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quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Placeres diamantíferos do Rio Itiquira, MT, Brasil Diamond placers of the Itiquira River, MT, Brazil
Placeres diamantíferos do Rio Itiquira, MT, Brasil
Diamond placers of the Itiquira River, MT, Brazil
Itiquira situa-se a SE de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso e está inserida no contexto geológico da porção NW da Bacia do Paraná,
que do mais antigo para o mais jovem são coberturas cretáceas (Formação Marília), terciárias (Formação Cachoeirinha) e
quaternárias (Formação Pantanal). Os cascalhos inconsolidados desta última unidade são hospedeiros de diamantes, que são
explorados às margens do Rio Itiquira nos garimpos conhecidos por Cambaúva, Cavoqueiro, Bode e fazendas Formosa e Velha. Os
primeiros registros sobre a extração de diamantes dos cascalhos diamantíferos remontam ao século XX, ano de 1930 e ocorreram no
garimpo do Cavoqueiro, situado na margem direita do rio a aproximadamente 1 km a jusante da cidade. A região experimentou alta
atividade garimpeira e descoberta de novas frentes até o ano de 1940. Desde então os garimpos entraram em declínio e a
descoberta de novas frentes também. Foram realizados mapeamentos geológicos das frentes abandonadas que permitiram o
empilhamento estratigráfico dos placeres, aos quais adicionamos informações sobre a idade absoluta e o estudo de química mineral
em concentrados. A associação das informações geológicas e de geocronologia evidencia a existência de três eventos deposicionais
aqui informalmente denominados de T0 a T2, distribuídos ao longo do canal, planícies e terraços laterais mais antigos. Utilizamos a
técnica de LOE (Luminescência Opticamente Estimulada) para cinco amostras coletadas desde o canal até o terraço mais elevado. A
idade mais jovem, de 660 ± 90 anos, foi obtida na amostra EIT 13 e a idade mais antiga, de 8400 ± 858 anos, na amostra EIT 05,
ambas em terraço T1. O conjunto de idades mostra que os terraços diamantíferos foram depositados a partir do Holoceno e
retrabalhados até 660 ± 90 anos. Amostras coletadas para estudo dos minerais pesados foram analisadas em lupa e microssonda
eletrônica. Os minerais identificados foram as granadas G0, G3, G4 e G4D; o rutilo; a ilmenita; a safira; o zircão; e, óxidos secundários
de ferro. A maioria dos minerais identificados não mostra associação com fontes primárias férteis em diamante, com exceção da
granada G4D.
Palavras-chave: Itiquira, diamante, placeres, armadilhas, idade, minerais indicadores
Abstract
Itiquira is situated SE of Cuiabá, in the Mato Grosso State, and is inserted in the geological context of NW portion of the Paraná
Basin, which from oldest to youngest includes the Cretaceous Marilia Formation, the Tertiary Cachoeirinha Formation and the
Quaternary Pantanal Formation. Unconsolidated gravels from the latter unit host diamonds that are mined on the rivers known for
rudimentary mining in Itiquira: Cambaúva, Cavoqueiro, Bode and Formosa and Velha farms. First records on the extraction of
diamonds from these gravels date to the twentieth century, 1930, and took place in the artisanal mining Cavoqueiro, located on the
right bank of the river, about 1 km downstream of the city. The region experienced high mining activity and the discovery of new
mining areas by the year of 1940. Since then, the artisanal mining and the discovery of new fronts went into decline. We carried out
geological mapping of abandoned fronts allowing the stratigraphic stacking of the placers, determination of their absolute age and
study of the chemistry of mineral concentrates. The combination of geological and geochronological studies demonstrate the
existence of three depositional events here informally termed T0 to T2, distributed along the channel, plains and older terraces on
both sides. We used the LOE (Optically Stimulated Luminescence) dating technique for five samples collected from the channel to
the highest terrace. The youngest age of 660 ± 90 years, was obtained in the sample EIT 13 and the oldest with 8400 ± 858 years in
the sample EIT 05, both samples at T1 terrace. The ages show that part of these diamondiferous flats were deposited from the
Holocene, and reworked until 660 ± 90 years. Heavy mineral samples collected for the study were examined with magnifying glass
and analyzed by electron microprobe. The minerals identified were the garnets G0, G3, G4 and G4D, rutile, ilmenite, sapphire, zircon,
and secondary iron oxides. Most of the identified mineral shows no close association with fertile diamond primary sources, with the
exception of the garnet G4D.
