Aventuras e belezas nos garimpos de Santa Maria de Jetibá
Foto: Fabricio Ribeiro
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Que tal se embrenhar pela Mata Atlântica, numa espécie de safári num trator, para observar animais e plantas? E se aventurar num túnel de antigas lavras de águas marinhas e viajar na história do garimpo capixaba?
Isso mesmo! Conforme os relatos orais dos mais velhos, entre as décadas de 30 e 80 do século XX foram muitos – capixabas e mineiros – que se aventuraram em busca do sonho de enriquecer com pedras preciosas na região de Alto Santa Maria e Rio Possmoser, em Santa Maria de Jetibá.
E o Sítio Schmidt, que abriga cerca de 20 tunéis, dos mais de 100 da região, resolveu explorar o negócio, mas desta vez não atrás de pedras, mas sim de turistas. O casal idealizador deste projeto de agroturismo, Angelina e Licínio Schmidt, contaram que um dos túneis da propriedade está preparado para visitação.
“Esse túnel tem 80 metros de extensão e chega a 50 metros de profundidade. Tem cerca de 2 metros de altura e 80 centímetros de largura, o suficiente para que um garimpeiro passasse com o seu carrinho de mão”, detalhou Angelina.
Na medida que se avança no o túnel, cavado sob o solo da floresta, a temperatura despenca e a umidade se eleva. Bifurcações vão formando galerias que lembram um labirinto. É possível observar os pontos onde os antigos garimpeiros cavavam em busca das águas marinhas em formações rochosas cristalinas de muitas cores e texturas.
“Entrar no túnel dá uma sensação de superação, de vencer o medo do desconhecido”, disse o visitante Francisco Ferreira, revelando que no início estava sem coragem de entrar.
Safári na floresta
A aventura no túnel faz parte de um programa bem inusitado. Uma espécie de safári numa carroça com bancos adaptados e rebocada por um trator.
Durante o passeio, que dura cerca de 90 minutos e tem um percurso de 2,5 km, é possível observar árvores da mata atlântica e até animais, como macacos, pequenos mamíferos, pássaros e répteis, além das muitas lavouras.
O Sítio Schmidt, que integra o Circuito Turístico Terras Pomeranas, ainda oferece um café especial, o típico almoço da roça, além das delícias da agroindústria, como pães, brotes, biscoitos e licores.
Outro atrativo é poder conviver com aquela família pomerana e conhecer mais sobre a história, língua e tradições desse povo, que emigrou da Europa para o Estado no século XIX, e que é um dos formadores da cultura capixaba contemporânea.
Como chegar
O Sitio Schmidt fica a 16,5 quilômetros (sendo 3,5 de estrada de chão) do centro de Santa Maria de Jetiba pela rodovia que segue para Garrafão. O acesso é pela entrada de Alto Santa Maria. O telefone é (27) 99917-7210, email: sitioschmidt@hotmail e Facebook: sitio.schmidt
Casinhos do garimpo
Evaristo Berger
(na foto aparece mostrando as pedras, sem valor, que guardou de lembrança)
“Entrei para o garimpo já nos anos 80. Nessa época havia invasões, o pessoal escondia armas em latas de banha, mas chegava a polícia e botava todo mundo para correr. Eu só achei farinha de água marinha sem valor. Mas teve muitos que conseguiram comprar terrenos e construir casas”.
Delfina Berger, esposa de Evaristo, diz que “Tinha vontade de ir para o garimpo, mas precisava ficar em casa para cuidar dos porcos e preparar as marmitas para o marido, irmãos e filhos. Era um garimpo familiar”.
Clara Ottschmidt
(na foto aparece segurando gasões, lampiões da época)
“Um mineiro de Governador Valadares ficou rico em 1972 com as águas marinhas, mas jogou tudo fora com boa vida e morreu pobre. Meu marido conseguiu dinheiro para fazer nossa casa e comprar um carro”.
Angelina Schmidt
(Angelina e seu marido Licínio segurando ferramentas usadas na época)
“Os rapazes conseguiam pedras e dinheiro e então apareciam moças interessadas. Muitos desses namoros acabavam no altar e nas casas construídas com dinheiro das pedras”.
Edithe e Nicolau Arnholz
Contaram que logo após o casamento deles, em 1963, Nicolau deixou a agricultura e foi para o garimpo. “No começo fiquei preocupada, mas conseguimos tocar nossa vida, com casa, mobília, carro e a criação dos filhos. Valeu a pena”, disse Edithe.
“Eram garimpos de respeito e sem bagunça. Muito namoro começou lá, com as mocinhas interessadas nos rapazes que conseguiam pedras”, lembrou Nicolau, acrescentando que trabalhavam na lavra até 16 horas por dia.
Garimpo foi opção à agricultura de subsistência
A busca das águas marinhas, que é um tipo de pedra preciosa e de maior ocorrência no Brasil, foi uma opção à agricultura de subsistência em Santa Maria de Jetibá. A avaliação é do engenheiro Roberval Stuhr, que desenvolve estudos sobre a economia no município.
“Bem antes da consolidação do agronegócio, as atividades eram de subsistência e o garimpo uma alternativa econômica. Não houve casos de grandes enriquecimentos, mas muitos conseguiram se estabilizar, construindo casas, adquirindo bens e até formando um capital inicial para investir em negócios agrícolas”, apontou Stuhr.
Comentou ainda que a incidência das pedras, que era pequena, se escasseou e, com o maior rigor da legislação ambiental, a atividade praticamente se extinguiu na cidade. Havia o garimpo de túneis escavados e os de várzeas, onde brejos eram revirados.
Saiba mais
A história do garimpo na região serrana tem outros capítulos, como a Pedra da Onça e Várzea Alegre, entre Santa Teresa e Itarana, as minas de Castelo, regiões do Garrafão, Tijuco Preto e Rio Ponte, estes entre Santa Maria e Domingos Martins. Em 2012 um garimpo clandestino foi fechado em Afonso Cláudio.
Uma obra interessante sobre o assunto é “A Pedra da Onça - Jazidas, lavras e garimpos no Espírito Santo”, de Idomar Taufner, que relata experiências da atividade no Estado.
Somente com licenciamento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) é permitida a extração de minerais. Como o subsolo pertence a União, é crime contra o patrimônio público a exploração sem autorização.
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Aventuras e belezas nos garimpos de Santa Maria de Jetibá
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