Se dependesse dos garimpeiros da região, tudo continuaria como está
De Senador José Porfírio
(PA)
" Um diz que seca, outro diz que
alaga. Nós não sabemos o que vai
acontecer. " O desabafo de Getilson
Rabelo Mesquita, dono de uma loja
de secos & molhados na Vila da
Ressaca, no trecho de 100
quilômetros de rio conhecido como
Volta Grande do Xingu, traduz o que
pensam sobre Belo Monte nove
entre dez garimpeiros da região. "
Peço a Deus para ficar numa boa.
Nossa morada é aqui mesmo. "
Uma única viela dá o eixo à vila
onde vivem perto de 800 pessoas.
As casas e lojas feitas em madeira
são pintadas em cores alegres.
Algumas de dois andares têm
pequenas varandas numa
interpretação cabocla de New
Orleans. O açougue é azul. A casa
onde homens jogam dominó é verde
e rosa. " Menina, eu acho que isso
aí não é bom " , diz Alexandrina da
Silva Pinto, a dona do restaurante
verde-limão " Unidos Venceremos "
. " Agora que o garimpo fracassou
um pouco, o povo foi plantar cacau,
criar gado. A gente vive tão tranquilo.
"
Uma de suas filhas, Diana,
diretora da escola local, diz que há
dúvidas sobre o direito à indenização
de quem for afetado por Belo
Monte, e a falta de clareza deixa o
povoado inseguro. " Tem gente que
diz que só os alagados vão receber.
Então nós, que vamos ficar no
seco.... Nesta localidade o que
temos de mais precioso é o nosso
rio. "
O posto de saúde da vila é
aparelhado. A sala do dentista é nova
e a técnica de enfermagem Léa
Elizabeth Pinheiro cuida do estoque
de remédios para que não faltem. "
Nesta área, todo mundo é contra " ,
diz ela. " Se fosse pelo gosto da gente,
ficava tudo como está " , concorda
Nilda Cipriano Lima, dona de um
mercado que vende vassouras e
tomates, preservativos e cremes
Natura. O marido veio trabalhar no
garimpo de ouro, mas virou
agricultor quando a atividade
enfraqueceu. Alguns homens ainda
esperam encontrar ouro e se lançam
em poços profundos de lama atrás
de algumas gramas.
Henrique Gomes Pereira, o dono
da terra e para quem todos pagam
um percentual da renda, é a voz
destoante da comunidade. " Tem os
prós e os contra " , resume. " A região
está sem emprego, sem estrada, as
escolas são fracas. Acho que com a
usina vai vir gente, vai gerar trabalho,
energia, desenvolvimento. Eu sou
mais os ' pró ' " . (DC) |
|
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário