Equipe vai de Norte a Sul do país em busca de pedras preciosas
Repórteres e produtores revelam os bastidores da reportagem que documentou a luta dos garimpeiros.
A repórter Beatriz Castro na terra do calor. E o repórter Dirceu Martins na terra do frio. Foi com essa parceria que o Globo Repórter mostrou o Brasil das pedras preciosas. Dirceu Martins foi atrás das ametistas no Rio Grande do Sul, do rei dos diamantes na histórica Diamantina e dos lapidários de cristais em Belo Horizonte. Enquanto isso, Beatriz Castro buscava o caminho das pedras no Piauí, à procura das opalas, e mergulhava – literalmente – no subsolo de São José da Batalha (PB), para acompanhar o trabalho dos garimpeiros que arriscam a vida em busca da mais rara das pedras preciosas brasileiras: a turmalina.
Em vídeo, eles contam como foram os 15 dias de gravações. Beatriz Castro visita o acampamento do garimpeiro José de Souza, o Deda. E o padre Gilberto Giacomoni conta como a pedra que sustenta o altar da Igreja de São Gabriel, em Ametista do Sul, quase foi parar na China.
Aqui no site, você ainda confere os depoimentos dos produtores João Carvalho e Jorge Ghiaroni sobre a busca das histórias que você viu na reportagem.
"O dia do garimpeiro é amanhã" Por João Carvalho, produtor
A cada reportagem que a equipe do Globo Repórter faz pelos quatro cantos do Brasil fica mais claro o quanto o país é rico, em todos os sentidos. Quando recebemos a pauta sobre pedras preciosas, nos perguntamos o que teríamos realmente em termos de imagens. Na verdade, nossa busca pela melhor imagem é uma preocupação constante. Então, pegamos a estrada para cumprir a primeira parte da jornada de dez dias, entre as turmalinas da Paraíba e as opalas do Piauí. Eu estava fazendo a produção. Leonardo Araújo e Givaldo Soares fazem o apoio técnico e captação de áudio. San Costa é o repórter cinematográfico e Beatriz Castro, a repórter. Tome estrada!
Saímos do Recife em dois carros, com quilos e quilos de equipamento e a vontade de mostrar uma boa história. Nossa conquista seria chegar às cidades paraibanas de São José da Batalha e Junco do Ceridó, onde encontraríamos nossos personagens e nossas pedras tão raras: as turmalinas. São pequenos pontos, às vezes azuis, outras vezes verdes, consideradas hoje as pedras mais raras e caras do mundo. Em São José da Batalha conhecemos a história do garimpeiro José de Souza, o Deda. Um dia ele já teve carros, casas, dinheiro. Perdeu tudo, mas não deixa claro como isso aconteceu. “Investi em novas minas, atrás da turmalina. Mas ainda não tive retorno”, afirma. Acompanhamos seu Deda em um dos dias de busca pela pedra. Em um casebre montado na entrada da caverna ele se prepara diariamente para enfrentar os riscos, a poeira, o pó atrás do sonho.
Na mina da família Barbosa conhecemos de perto o risco dos garimpeiros. Eles descem por buracos com mais de 60, 80 metros, atrás do tesouro escondido. Nossa equipe foi atrás. Beatriz, San e Léo desceram para uma dessas minas e registraram lá embaixo o trabalho dos garimpeiros. Eu e Geraldo ficamos na parte de cima, para cuidar do gerador e dos outros equipamentos de apoio. Durante a gravação tomamos um susto: uma das paredes da mina desabou, mas nada sofremos além do susto. E que susto.
Deixamos a Paraíba para trás e embarcamos de avião para o Piauí. Três horas e uma escala em Fortaleza depois, chegamos ao aeroporto de Teresina. Com aquele calor característico da cidade, pegamos nossa caminhonete para cair na estrada de novo. Mais duas horas e meia até Pedro II, a cidade das opalas.
Diferente do que encontramos nas cidades da Paraíba, Pedro II está crescendo e ficando rica por conta da exploração organizada da opala, uma pedra que pode ser encontrada de maneiras diferentes: branca, multicolorida ou azulada, conhecida como opala negra. São as mais raras. Passamos dias inteiros gravando, conhecendo pessoas e novas minas. Uma cooperativa na cidade organizou o trabalho dos garimpeiros e já está dando bons frutos. Hoje Pedro II tem 30 joalherias e cerca de 200 lapidários.