Keywords: Itiquira, diamond, placers, traps, age, mineral indicator
boletim paranaense
de geociências
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1. Introdução
O estudo de depósitos de placeres no Brasil foi
intensificado nas últimas décadas por apresentar grande
importância econômica, como hospedeiros de recursos
minerais com destaque para o diamante. Em Mato Grosso,
potencialmente existem placeres diamantíferos extensos e
espessos, decorrentes do condicionamento climático
favorável ao intemperismo e como parte da evolução da
Bacia do Pantanal. Rios como o Paraguai, Cuiabá, das
Mortes, Itiquira, entre outros, ao longo de ambas as
margens comportam placeres diamantíferos. Nestas
últimas décadas, este potencial posiciona Mato Grosso
entre os principais estados produtores de diamante. Por
décadas a história de Itiquira esteve intimamente
relacionada à descoberta e garimpagem de depósitos
diamantíferos ao longo do rio Itiquira e em várias frentes
(Marques 2004). Dos inúmeros vestígios de garimpos
existentes, cinco foram estudados: Cambaúva, Cavoqueiro,
Bode e fazendas Formosa e Velha. Neste estudo foi possível
realizar mapeamento dos pacotes mineralizados em
diamante, obtendo-se as características litológicas e
empilhamento estratigráfico. Ademais, foram obtidas cinco
idades absolutas pelo método de quartzo luminescência em
pacotes areno-cascalhosos posicionados em distintas cotas
topográficas no vale, assim como estudo preliminar
sobre a existência de minerais pesados indicadores de
fontes primárias diamantíferas kimberlítica ou outras.
2. Localização e vias de acesso
As frentes de garimpos de diamante pesquisadas
situam-se na porção extremo SE do Estado de Mato Grosso,
no Município de Itiquira, distribuídas em uma área de cerca
de 100 km2, na fronteira entre os estados de Mato Grosso
e Mato Grosso do Sul (Figura 1).
De Cuiabá a Itiquira o acesso é feito pela BR 163. Esta
BR interliga Cuiabá a Campo Grande e passa por
Rondonópolis. A partir desta cidade até o trevo de acesso a
Itiquira, no entroncamento com a MT 370 são71 km. Deste
trevo até Itiquira, à distância é de 76 km e o percurso total
a partir de Cuiabá soma 362 km. Os acessos às diferentes
frentes de garimpos foram realizados através de estradas
vicinais (Figura 1). Estas estradas, em grande parte, foram
construídas pelos garimpeiros e hoje constituem as
principais vias que interligam a cidade com fazendas e
chácaras em Itiquira.
3. Materiais e métodos
O mapeamento geológico de pontos e das frentes de
garimpos de diamantes (Figura 2) foi na escala entre 1:100
a 1:1.000. Foram descritas as características litológicas,
bem como a sequência cronológica preliminar dos eventos
deposicionais desde o canal atual até os terraços laterais
mais elevados e, em princípio, os mais antigos. A
compilação dos variados pontos permitiu a elaboração de
dois perfis aproximadamente perpendiculares ao canal do
Rio Itiquira (Figura 2), que foram plotados sobre a base
cartográfica Folha Itiquira, SE. 21-X-D-III, DSG, 1976.
Figura 1 – Mapa de localização e acessos ao município de Itiquira e garimpos estudados.
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Estudos de fácies e de armadilhas (traps), de acordo com
Weska et al. (1984) e Weska (1996a), suportaram a coleta
de amostras de minerais pesados, Figura 3A.
