A exploração mineral brasileira à beira do abismo
Os três melhores indicadores de uma exploração mineral saudável em um país são: o emprego, a sondagem e o número de análises químicas feitas em laboratórios analíticos.
Depois da crise de 2008 a exploração mineral voltou a aquecer no Brasil atingindo, gradativamente, o seu pico em 2010-2011.
Nesta época a exploração mineral brasileira estava aquecida. O mercado era efervescente. Era difícil contratar geólogos experientes e quase impossível contratar a sondagem para os inúmeros projetos de exploração mineral. Os laboratórios de análises estavam abarrotados refletindo o excelente momento da mineração brasileira.
Em 2012 somente as juniors canadenses investiam US$416 milhões em 154 projetos no Brasil.
Foi um período de grandes descobertas minerais e o Brasil parecia ter um futuro brilhante.
Tudo ia às mil maravilhas até que, em 2011, de uma forma sub-reptícia começou o apagão mineral.
Este fenômeno foi o resultado de uma das decisões mais absurdas e pouco inteligentes, jamais feita por um governo brasileiro em toda a história republicana.
O Ministério de Minas e Energia, na época, era chefiado pelo Ministro Édison Lobão, famoso nas páginas de escândalos e corrupção e um dos arquitetos da crise, resolveu simplesmente paralisar as concessões dos alvarás de pesquisa e de lavra paralisando projetos e espantando o investidor.
A partir deste momento o Brasil viu um verdadeiro tsunami que arrasou, inexoravelmente, as empresas, os empregos e obliterou o setor mineral.
O governo brasileiro, na contramão da história simplesmente fechou a torneira da pesquisa e da exploração mineral ameaçando o setor com um “Novo Marco Regulatório da Mineração” que transitou, por anos, nos corredores do Congresso e, até hoje, quase 5 anos após a sua elaboração, ainda não foi aprovado.
Enquanto isso, lá fora, nos países onde a mineração recebe o devido respeito, os governos tentavam todas as formas para atrair o mesmo investidor que o MME e o Governo Brasileiro estavam expulsando do Brasil.
Esses governos foram bem sucedidos! E, hoje, estão revertendo os efeitos da crise atraindo novos investidores e novos projetos de exploração mineral.
Já, aqui no Brasil, a pesquisa mineral foi reduzida a praticamente nada.
Uma excelente pesquisa feita no DNPM, pela revista InTheMine, mostra um fenômeno perturbador.
Os minerais mais pesquisados no mundo, que são ouro, metais básicos, e metais ferrosos estão desaparecendo das estatísticas do DNPM (veja a imagem abaixo).
Isso é assustador e mostra a profundidade do desastre. É a pesquisa desses minérios que sustenta toda a cadeia da exploração mineral, gerando empregos, projetos, sondagens, geofísica, geoquímica e milhões de análises. A mesma pesquisa que sustenta toda uma cadeia produtiva que inclui as junior companies, as empresas de geologia e prospecção, de sondagem, laboratórios e as milhares de empresas de consultoria que fazem o setor crescer e gerar riquezas.
Aqui no Brasil a pesquisa tradicional deu lugar aos minerais industriais. Os novos requerimentos feitos no DNPM são, principalmente, para areia, argila, granito e calcário.
Em 2013 predominaram os requerimentos para minerais industriais e, em décimo lugar veio os requerimentos para diamantes.
Em 2014 vemos o tímido retorno do ouro e do ferro que ficam na quinta e sexta posição, atrás dos industriais.
Qual o significado disso? É o fim da pesquisa mineral como a conhecemos!
É também o fim do investimento estrangeiro na exploração mineral do Brasil pois 90% da pesquisa mineral é feita para metais básicos, ouro, diamante e metais ferrosos. Um país que não busca esses minérios está fadado ao terceiro mundo.
Se ontem as juniors investiam mais de US$700 milhões por ano em busca de ouro, metais básicos e ferrosos em solo brasileiro, hoje os investimentos estão tendendo a zero.
E, com a falta dos investimentos, veremos as minas atuais se extinguirem sem novas descobertas minerais para repor o minério lavrado. A falta de descobertas nos obrigará a importar o minério que deveria estar sendo produzido aqui.