Conhecemos alguns deles, como o empresário Juscelino Araújo Souza. Filho da cidade, ele começou a ganhar a vida como camelô, vendendo bugigangas. Com o tempo, começou a trabalhar em lapidários, estudou, se formou e hoje é dono de uma loja.
Gravamos também com o folclórico Bené de Tucum, outro grande negociante de pedras. “Um dia tive um sonho de trabalhar como tucum, esse coquinho aqui”, mostra. “Foi depois desse sonho que batalhei, garimpei, juntei o tucum com as opalas e hoje estou aqui. Já viajei o mundo inteiro”, lembra.
Nosso encontro (talvez) mais marcante no Piauí foi com o ex-garimpeiro Raimundo Galvão, o Mundote. Dono de um sítio, onde fica uma espécie de museu, ele também é proprietário de minas. Foi Mundote quem descobriu a maior pedra de opala já vista, com mais de quatro quilos, hoje exposta no Museu de História Natural de Londres. Entre uma história e outra, demonstra disposição para viver mais de cem anos. “Ainda vou descobrir muita pedra enterrada por aqui. Pode cavar que tudo isso aqui embaixo é feito de opala”, diz. “Vou viver até os 108 anos para poder encontrar a opala com mais de cem quilos”, assegura. E encerra nosso encontro com a frase característica de um velho explorador. “O dia do garimpeiro é amanhã. Se ele não achar a pedra hoje, amanhã ele acha”. Voltamos para casa com a mensagem na cabeça e a certeza de ter registrado mais um pedaço deste Brasil desconhecido.
Até o último quilate
Por Jorge Ghiaroni, produtor
Desde criança coleciono pedras. Daquelas bem baratinhas, é verdade. Mas ao meu ver elas são preciosas. Penso como o lapidário que conhecemos nesta reportagem, o homem que faz uma pedra valer até mil vezes mais. Walter Ferreira acredita que todas são valiosas. Pedras simples, isso mesmo. Elas representam uma nova oportunidade de trabalho. A chance de se esculpir o bruto na busca por uma forma deslumbrante, algo atraente aos olhos do público. Talvez as pedras de Walter tenham algo em comum com as minhas pautas. Nesta reportagem, tive a chance de garimpar, revirar e desencavar belas histórias pelo Brasil. Depois, esperei ansiosamente pela lapidação da joia. Sim, o testemunho de vida de cada entrevistado pode ser encarado como uma peça única, por que não? Uma joia. Foi assim que nossa equipe encarou o desafio. Tentamos forjar um mosaico, uma bela peça, ou melhor, um Globo Repórter com todas as preciosidades encontradas no caminho.
Nesta empreitada, tivemos um tempinho para um café com o descobridor da pedra mais valiosa do país. Dividimos uma pinguinha com o garimpeiro que tirou mais diamantes no mundo. Conhecemos, à certa distância, a radiação que faz uma pedra mudar de cor e a igreja que atraiu ametistas em rota certeira para China. Na cidade que brilha, como bem definiu nossa editora-chefe, Sílvia Sayao, conversamos com moradores que escutam os barulhos do garimpo dentro de suas casas. Entre marteladas e explosões, quantas conversas raríssimas pudemos encontrar graças ao nosso trabalho! Todas já estão por aqui, cravadas em nossa memória.
O dono de mina Heitor Barbosa, que colocou o estado da Paraíba no mapa das pedras mais valiosas do mundo, rodou o país com uma fortuna incalculável em duas sacolas plásticas. Uma aventura inesquecível. A riqueza que escapou por entre os dedos. O ex-garimpeiro Júlio Bento, nosso estrategista, revelou antigos truques. Ele guardava diamantes em panelas e garrafas vazias. Era a riqueza em lugares acima de qualquer suspeita. Cavamos muito com o rei dos diamantes. Mesmo assim, não conseguimos peneirar a idade do homem. Tudo bem. Para que serviria a contagem dos anos?
