A PROSPECÇÃO GEOQUÍMICA DA DOCEGEO NA AMAZÔNIA
A prospecção geoquímica foi utilizada pela Docegeo, especialmente na Amazônia, desde o seu início, em 1971. Na época, praticamente todos os projetos faziam uso de prospecção geoquímica, principalmente de sedimento de corrente e solo. Os trabalhos de programação e amostragem eram executados pelas próprias equipes dos projetos, as quais sempre tiveram liberdade para fazer adaptações e melhorias nos procedimentos, ajustando o método aos objetivos e circunstâncias de cada projeto. Ao longo da década de 70 e início da década de 80, os procedimentos de prospecção geoquímica, de sedimento de corrente e solo, evoluíram, com a participação de todas as equipes da Docegeo, até consolidarem-se numa forma não muito diferente da que hoje é ainda praticada na Vale e nas principais empresas que fazem uso de exploração geoquímica em ambientes similares. Embora os procedimentos tenham evoluído com participação de todas as equipes, algumas contribuições individuais foram marcantes nesse processo.
Situação da prospecção geoquímica no Brasil antes da Docegeo – Cenário da época
Os primeiros trabalhos sistemáticos de exploração geoquímica no Brasil são reportados nos anos 60, não sendo conhecidos registros sobre trabalhos anteriores.
Tentando reconstituir o cenário da época em que a Docegeo foi criada, em 1971, devemos recordar que a CPRM e o Projeto RADAM surgiram também quase simultaneamente com a Docegeo. A CPRM começou a atuar em 1970 e o Projeto RADAM, criado em 1970, começou o aerolevantamento em 1971. Os primeiros trabalhos sistemáticos de exploração mineral na Amazônia, ainda em pequena escala, são do final dos anos 60, ou seja, poucos anos depois da formação das primeiras turmas de geólogos brasileiros saídos das primeiras escolas de geologia criadas pela CAGE (Campanha de Formação de Geólogos). A CAGE é de 1957 e as primeiras turmas de geólogos foram formadas no início dos anos 60. Antes desses, ou seja, no final da década de 50, estima-se que o número de geólogos de campo no Brasil inteiro não passava de cinco dezenas.
Portanto, na época em que a Docegeo foi criada, não só a prospecção geoquímica estava no seu início no Brasil, mas também a própria exploração mineral sistemática. Era o início do período moderno, pós-CAGE, da geologia no Brasil.
Início da prospecção geoquímica na Docegeo
A Docegeo começou a operar em 1971, por intermédio da Terraservice Projetos Geológicos Ltda (seu braço operacional). A equipe foi montada com a contratação de geólogos que haviam trabalhado em outras empresas (como Meridional e Codim), que já atuavam em exploração mineral na Amazônia. Esses geólogos trouxeram para a Docegeo o conhecimento da prática de levantamentos geoquímicos de sedimento de corrente e solo. Entre esses geólogos, que deram essa grande contribuição inicial para a implantação da prospecção geoquímica na Docegeo, estavam José Thadeu Teixeira, Walter Kou Hirata e Décio João Keune Meyer.
Coordenação da geoquímica
Ainda no início da Docegeo, foi constituído, na Terraservice, um grupo de planejamento e coordenação técnica na sede da empresa, no Rio de Janeiro. Esse grupo era chefiado por C. R. Petersen, que estava diretamente subordinado a Gene E. Tolbert (o grande idealizador e construtor, junto com José Eduardo Machado, da Docegeo/Terraservice, que vinha a ser uma espécie de departamento de exploração mineral da Vale). Esse grupo de planejamento incluía especialistas de várias áreas de geologia (quase todos estrangeiros), entre os quais o geoquímico Alberto Rúbio (peruano). O Rúbio teve um importante papel no desenvolvimento da prospecção geoquímica na Docegeo, com a proposição de melhorias nos procedimentos e na implantação de ferramentas para interpretação dos levantamentos.
