Empresas brasileiras começam a explorar minerais esquisitos. O problema é que os riscos ambientais são tão grandes quanto as oportunidades econômicas
Kurt Menchen, da Largo, e o vanádio. A empresa vai explorar o mineral no agreste baiano
Cada vez mais caros
O
preço desses minerais explodiu no último ano. Em janeiro de 2009, o
quilo do neodímio (usado para produzir ímãs, lentes e um tipo de laser)
estava cotado em US$ 15. Atingiu US$ 200 no início de 2010. Culpa da
China, disparado o maior produtor de terras raras do mundo. Os chineses
detêm 97% das vendas, estimadas em US$ 5 bilhões anuais (135 mil
toneladas por ano, uma demanda que deve chegar a 180 mil em 2012).
Exercem esse domínio desde os anos 90, quando entraram no mercado com
preços imbatíveis. Derrubaram as cifras da tabela periódica da mesma
maneira que desmontaram mercados de tecidos, calçados e bugigangas. As cotações subiram no fim de 2010, no momento em que a China impôs cotas de exportação desses produtos. Alegou que restrições ambientais na extração dos minérios tornaram a produção mais cara e escassa. Mas há outras interpretações. Alguns analistas afirmam que os chineses querem dizer adeus à condição de despachantes de commodities. Em vez de vender o neodímio em estado bruto, pretendem fabricar ímãs e vender os motores prontos. Eles têm adotado estratégia semelhante para agregar valor em outros ramos da indústria.
No Brasil, além do aumento do preço, a discussão sobre terras raras ganhou uma motivação adicional no fim de 2010. Em novembro, a U.S. Geological Survey, a agência americana de pesquisas geológicas, divulgou um artigo indicando que as maiores reservas do mundo estão em cidades brasileiras como Araxá (MG) e Catalão (GO). As estimativas não são consensuais. Tomaram como base estudos feitos por um técnico brasileiro, apresentados em um congresso em 1996. (O país já explorou esses produtos, mas os abandonou, juntamente com os Estados Unidos, após a investida chinesa.)
Nos últimos meses, o governo brasileiro abraçou a causa das terras raras – e o combate ao monopólio chinês. O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, tentou empurrar a Vale para esse campo. No mês passado, o presidente da mineradora, Murilo Ferreira, afirmou que entraria no ramo e que havia pedido estudos para técnicos da companhia. Mas a equação não é tão simples. O preço dessas commodities está nas alturas. Mas todos no mercado esperam que baixe. Só não se sabe em qual andar o valor vai se estabilizar.
Risco ambiental
A
exploração desse tipo de minério é outro complicador. O nome terras
raras é um equívoco. Esses elementos são tão abundantes na crosta
terrestre como o níquel, o cobre, o zinco ou o chumbo. A dupla túlio e
lutécio é 200 vezes mais comum que o ouro. A raridade reside na
concentração com que ocorrem na natureza, extremamente baixa. Os 17
elementos são de difícil separação da terra e outros detritos. Há mais.
Esses metais tendem a se agrupar em rochas, junto a materiais
radioativos. Do ponto de vista de segurança (inclusive ambiental), a
exploração de terras raras é uma operação de risco. Considerações
semelhantes devem ser aplicadas à produção de minerais na Bahia. O tálio
também é radioativo. Os rejeitos do vanádio, como os de qualquer
minério, têm de ser permanentemente controlados. Todas essas minas
precisam ainda planejar como as atividades de exploração serão
encerradas. Soa surpreendente, mas o rompimento de barragens é uma consequência não tão rara da exploração inadequada de produtos extraídos da natureza. Elas são construídas para conter rejeitos, e nem sempre suportam aumentos repentinos de demanda. Nesses casos, o ritmo de extração cresce e os depósitos com detritos atingem níveis além dos previstos. Como falta fiscalização, sobram acidentes. Em 2007, uma barreira com restos de caulim, argila usada no branqueamento de papel, desabou perto de Barcarena, a 123 quilômetros de Belém (PA). Cerca de 70 milhões de litros do material foram despejados em um córrego. O resíduo não traz riscos para o ser humano, mas matou peixes. A Imerys, empresa responsável pelo empreendimento, foi multada em R$ 4 milhões.
O outro lado
Ocorre
que o esforço de extração de produtos pode valer a pena. E isso se
aplica aos novos minerais. É nesse sentido que aponta um estudo da
Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), de
Santa Catarina. Os pesquisadores analisaram o neodímio, usado na
fabricação dos superímãs. A operação comercial foi classificada como
“viável, competitiva e estratégica”. Atingiria um custo de US$ 87 o
quilo, sendo que o metal não deve ser vendido por menos de US$ 100. Mas
há uma ressalva, segundo Carlos Alberto Schneider, superintendente da
Certi: “É importante que o país domine toda a cadeia de produção. Temos
de extrair o material, separá-lo, formar a liga, construir os ímãs e os
produtos onde serão utilizados. Esse seria um bom negócio”. Um número crescente de empresas segue essa rota. A Molycorp Minerals vai reativar a maior mina de terras raras dos Estados Unidos, em Mountain Pass, na Califórnia. A Ucore Rare Metals, empresa do Canadá, procura pelos 17 elementos no Alasca. A australiana Lynas Corporation engrossa a fila. Todas essas companhias estão em alerta após o choque de preços provocado pela China. Aliás, os chineses foram mais longe. Eles não subiram somente as cifras. Usaram as terras raras como instrumento de pressão numa escaramuça com o Japão. Cortaram o fornecimento dos metais depois que um barco de pesca chinês foi apreendido por autoridades japonesas em um trecho do mar disputado pelos dois países. Ter reservas de terras raras pode nem ser uma vantagem excepcional, mas ficar sem elas parece representar um risco maior.
A
mina de vanádio em Maracás, no sul da Bahia. A operação comercial vai
começar em 2016 e ocupará uma área equivalente a 12 campos de futebol
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