GARIMPO | Vila da Ressaca, os restos de um sonho dourado
Comunidade Vila da Ressaca. Foto: |
Em consonância com o nome, Vila da Ressaca é o que sobrou dos tempos em
que havia ouro abundante no local. Essa comunidade de garimpeiros fica
na chamada Volta Grande do rio Xingu, uma grande curva em formato de ‘U’
que começa logo abaixo de Altamira. Esse trecho do rio está condenado
pela hidrelétrica de Belo Monte, que vai secá-lo com a construção de um
canal de 100 quilômetros, o qual criará um atalho reto entre uma ponta e
a outra da Volta Grande, até chegar à boca da usina. As comunidades
ribeirinhas que vivem à sua margem, deixarão de sê-lo: não serão mais
banhadas pelas águas do Xingu.
A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.
Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.
Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.
A construção de Belo Monte fez Altamira borbulhar de crescimento. Da construção civil ao transporte aquático, o preço de tudo subiu. A passagem de uma voadeira da cidade até Vila da Ressaca triplicou, de R$15 para até R$50. Chegar lá toma uma viagem de 2 horas rio abaixo.
Uma curiosidade sobre a Ressaca: ela fica dentro do município de Senador José Porfírio, porém a cidade de Altamira está entre metade e um terço da distância da Vila até a sede de Senador Porfírio. Estamos no Pará, em plena Amazônia, onde municípios podem ter a área de países.
Nos áureos tempos, a Ressaca chegou a abrigar 6 mil habitantes. Hoje, o número caiu para cerca de 200 famílias, que somam algo como 800 pessoas. Metade se dedica à extração de ouro, dividido em 6 garimpos: do Galo, Itatá, Morro dos Araras, Grota Seca, Ouro Verde e Curimã.
Ao contrário do Galo, onde os túneis atingem 380 metros de profundidade,
no garimpo Morro das Araras, a exploração é rasa, feita em buracos de
até 10 metros de profundida por 20 de largura. O nome vem dos índios que
ali habitaram até 1930, quando foram expulsos pela chegada da
mineração. Eles lutaram, matando e afundando os barcos dos
recém-chegados, que também morriam de malária. O pico da produção de
ouro na região foi na década de 1960 e 70, quando a exploração era feita
por empresas do ramo. Elas foram embora quando acabou o ouro fácil,
próximo da superfície. Hoje, a exploração é rude, feita por garimpeiros
precariamente equipados.
Garimpeiro em buraco aberto para exploração de ouro. Foto: |
No morro das Araras, a rotina da busca do ouro é desmatar e cavar
buracos com água de mangueiras de alta pressão. Um buraco é aberto a
cada 2 dias. A medida que é liquifeita, a terra é retirada por uma
máquina apelidada de "chupadeira", que a joga em uma rampa. A lama desce
pela rampa de madeira de alguns metros de comprimento até o seu fim,
quando é filtrada por uma caixa que contém uma peneira e mercúrio. A
peneira segura os resíduos que podem conter ouro, o mercúrio aglutina o
metal. O líquido enlameado que passa, já contaminado por mercúrio, enche
um outro buraco. Uma vez exploradas, as crateras são abandonadas.
Recolhimento de rejeito e moagem fina. Foto:
Quando o material é composto por pedregulhos, passa pelos chamados "moinhos", máquinas que trituram a rocha. Após essa etapa, também seguem para o mesmo tipo de rampa que termina no tanque fechado com mercúrio.
Rejeito já contendo mercúrio é escoado em lagoa. Foto: |
O segundo método de mineração – e o mais usado agora que o ouro é
escasso – é através de galerias dentro de túneis profundos. Eles são
abertos com explosivos. E de explosão em explosão, de galeria em
galeria, podem chegar a 400 metros de profundidade.
Garimpeiros usam explosivos. Foto: |
Descida de arrepiar
A descida até lá dura 20 minutos e é feita através de um sistema tosco
de cordas e roldanas, operadas pelos companheiros da superfície, que
acompanham o processo por rádio. Os garimpeiros brincam que muitos se
acovardam a descer. Pudera, acidentes fatais são costumeiros, a
temperatura lembra a de uma sauna e a única luz da descida é uma
lanterna de pilha, segura na mão e presa ao peito do garimpeiro por um
cabinho. Durante o percurso, o túnel pode ter larguras de até 10 metros
ou passagens estreitas de 1 metro. O destino final é uma galeria de
cerca 10 metros de largura por 7 de altura, mal iluminada por lâmpadas
de 60 watts. Lá, o garimpeiro enche uma grande esfera oca, de borracha
grossa, capaz de suportar uma carga de pedregulhos que podem conter
ouro. Essa bola é içada à superfície, e se tudo der certo, o garimpeiro
volta também. Os acidentes mortais são encarados como destino divino.
Garimpeiro recolhendo pedregulhos para moagem.Foto: |
Para os gerentes do garimpo, o dinheiro pode ser bom. Eles ganham até
R$10 mil por semana, pagos em ouro, que aqui ainda é moeda. Nada é feito
de acordo com a lei. As licenças de mineração expiraram e os explosivos
– que exigem permissão do exército -- são usados ilegalmente. O
trabalho é informal e o trabalho infantil, comum. Filho de garimpeiro
entra logo para o garimpo, aprende a trabalhar, nem que seja para
carregar pedras de um lado para o outro, com um carrinho de mão.
O Mercúrio é utilizado na fundição do ouro.
Foto:
Qualquer que seja a técnica usada no garimpo, o mercúrio é onipresente. Ele é tóxico, difícil de degradar e envenena fauna, flora e gente. Os garimpeiros correm o risco de inalá-lo durante o processo de separação do ouro, uma forma grave de contaminação. O rejeito contaminado é despejado próximo aos moinho, até terminar no Xingu ou penetrar o lençol freático.
Porque o mercúrio é usado na mineração de ouro
Entre as propriedades do mercúrio, está a capacidade da forma orgânica desse elemento se acumular ao longo da cadeia alimentar, causando a contaminação de peixes e o risco de envenenamento de quem deles se alimenta , inclusive seres humanos. A intoxicação por mercúrio pode provocar danos ao sistema neurológico. As consequências podem variar desde dores no esófago e diarreia a sintomas de demência. Depressão, ansiedade, dentes moles por inflamação e falhas de memória também estão entre os sintomas. Um perigo ofuscado pelo brilho do ouro.
Para o garimpeiro, o que importa são outras propriedades do mercúrio. Primeiro, a capacidade de se unir a outros metais e formar amálgamas, o que é fundamental em garimpos, onde os minúsculos grãos de ouro precisam ser separados dos sedimentos dragados de leitos de rios ou da terra escavada. Após esse cascalho passar um período em esteiras, para que os metais se assentem e sejam separados de sedimentos mais leves, o material concentrado é jogado em betoneiras onde é misturado à agua e ao mercúrio.
Os pequenos grãos se agregam com ajuda do mercúrio e podem ser separados com mais facilidade. Em garimpos onde é usado maquinário mais pesado, como balsas, os sedimentos são dragados para dentro de misturadores, chamados pelos garimpeiros de cobra-fumando, onde se costuma também utilizar o mercúrio para evitar que partículas de ouro sejam desperdiçadas. No final, os restos contaminados são despejados no solo ou no rio.
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