sábado, 10 de outubro de 2015

O Ouro sumiu, mas a empresa canadense não enganou o garimpeiro

O Ouro sumiu, mas a empresa canadense não enganou o garimpeiro

A mineralogia do ouro

Quando uma empresa pesquisa no Tapajós e desista, ela tem que entregar o relatório das pesquisas para o dono do garimpo conforme clausula contratual; baseada neste relatório, o dono procura um geólogo em Itaituba e baixa um poço na direção do bamburro (teor alto) detectado nas sondagens da empresa, e as vezes, o ouro não aparece na caixa. Nada, mesmo onde o teor é altíssimo. A empresa não enganou o garimpeiro e nem o geólogo errou o cálculo, o ouro foi analisado e esta lá, no local exato citado no relatório, mas dentro da pirita como vimos num artigo anterior, ou em outros minerais que não conseguem ser separados nas caixas garimpeiras; a análise totaliza todo o ouro contido na amostra, livre ou preso, em qualquer mineral; iremos abaixo apresentar as diversas formas com que ele aparece na natureza e as formas são mais complexas do que se imagina:

          O ouro é um elemento pouco abundante na natureza, existindo na crosta terrestre, numa proporção de 0,0035g|t, ou seja, 3,5 partes por bilhão. Assemelha-se, assim, em abundância a elementos químicos como ósmio, irídio, ródio, telúrio e platina.
          A essa pequena abundância corresponde também a um pequeno número de minerais. De fato, até fevereiro do ano de 1983 eram conhecidos apenas 17 minerais de ouro, número bastante inferior ao apresentado por outros metais, como cobre, manganês, berílio, chumbo cobalto, ferro, urânio, vanádio e zinco, todos com várias dezenas e centenas de minerais como no caso do ferro.
          Esse fato tem uma explicação simples: o ouro dificilmente se combina com outros elementos. Se observarmos a composição química de seus minerais, veremos que além do ouro nativo, mais conhecido, há praticamente só teluretos (10), conhecendo-se tão somente um seleneto e um sulfeto (os outros quatro minerais são ligas naturais). Além dessa pequena variação em termos de composição química, convém lembrar que o mais comum dos minerais de ouro é exatamente o ouro não combinado (ouro nativo).
          Todavia apesar de sua abundância relativamente pequena, o ouro tem uma ampla distribuição geográfica, sendo encontrado em inúmeros locais, ainda que em pequenas concentrações. O ouro nativo, o principal dos minerais desse metal, é inclusive considerado um mineral comum dentro dos critérios de Dietrich, o mesmo acontecendo com a silvanita, um dos seus teluretos.
          Na água do mar, o teor do ouro é bastante variável. Conforme a região considerada, vai de 0,001 ppb a 44 ppb, com médias em torno de 0,011 partes por bilhão (Butterman). Segundo Leprevost, existiriam no mar, 15 a 20t de ouro, não recuperáveis no atual estágio de desenvolvimento tecnológico.