A falta de pesquisa mineral, causada pela política xenófoba e pouco inteligente do Governo Brasileiro destruiu, completamente, o setor e está lançando o país no limbo da mineração. Em breve toda a população começará a colher os amargos frutos desta política.
O desemprego é geral.
Em nossos contatos com as empresas de sondagem e com os laboratórios de análises químicas, dois dos mais importantes termômetros da pesquisa em um país, ficamos estarrecidos com a situação calamitosa em que eles se encontram.
O fim da pesquisa mineral é o fim dos laboratórios de análises e das empresas de sondagem
Laboratórios
O Laboratório Intertek, por exemplo, um dos maiores do mundo, presente em 24 países e com filiais em onze estados brasileiros está em situação precária.
Desde 2013, quando o congelamento dos alvarás matou a pesquisa mineral, o Intertek teve que demitir nada menos do que 174 colaboradores diretos. Desde então os negócios caíram 90% no que configura o maior desastre da história da pesquisa mineral brasileira.
Mesmo assim o Intertek luta para sobreviver.
Um de seus laboratórios brasileiros, com capacidade para 30.000 amostras por mês, está parado e poderá fechar se nada ocorrer de positivo na pesquisa mineral até maio deste ano.
O laboratório sobrevive com pouquíssimas amostras de ouro (1.500), metais básicos (1.300), alumina (100) e ferro/Mn (150).
A crise atinge o setor como um furacão e outros laboratórios não se mostraram tão resistentes quanto o Intertek e fecharam as suas portas demitindo seus funcionários altamente treinados.
Sondagem
O ambiente desesperador encontrado nos laboratórios é o mesmo entre as empresas de sondagem.
Em entrevista para o Portal do Geólogo o Empresário Luiz Carlos Vasco, sócio da Unidrilling, conta que nunca em sua carreira de 38 anos no setor a situação esteve tão grave.
Para poder sobreviver as sondadoras baixaram os preços do metro aos patamares dos anos 80. Infelizmente isso não foi o suficiente, pois com custos crescentes e falta de investimentos, a sondagem do setor mineral está, hoje, com uma ociosidade de 70% imersa em um processo de desemprego em massa.
Mais de duas dezenas de empresas de sondagem fecharam as portas.
As que ainda sobrevivem estão sondando obras de engenharia, que começam, infelizmente, a ser paralisadas graças ao efeito Operação Lava a Jato.
Em 2014 até a maior empresa de sondagem do mundo, operando há dezenas de anos no Brasil, não conseguiu sobreviver no ambiente hostil do nosso país e fechou as portas demitindo todos os seus funcionários.
As grandes empresas de sondagem que ainda tentam sobreviver estão reduzidas a 30% de sua capacidade.
Não há como negar, o MME mergulhou o setor em um cenário de devastação total.
Sem novas licenças e portarias de lavra, sem investimentos o mundo mineral sofre de uma estagnação artificial, sem precedentes.
Segundo Vasco trata-se de uma “tática para forçar o setor a engolir o Novo Marco Regulatório da Mineração”.
Vasco está certo. Por trás desta crise, que o governo teima em internacionalizar, está o MRM.
Nestes anos de abandono do setor ficou provado que fazer um instrumento dessa importância, nos obscuros escritórios do poder, sem consultar aos mineradores e os segmentos envolvidos na pesquisa mineral é um erro crasso.
Esse erro desestruturou e sucateou a exploração e a pesquisa mineral do país, um dos mais importantes segmentos da mineração.
A crise está instalada e nada está sendo feito, pelo novo Ministro de Minas e Energia, para resolvê-la.
Em consequência o mercado se vê inundado por profissionais altamente treinados que simplesmente não tem mais para onde ir.
O pior é que os escândalos de corrupção tendem a contaminar quase todos os setores produtivos do país.
A crise do setor mineral é o prenúncio de uma outra sem igual, que irá se alastrar de norte a sul. O Brasil verá, ainda em 2016, a paralisação de suas grandes obras de engenharia e de infraestrutura o que irá gerar mais desemprego e mais miséria.
Tudo leva a crer que em breve veremos o impensável: o sucateamento de uma nação.
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