segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

De escafandro, um mergulho pelo tesouro

De escafandro, um mergulho pelo tesouro

 

do Tibagi em busca de diamantes utilizando um equipamento do começo do século passado.

Sobre as águas, de cima de uma balsa, Joaquim Silva de Souza, 74 anos, é incansável no movimento de uma pesada bomba manual que garante o ar, levado por uma mangueira, para seu filho, Oanio Silva de Souza, 37, que está nas profundezas do Rio Tibagi, em Tamarana. De repente, Oanio submerge. A cena é, ao mesmo tempo, estranha e nostálgica, quando o capacete de bronze do velho escafandro sai da água. 

Por um momento, parece que estamos vivendo as cenas do auge do garimpo de diamantes no Tibagi, que aconteceu no final do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, quando o escafandro era o mais moderno equipamento de mergulho que os garimpeiros podiam ter. Já naquele tempo, quem tinha coragem de vestir o pesado capacete e as roupas de lona era visto como herói. 

O fato é que o tempo passou, o ritmo do garimpo no rio paranaense perdeu a intensidade e o escafandro virou, literalmente, peça de museu. Hoje em dia, as dezenas de homens que continuam mergulhando no Tibagi, principalmente na região de Telêmaco Borba, usam equipamentos bem mais modernos, que contam com motores para bombear o ar até o garimpeiro. 

Pai e filho têm esperança de encontrar uma pedra preciosa no fundo do rio. Porém, faltam-lhes condições para comprar equipamentos mais modernos. Por isso, eles seguem usando o que têm. ``É tudo pesado e desconfortável demais``, queixa-se o escafandrista. O equipamento de mergulho pesa mais de 80 quilos. Só o capacete pesa 15 quilos. As peças de chumbo acopladas às costas e ao abdômen do mergulhador, necessárias para fazê-lo afundar, pesam 30 quilos cada uma. A roupa de lona completa o conjunto. 

O garimpo e o próprio escafandro são considerados herança de família por Oanio. O pai de Joaquim, Américo Silva de Souza, lá pelos anos 40 já andava pelas beiras do rio procurando diamantes. O escafandro que hoje é utilizado por Oanio era dele. 

``Deram o equipamento ao meu avô mas ele nunca usou. Um dia, fiquei sabendo que a máquina para bombear o ar estava em um ferro-velho abandonado em um matagal. Fui até lá e resgatei as peças, pois o capacete eu já sabia que estava na casa da minha avó. Aí foi só aprender a mergulhar``, relata o garimpeiro, que utilizou cola plástica para consertar as rachaduras no capacete e aprendeu a mergulhar sem a ajuda de nenhum professor. 

Joaquim e Oanio encaram o garimpo como profissão. O trabalho funciona da seguinte maneira: o mergulhador desce e enche sacos com o cascalho do fundo do rio. Enquanto isso, Joaquim, que está na bomba de ar, não pode parar. A vida do escafandrista depende dele. Depois, na superfície, o material é analisado, sempre com a esperança de que um diamante esteja por ali. 

Oanio diz que não sente medo. ``É a minha profissão``, destaca. Porém, no decorrer da conversa ele acaba dizendo que um dos seus grandes receios é, quando está a 10 metros de profundidade, não conseguir achar a escada que serve para voltar à superfície, o que pode deixá-lo perdido na escuridão do fundo do rio. ``Com o escafandro, não posso ir além dessa profundidade. Com equipamento de cilindro poderia ir mais fundo, onde talvez tenha um bom volume de diamantes``. 

Apesar da persistência, até hoje Oânio nada encontrou de satisfatório. ``É que aqui já estamos no fim da linha. O volume maior está rio acima``, complementa Joaquim. Segundo ele, o sinal de que já não há muitas pedras está na diminuição do número de garimpeiros em Tamarana. ``Por volta de 1980 éramos uns 50. Hoje, somos apenas o Oanio e eu``, comenta. 

Enquanto não realiza o sonho de achar uma boa pedra ou ganhar equipamentos modernos para cair de vez no garimpo, a dupla segue ganhando a vida com outras habilidades. Joaquim é agricultor. Oanio faz de tudo um pouco, é pescador profissional, marceneiro, mecânico, eletricista... Garante que faz bem feito o qualquer serviço que aparecer. Não é à toa que ele e o seu possante Passat 1975, o ``Veneno``, são famosos pelas ruas da cidade. 

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