Pudemos colocar na vitrine, digo, em nosso programa, o que existia de mais precioso na história destes dois exemplos. Depois dos 70, eles seguem cheios de planos e sonham encontrar pedras ainda mais belas. Talvez seja essa a explicação para tamanha vitalidade – algo que impressionou nossa equipe de reportagem. Eles querem muito mais do subsolo e das galerias aqui de cima também. Neste último garimpo, tive a chance de conhecer seu Júlio e seu Heitor. Hoje, sem qualquer cascalho de dúvida, já posso afirmar: o caminho desses dois brasileiros será surpreendente até o último quilate desta vida.
Em vídeo, eles contam como foram os 15 dias de gravações. Beatriz Castro visita o acampamento do garimpeiro José de Souza, o Deda. E o padre Gilberto Giacomoni conta como a pedra que sustenta o altar da Igreja de São Gabriel, em Ametista do Sul, quase foi parar na China.
Aqui no site, você ainda confere os depoimentos dos produtores João Carvalho e Jorge Ghiaroni sobre a busca das histórias que você viu na reportagem.
"O dia do garimpeiro é amanhã" Por João Carvalho, produtor
A cada reportagem que a equipe do Globo Repórter faz pelos quatro cantos do Brasil fica mais claro o quanto o país é rico, em todos os sentidos. Quando recebemos a pauta sobre pedras preciosas, nos perguntamos o que teríamos realmente em termos de imagens. Na verdade, nossa busca pela melhor imagem é uma preocupação constante. Então, pegamos a estrada para cumprir a primeira parte da jornada de dez dias, entre as turmalinas da Paraíba e as opalas do Piauí. Eu estava fazendo a produção. Leonardo Araújo e Givaldo Soares fazem o apoio técnico e captação de áudio. San Costa é o repórter cinematográfico e Beatriz Castro, a repórter. Tome estrada!
Saímos do Recife em dois carros, com quilos e quilos de equipamento e a vontade de mostrar uma boa história. Nossa conquista seria chegar às cidades paraibanas de São José da Batalha e Junco do Ceridó, onde encontraríamos nossos personagens e nossas pedras tão raras: as turmalinas. São pequenos pontos, às vezes azuis, outras vezes verdes, consideradas hoje as pedras mais raras e caras do mundo. Em São José da Batalha conhecemos a história do garimpeiro José de Souza, o Deda. Um dia ele já teve carros, casas, dinheiro. Perdeu tudo, mas não deixa claro como isso aconteceu. “Investi em novas minas, atrás da turmalina. Mas ainda não tive retorno”, afirma. Acompanhamos seu Deda em um dos dias de busca pela pedra. Em um casebre montado na entrada da caverna ele se prepara diariamente para enfrentar os riscos, a poeira, o pó atrás do sonho.
Na mina da família Barbosa conhecemos de perto o risco dos garimpeiros. Eles descem por buracos com mais de 60, 80 metros, atrás do tesouro escondido. Nossa equipe foi atrás. Beatriz, San e Léo desceram para uma dessas minas e registraram lá embaixo o trabalho dos garimpeiros. Eu e Geraldo ficamos na parte de cima, para cuidar do gerador e dos outros equipamentos de apoio. Durante a gravação tomamos um susto: uma das paredes da mina desabou, mas nada sofremos além do susto. E que susto.
Deixamos a Paraíba para trás e embarcamos de avião para o Piauí. Três horas e uma escala em Fortaleza depois, chegamos ao aeroporto de Teresina. Com aquele calor característico da cidade, pegamos nossa caminhonete para cair na estrada de novo. Mais duas horas e meia até Pedro II, a cidade das opalas.
Diferente do que encontramos nas cidades da Paraíba, Pedro II está crescendo e ficando rica por conta da exploração organizada da opala, uma pedra que pode ser encontrada de maneiras diferentes: branca, multicolorida ou azulada, conhecida como opala negra. São as mais raras. Passamos dias inteiros gravando, conhecendo pessoas e novas minas. Uma cooperativa na cidade organizou o trabalho dos garimpeiros e já está dando bons frutos. Hoje Pedro II tem 30 joalherias e cerca de 200 lapidários.
Conhecemos alguns deles, como o empresário Juscelino Araújo Souza. Filho da cidade, ele começou a ganhar a vida como camelô, vendendo bugigangas. Com o tempo, começou a trabalhar em lapidários, estudou, se formou e hoje é dono de uma loja.