O método utilizado para a datação foi LOELuminescência
Opticamente Estimulada, que se baseia na
interação da radiação ionizante (radiação γ, partícula β e
partícula α) com o cristal natural. Quando a radiação incide
sobre o cristal, ocorre a ionização do mesmo, com a criação
de pares de cargas positivas e negativas no seu interior
(Tatumi et al. 2008). As idades foram obtidas no
Laboratório de Vidros e Datação da FATEC, Faculdade de
Tecnologia de São Paulo. As amostras foram coletadas em
poços de 0,90 m de diâmetro e de profundidade, com
ambiente livre de ações antrópicas, de animais
(zoorturbações) ou de plantas (fitoturbações) (Sallun et al.
2007). Os amostradores foram tubos de PVC, com 0,40 cm
de diâmetro e tampões com anel de borracha para vedar as
extremidades (Figura 3B). Em laboratório estas amostras,
nas frações 0,88 a 0,18 mm, foram submetidas à lavagem
com H2O2, HCl e HF, intercalados por enxágues de água
destilada, para eliminar vestígios de matéria orgânica,
carbonato e ionização do quartzo proveniente das partícula
α que atuam na superfície do grão. Um ímã foi utilizado
para separar minerais magnéticos da amostra, que em
seguida foram imersos em politungstato de sódio para
separar a fração de minerais pesados. Etapas subsequentes
permitiram a determinação das doses acumuladas natural e
anual. A dose acumulada natural foi obtida através do
equipamento OSL Automated Systems, modelo 1100-series,
Daybreak Nuclear Instruments Inc. Esta dose resulta de
medidas das intensidades de LOEnat e as LOEres +
irradiação, com incidência de luz azul e detecção no UV
pelo método de regeneração total. A partir daí, é feita a
curva de calibração onde são inseridos os valores de
LOEnat. O ajuste dos pontos experimentais de intensidade
de LOE no valor de pico, quando comparados com valores
de doses conhecidas nos fornecem o valor da dose
acumulada em Gy. A dose acumulada anual foi medida por
estação espectroscópica portátil Canberra Inspector com
detector: NaI – Tl. As amostras em recipiente plástico são
colocadas em um espectrômetro para medidas durante 24
h. Este equipamento faz uma varredura de energia e
fornece uma relação de Contagem versus Energia. A partir
desta relação, são extraídos os valores de intensidade de
contagem referentes à energia dos elementos U (Urânio),
Th (Tório), K (Potássio). A idade em anos resulta da
equação: Dose Acumulada Natural (Gy)/Dose Anual
(Gy/ano).
A prospecção de minerais pesados indicadores foi
realizada nos cascalhos diamantíferos que ocorrem no rio e
alguns afluentes, desde o canal até os terraços. O volume
por amostra foi de 50 litros. As amostras em campo foram
separadas granulometricamente em peneiras (Figura 3C e
D) utilizadas em garimpos de diamantes, denominadas
popularmente de refina 1,6 mm; fina 2 mm; média 3,6 mm;
grossa 6 mm e sururuca 20 mm. O resíduo final abaixo de
1,6 mm foi concentrado em bateia. Em laboratório os
concentrados foram novamente separados nas frações
abaixo de 0,125 mm, entre 0,125 a 0,5 mm e acima de 0,5
mm. A fração entre 0,125 a 0,5 mm permitiu a qualificação
dos minerais por identificação em lupa binocular. Entre 0,5
mm a 1 mm, os grãos destes pesados foram destinados à
confecção de seções para o estudo da química mineral.
Estas seções foram confeccionadas no Laboratório de
Laminação da Universidade de Brasília (UNB) e analisadas
no Laboratório de Microssonda Eletrônica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O equipamento
utilizado foi o Cameca Camebax BX50.