MINERAIS DO OURO

Analisando o conjunto dos minerais do ouro do ponto de vista de suas propriedades físicas e químicas, notam-se vários pontos comuns às diversas espécies, quais seja brilho metálico, baixa dureza (sempre inferior a 3,0), cor cinza a amarela, às vezes branca, alto peso específico (em geral em torno de 8,0 ou 9,0), maleabilidade, friabilidade, raridade (exceto ouro nativo e silvanita) e composição química pouco variável.
          São os seguintes os minerais de ouro conhecidos:
          Ouro nativo – Au – é um mineral cúbico, raramente encontrado na forma de cristais. Quando assim aparece, forma geralmente octaedros, menos frequentemente rombododecaedros e raramente cubos. Seus cristais costumam mostrar faces encurvadas e foscas, além de vértices e arestas arredondadas. O mais comum é apresentar-se granular (pepita), dendritico, em fios folas, escamas, palhetas, pó, finas películas, etc. Às dimensões das pepitas variam de poucos milímetros até massas descomunais, como as encontradas em Vitória (Austrália), no século retrasado, que pesaram 59,670kg uma, e outra 68,080kg, outra ou outras de até 153kg encontradas no chile (Leprevost, 1975). A maior pepita brasileira foi encontrada em 1983, em Serra Pelada, e pesou mais de 62kg.
          O ouro nativo tem baixa dureza (2,5 a 3,0) e peso específico muito alto (19,3), inferior apenas de alguns poucos minerais como platina, platinrídio, irídio e ósmio. Tem cor amarela típica, mas, quando pulverizado, pode ser preto, purpura ou vermelho. É extremamente dúctil e maleável fio de 2,000 metros com apenas 1g de metal e lâminas de 0,001mm, tão delgadas a ponto de permitirem  a passagem da luz com determinados comprimentos de onda. Seu traço é amarelo; o brilho, metálico. Não tem clivagem.
          Quimicamente caracteriza-se pela já citada baixa reatividade, o que o torna sobremaneira apreciado para fins gemológicos, já que permanece sempre inalterado, ao contrário da prata, facilmente oxidável. O ouro nativo costuma conter 10% ou mais de outros metais, como paládio, prata ou ródio. O ouro natural mais puro que se conhece é o proveniente de Kalgoorlie (Austália), que possui 99,91% Au e 0,9% Ag.
         O ouro nativo funde facilmente ao maçarico, dando um pequeno botão de ouro.
          Macroscopicamente diferem de sulfetos amarelos (pirita, marcassita, pirrotita) por sua maleabilidade, alta densidade e baixa dureza.
          Ocorre principalmente em filões de quartzo hidrotermais e, em segundo lugar, nos aluviões. Os filões de quartzo são genericamente ligados a intrusões ácidas e neles o ouro nativo aparece com sulfetos (pirita, arsenopirita, tetraedrita, calcopirita; menos frequentemente galena e esfalerita), teluretos de ouro e prata, principalmente. O ouro secundário forma-se na zona de oxidação de depósitos e nos quais o metal está misturado mecanicamente, como é o caso principalmente da pirita, associando-se ai a limonita, azurita, barita, crisocolo, etc. Os processos de oxidação promovem a liberação do ouro que assim se concentra.
          A remoção do ouro de seus minérios é feita usualmente por amalgamação: o ouro de sulfetos, porém exige também cianetação e cloretação ou flotação.
          Na maioria dos filões, o ouro tão finamente dividido e tão uniformemente distribuído que se torna invisível a olho nu.
          Nas areias auríferas, é comum a presença de zircão, aparecendo também cianita, granada, monazita, diamante, topázio, corindon e platina nativa. O ouro e a prata formam uma série isomórfica contínua. O membro intermediário da série é uma variedade com geralmente 30-40% de prata, que recebe o nome deeletro.
          Silvanita (Au, Ag) Te2 – é um telureto de ouro e prata com 25% ou mais de ouro, 11 a 13% de prata e 56 a 61% de telúrio. É um mineral monoclínico, formando cristais pequenos, tabulados, estriados longitudinalmente. Pode ser também laminar, granular ou dentritica. Tem cor cinza-aço a prateada, brilho metálico, dureza de 1,5 a 2,0, peso específico 8,0 a 8,3 e clivagem (010) perfeita. É maleável e friável. Quando pulverizada e misturada a ácido sulfúrico quente e concentrado, dá uma solução de cor violeta-avermelhada. É encontrado usualmente em veios formados a baixas temperaturas, associada a ouro nativo, teluretos de ouro e prata (mais raramente de outros metais), pirita, quartzo, calcopirita, fluorita e outros minerais. Como o ouro nativo, é importante fonte de ouro.
          Calaverita Au Te2 – é um telureto de ouro com 43,5% deste metal. É monoclínica, pseudo-ortorróbica, sendo cristalograficamente completa, com cristais difíceis de orientar a normalmente com profundas estrias ao longo do eixo horizontal, na extremidade do qual aparecem numerosas faces. Muitas vezes é maciça ou granular.
A cavalerita tem cor cinza-esverdeada, alto peso específico (9,1 a 9,4), dureza 2,5, brilho metálico e fratura irregular, estando ausente qualquer clivagem. É muito friável. Ao maçarico dá uma chama azul e funde dando um glóbulo de ouro no carvão, o que se constitui um segundo critério de identificação. (A silvanita também dá esse glóbulo, mas com cor mais branca, por conter mais prata). A cavalerita é encontrada em filões formados a baixa temperatura junta com silvanita, telúrio, quartzo e outros minerais. É rara mas, em alguns locais da Austrália e EUA (Colorado), é importante fonte de ouro e telúrio.
          Krennerita – Au Te2 – telureto de ouro ortorrômbico, formando prismas curtos ou agregados granulados. Tem cor prateada ou amarelo-clara. É rara e ocorre junto com a calaverita, sendo, como esta, usada para obtenção do ouro (contém 40% Au).
          Naguaguita – Pb5 (tTe, sb 4S5-8 – a naguaguita é um sulfotelureto de chumbo e ouro, com até 7% de antimônio. Tem 6 a 13% de ouro. É ortorrômbica, formando cristais foliados (010), geralmente pequenas lâminas entrecruzadas ou agregados disseminados. Tem cor cinza-escuro, brilho metálico, traço preto-acinzentado, dureza 1,0 a 1,5, peso específico 6,85 a 7,20. É opaca e flexível. Costuma ocorrer em veios com a silvanita e calaverita, sendo também um mineral raro.
          Petzita – Ao3AuTe2 – é outro dos teluretos de ouro e prata. É um mineral cúbico,  geralmente maciço ou granular. Tem cor cinza-aço a preta, alterável por oxidação superficial, e brilho metálico. A dureza é 2,5 a 3,0 e o peso 8,7 a 9,02. É levemente sectil e friável. É usada para extração de três metais que compõem: o ouro, a prata e o telúrio.
Só o ouro nativo e livre é recuperado nas caixas dos garimpeiros
O resto fica nos rejeitos e parte deste ouro que sobrou poderá ser separado com a cianetação;
                                                                                

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