segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Garimpos de cassiterita

Garimpos de cassiterita

 Tá interessado em mudar seu ramo para a extração mineral de cassiterita? Vou te explicar como funciona, então.
Primeiro a PC, essa prima da retroescavadeira aí na foto, faz um buracão; ela retira a
terra que está por cima da camada de cascalho que contem cassiterita, e dá uma boa
adiantada no trabalho, que levaria semanas se fosse feito no muque.
Depois, enquanto a PC vai ali pro lado cavar um novo buracão, dois ou três homens
lavam a terra, ou o cascalho, com fortes jatos de água.
Nesse processo vai-se formando uma lama, que é absorvida por uma mangueirona grossa, tocada a bomba, claro, que leva essa lama prá um máquinha chamada Dig, se não me falha a memória.
Dig está um buraco mais acima, o último que foi explorado. Através de vibração e pela
diferença de peso, essa máquina separa a cassiterita de um outro metal, que eles
chamam de ferro, e o excesso de água é jorrado no buraco recém explorado e que daqui
a pouco vai virar um lago.
O “ferro” (acima, no monte e na minha mão) sai por uma torneirinha e a cassiterita, mais pesada, vai se acumulando no fundo da DIG. Depois abre-se a segunda torneirinha e a
cassiterita sai. Esse último processo eu não vi. Não sei como drenam o resto de água
que está misturado ao minério. Mas drenam, e depois a ensacam e vendem.
Ganham dinheiro, uns o investem, outros o gastam até ele acabar, e vão pro buracão mais de cima, começar tudo de novo. E os lagos vão se formand0.
Recentemente eu soube que há um outro tipo de processo em Campo Novo, que é subaquático. Os garimpeiros mergulham e extraem, com grossas mangueiras, a areia do fundo do rio. Do lado de cima essa areia é lavada e o metal, separado. Esse garimpeiros mergulhadores ficam 4 horas debaixo d’água, se não me engano. Aí são substituídos por outros. Não tenho fotos dos garimpos que trabalham assim.
Abaixo algumas fotos das acomodações. Muitos dos garimpeiros dormem aí, alguns com barracas de camping modernas dentro dos barracos, e cada local tem a sua cozinha e cozinheira.

Enfim, esse processo de extração mineral me parece bem prejudicial ao meio-ambiente. Eles só podem escavar em áreas de pasto, já desmatadas, e as lagoas têm que ser bem represadas prá não contaminar os rios, mas é claro que nem sempre essas duas coisas acontecem. Mas eles não são bandidos, pelo menos em sua maioria. São pessoas de bem que estão trabalhando naquilo que sabem, que lhes rende dinheiro, justamente porque existe mercado prá isso. O estanho serve prá muitas coisas, entra no processo industrial de quase tudo, além daquelas ricas e lindas taças de vinho que a gente compra em São João Del’Rey.
Na foto acima procurei reunir duas coisas que existem em abundância por aqui, e não
têm valor nenhum. O “ferro”, esse sub-produto da extração da cassiterita, e o babaçu,
que tem demais em Rondônia inteira, produz um coco que faz um bom carvão e uma
polpa que pode ser usada prá fabricar biodiesel. Eu não compreendo porque ainda não
agregaram valor financeiro ao babaçu. Muitas das queimadas são prá eliminar
justamente essas árvores do pasto, que são tidas como praga pelos criadores de gado. É
certo que rondoniense não combina bem com extrativismo vegetal, mas combina com
lucros. Por que ninguém encontra uma viabilidade econômica para o babaçu é o que
sempre me pergunto. Quanto ao “ferro”, disseram-me que já foram feitos estudos
diversos, e que não há mesmo viabilidade econômica prá ele.
Até aqui vocês viram fotos de dois ou três garimpos em Campo Novo. Deve haver mais uma centena desses lá. Abaixo são fotos de outros dois garimpos, que visitei em julho de 2010. Ficam na Floresta Nacional do Jamari (FLONA Jamari), em Itapõa do Oeste. São plantas enormes, de empresas que exploram a região há décadas, com maquinário pesado. As fotos não são todas minhas, mas infelizmente é impossível dar o crédito devido. Éramos muitas pessoas, e as fotos se misturaram num mesmo arquivo.
O primeiro deles só vi de longe.  Se não me falha a memória, foi antigamente da BRASCAN, multinacional Brasil-Canadá, e hoje é operado pela ERSA – Estanho de Rondônia. Eu visitei a área de recuperação ambiental que a BRASCAN desenvolve ao lado, onde antes explorou o minério. Eles fazem um trabalho super difícil e interessante de recuperação ambiental. Trabalho lento, profissional, e com boas consequencias a longo prazo para a natureza.
O próximo é o Garimpo Cachoeirinha, que em julho estava interditado pelo IBAMA, mas hoje já deve estar liberado. Após a Licença do IBAMA, será (ou está sendo) operado pela Metalmig. Quando fomos havia vestígios de pessoas trabalhando manualmente lá, mas se esconderam, pois estávamos com a Polícia Militar.
Pense na consistência do chão em que a gente pisa!
Abaixo, uma cena muito bonita, mas triste, porque mostra um leito de rio quase morto, sem água, numa época em que os grandes rios da região ainda estavam bem cheios (a foto foi tirada em julho de 2010). A garimpagem desordenada vai assoreando os rios e matando-os, aos poucos, mas rio morto na Amazônia é o fim da rosca, não é?
Alguns outros clicks do Garimpo Cachoeirinha

Um comentário:

  1. existe alguma empresa de garimpo trabalhando em cachoeirinha? e a vila dos moradores como esta nos tempos atuais?

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