4. Contexto geológico regional
O Rio Itiquira drena a porção NW da Bacia do Paraná e
deságua na Bacia do Pantanal. Os tipos litológicos que
compõem o bedrock dos placeres diamantíferos deste rio,
do mais antigo para o mais jovem, de acordo com
Vasconcelos (2007), são: os grupos Guatá (Formação
Palermo), Passa Dois (Formação Irati) e Bauru (Formação
Marília). A Formação Cachoeirinha cobre as unidades
anteriores e é coberta por Aluviões Atuais.
Em Mato Grosso as Aluviões Atuais constituem a
Formação Pantanal, conforme Oliveira & Leonardos (1943),
com depósitos aluvionares constituídos por vasas, areias e
argilas de deposição recente que ocorrem no Pantanal
mato-grossense. Almeida (1959) discorreu sobre esta
unidade como depositada em uma das maiores planícies no
interior do continente, com entulhamento influenciado
pela orogenia Andina e o ambiente deposicional fluvial
e/ou flúvio-lacustre.
Falhas distensivas NE, (Figura 4) delimitam
aproximadamente a calha do Rio Itiquira. Regionalmente
estas falhas são paralelas a Falha de Poxoréo, que marca a
borda entre o graben e o horst do Rifte Rio das Mortes
(Weska et al. 1996, Weska 1996, Gibson et al. 1997) e que
foram reativadas pelo impacto da Pluma de Trindade
durante o Cretáceo.
5. Os placeres
Os placeres estudados estão distribuídos em depósitos
desde o canal até os terraços laterais (Figuras 5A a D). São
compostos por cascalhos na base e areia a argila no topo.
Os cascalhos ao longo do rio cobrem, por discordância
erosiva, rochas mais antigas do Terciário ao Permiano. Na
área estudada normalmente o bedrock dos cascalhos
diamantíferos é de tipos litológicos da Formação Marília,
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Figura 2 – Mapa de localização dos pontos estudados e os perfis AA’ e BB’.
Figura 3 – Amostragem e concentração. Em A, para minerais pesados. Em B, para datação. Em C, peneiramento de cascalho. Em D, minerais
pesados concentrados indicados pela seta.
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Grupo Bauru e, secundariamente, a Formação Palermo
(Vasconcelos, 2007). As rochas da Formação Marília são
arenitos finos a imaturos e intensamente silicificados
(silcretes), como observado no Garimpo do Cavoqueiro
(Figuras 5A e B).
Os cascalhos normalmente possuem clastos que variam
de grânulos a matacões e, eventualmente, ocorrem blocos.
Entre os clastos predominam os de quartzo arenito,
quartzo, silexito e laterita (Figuras 5C e D). Os dois
primeiros tipos apresentam esfericidade média a alta e
arredondamento bom a muito bom. Nos demais, a
esfericidade é baixa e o arredondamento é ruim. A matriz é
composta por argila a areia grossa e, por vezes, há cimento
incipiente de óxidos de ferro. O arcabouço dos cascalhos
varia de fechado (clasto suportado) a aberto (matriz
suportando clastos) e a gradação é normal e, por vezes,
inversa Walker (1975). As areias maturas a imaturas (Figura
5D) e por vezes, argilosas, cobrem os cascalhos.
Os pacotes de placeres possuem cores branca a marron
amareladas quando situados junto ao canal ou na planície
de inundação e cores vermelhas a amareladas quando
dispostos em terraços. Os primeiros são denominados
pelos garimpeiros de grupiaras e os outros de monchões.
A razão estéril/minério varia na proporção de 0:1 no
canal e 3:1 nos terraços. A partir dos perfis AA’ e BB’
(Figuras 6 e 7) é possível sugerir o empilhamento
estratigráfico dos pacotes areno-cascalhosos que, do mais
antigo para o mais jovem, são aqui denominados
informalmente de T2 a T0. Geralmente os placeres T2 são
aqueles posicionados em cotas topográficas acima de 550
m e estão distribuídos ao longo de ambas as margens do
Rio Itiquira, recobrindo parte da Formação Marília. Os
pacotes tipo T1 ocorrem ao longo das cotas topográficas
situadas entre 500 a 550 m. Os cascalhos T0 são aqueles
posicionados geograficamente junto ao rio, afluentes e
depositados em cotas topográficas abaixo de 500 m. Os
cascalhos dos terraços mais elevados apresentam seixos a
matacões com tipos litológicos similares a aqueles
encontrados no T1 e T0; porém, o tamanho dos clastos, em
média, difere. Os cascalhos tipo T2 são mais finos,
enquanto que os cascalhos tipo T0 são em média mais
grossos. Isto decorre do retrabalhamento realizado pelos
eventos deposicionais T0 sobre os pacotes mais antigos T1
e T2.
