tem sido o maior problema ambiental na bacia do Tapajós. A pressão
maior do desmatamento se dá na região de influência das rodovias BR-163 e
Transamazônica. Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica
Brasileira por Satélite – PRODES do INPE[2].
O governo criou em 13 de fevereiro de
2006 sete novas Unidades de Conservação (UCS) nessa região, ampliando em
173 mil hectares a área do Parque Nacional da Amazônia (PNA). Agora a
presidente Dilma Rousseff está reduzindo o PNA, com uma canetada, para
“encaixar” o reservatório da hidrelétrica São Luiz do Tapajós.
A maior reserva aurífera do mundo está
na bacia do rio Tapájós e vem sendo explorada com garimpagem manual
desde o final da década de 1950. Isso levou o Ministério das Minas e
Energia (MME) a criar, em 1983, a Reserva Garimpeira do Tapajós[3], com uma área aproximada de 28.745 km²[4]. O ouro é o mineral mais cobiçado na bacia do rio Tapajós[5].
A cidade de Itaituba que tem 97.493
habitantes (Censo IBGE 2010) é o maior centro urbano da região estudada
para a construção das hidrelétricas do Complexo Tapajós. O acesso por
terra se dá pela rodovia Transamazônica (BR-230), não pavimentada, e
pela rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163). Itaituba tem um aeroporto com
pista pavimentada que é servido por linhas aéreas regionais.
Outro centro urbano importante é
Jacareacanga, a montante de Itaituba pelo rio Tapajós, com 14.103
habitantes (Censo IBGE 2010) e aeroporto com pista pavimentada. O acesso
principal é feito por via fluvial. A navegação pelo rio Tapajós, a
montante de Jacareacanga, é quase impossível no trecho das cachoeiras do
Chacorão.
A riqueza natural da Bacia do Tapajós
O Parque Nacional da Amazônia (PNA) fica
no noroeste da bacia, à margem esquerda do rio Tapajós; a Floresta
Nacional Itaituba I e II, Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós,
Floresta Nacional do Crepori e Floresta Nacional do Jamanxim, no
interflúvio dos rios Tapajós e Jamanxim; o Parque Nacional do Jamanxim
ocupa as duas margens, no trecho de maior declividade e o Parque
Nacional do Rio Novo está no seu alto curso.
As Terras Indígenas Munduruku e Saí
Cinza estão trecho sul, a montante da cidade de Jacareacanga. A TI
Munduruku é contígua à TI Kaiabi no rio Teles Pires, por cerca de
280 km.
Na bacia há ainda o Parque Nacional do
Juruena, na margem esquerda do alto curso do Tapajós e a Reserva
Ecológica Apiacás, no interflúvio dos rios Juruena e Teles Pires.
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