domingo, 13 de dezembro de 2015

"Ganhei dinheiro com ouro, mas só sobrou uma correntinha", diz garimpeiro

"Ganhei dinheiro com ouro, mas só sobrou uma correntinha", diz garimpeiro



  • Risomar e o que restou dos anos de garimpo
    Risomar e o que restou dos anos de garimpo
Aos 50 anos, o garimpeiro Risomar Oliveira Cabral, nascido e criado no Médio Tapajós, no Pará, tem a aparência surrada pelas longas temporadas na floresta e uma casa em Itaituba – o que restou de 35 anos nas lavras do oeste paraense. Nem família ele conseguiu segurar, já que vida no garimpo "é errante".
"Não prestei para mais nada. Até ganhei dinheiro quando o ouro de aluvião dava mais, só que gastei tudo nas corrutelas (pequenas vilas que se formam próximas das áreas de garimpo, onde há prostituição e jogatina). Me sobrou essa corrente de ouro aqui", mostra o trabalhador, que atua na área do Chapéu do Sol – ao sul de Itaituba e dentro da terra indígena Sawré Mauybu, da etnia munduruku.
Quando encontrou a reportagem, Cabral carregava 10,8 gramas de ouro – resultado de quase três meses no mato. Pela cotação oficial das DTVMs, valiam R$ 1.425. O garimpeiro, entretanto, repassou a coleta por R$ 300 e mais "umas cervejas" na vila São Luiz do Tapajós, a meio caminho entre o garimpo e Itaituba. Culpa da baixa qualidade do ouro, segundo ele.
"Em um mês, quem maneja sozinho tira dois gramas, três gramas. Há 30 anos eu conseguia 30 gramas em 15 dias. Mas não sei fazer mais nada, então o jeito é continuar aqui", diz o garimpeiro.
Em um mês, quem maneja sozinho tira dois gramas, três gramas. Há 30 anos eu conseguia 30 gramas em 15 dias
Risomar Oliveira Cabral, garimpeiro
De acordo com o geógrafo Maurício Torres, professor colaborador da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), o garimpo industrial de grande escala vem substituindo gradativamente o trabalho manual feito por ribeirinhos, aquele que garantia o sustento de Riosmar. Segundo ele, o garimpo Chapéu do Sol, na região do Jamanxim, reúne entre 300 e 400 trabalhadores dentro da floresta nacional Itaituba 2.
"É um garimpo grande e impactante, bancado por capital internacional. O garimpeiro tradicional, que era dono do seu trabalho, está tendo de ceder a esse modelo pela invasão das áreas", diz. Nos garimpos industriais o método de extração utiliza escavadeiras de grande porte – conhecidas como PCs – que retiram em poucos minutos uma área de terra que um trabalhador braçal levaria semanas para abrir. 
O DNPM, que deveria licenciar e fiscalizar a ação dos garimpos, não tem representação em Itaituba – o escritório do órgão na cidade deverá ser desativado até o fim do ano. Segundo a superintendente interina do DNPM no Pará, Adriana Pantoja, o órgão realiza apenas ações pontuais de fiscalização. "A região é muito conflagrada, quem passa em algum concurso e é lotado em Itaituba logo pede transferência para outro local porque tem medo de ficar", diz a interina.
A Secretaria de Meio Ambiente de Itaituba, responsável por licenciar e fiscalizar lavras de até 500 hectares, tem três fiscais para monitorar uma reserva aurífera estimada em 98 mil km² – a maior do mundo em extensão. 
Quem passa em concurso e é lotado em Itaituba logo pede transferência porque tem medo de ficar
Adriana Pantoja, superintendente interina do DNPM no Pará
 
"Meu amigo, eu poderia estar sentado agora em uma mesa de mármore, ter 15 carros na secretaria, computadores moderníssimos e toda estrutura necessária se eu multasse quem estiver fora da lei. É fácil, está todo mundo fora da lei. Mas eu não faço isso porque, se fizer, vou estar criminalizando a profissão do garimpeiro", diz o secretário de Meio Ambiente da cidade, Hilário Vasconcelos.

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