Figura 5 – Em A, escavação aberta no garimpo do Cavoqueiro. Em B, detalhe do contato discordante erosivo entre cascalho diamantífero no
topo e os silcretes da Formação Marília na base. Em C, detalhe do cascalho clasto suportado no topo em contato discordante erosivo com
silcretes. Em D, garimpo da Fazenda Velha, com destaque para a cobertura estéril branca.
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Figura 6 – Perfil Geológico AA’'. Mostra as formações Palermo e Marília sobrepostas por cascalhos dos “terraços” T2 e T1. O T0 é o canal atual
do Rio Itiquira.
Figura 7 – Perfil Geológico BB'. Mostra a distribuição dos “terraços” T2 e T1 em relação ao Rio Itiquira (T0) e no bedrock as formações Palermo
e Marília.
Armadilhas em ambiente fluvial constituem estruturas
controladoras da evolução do rio e de captura
(concentração) de recursos minerais, resultantes de
condicionamentos hidrodinâmicos, litologia do bedrock,
evoluções geomorfológica e tectônica. Na área estudada
foram identificadas armadilhas tipo bolsões, panelas, veias
e ajogo (Figuras 8 A a D), conforme descrito por Weska
(1996a). As duas primeiras armadilhas são formas erosivas
que predominam no bedrock dos garimpos do Cavoqueiro e
Fazenda Velha, todavia foram vistas também no leito do
rio, próximo ao garimpo do Bode. Veias são canais de corte
e preenchimento (cut and fill), de pequeno porte e foram
observadas nos cascalhos ou no limite entre o bedrock e o
cascalho, como por exemplo, no garimpo do Cavoqueiro. O
ajogo é um depósito de barra de pontal que ocorre no
meandro do rio (Figura 8D) e a evolução desta armadilha foi
controlada por falhas NE e NW.
6. Idades por luminescência do quartzo
No Brasil os primeiros registros sobre a aplicação deste
método de datação absoluta ocorreram a partir do ano de
1950; entretanto, a aplicação mais intensa em sedimentos
iniciou a partir de 1980 (Sallun et al. 2007). Em Mato
Grosso não há registro desta utilização.
Os resultados das datações deste trabalho são
apresentados na Tabela 1. Estes dados, associados ao
empilhamento estratigráfico do quaternário local, mais os
perfis geológicos, permitem diferenciar os eventos mais
jovens dos antigos. A idade de 720 ± 120 anos da amostra
EIT 14, corresponde aos depósitos atuais a subatuais T0;
enquanto que, a idade de 8400 ± 858 anos, da amostra EIT
05, aos depósitos mais antigos e do terraço T1, Figura 9A.
As idades obtidas nas amostras EIT 07, 11 e 13,
respectivamente, Figuras 9B e 9A, foram interpretadas
como retrabalhamento dos terraços mais antigos por
eventos erosivos mais jovens e por reativação neotectônica
da bacia.
O conjunto de idades mostra que parte dos placeres
diamantíferos do Rio Itiquira são holocênicos,
principalmente aqueles eventos relacionados à T0 e T1. Em
função do pequeno número de amostras e este trabalho
não ter amostrado todos os terraços, pressupõe-se idades
pleistocênicas para placeres nos terraços mais elevados >
550 m e assim melhor definir a evolução deste rio no
Quaternário.