Gravamos também com o folclórico Bené de Tucum, outro grande negociante de pedras. “Um dia tive um sonho de trabalhar como tucum, esse coquinho aqui”, mostra. “Foi depois desse sonho que batalhei, garimpei, juntei o tucum com as opalas e hoje estou aqui. Já viajei o mundo inteiro”, lembra.
Nosso encontro (talvez) mais marcante no Piauí foi com o ex-garimpeiro Raimundo Galvão, o Mundote. Dono de um sítio, onde fica uma espécie de museu, ele também é proprietário de minas. Foi Mundote quem descobriu a maior pedra de opala já vista, com mais de quatro quilos, hoje exposta no Museu de História Natural de Londres. Entre uma história e outra, demonstra disposição para viver mais de cem anos. “Ainda vou descobrir muita pedra enterrada por aqui. Pode cavar que tudo isso aqui embaixo é feito de opala”, diz. “Vou viver até os 108 anos para poder encontrar a opala com mais de cem quilos”, assegura. E encerra nosso encontro com a frase característica de um velho explorador. “O dia do garimpeiro é amanhã. Se ele não achar a pedra hoje, amanhã ele acha”. Voltamos para casa com a mensagem na cabeça e a certeza de ter registrado mais um pedaço deste Brasil desconhecido.
Até o último quilate
Por Jorge Ghiaroni, produtor
Desde criança coleciono pedras. Daquelas bem baratinhas, é verdade. Mas ao meu ver elas são preciosas. Penso como o lapidário que conhecemos nesta reportagem, o homem que faz uma pedra valer até mil vezes mais. Walter Ferreira acredita que todas são valiosas. Pedras simples, isso mesmo. Elas representam uma nova oportunidade de trabalho. A chance de se esculpir o bruto na busca por uma forma deslumbrante, algo atraente aos olhos do público. Talvez as pedras de Walter tenham algo em comum com as minhas pautas. Nesta reportagem, tive a chance de garimpar, revirar e desencavar belas histórias pelo Brasil. Depois, esperei ansiosamente pela lapidação da joia. Sim, o testemunho de vida de cada entrevistado pode ser encarado como uma peça única, por que não? Uma joia. Foi assim que nossa equipe encarou o desafio. Tentamos forjar um mosaico, uma bela peça, ou melhor, um Globo Repórter com todas as preciosidades encontradas no caminho.
Nesta empreitada, tivemos um tempinho para um café com o descobridor da pedra mais valiosa do país. Dividimos uma pinguinha com o garimpeiro que tirou mais diamantes no mundo. Conhecemos, à certa distância, a radiação que faz uma pedra mudar de cor e a igreja que atraiu ametistas em rota certeira para China. Na cidade que brilha, como bem definiu nossa editora-chefe, Sílvia Sayao, conversamos com moradores que escutam os barulhos do garimpo dentro de suas casas. Entre marteladas e explosões, quantas conversas raríssimas pudemos encontrar graças ao nosso trabalho! Todas já estão por aqui, cravadas em nossa memória.
O dono de mina Heitor Barbosa, que colocou o estado da Paraíba no mapa das pedras mais valiosas do mundo, rodou o país com uma fortuna incalculável em duas sacolas plásticas. Uma aventura inesquecível. A riqueza que escapou por entre os dedos. O ex-garimpeiro Júlio Bento, nosso estrategista, revelou antigos truques. Ele guardava diamantes em panelas e garrafas vazias. Era a riqueza em lugares acima de qualquer suspeita. Cavamos muito com o rei dos diamantes. Mesmo assim, não conseguimos peneirar a idade do homem. Tudo bem. Para que serviria a contagem dos anos?
Pudemos colocar na vitrine, digo, em nosso programa, o que existia de mais precioso na história destes dois exemplos. Depois dos 70, eles seguem cheios de planos e sonham encontrar pedras ainda mais belas. Talvez seja essa a explicação para tamanha vitalidade – algo que impressionou nossa equipe de reportagem. Eles querem muito mais do subsolo e das galerias aqui de cima também. Neste último garimpo, tive a chance de conhecer seu Júlio e seu Heitor. Hoje, sem qualquer cascalho de dúvida, já posso afirmar: o caminho desses dois brasileiros será surpreendente até o último quilate desta vida.
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