Em Pedro II, exploração de opala garante 1º emprego e renda a famílias
No passado, o garimpo da opala no interior do Piauí não garantia mais que um ano de renda para os trabalhadores da região, já que o dinheiro da exploração desordenada da pedra costumava ser gasto com a mesma facilidade com que era retirado das minas.
Mas, nos últimos cinco anos, o que era “perdição” para muitos garimpeiros virou negócio em Pedro II. Por ano, a cidade vende perto de 400 quilos de joias feitas com a pedra para os mercados interno e externo. E só 10% dos recursos minerais que existem no município foram explorados.
Desde a extração da opala, encontrada em alta qualidade apenas no Piauí e na Austrália, até o design das peças passa pelas mãos dos pedro-segundenses, permitindo que muitos vivam só disso. Na família de Osmarina Uchôa, 40 anos, o garimpo das pedras cabe ao seu marido e a criação das joias, à sua imaginação.
Francisco Carneiro da Silva Filho, 24 anos, preferiu ficar longe das lavouras e se especializar em lapidação
Há seis meses Osmarina abriu uma loja no centro de Pedro II, a Pedra Joia, emprega dois funcionários e disse ter faturamento bruto de R$ 4.000 por mês. “Meu sonho agora é terminar de registrar meu negócio como loja mesmo, ser dona da minha microempresa. Quero fazer cursos e ampliar esse comércio”, afirmou Osmarina, que antes era funcionária da prefeitura de Pedro II.
Dono de uma das maiores e mais antigas lojas da cidade, inaugurada em 1992, Juscelino Souza também é uma dessas pessoas que apostaram tudo o que tinham na opala, seguindo, de certa maneira, os passos do pai, que era garimpeiro. No ateliê onde produz as peças – desde a lapidação até a ourivesaria – o empresário emprega 18 funcionários. Para a maioria, é o primeiro emprego. Quando começou, eram só oito, mas, à medida que as pedras começaram a cair no gosto de estrangeiros, a joalheria teve de ser expandida. No início, 90% do que era produzido por Juscelino tinha a exportação como destino, chegando principalmente a França, Alemanha e Estados Unidos.
“Os brasileiros estão conhecendo e apreciando mais as joias feitas com pedra. E com o aumento do emprego e da renda, dessa classe C, as pessoas consomem mais. Foi o que garantiu que nossa produção se mantivesse”, disse o empresário, que afirmou ter registrado crescimento de 10% nos seus ganhos no último ano.
Quem está no ramo há mais tempo também começa a dividir o que aprendeu: como fabricar uma bela peça e administrar o próprio negócio. Antonio Márcio de Oliveira trabalha desde 1989 com lapidação de joias. Em 2000, abriu sua primeira joalheria, o Ateliê de Prata. Em 2004 formalizou-se e, neste ano, ampliou uma de suas duas instalações. Juntas, elas empregam dez funcionários e faturam R$ 220 mil por ano, de acordo com Oliveira. No Sebrae, o empresário capacita pessoas interessadas em receber orientações para serem bem sucedidas como ele.
Francisco Carneiro da Silva Filho, conhecido como Júnior, 24 anos, preferiu ficar longe das lavouras – a outra fonte de renda da população – e se dedicar à lapidação de pedras, o primeiro emprego e, conforme seu desejo, único, na área. “Faço cursos, busco sempre aprender mais. Mas não tenho vontade de sair daqui. Me criei aqui e é aqui que eu quero ficar”, contou Júnior.
Com direito à participação nos lucros da empresa onde trabalha, Marcos Vinícius de Sales Monteiro, 24 anos, diz não trocar a ourivesaria “por nada”. “Estou aqui há oito anos. Esse é o meu primeiro emprego, minha vida. Gosto do que faço e só quero progredir”, contou o jovem, enquanto mostrava uma peça à qual acabara de dar forma. Na loja onde é funcionário, as joias custam de R$ 30 a R$ 1 milhão.
No entanto, os que ainda insistem garantem que o esforço vale a pena. Antonio Ferreira Neto, 48 anos, chamado de Marola, é garimpeiro e lavrador desde os 17. Em Pedro II, conhecida como Suíça piauiense devido às temperaturas amenas que permitem o cultivo de legumes e hortaliças, a maioria das famílias que vivem do garimpo complementam a renda com a produção de suas pequenas lavouras.
“Consegui criar dois filhos com o dinheiro daqui. Tem o lado ruim, desgasta a gente. Tem que ficar aqui o dia inteiro procurando pedra, e nem sempre acha, mas eles estão lá. Um estuda em faculdade pública em Teresina, faz biologia e quer voltar para trabalhar com meio ambiente em Pedro II, e o outro foi para São Paulo, trabalhar em um restaurante muito chique, aquele Fasano.”
“Quatro meses por ano, a maioria das pessoas está voltada à agricultura familiar e o restante do tempo a essas outras atividades”, disse Marcelo Morais, consultor do Projeto Gemas e Joias, do Sebrae no Piauí e Coordenador do Arranjo Produtivo Local da Opala.
Antonio Ferreira Neto, 48 anos, chamado de Marola, é garimpeiro e lavrador desde os 17
“A exploração não é mais desordenada. Todos os trabalhadores da cooperativa trabalham em áreas regulares, com licenciamento, com equipamento de segurança. Sempre recebemos a visita de fiscais de vários ministérios”, afirmou. No regime de cooperativa, 10% de tudo o que se ganha em vendas é dividido entre os 150 associados. “Mas se um encontra uma pedra maior, por exemplo, fica para ele. Se não fosse assim, não daria certo, né?”, ponderou.
A opala extra chega a custar quase quatro vezes mais que o ouro. Enquanto o grama do ouro é cotado por volta de R$ 80, o da opala, dependendo do tipo, o da opala pode ser vendido por até R$ 300. Tão valiosa é a opala que chama a atenção de grandes joalheiras no Brasil. Na Amsterdam Sauer, tradicional joalheria brasileira, presente nas principais metrópoles do mundo, por exemplo, a pedra de Pedro II sempre foi utilizada na produção e comercialização de suas joias, segundo a empresa.
Radiografia
A cidade de Pedro II fica no norte do Piauí, a 195 km da capital Teresina, e contabiliza, aproximadamente, 37.500 habitantes, segundo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O município tem cerca de 500 famílias, entre garimpeiros, lapidários, joalheiros e lojistas que vivem da opala, de acordo com dados do Sebrae do Piauí.
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