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Figura 8 – Tipos de armadilhas (traps). Em A, bolsão próximo ao garimpo do Bode. Em B, panela no Cavoqueiro. Em C, veia (cut and fill) em
pacote cascalhoso. Em D, barras de pontal (ajogo) na Fazenda Formosa mostradas pelas setas.
Tabela 1 – Idades dos pacotes quaternários obtidas pelo método de Luminescência Opticamente Estimulada (LOE).
PONTOS UNIDADE LOCAL IDADE/ANOS
EIT 05 T1 GARIMPO DO CAVOQUEIRO 8400 ± 858
EIT 07 T0 FAZENDA FORMOSA 1750 ± 210
EIT 11 T1 FAZENDA FORMOSA 4100± 430
EIT 13 T1 GARIMPO DO CAVOQUEIRO 660 ± 90
EIT 14 T0 GARIMPO DO CAMBAUVA 720 ± 120
Figura 9 – Pontos amostrados para datação por LOE.
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7. Minerais pesados
O estudo de minerais pesados em depósitos
secundários diamantíferos no mundo constitui um método
de prospecção de vital importância para a prospecção de
fontes primárias kimberlítica, lamproítica ou outras,
conforme Addad (2001). O estudo da química de minerais
indicadores norteia a prospecção de fontes primárias e
contribui para o entendimento da provável gênese destes
minerais. Por exemplo, minerais indicadores para
kimberlito são as granadas G3D, G4D, G5D e G10D (Grütter
et al. 2004), a picroilmenita, o espinélio e o cromodiopsído,
principalmente. No caso de lamproíto, os minerais
indicadores são: cromita, andradita, zircão, manganoforita,
Ba-flogopita, priderita e wadeita (Gold 1984).
Em Mato Grosso existem trabalhos que trataram sobre
a prospecção, a gênese e/ou fertilidade dos corpos
primários por meio da química mineral de minerais
indicadores, como por exemplo, Weska (1996), Greenwood
et al. (1998) e Greenwood (2001). Estudos sobre minerais
indicadores e acompanhantes em depósitos de
paleoplaceres e placeres estão descritos em Weska et al.
(1984), Weska (1987, 1996) e Bittencourt Rosa et al. (1993).
Os grãos de minerais pesados identificados em lupa
binocular, com denominações utilizadas por garimpeiros
em parêntesis, foram: o diamante na Figura 10; a
magnetita; safira (azulinha); granada (chicória); ilmenita
(pretinha); rutilo; zircão (microdiamante); e, óxidos de ferro
(feijão).
O percentual em peso de óxidos das granadas nas
amostras EIT 14_1 a 14_7 (Tabela 2) situa-se entre 0,16 a
9,68 para o MgO; são empobrecidas em Cr2O3 com 0 a
0,06; os valores de CaO são baixos a altos, respectivamente,
0,31 a 7,19; o conteúdo de MnO entre 0,54 a 26,05; o FeOt
de 16,24 a 27,70; o TiO2 varia entre 0,02 e 0,15; e, o Na2O
entre 0 a 0,15. Resulta que duas composições moleculares
de granadas existem. A primeira dominada pelo Fe2+,
associada a Mg, caracterizada pelo par Alm42-55; Py31-40 e
seguido de Gr3-16, And2-6 e Sp1-2. A segunda destaca o
Mn em paragênese com o Fe2+, o par molecular dominante
é Sp44-52; Alm42-47, seguido de Py1-8 e And1-2.
Figura 10 – Diamantes capturados em garimpos de Itiquira.
Um diagrama CaO X Cr2O3 foi construído para as
granadas analisadas e o resultado é mostrado na Figura 11.