Laboratório
Um dos grandes problemas, no início da década de 70, para a execução de extensos levantamentos geoquímicos era a carência de laboratórios no Brasil. Havia poucos laboratórios e as análises eram caras e demoradas. O Distrito Amazônia da Docegeo/Terraservice, chefiado por Breno Augusto dos Santos, resolveu rapidamente esse problema com a contratação do químico William McManus, em 1972. O McManus tinha operado antes um laboratório de bauxita da Rio Tinto. Imediatamente, o McManus montou um laboratório (Label) no fundo do escritório do DAM (Distrito Amazônia da Docegeo) em Belém (a Casa Amarela da Almirante Barroso), com capacidade para análises por absorção atômica e colorimetria, além de bauxita. O McManus foi um excelente geoquímico analítico, capacitado para o desenvolvimento de métodos e formação de equipe, tendo dado uma importante contribuição para a Docegeo.
Prospecção de ouro – O problema das análises químicas de ouro
No final dos anos 70, ocorreram as primeiras descobertas de ouro na Docegeo, primeiro, em Andorinhas (no Pará) e, depois, em Santa Luz (na Bahia). A partir dessas descobertas, a Vale criou uma área específica para a implantação dos projetos de produção de ouro e este ganhou prioridade nos trabalhos de exploração da Docegeo. Nesse momento, um grande problema surgiu, o problema das análises químicas de ouro. O ouro é, reconhecidamente, um dos elementos mais difíceis de analisar com métodos químicos de boa qualidade para exploração. Na época, os recursos analíticos para ouro no Brasil eram muito limitados e caros. De outro lado, os projetos de exploração de ouro começavam a produzir um número excessivo de amostras. Consequentemente, o tempo de espera dos resultados tornava-se insuportável para os projetos. Nesse contexto, a Docegeo, que, antes, nos seus trabalhos de prospecção geoquímica, fazia uso de concentrados de bateia apenas em sedimento de corrente, introduziu a rotina de contagem de pintas de ouro em amostras de sedimento de corrente e solo. O Distrito Amazônia da Docegeo havia contratado para sua equipe o geólogo Gabriel Guerreiro, que tinha conhecimento e experiência no estudo de minerais pesados. Com a orientação do Guerreiro e a participação do Armando Álvares de Campos Cordeiro, a Docegeo na Amazônia (e, depois, em todo o Brasil) passou a utilizar sistematicamente a contagem de pintas na prospecção geoquímica de ouro, tanto em sedimento de corrente quanto em solo. Apesar de sua limitação, os levantamentos de contagem de pintas foram muito úteis nos projetos de ouro. Ao longo dos anos 80, finalmente, o Label implantou o método de análise de ouro com extração com MIBK e determinação com absorção atômica, com limite de detecção de 50 ppb. Isso representou um grande salto de qualidade nos trabalhos de prospecção de ouro na Docegeo. Mais adiante foi implantado o método de fire-assay com absorção atômica, que passou a ser utilizado tanto para análises de minério quanto para amostras de sedimento de corrente e solo.
Apoio de consultores
Sem dúvida, muito da evolução e da consolidação dos procedimentos de programação, execução e interpretação dos levantamentos geoquímicos na Docegeo deveu-se à contribuição de alguns grandes geoquímicos internacionais, por meio de serviços de consultoria. Entre esses, destacaram-se Peter Bradshaw e Hubert Zeegers. Ambos, cada um no seu tempo, Bradshaw em 1973 e Zeegers em 1985, contribuíram decisivamente para a implantação de rotinas e procedimentos de todas as etapas da prospecção geoquímica na Docegeo.
Sucesso da prospecção geoquímica
A história da prospecção geoquímica da Docegeo na Amazônia é uma história de sucesso absoluto. Apesar de alguma desconfiança no início, quando alguns acreditavam que o excesso de chuvas na Amazônia poderia lixiviar os metais e dilui-los a ponto de não serem detectados, a prática demonstrou o contrário, com a descoberta sucessiva de inúmeras anomalias, que levaram à descoberta de depósitos importantes, entre os quais o Salobo talvez seja o maior exemplo.
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