domingo, 14 de fevereiro de 2016

Gemas coradas

Lembra dessa? 

Gemas coradas

O Brasil destaca-se no cenário internacional como o principal produtor de pedras preciosas. Estudos geológicos indicam que o território brasileiro possui muitas reservas estratégicas. Na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, existem diversas ocorrências de quartzo, mineral bastante requisitado. No entanto, esse mercado não é explorado em todo o seu potencial. 

Universidades e centros de pesquisa têm trabalhado para mudar esse cenário. Muitos trabalhos já apresentam resultados positivos, como o projeto Corgema, uma parceria entre o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde a época em que foi tema de reportagem da MINAS FAZ CIÊNCIA (edição n.º 4), novos caminhos e trabalhos foram explorados e desenvolvidos. 

A princípio, a atuação da equipe de pesquisadores era voltada para a irradiação, processo de tratamento de pedras preciosas mais usado no mundo. Mais de 70% da produção das pedras comercializadas é submetida a tratamentos específicos equivalentes aos da natureza para beneficiamento. A partir do tratamento, a pedra desenvolve coloração, possibilitando, assim, uma valorização comercial. "Atualmente, a irradiação no Brasil tem dobrado. Já existem, além do nosso laboratório, mais duas instalações que prestam serviços de irradiação de gemas no País", afirma o coordenador da equipe do CDTN, Fernando Lameiras. 

Após esse trabalho, os pesquisadores do CDTN deram início a uma pesquisa inédita no mundo. Com a elaboração de um teste que emprega espectrofotometria na região do infravermelho, descobriram que é possível tirar uma assinatura da pedra, ou seja, sua composição química. Após analisada a composição do quartzo, estima-se a probabilidade de gerar cor. Até então, o sucesso da coloração era incerto. Não se tinha conhecimento necessário para saber se daria um bom resultado. Dessa forma, através dos estudos, foi verificado que a composição química da pedra é o aspecto mais relevante para a produção de gemas coradas. Esse conhecimento elimina grande parte dos riscos inerentes ao processo. 

Não é qualquer quartzo encontrado na natureza que tem o potencial de produzir cor com valor comercial. "É uma fração muito pequena, em torno de 5%", assegura Lameiras. Tal fato representa uma situação de risco e instabilidade na relação de compra e venda. Às vezes, os resultados não são satisfatórios. O radiador, por exemplo, não é especialista em pedra e o pedrista, por sua vez, não sabe a dose necessária de irradiação. O coordenador afirma que, se o processo der errado, um acaba culpando o outro. "Já houve um caso que foi parar na justiça", conta. Com o teste infravermelho, diminuem-se as chances de irradiar uma pedra que não vá gerar coloração e isso ajuda na relação do irradiador com o pedrista. É possível saber as frações das pedras em um determinado lote que dará cor, a dosagem necessária para a irradiação e, até mesmo, a perda que pode sofrer.

O CDTN passou a oferecer, devido à grande demanda, serviços rotineiros de análise e irradiação. Atualmente, são cerca de 210 clientes cadastrados e o laboratório recebe pedras de todos os países da América Latina e do Brasil para serem analisadas. No ano passado, foram analisadas 800 ocorrências e, neste ano, já se ultrapassou 1.000. Com o financiamento da FAPEMIG, compraram os equipamentos, montaram os laboratórios e pretendem levar esse conhecimento e técnica para outros locais. A Fundação aprovou, neste ano, o último projeto desenvolvido pelo CDTN. Será financiada a montagem de um laboratório, com o mesmo porte que o de Belo Horizonte, em Teófilo Otoni. "O equipamento utilizado para a análise da composição química das gemas é pequeno. A técnica é rápida, barata e pode ser usada até no local das minas", finaliza Lameiras. 

O quartzo representa a maior parte do mercado. Dessa forma, o estudo da composição dessas pedras é uma oportunidade para agregar valor às gemas de Minas Gerais, com maior segurança, não desperdiçando o potencial de abundância. Com isso, há possibilidade de criar condições socialmente benéficas para as regiões produtoras, geralmente carentes, como o Vale do Jequitinhonha. 

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