Este diagrama foi proposto por Dawson & Stephens (1975)
para discriminar granadas peridotíticas (G10), lherzolíticas
(G9) e eclogíticas (G3). Grütter et al. (2004) adicionaram a
este diagrama intervalos de percentuais de outros óxidos,
como é o caso do TiO2, MgO, Na2O, FeO e o MGNUM=
(MgO/40,3)/(MgO/40,3 + FeOt/71,85) [óxidos %], que
permitem a classificação detalhada e individualizar
granadas G0, G1, G3, G4, G5, G9, G10, G11 e G12. Granadas
G9, G5, G4, G3 e G1 possuem campos em sobreposição que
são discriminados por estes óxidos e o MGNUM. As
granadas G3, G4, G5 e G10, com Na2O > 0,07%, de acordo
com Grütter et al. (2004), sugerem associação
composicional e de P-T com o diamante e as quais se
adiciona o sufixo “D”.
Figura 11 – Diagrama Cr203 vs CaO com os campos segundo
Grütter et al. (2004). As granadas do Rio Itiquira são de variedades
G0 (crustal), G3 (eclogito) e G4 (piroxenito).
As granadas das amostras EIT14_1 a 7, tratadas pelo
método proposto por Grütter et al. (2004), plotam nos
campos G0, G3 e G4. O conteúdo de Na2O na granada da
amostra EIT 14_3 é de 0,09 (Tabela 2) e é G4D. Sendo
assim, entre as granadas coletadas no Rio Itiquira foram
identificadas G0, G3, G4 e G4D. As granadas G0 (EIT 14_4,
14_6 e 14_7) com valores elevados de Mn (18,38 a 26,05%)
e valores baixos de CaO (0,31 a 1,56%) e Cr2O3 (0 a 0,02%),
não ocorrem em kimberlitos. As granadas G4 e G3 sugerem,
respectivamente, fontes piroxenítica e eclogítica, enquanto
a granada G4D indica associação com fonte kimberlítica
fértil em diamante (Grütter et al. 2004).
As ilmenitas das amostras EIT14_8 a 10 possuem baixos
valores de MgO (0 a 1,44%) e elevados de MnO (1,36 a
7,29%). Os percentuais em peso de TiO2 variam de 49,41 a
53,41; e, o de FeOt entre 41,69 a 43,51, Tabela 2. A
composição molecular é Ilm94-99, Geik0-6, Hem0-6 e
plotam nos campos de granito e basalto do diagrama da
Figura 12 proposto por Mitchel (1986). Kaminsky &
Belousova (2009) descreveram valores elevados de MnO
(0,63 a 2,49%) e baixos de MgO (0 a 0,24%) em ilmenitas
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Tabela 2 – Dados de química mineral de minerais pesados em percentual em peso.
Amostra Na2O MgO Al2O3 SiO2 K2O CaO TiO2 Cr2O3 MnO FeOt NiO Total Mineral
EIT14_1 0,06 8,68 22,06 38,81 0,00 3,22 0,07 0,00 0,55 25,20 0,03 98,69 granada
EIT14_2 0,07 6,89 21,08 36,51 0,01 5,18 0,02 0,06 1,48 27,24 0,02 98,57 granada
EIT14_3 0,09 9,68 22,15 36,29 0,05 3,19 0,05 0,04 0,54 27,70 0,08 99,87 granada
EIT14_4 0,15 0,19 19,95 35,88 0,06 1,56 0,15 0,02 26,05 16,24 0,00 100,23 granada
EIT14_5 0,05 8,75 21,83 36,69 0,04 7,19 0,10 0,00 0,46 23,80 0,00 98,91 granada
EIT14_6 0,00 0,16 20,52 33,72 0,02 0,67 0,08 0,00 20,60 23,04 0,02 98,83 granada
EIT14_7 0,05 1,93 20,48 35,38 0,02 0,31 0,14 0,00 18,38 23,64 0,02 100,35 granada
EIT14_8 0,03 1,44 0,05 0,21 0,02 0,03 53,41 0,07 1,36 43,12 0,01 99,76 ilmenita
EIT14_9 0,00 0,07 0,00 0,11 0,04 0,00 50,91 0,00 2,96 43,51 0,00 97,61 ilmenita
EIT14_10 0,02 0,00 0,04 0,21 0,02 0,01 49,41 0,00 7,29 41,69 0,00 98,69 ilmenita
EIT14_11 0,05 0,00 0,06 0,09 0,00 0,01 98,98 0,20 0,00 0,57 0,06 100,02 rutilo
EIT14_12 0,00 0,02 0,07 0,14 0,01 0,00 96,95 0,40 0,00 0,21 0,06 97,86 rutilo
EIT14_13 0,05 0,00 0,09 0,15 0,01 0,00 97,11 0,25 0,00 0,83 0,00 98,47 rutilo
manganesíferas de kimberlitos em Juína, que também
ocorrem em Guaniamo, Venezuela e sugeriram tratar-se de
um indicador distinto para kimberlito. Os percentuais em
peso de MgO e MnO nas ilmenitas analisadas são elevados,
quando comparados aos das ilmenitas de kimberlitos em
Juína. São também muito mais elevados do que em
picroilmenita de kimberlito (0,2 a 0,3%) e sugerem fonte
distinta de kimberlito.
Figura 12 – Diagrama Fe2O3-FeTiO3-MgTiO3, mostrando os
campos de ilmenitas de kimberlitos, de rochas alcalinas, de
granitos (A) e basaltos (B) extraídos de Mitchel (1986). As
ilmenitas do Rio Itiquira plotam em A e B.
8. Conclusões
Os garimpos em Itiquira representaram em passado
recente importante atividade econômica local e contrastam
com o declínio atual. As frentes de garimpos abandonadas
estudadas permitiram o empilhamento estratigráfico de
depósitos diamantíferos quaternários.
Os depósitos cascalhosos foram subdivididos
informalmente em T0 a T2 e são hospedeiros de diamante.
As armadilhas do diamante identificadas nestes placeres
foram panela, bolsão, veia (canal de corte e
preenchimento) e ajogo (barra de pontal).
A idade mais jovem de 720 ± 120 anos foi obtida na
amostra EIT 14 (Cambaúva), em cascalhos do canal atual do
rio e T0. A mais antiga, no terraço da margem direita do rio,
amostra EIT 05 (Cavoqueiro), T1, com idade de 8400 ± 858
anos e situam estes depósitos no Holoceno. As demais
idades não refletem a idade de sedimentação, mas
retrabalhamento dos terraços mais antigos por eventos
erosivos mais jovens (T0).
O estudo de minerais pesados indicadores e
acompanhantes proporcionou a identificação de magnetita,
safira, granada, ilmenita, rutilo e zircão. A partir da química
mineral de minerais indicadores foram identificadas
granadas G0 e G4+G3. A primeira não tem relação com
fontes primárias kimberlíticas. A segunda é indicadora de
fonte piroxenítica a eclogítica (Grütter et al. 2004), com
baixo Cr2O3 e médio a alto CaO. Entre as granadas G4, o
percentual em peso de Na2O na granada da amostra
EIT14_3 é 0,09. Neste caso é uma granada G4D e indicadora
de fontes primárias férteis em diamante. As ilmenitas
estudadas são distintas de ilmenita magnesiana
(picroilmenita) encontrada em kimberlito devido ao baixo
conteúdo de MgO e o elevado de MnO. A plotagem das
ilmenitas no diagrama Fe2O3-FeTiO3-MgTiO3 mostra
derivação de fontes granítica e de basalto.
Agradecimentos: Os autores agradecem a FATEC –
Laboratório de vidro e datação pela obtenção das idades
dos sedimentos, em especial a professora Sonia H. Tatumi e
toda sua equipe. Agradecemos também o laboratório de
Microssonda Eletrônica da UFRGS, em particular a
professora Márcia Elisa Boscato e a técnica Juscelania
Tramontina pela realização das análises de química mineral.
Ao laboratório de laminação da UNB pelo suporte na
montagem das seções de grãos e aos trabalhadores de
Itiquira: Jucelino, Manoel, Paulo, Detinho e Dito, que se
empenharam em nos fornecer dados sobre os garimpos e
pelo acompanhamento nas etapas de campo
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